Quando se pensa em RPG, logo lembramos dos nossos queridos dados. Mas qual exatamente a utilidade deles? Qual o motivo de serem rolados? Alguns de nós, Mestres e jogadores, querem jogar os dados sempre que houver a menor abertura. Outros querem resolver tudo “no gogó”.
No PbtA (Powered by the Apocalypse, jogos que usam o sistema do Apocalypse World, como o Dungeon World), existem os chamados “Movimentos”. Dentre eles, existem os movimentos do jogador e os do Mestre. Para os movimentos do jogador, quase sempre são esperadas rolagens de dados. E é sobre esses que vamos conversar hoje.
O PbtA, assim como todo bom RPG, a conversa rola fluida e o movimento pode ser uma exigência do Mestre ou um requerimento do jogador. Varia de situação pra situação, grupo a grupo.
O fato é que existem alguns elementos no movimento. Dentre eles: a rolagem de dados, as consequências, os riscos, etc. Esses elementos diferenciam os movimentos entre eles e, principalmente, de um jogo para outro.
Vamos a algumas reflexões sobre isso:
• NARRADOR VERSUS DADOS
Alguns Narradores querem ver quão mal os personagens podem ir nas rolagens de dados. Pois eu tenho a resposta para vocês: se for PBTA, o mínimo é 2.
Com o perdão da piadinha infame, essa é a realidade. Pense nisso você que é Narrador: qual o motivo de pedir vários testes? Às vezes o mesmo teste? Se você realmente quer que seu jogador falhe, alguma coisa está errada e provavelmente este erro está em você.
É por isso que um movimento em PbtA é coisa séria e não deve ser exigido a cada passo que o jogador dá.
• OBSERVE AS CONSEQUÊNCIAS
Uma das coisas que mais me chamam atenção no PbtA e que diferenciam movimentos uns dos outros (e até os hacks uns dos outros, jogos de temática diferente que usam o Apocalypse Engine), são as consequências das rolagens.
City of Mist, por exemplo (se você não conhece, fica a sugestão), tem mais de um movimento para o combate. Um deles é chamado de “go toe to toe”. Eu vou me abster de traduzir, mas ele dá uma ideia de disputa, a boa e velha trocação de golpes. Um outro é “hit with all you´ve got”. Também não vou traduzir, mas a expressão traz a sensação de um ataque realmente poderoso.
E qual a diferença entre eles? Bem, a posição em que o personagem se encontra na ficção e a consequência.
No primeiro, a disputa é clara e o risco também. Na segunda, o personagem está em uma posição vantajosa e pode desferir um ataque realmente significativo.
Fazendo um paralelo com outros RPGs, a partir desses movimentos, pode-se dizer que as rolagens devem ser feitas quando houver consequências, do contrário, podem ser evitadas.
• OBTENHA UMA VANTAGEM
Os jogos PbtA são bem narrativos e nem tudo se resume em porrada (grande parte, na verdade, não é).
Muitos movimentos dos jogos dessa mecânica concedem ao jogador a chance de alcançar uma vantagem, que pode ser inclusive no combate.
No Dungeon World, por exemplo, o movimento Defender concede ao jogador “Domínio” (um tipo de uma unidade narrativa que pode ser trocada por benefícios, como redução de dano ou proteção a um personagem).
Essa vantagem, essa modificação da narrativa só pode ser obtida mediante a rolagem de dados. Além disso, alguns movimentos, como o citado acima, têm uma gradação da vantagem. Ou seja, é possível se determinar o nível dessa vantagem.
• O RISCO
Outra coisa que o PbtA nos informa é que toda rolagem traz, em si, um risco. Esse é o motivo por trás de muitos jogadores não quererem rolar dados: evitar o risco. É o motivo oposto dos Mestres carrascos forçarem a rolagem de dados a todo momento: expor os jogadores a um risco além do razoável.
Digressões à parte, o fato é que não há motivos para pedir ou exigir uma rolagem se na ficção não há nenhum risco.
Na ficção, por exemplo, um bárbaro imensamente forte beirando o nível épico precisa realmente rolar pra arrombar uma simples porta de madeira de um casebre? Remeto o leitor ao tópico sobre Narrador x Dados.
Esse paralelo é bem fácil de traçar, porque é essencialmente a mesma questão em PbtAs ou não.
• RELEVÂNCIA NARRATIVA
Dizem que você, Mestre, pode exigir um teste de Destreza (ou algo que o valha) se o jogador quiser sentar com precisão na cadeira da taverna (afinal, acidentes acontecem).
Mas a reflexão é: se o Personagem vai cair ou não, é relevante para a história que está sendo contada? Ainda que haja um risco?
Se a resposta for não, recomenda-se fortemente que não se faça a rolagem, ou seja, não é acionado o movimento. Isso porque, a consequência pode ser algo tragicamente fora do tom da narrativa ou fatalmente frustrante para os envolvidos no jogo.
São essas as ponderações de hoje. Agora eu quero saber de vocês nos comentários: vocês concordam? Discordam? Quando vocês rolam os dados?
Até a próxima.
Por Murilo Mendes
Equipe REDERPG