D&D: O Retorno do Mal Elemental

O Mal Elemental fez um grande retorno este ano, consolidando sua longa história como parte do jogo de Dungeons & Dragons.

Presente na aventura Princes of the Apocalypse e no novo jogo de tabuleiro Temple of Elemental Evil, o Mal Elemental é o coração da mais nova saga de D&D. Suas origens remontam à ambientação inicial de D&D – focado em um templo arruinado e a uma pequena vila que tinha o infortúnio de ficar próxima a ele.

AS ORIGENS DO TEMPLO: 1979-1986

Na GenCon XII em 1979, a TSR lançou uma aventura de 16 páginas passada em Greyhawk, chamada A Vila de Hommlet. Escrita por Gary Gygax, ela foi um marco histórico para D&D, sendo a primeira vez que a TSR mostrou uma vila detalhada o suficiente para que jogadores explorassem e usassem como uma base de operações. No entanto, Hommlet não tinha apenas fazendeiros e tecelões para conversar. Havia também oportunidades para aventura em uma casa nos arredores da aldeia – e indícios de desafios ainda maiores por vir.

A casa era um posto avançado do Templo do Mal Elemental que ficava próximo – uma “fortaleza amuralhada” que havia sido selada há muito tempo pelas forças do bem que enfrentaram os planos de um “demônio terrível”. Muitos dos personagens do Mestre de A Vila de Hommlet tinham interesses particulares em relação ao templo – para o bem ou para o mal – e o status da aventura como uma introdução para outras aventuras no templo pode ser vista no seu código de módulo, T1. Para maiores informações, os Mestres de Jogo eram direcionados a um módulo seguinte a ser lançado logo codificado como T2, O Templo do Mal Elemental.

Como uma das primeiras aventuras de D&D, A Vila de Hommlet foi publicada com uma capa em preto e branco. Dois anos depois, TSR mostrou seu compromisso à série melhorando o original para uma capa colorida. Contudo, a aventura seguinte ainda não havia surgido. O problema já havia sido discutido na Dragon 35 (março de 1980). Lá, Gygax falou sobre como as suas tarefas administrativas na TSR o estavam afastando do design de jogos. Nos anos seguintes, ele diria em mais de uma ocasião que o trabalho na T2 estava recomeçando, mas a longa esperada aventura no templo nunca apareceu.

Na Dragon 90 (outubro de 1984), Gygax finalmente admitiu que ele estava muito ocupado para terminar a aventura. Ele então passou o seu manuscrito de trezentas páginas para Frank Mentzer. O resultado apareceu no mês de agosto seguinte com o código de módulo T1-T4. Creditado a “Gary Gygax com Frank Mentzer”, The Temple of Elemental Evil (O Templo do Mal Elemental) era mais do que apenas um suplemento de 16 ou 32 páginas para A Vila de Hommlet. Ao invés disso, era uma superaventura de 128 páginas dividida em quatro partes. Ela mostrava a vila original de Hommlet e sua casa (uma reedição da aventura T1 original); a vila vizinha de Nulb e as ruínas do Templo do Mal Elemental; as catacumbas sob o templo; e uma série de semiplanos chamados os “nódulos de mal elemental”. Seis anos após a sua primeira menção, o Templo do Mal Elemental estava finalmente completa e disponível para jogar.

No ano seguinte, TSR publicou mais duas superaventuras de Greyhawk: Scourge of the Slave Lords (reimprimindo as quatro aventuras da série A de aventuras com temática escravista, marcadas como A1-4) e Queen of the Spiders (combinando as clássicas aventuras gigantes série G, as aventuras drow série D, e a aventura Queen of the Demonweb Pits, todas marcadas como GDQ1-7). As três superaventuras de Greyhawk foram arranjadas para que fosse possível jogar uma após a outra – permitindo que heróis que começaram as suas carreiras na vila de Hommlet eventualmente terminassem nos Demonweb Pits of the Abyss. Embora a história original do Mal Elemental começasse pequena na vila de Hommlet, acabou como uma das primeiras grandes séries de aventuras de D&D (a outra sendo as aventuras de Dragonlance, que também acabou em 1986).Alumni_ToEE_1

RETORNO AO TEMPLO: 1999-2013

Por muitos anos, parecia que as histórias do Mal Elemental e seu templo haviam acabado. Embora O Templo do Mal Elemental fosse afetuosamente lembrada como uma das aventuras clássicas de D&D, o jogo seguiu para outras histórias e outros mundos.

Isso mudou em 1999, quando a Wizards of the Coast começou a publicar retornos nostálgicos ao passado como parte do aniversário prateado de D&D. Against the Giants: The Liberation of Geoff (1999) e Slavers (2000) revisitaram as clássicas aventuras com gigantes e escravistas, como parte de meia dúzia de suplementos que revisitavam as origens de D&D. De 1999 a 2002, também surgiu uma série complementar de histórias clássicas de Greyhawk.

Mal Elemental finalmente teve o seu momento no holofote nostálgico em 2001. O clássico romance de Greyhawk O Templo do Mal Elemental dava uma interpretação narrativa da aventura original, algo que se refletiu dois anos depois no jogo eletrônico The Temple of Elemental Evil: A Classic Greyhawk Adventure, pela Atari. Além disso, entre estas duas publicações, o templo adquiriu algo novo: uma sequência completa à aventura de 1985.

