Hoje tenho convicção em dizer que não há como negar a importância do legado de Lovecraft. Já conhecia o seu trabalho há anos, mas foi apenas recentemente que mergulhei em suas estórias e até este momento a obra que mais me impressionou, não apenas no conteúdo, mas principalmente pelo o que anunciava, foi A Sombra Vinda do Tempo (The Shadow Out of Time, no original).
Publicado pela primeira vez em 1936 o livro conta a estória do professor Nathaniel Peaslee, da Universidade de Miskatonic, em sua jornada para entender e explicar o que lhe aconteceu, o porquê do seu lapso de memória e do seu estranho comportamento nesse período de tempo perdido em sua memória, chegando a fascinante conclusão que uma raça que dominou a terra antes dos homens havia lhe trocado a mente em uma viagem temporal psíquica.
O livro é dividido em 8 capítulos e trata-se de um clássico conto de Lovecraft, relativamente curto, mas rico em detalhes e descrições. Clássico porque aborda a estória de uma maneira singular, bem empregada, na qual o protagonista em um texto de sua autoria tenta avisar e advertir o leitor ao mesmo tempo em que conta sua experiência pessoal. Sem sombra de dívida foi essa maneira de escrever e desenvolver suas estórias que me tornaram um fã do trabalho do autor.
É dessa forma que o livro inicia. Após algumas advertências o professor lança-se a narrar a reconstituição que fez do período de 5 anos que não constam em sua memória, pensando tratar-se inicialmente de um transtorno mental para se tornar a mais arrepiante experiência que um ser humano poderia ter. Peaslee consegue ao fim reconstruir toda a experiência, na qual sua mente teria sido trocada pela de um explorador do passado longínquo que usa o seu corpo por 5 anos para aprender sobre o mundo moderno, enquanto a mente do protagonista permanecia preso no corpo original do invasor no passado distante.
A narrativa do conto prende o leitor o descrever os fatos e descobertas que pouco a pouco descortinam os acontecimentos reais. Particularmente, achei magnífico o momento que o professor finalmente consegue ver em seus sonhos o seu próprio corpo enquanto no passado. O texto é o mais agradável de ler entre as criações de Lovecraft que já tive contato e revela a evolução do autor, uma vez que esta estória foi uma das últimas escrita antes de sua morte.
Em A Sombra Vinda do Tempo o autor amarra sua mitologia e há citações de outras criaturas e seres de seu universo. Certamente um ensaio de algo muito maior que viria, lamentavelmente interrompido pela morte de Lovecraft. Apenas resta especular o que teria sido criado pela mente deste brilhante escritor que forjou o termo horror cósmico se a morte não o tivesse arrebatado tão cedo.
Mais que um autor, Lovercraft foi o criador de um gênero, influenciando até hoje as mais diversas obras e os mais diversos escritores. Como exemplos de sua influência pode-se citar os filmes Prometheus, O Enigma do Outro Mundo, O Nevoeiro, O Enigma do Horizonte e À Beira da Loucura e os escritores Stephen King, Robert Howard e Neil Gaiman.
Nascido em 1890 na cidade norte-americana de Providence, Howard Phillips Lovecraft escreveu incontáveis cartas e inúmeros contos, entre estórias de terror clássico e sobre o mito de Cthulhu, entre os mais importantes estão A Cor que Caiu do Céu (1927); O Chamado de Cthulhu (1928); O Horror de Dunwich (1929); Um Sussurro nas Trevas (1930); Nas Montanhas da Loucura (1936) e A Sombra Vindo do Tempo (1936). Morreu aos 46 anos vítima de câncer no ano de 1937 e deixou um legado de valor incalculável à literatura fantástica e mais especificamente a de terror.
A Sombra Vinda do Tempo é, até este momento, a obra de Lovecraft que mais apreciei, até mais que Nas Montanhas da Loucura. É uma das melhores estórias do mestre do horror cósmico que caminhava na direção de algo muito maior e só nos resta seguir seus passos, e torcer para manter a sanidade nessa horripilante, e bem-vinda, caminhada.
Até.
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