Antes de tudo gostaria de dar boas vindas a todos que estão lendo esta coluna e que espero que possa servir como entrada para diversas pessoas ao hobby dos Jogos de Tabuleiro. A nossa ideia é quinzenalmente falar um pouco sobre este vasto mundo, que a maioria dos brasileiros desconhece. Vocês devem estar pensando, jogos de tabuleiro… Ah! Sim, lembrei! Banco Imobiliário, War, Jogo da Vida, não é isso?
Não! Existe muito mais coisa além destes jogos jurássicos, que não refletem o que acontece lá fora e que vem ocorrendo neste fantástico mundo. Existem diversos títulos que estão há mais de dez anos no mercado Europeu e Americano totalmente desconhecidos no Brasil. Muita gente não sabe, mas os jogos de tabuleiro mudaram tanto a sua faceta, que nem de longe lembram os nossos títulos mais do que defasados. Os jogadores de RPG podem estar a par um pouco do que acontece, mas a sua grande maioria não tem ideia da riqueza deste universo. Basta lembrar que o próprio RPG tem origem em jogos de tabuleiro, principalmente nos wargames e nos jogos de miniatura, mas isto é papo para outro artigo. Inicialmente vamos situar as pessoas para que possamos apresentar diversos aspectos dos jogos e de como começar a jogá-los aqui em nosso país.
Um pouco de história
Os jogos de tabuleiro modernos para a maioria de nós, brasileiros, são totalmente desconhecidos. Existe até um preconceito que os rotula como jogos para crianças, coisa que é totalmente falsa. Os jogos atuais possuem mecânicas de jogo simples, com um alto grau de abstração, poucas regras, fáceis de serem assimilados, com uma duração média de 60 minutos e que permitem que até 5 pessoas possam se divertir muito. Tudo isto começou em em 1995 com o Die Siedler von Catan (Descobridores de Catan) um jogo de tabuleiro inventado por Klaus Teuber. A editora Kosmos publicou o jogo na Alemanha iniciando uma revolução e “de quebra” levou grandes prêmios: o Spiel des Jahres em 1995, o 1º lugar do Deutscher SpielePreis também 1995, e o Origins Award em 1996. Este redefiniu o conceito dos jogos de tabuleiro, do qual passavam por uma crise nos EUA, onde os jogos de carta colecionáveis estavam em alta e parecia que não havia mais espaço para os de tabuleiro.
O que tornou o jogo muito popular foi sua mecânica simplória (um manual pequeno, diferente dos jogos americanos), dinamismo, com inúmeras possibilidades táticas e muito bom para ser jogado em família. O Catan trouxe para os EUA os chamados jogos alemães, mais tarde batizados de Eurogames começando assim a grande mudança. No ano 2000 outro título tomava de assalto o mercado: o Carcassone, desenvolvido por Klaus-Jürgen Wrede e publicado em 2000 por Hans im Glück e Rio Grande Games. O objetivo do jogo é a construção de cidades medievais fortificadas, campos, estradas e monastérios, com o uso de blocos. O jogo é de uma simplicidade atroz, mas muito divertido onde adultos e crianças jogam de maneira conjunta. Nele surge a figura do Meeple, que se tornou uma das mais populares dos jogos de tabuleiro. Em 2001 ganhou o Spiel des Jahres e agora no ano de 2007 tanto o Carcassone, como o Catan ganharam sua versão para o XBOX 360 da Microsoft.
A partir daí os Eurogames entraram no mercado americano e mundial, deixando para trás muitos títulos americanos. Mas não pensem que os EUA ficaram parados, responderam com “fogo-pesado”, aproveitando muito das mecânicas dos Europeus e trazendo para seu universo grandes títulos. Um deles o Twilight Impérium 3 é um grande exemplo de jogo de FC, onde o jogador tem que levar seu império estelar à vitória. O jogos americanos começaram a ser chamados pelos fãs de Eurogames como “Ameritrashes”, ou seja diferente do estilo dos europeus, com muitas facetas de jogo distintas. Mas vamos falar mais disso abaixo.
Dois Jogos, Dois Estilos
Os Eurogames são jogos onde a abstração e a simplicidade são primordiais. Os jogos na sua ampla maioria não utilizam nenhum tipo de dado (isto mesmo não existem dados no jogo) e a vitória é conseguida no esquema dos chamados pontos de vitória. O jogador que conseguir completar objetivos conseguirá mais pontos de vitória e assim vencerá a partida. Em muitos casos, o critério de desempate pode ser bens ou mesmo dinheiro. Um exemplo muito bom é o Puerto Rico, outro clássico do genêro.
Já os Ameritrashes utilizam dados para diversas ações (sobretudo combate) e também podem trabalhar com sistemas de pontos de vitória, mas são jogos que primam a competitividade e possuem uma “mitologia” em seu background impressionante.
Cada um dos tipos tem seus fãs (particularmente eu gosto dos dois estilos), mas são totalmente diferentes dos que existem no mercado Brasileiro, que sinceramente está atrasado no assunto. No Brasil as grandes empresas não tem uma visão de que existe um mercado muito bom com os adultos que compram este tipo de jogo. Digo que o momento é igual ao da “geração xerox do RPG” onde pequenos grupos se encontravam e passavam os jogos sob a forma de xeroxes dos título. Algo acontece similar ao jogos, onde com os recursos de computação atuais e a Internet é possível fazer versões caseiras de jogos (já vi alguns que são melhores que muitos feitos no Brasil por empresas).
Por Antônio Marcelo
Riachuelo Games
“O Grande Mundo dos Jogos de Tabuleiro” foi publicado originalmente no antigo portal em 24 de outubro de 2007 e teve 5.101 leituras.