Return to the Temple of Elemental Evil (Retorno ao Templo do Mal Elemental), de Monte Cook, surgiu em 2001, seguindo os eventos na superaventura de Gygax e Mentzer quinze anos depois. Novos jogadores tiveram a chance de visitar Hommlet (agora uma grande cidade) e as atualmente desertas ruínas de Nulb. No processo, eles aprenderam que forças malignas estavam novamente atormentando a região. Estes jogadores iriam então investigar as ruínas remanescentes do Templo do Mal Elemental original, assim como o novo Templo de Todo o Consumo. Nestes covis antigos, os aventureiros aprenderam sobre segredos ainda mais profundos que aqueles descobertos por outros aventureiros uma geração atrás. Como seu predecessor, Retorno ao Templo do Mal Elemental é uma exploração de catacumbas ao estilo clássico – e também profundamente mergulhada na ambientação do mundo de Greyhawk.

Após a publicação da nova megacatacumba de Cook, Mal Elemental foi mais uma vez perdido para a nostalgia. Houve alguns breves retornos durante a época da quarta edição de D&D, mas apenas em uma pequena escala. A Vila de Hommlet foi atualizada para as regras da quarta edição por Andy Collins, e liberada através do programa RPGA DM Rewards. Enquanto isso, fãs dos elementos podiam jogar O Olho Elemental Ancião como a oitava temporada de encontros de D&D em 2012. Não era exatamente Mal Elemental, mas focava em um dos muitos deuses associados ao templo, e estava ligado com os heróis do suplemento Caos Elemental.

Fãs de Mal Elemental durante a era 4e estavam provavelmente mais interessados na Dragon 425 (julho de 2013). Aquela edição incluiu um olhar histórico extenso do templo, assim como alguma discussão do que exatamente Mal Elemental era. Na realidade, isto era uma questão duradoura, já que o Mal Elemental havia sido apresentado de diversas maneiras confusas durante as suas primeiras encarnações. Alumni_ToEE_2

OS DEUSES DO TEMPLO

A história do Templo do Mal Elemental mudou muito durante os anos, e essas mudanças foram refletidas através dos muitos deuses diferentes que foram associados com o templo em épocas diferentes.

Nos primeiros rascunhos que Gary Gygax fez dos planos para o templo em A Vila de Hommlet, ele queria que a deusa aranha Lolth fosse o vilão principal do templo. No entanto, quando Lolth se tornou a antagonista de Queen of the Demonweb Pits de David C. Sutherland III, ela foi removida das considerações para o templo. Gygax então considerou a única referência a Lolth em A Vila de Hommlet como um erro, e a deusa das aranhas provavelmente deveria ter sido eliminada do Templo do Mal Elemental completo. Ao invés disso, ela permanece como uma facção muito fraca (quase inexistente) no templo.

Gygax também pretendia esconder um santuário secreto para o Deus Elemental Ancião abaixo do templo moderno – com o seu poder divino sendo usado e abusado por Lolth. Isto teria explicado melhor a presença de Mal Elemental dentro do templo, mas a ideia foi abandonada quando Frank Mentzer assumiu o design da superaventura. Ironicamente, o Deus Elemental Ancião também desapareceu da série GDQ após breves menções nas aventuras com drows e gigantes, quando David Sutherland completou aquela série estendida com Queen of the Demonweb Pits.

Na época em que Mentzer recebeu as anotações de Gygax, a deusa fungóide Zuggtmoy havia assumido o papel de vilã do templo. Sua conexão com os elementos parecia espúria, mas Mentzer explicou como um ardil por parte da deusa, dizendo que “O Mal Elemental teria mais apelo que um culto dedicado a seus queridos fungos”. Mentzer também incluiu o cambion Iuz como outro deus que contribuiu para a criação do templo. Embora eles não tivessem ligações elementais, Iuz e Zuggtmoy tinham uma vantagem sobre Lolth e o Deus Elemental Ancião: eles estavam mais enraizados no cenário Greyhawk.

Ao longo dos anos, muitos jogadores encontraram Zuggtmoy no coração do Templo do Mal Elemental e ficavam relativamente confusos com sua presença fungoide. Quinze anos depois, Monte Cook finalmente ofereceu uma nova explicação em Retorno ao Templo do Mal Elemental. Ele o fez trazendo Tharizdun, um deus da entropia niilista que Gygax havia criado para The Forgotten Temple of Tharizdun (1982). Cook explicou que Tharizdun sempre havia sido o verdadeiro núcleo do templo, e que havia manipulado Zuggtmoy e Iuz para fazerem a sua vontade. Ele também revelou que Tharizdun possuía outro aspecto: ele era ocasionalmente conhecido como o Olho Elemental Ancião.

A revelação que o Olho Elemental Ancião era um aspecto de Tharizdun teve reações ambíguas entre fãs de Greyhawk. Contudo, o resultado era bem semelhante à primeira concepção que Gygax tinha do templo. Originalmente, um aspecto do Deus Elemental Ancião havia sido outra camada de segredo escondida sob o poder de Zuggtmoy, provendo uma associação mais sólida com o Mal Elemental.

Cook também introduziu outro deus para seu templo renovado: Imix, o Príncipe dos Elementais de Fogo Malignos. Ele também era um dos Príncipes Elementais do Mal, primeiramente publicado no Fiend Folio (1981). A inclusão de um deles no templo era outra boa ligação à herança elemental de D&D.

Quatorze anos após a última grande incursão por parte do jogo no legendário templo de Gygax, o Mal Elemental está de volta. Que novos segredos serão revelados? Mestres e jogadores investigando em Princes of the Apocalypse logo saberão as respostas.Alumni_ToEE_3

Sobre o Autor

Shannon Appelcline tem jogado RPG desde que seu pai o ensinou o Básico de D&D no início da década de 80. Ele é o editor-chefe da RPGnet e autor de Designers & Dragons, uma publicação de quatro volumes sobre a história da indústria do RPG, contando sobre uma empresa de cada vez.

Sobre o Tradutor

Bruno Kopte jura que não foi ele.

Link para o artigo original: dnd.wizards.com/articles/features/return-elemental-evil

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