Usando Poderes

Dadas minhas óbvia limitações, eu posso falar apenas em termos de D&D 4E, mas isto pode bem se aplicar a todos os jogos em qualquer lugar, se eu não estiver enganado. Na 4E, todo personagem tem vários e vários poderes de diferentes tipos e efetividades: alguns poderes (Sem-Limite) que você pode usar toda hora e são um pouco mais perigosos que mordidas de mosquitos; alguns poderes (Encontros) são legais e mortais mas podem ser usados apenas uma vez por combate, como um tipo momento “yahoo yahoo yippee” de macho; finalmente, alguns poderes (Diários) podem ser usados apenas uma vez por dia, rasgando a terra numa cataclísmica explosão nuclear, espalhando destruição e devastação em todas as direções, destruindo a esperança, matando sonhos, aniquilando filhotinhos e cuspindo na sua escova de dentes quando você não está olhando.

Todos eles são divertidos em diferentes graus—não, sério—mas obviamente é uma escala sinuosa, e Encontros normalmente são melhores que Sem-Limite, e Diários normalmente melhores que Encontros. Como um resultado disso, jogadores ficam muito relutantes de usar seus maiores, fodões poderes, grudados àqueles que nunca são usados, porque certamente, esta luta em particular está indo muito mal, com a maioria do grupo sangrando ou inconsciente ou morto ou desintegrado, mas quem sabe o que espreita a próxima esquina? O que aconteceria se precisássemos deste poder em particular? É melhor segurá-lo, só por precaução.

Confie em mim, mas mau foi feito em serviço do só por precaução do que qualquer outra frase clichê, e eu estou incluindo é melhor um pássaro na mão do que dois voando.
De qualquer modo, nós como jogadores precisamos começar a pensar e viver no AGORA ao invés de DEPOIS, por que AGORA é o único momento em que podemos fazer alguma coisa. Eu não posso acumular um sucesso para o encontro que há por vir, eu não posso guardar uma vitória para a batalha de amanhã. Para botar isso em puros termos de meta-jogo, se o próximo encontro for realmente super-híper, estraçalhando almas de dificuldade, o Mestre deveria provavelmente pensar em uma maneira de dar aos jogadores um pouquinho de tempo para se prepararem para ele. O ponto é, como eu disse um milhão de vezes antes, não é para o Mestre “vencer”, mas para o Mestre contar uma excitante, eletrizante e heróica história sobre estes personagens.

Agora então, isso abriu uma porta para abusos? Irão os jogadores simplesmente queimar seus Mortais Diários e cada encontro, e insistir que o Mestre os dê uma feliz hora do cochilo para ficar prontos para o próximo encontro? É claro que vão. A única maneira de realmente lidar com isso é estabelecer um tipo de contrato social entre os jogadores e o Mestre, onde os jogadores concordam em usar seus poderes criteriosamente e o Mestre concorde em não esmagá-los e uma geléia irreconhecível com a Maligna Mordenkrad da Tristeza Final.

Se eu, como jogador, decidir usar aquele Diário no Encontro #1, então eu estou aceitando que eu não poderei tê-lo no Encontro #2. Se eu, como Mestre, vejo uma seqüência incansável de 20s naturais do meu lado do escudo enquanto todos os jogadores não conseguem sentir o cheiro de um duplo dígito do lado deles por seis turnos seguidos, então eu tenho que estar disposto a contabilizar os PJs usando seu preciosos recursos apenas para sobreviver esta “fácil” batalha, e deveria começar a planejar para eles como recuperar estas perdas.

Apenas recentemente, eu fui abençoado com toneladas de jogos, e isso tem sido maravilhoso e adorável, com uma cremosa cobertura de excelente. Eu tenho jogado toda variedade de níveis, uma one-shot (aventura de um dia só) de 5º nível, uma campanha de 24º nível, e uma aventura fragmentada de 8ºnível e vários pedaços entre eles. Pelo caminho, houveram vários encontros desafiadores, alguns que empurraram a mim e meus compatriotas ao limite absoluto, onde eu não estava tão certo de que todos nós (ou qualquer um de nós) iria sobreviver.

E para estas batalhas, eu dei tudo de mim, furiosamente checando meus poderes na minha ficha como um auditor enlouquecido, cavando por algo a mais, imaginando: “Tem alguma coisa faltando? Eu esqueci alguma habilidade? Eu usei o Diário da minha orbe? Eu ainda tenho um Encontro Escondido na página 4? Espera, eu usei meu Ponto de Ação???” Para estas velhas batalhas, eu sinto uma sensação de realização quando eu cambaleio do outro lado, machucado, abatido e sangrando mas ainda respirando, e eu sei que eu dei o meu máximo. E coloco tudo nisso. Eu não deixo nada sobrando na mesa.

E então acontece de eu vislumbrar a ficha de meu colega jogador, aliado, camarada e irmão de sangue, e eu vejo que ele ainda tem a maioria dos seus poderes disponíveis, e eles está feliz—FELIZ!—com isso. “Eu nem usei nada naquele encontro.” Ele declara de maneira enfurecedora. Eu não tive escolha senão mata-lo. E não seria realmente minha culpa. Pelo menos, é o que planejo contar ao júri.

Autor: Dixon Trimline
Tradução: Aguinaldo “Cursed Lich” Silvestre
Fonte: Stuffer Shack

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