Use e abuse dos Estereótipos

“Use e abuse dos Estereótipos” é um artigo escrito pelo grande Monte Cook e publicado no antigo portal daREDERPG em 26 de setembro de 2004 (3.138 leituras). A tradução foi feita por Mário “Dedo no Olho”.

Por Monte Cook
Traduzido por Mário “Dedo-no-Olho”
do Grupo Sefirot para a REDERPG
com permissão do autor

Monte Cook nos trás um artigo sobre os Estereótipos no RPG. Este recurso pode ser de grande valia no RPG. Mas como usá-los em benefício do jogo? Eles são pontos de partida para a criação de Personagens do Mestre e Personagens do Jogador ou são a palavra final em termos de caracterização? Como usar as idéias pré-concebidas dos jogadores para surpreendê-los? Saiba mais lendo nesse artigo do Monte Cook, traduzido por Mário César do Grupo Sefirot.

Use e Abuse dos Estereótipos

Na vida real, eu desprezo estereótipos. Grandes grupos de pessoas rotuladas como se fossem a mesma coisa é errado e detestável.

Na ficção, e particularmente no jogo, entretanto, estereótipos podem ser úteis.

Imagine que você se vira para os seus jogadores e fala sobre um terrível capitão orc que está causando confusão no mundo da campanha. Com apenas duas palavras, “capitão orc”, você colocou uma imagem em suas cabeças, provavelmente a imagem de um orc feio, grande e brutamonte, com um machado grande e pesado, uma armadura tosca, talvez algumas cicatrizes, e provavelmente cercado por uma horda de orcs urrantes que seguem fielmente sua liderança. Ao pintar a tela em branco que é o seu mundo este tipo de estenografia* pode ser muito útil, te poupando o trabalho de descrever tudo do nada.

Na verdade, é isso que são as classes de personagem no D&D. Elas são formas estenográficas úteis – um ponto de partida. É como contar uma história sobre um “carro vermelho”. Todo mundo sabe o que é “carro” e o que é “vermelho”, então é um ponto de partida em comum. Se um jogador diz que seu personagem novo é um guerreiro, então todos na mesa têm uma idéia de que tipo de coisas ele pode fazer ou não e que papel ele irá cumprir no grupo. Isso os ajuda a saber como seus personagens devem interagir com o novo personagem em um nível básico.

Como eu disse, é um ponto de partida. Entretanto, o contador da história precisa nos contar mais. O carro vermelho precisa de elaboração. É um caro novinho em folha ou uma caçamba velha? Um Hyundai ou uma Ferrari?

Então, personagens também devem ter esse tipo de elaboração. De que raça é o guerreiro? Quais tipos de armas e armaduras ele usa? Isso ainda é muito básico, mas coloca o personagem no enfoque. Onde o jogador (ou você, o DM, montando um PNJ) pode realmente tornar o personagem único é em sua aparência, personalidade e história.

Quando você criar uma nova raça ou estabelecer uma das antigas na sua campanha (“É assim que são os elfos na minha campanha”), utilize fortemente o estereótipo. “Elfos adoram livros e são fascinados por conhecimento antigo”. Com esse estereótipo na cabeça, agora os jogadores sabem aonde ir se eles precisarem de informações sobre os tempos antigos. Não que todo elfo vá saber coisas sobre conhecimento antigo, mas talvez faça mais sentido ir aos elfos do que aos halflings. E mais, é um cabide onde pendurar seu personagem (PC ou NPC) – você pode criar um personagem elfo que parece estar de acordo com o estereótipo ou um que o refute. De qualquer maneira é uma ferramenta útil.

Tenha certeza que você liberte um NPC dos estereótipos, no entanto. Um anão felizinho, um bárbaro pensador, um mago que gosta de combate corpo a corpo – essas idéias de personagem se tornam mais memoráveis justamente porque chutam o balde.

Colocar estereótipos no seu mundo ainda te força a analisá-los e assim desenvolver ainda mais o cenário. Você pode dizer, “Todo mundo no Reino de Nevel é bebum”. Como esse estereótipo começou? Talvez seja porque, 30 anos atrás, houve uma falta de comida horrível e as coisas estavam feias em Nevel. A única coisa que era barata e com um bom estoque era o álcool. O povo do reino, em grandes números, começou a beber para esquecer a tristeza de suas vidas. Até hoje, com o fim da fome, o alcoolismo ainda é um problema, e claro que o estereótipo persiste – uma vez que um estereótipo é formado, ele se torna difícil de ser erradicado completamente.

Para entender algo você precisa primeiro conhecer as generalidades antes de aprender os detalhes. Do mesmo modo, quando você cria um cenário, ou parte de um cenário, informe aos jogadores as generalidades envolvidas. È um bom lugar pra começar.

Publicação original em: 7 de Agosto, 2003
Traduzido e publicado com a permissão do autor
All content © 2004 Monte Cook.
Link Original: http://www.montecook.com/arch_dmonly23.html

NOTA: * no original “shorthand” – arte de escrever por abreviaturas com a rapidez com que se fala.

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