GSL e D&D 4ª Edição

A licença aberta não foi uma invenção da Wizards, porém a maioria dos sistemas abertos é pequena e precisa do suporte para crescer. O D20 mudou o cenário, a empresa não precisava do mercado, é o maior sistema do mercado, mas o mercado precisava do D20. Então tudo mudou com a 4ª Edição e a nova Licença GSL(Game System License).

Como e por quê?

OGL e D20

OGL (Open Game License) é a licença da Wizards para a utilização de seu sistema D20 3.5, para quem quiser usá-lo ou mesmo modificá-lo para seus próprios produtos. Essa licença ainda vale e não pode ser terminada pela Wizards. A Licença D20 era a licença para a utilização do sistema D20 3.5, sem mudanças na base do sistema para publicação de produtos com o selo D20. A Licença D20 antiga (assim como o uso do seu selo) não existe mais. Ela foi substituída pela GSL.

GSL e 4ª Edição

A GSL é completamente diferente. A 4ª Edição representa todas as regras dos livros básicos do novo D&D. A GSL é a licença que permite usar o sistema da 4ª Edição em seus produtos e publicá-los. Essa é sua única similaridade com a OGL. As duas têm conceitos completamente diferentes.

A OGL era uma licença aberta livre, ela mostrava o pouco que você não podia fazer com o sistema da 3ª Edição. A OGL era uma licença livre. A GSL é uma licença aberta fechada, ela apresenta o pouco que pode mudar nas regras da 4ª Edição.

Na 3ª Edição você podia escolher: se não quer mudar o sistema, usando toda a sua base, mudando apenas alguns setores, tinha a Licença D20. Se precisar mudar bastante o sistema para adequar ao seu cenário, ou seu novo sistema baseado no D20, tinha a OGL. Você podia fazer tudo com o sistema e ainda ser 3ª Edição. Agora, com a GSL, você tem que adaptar seu sistema às regras, porque não pode mudar quase nada, nem mesmo os nomes das classes e raças. Se tiver um mago em seu mundo,  ele é o mago do Livro do Jogador.

Mas por que a Wizards mudou?

Mudança de Cultura

O lançamento da 4ª Edição marca uma nova era do D&D não apenas pelas regras, mas por uma nova direção da marca. Novos executivos assumiram a Wizards e puderam colocar suas idéias em prática com a nova edição e a GSL. Essas mudanças ficam claras nas mudanças da OGL e D20 para a GSL.

Durante o advento da 3ª Edição e D20, apesar das críticas sem fundamento que a Wizards queria dominar o mundo e começar um estado laico com Vecna como Deus Supremo, os executivos da Wizards tinham uma pensamento oposto. Eles queriam renovar e até salvar o mercado, agregar o mercado levando o D&D para todos, sejam empresas ou jogadores. Todos eram parceiros, não havia concorrência. Um mercado saudável levaria a um D20 saudável. Apesar de uma postura Hippie e romântica, economicamente era viável e bem proveitosa para a Wizards. Até a mudança de direção.

Apesar do sucesso, a 3ª Edição se desgastou e pedia por mudanças de regras e conduta. Novos executivos assumiram a Wizards e começaram a preparar uma nova edição e uma nova maneira de seguir com a marca. Essa nova direção ficou clara com a GSL: a Wizards queria continuar como a líder de mercado, mas agora com alguns poucos e selecionados parceiros. Os outros voltavam a ser concorrentes. Não havia mais uma grande família, apenas a Wizards e o resto.

Mas a postura da Wizards foi certa ou errada?

Certa e errada. Nessa hora alguns podem ficar malucos. Como pode estar certa e errada? Ao serem apresentada à nova GSL, a resposta do público e crítica foi bem negativa, muito negativa. Comparada à liberdade da OGL e D20, a 4ª Edição era completamente restrita, obrigando as empresas a trabalhar como a Wizards queria e não como precisavam. As empresas ficaram em silêncio, mas internamente o clima anti-GSL era enorme. E as empresa tinham porque reclamar. Uma traição. Após 8 anos como parceiras, trabalhando junto com a Wizards, agora eles eram tratados como rivais.

A Wizards mudou sua visão de mercado. O problema não foi a mudança na licença, mas a maneira como foi feita, radical. Para quem trabalhava há anos com a Wizards, a nova licença, restrita foi um duro golpe. Isso sem dar tempo para que suas antigas parceiras se preparassem, isto é, pudessem se planejar para a mudança. As empresas tinham porque estar nervosas. Mas para a Wizards a mudança não foi tão estranha. Por quê?


Anarquia

Apesar de não concordar com a maneira como foi feita a nova licença e criticar a GSL, após vários meses da nova licença a visão sobre ela tende a mudar. Com a OGL e D20 era possível fazer tudo com a 3ª Edição. Tudo. Demais…

Empresas lançaram cenários fantásticos, suplementos maravilhosos, mas havia muito lixo. No Brasil, tivemos suplementos que não seguiam as regras da licença. Nos EUA, livros apenas com descrições toscas e regras completamente malucas. Caos. A liberdade foi ótima para a criatividade, mas não para o sistema. Você podia ter livros D20 incompatíveis, devido às diversas regras e interpretações do sistema. A idéia inicial de um grande e comunitário mercado estava se desfazendo. A 4ª Edição tentou resolver o problema, mas errou.

Com a nova edição, a licença ficou mais restrita e tem que passar pela Wizards. A empresa pode confirmar que os livros da nova edição sejam realmente compatíveis e que o sistema continue o mesmo. A idéia é boa, a concepção é ruim. Fica claro que as pessoas que comandam a marca não conhecem o mercado de RPG e suas empresas. Se eles tivessem sentado com as grandes empresas e conversado sobre suas idéias e como eles ainda queriam trabalhar em parceria, mas de maneira mais restrita, muitos problemas seriam resolvidos. A idéia inicial de obrigar a todos a migrar para a 4ª Edição sem deixar que continuassem com seus cenários da 3ª foi estúpida. Como fazer um novo cenário, se você não pode financiá-lo com seus antigos livros? Tão burra que foi revogada na nova versão da GSL.

A Wizards não pretende destruir o mercado, nem acabar com toda concorrência com a 4ª Edição, mas existe uma nova idéia em sua direção, não tão aberta a parceiras como as antigas administrações. Porém, o principal erro da GSL foi o extremo da licença. De total liberdade passamos à total aprisionamento. Uma transição mais amigável e prática teria evitado os atritos da Wizards com o mercado e minimizado as críticas à GSL. Agora a Wizards tenta recuperar o tempo perdido, ainda sem tanta abertura, mas com menos arrogância.

Site oficial da GSL:
http://www.wizards.com/default.asp?x=d20/welcome

Por Fabiano Silva
Publicado originalmente no antigo portal em 17/07/2009 (993 leituras)

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3 Comments
  1. Bom, eu parei de acompanhar a Wizards com o fim da 3.5. Fiquei com esse sistema e o OGL até que eu descobri o Pathfinder, que me agradou muito e tem me deixado bem satisfeito.

    Não tenho nenhuma informação sobre os lucros da WotC com a 3.5 e com a 4.0, mas, tenho a impressão que essa mudança drástica realmente deu e ainda dá algumas dores de cabeça para a empresa.

    O Pathfinder é completamente aberto, mas, não sei como isso tem sido explorado lá fora. Acredito que seria uma boa ter material desse tipo no Brasil para concorrer com a 4ª ed, mas, o mercado anda fraco demais e é um material muito pesado, seria caro trazê-lo pra cá.

    • É so uma empresa nacional trazer o Pathfinder para o Brasil e veremos.

      • Bom, eu tenho comprado material de Pathfinder em inglês mesmo e tenho visto com os meus próprios olhos a qualidade do material. O mercado nacional está enfraquecido, trazer um material dessa qualidade seria muito difícil. São livros maiores e muito mais elaborados internamente do que os da 4ª edição (ou seja, custariam mais caro).

        Há um grupo que tem traduzindo o material aos poucos (http://www.ogranderpg.com.br/), o que já é uma iniciativa louvável. Acredito que todo mundo que entender de inglês e tiver interesse e tempo pode se juntar a eles. Há uma comunidade no Orkut (Pathfinder RPG Brasil) que reúne esse pessoal e alguns debates, mas, nem tem como comparar a comunidade de Pathfinder brasileira com a da 4ª edição.

        Eu particularmente acho que seria ótimo para o RPG nacional ter um sistema assim, que mantenha características da edição antiga e que tenha uma licença aberta. Não sei se economicamente seria viável. Eu andei aproveitando o dólar à 1,62~1,65 e adquiri os livros a um preço excelente, me saíram pela Amazon muito mais baratos do que os livros da concorrência. São materiais que para qualquer RPGísta que se prese vale MUITO a pena serem adquiridos.

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