Escrevendo o review para o livro The Great Clans, tentei me policiar ao máximo para não falar muito sobre os clãs e tentar deixar o texto mais enxuto, mas acredito que há muito a ser dito sobre cada um dos clãs de Legends of the Five Rings. Por isso iniciarei aqui uma série de matéria sobre os clãs de Rokugan, apresentando-os para os jogadores que ainda não conhecem o jogo e apresentando algumas características que definem o clã e que podem ser usadas por jogadores e mestres para criar seus personagens. Para tentar não favorecer nenhum clã (o que é difícil em L5R, pois todos tem um clã que se identifica mais), seguirei a ordem alfabética em inglês dos clãs, que é como os clãs são apresentados em todos os livros. Depois, seguirei com textos sobre o clã Aranha, famílias imperiais e clãs menores.
CLÃ CARANGUEJO (CRAB)
Visão Geral
O clã Caranguejo foi fundado por Hida, um dos oito kamis que caíram nas terras que hoje compõe o império de Rokugan. Ele era o mais forte entre seus irmãos, e por isso foi incumbido pelo imperador Hantei a proteger as fronteiras ao sul do império que fazem fronteira com as Shadowlands.
Mais de mil anos depois, oCaranguejo ainda se mantém no mesmo território, servindo como primeira linha de defesa do império contra as hostes das Shadowlands. Da mesma forma, durante todo este tempo as criaturas das Shadowlands continuam sendo a maior ameaça a continuidade do império. Mesmo com a construção da Muralha Kaiu, e sua manutenção ao longo deste milênio, os samurais do clã Caranguejo vivem suas vidas ao lado do inimigo, sempre a espera de um ataque que pode acontecer a qualquer momento.
Desta forma, é de se imaginar que o clã esteja sempre preparado para uma investida dos monstros das Shadowlands, mantendo seus exércitos alerta e suas reservas de prontidão. Criando um clima quase de paranóia em todos aqueles que vivem em seu território, mantendo todos preparados para resistir a uma possível invasão.
Assim, os samurais do clã Caranguejo tendem a ser imaginados como personagens direcionados ao combate, fortes e habilidosos na utilização de armas e técnicas de lutas, com pouco traquejo social e inclusive sendo uma pouco rudes. Eles são personagens voltados para a ação, se lançando totalmente ao combate com um único pensamento em mente, derrotar o inimigo a qualquer custo.
História
A história do clã pode ser resumidamente em uma sucessão de guerras desde a ascensão das Shadowlands. Um dos marcos históricos que ajudaram a moldar o clã foi a construção da Muralha Kaiu, uma alta e comprida muralha construída pelos engenheiros da família Kaiu durante a investida de um grande exército vindo das Shadowlands. Sua construção só foi possível devido o sacrifício de um shugenja chamado Kuni Osako que usou seus poderes para transformar um rio em uma muralha de água que conteve este exército por um tempo suficiente até que a Muralha fosse erigia. Desde então, a muralha vem sendo mantida, reforçada e expandida pelo clã para conter as investidas das hostes da Shadownlands.
Durante sua história, o clã se envolveu em conflitos com quase todos os clãs de Rokugan. Mas suas desavenças mais notórias são com o clã vizinho, Garça. Tudo começou com a disputa de um território desejado por ambos os clãs e chegou ao seu ápice com o abandono da família Yasuki do clã Garça e sendo recebido de braços abertos pelo Caranguejo. Desde então as relações entre ambos os clãs são conturbadas. A única exceção é a família Daidoji, que veio em socorro ao Caranguejo durante um ataque traiçoeiro das Shadowlands no século VIII, e assim ganhando seu respeito. Os Caranguejos chamam os samurais dessa família de as Garças de Ferro.
Em um momento negro da história da clã, durante a época conhecida como a Guerra dos Clãs, que culminou com o Segundo Dia do Trovão, onde Fu Leng se revelou ao mundo e foi derrotado pelos campeões mortais de cada clã, o Caranguejo forjou uma aliança com seus inimigos mortais. Sob a influência de um shugenja corrompido chamado Kuni Yori, o clã criou um poderoso exército com a ajuda das hostes das Shadownlads e marchou contra a capital para tomar o trono e devolver a ordem ao império. Acontece que o clã foi traído, pois era o kami corrompido que governava possuindo o corpo do imperador, e virou seus “aliados” contra eles. O Caranguejo foi dizimado. O clã demorou muito tempo para se recuperar desse episódio.
Atualmente o clã vê sua antiga rivalidade com o clã Garça crescer novamente ainda por causa da disputa pela família Yasuke.
É importante destacar também que o Caranguejo possui o maior exército entre os clãs, e ele seria imbatível em uma guerra declarada com outro clã. No entanto, o clã sempre mantém a maior parte de sua força nas muralhas para defender o império e qualquer conflito que seja deflagrado é travado com uma parte menor de suas forças. Isso demonstra o comprometimento do clã com seu dever milenar.
Para concluir, podemos considerar que ao longo de sua história, o clã sempre travou guerras (ou pelo menos a maioria delas) motivadas pela proteção do império, mesmo aquelas em que eles estavam errados. É importante notar que esse senso de dever foi se enraizando no clã durante toda sua existência e ajudou a tornar o clã o que ele é hoje, uma poderosa máquina de guerra pronta para entrar em ação contra os inimigos do império, principalmente se esse inimigo for as forças das Shadowlands.
Famílias
O clã Caranguejo é muito prático, e isso se reflete nas famílias, que possuem papeis muito bem definido dentro do clã: os Hida são os líderes e os guerreiros, os Hiruma são os batedores e yojimbos, os Kaiu são os engenheiros e construtores, os Kuni são os shugenjas e pesquisadores, os Yasuki são os cortesãos e cuidam da parte logística do clã e os Toritaka são os especialistas em espíritos, tanto benignos quanto malignos.
Assim, as assuntos dentro do clã são tratado em um fluxo lógico: os Hida apresentam o assunto a ser tratado, os Kuni e Toritaka pesquisam a melhor solução, os Yasuki e Kaiu garantem que o clã terá os recursos necessários para aplicar a solução proposta e os Hida e Hiruma entram em ação.
Hida
A família Hida descende do fundador do clã, o kami Hida, e por isso é ela quem lidera o clã. Além de ser a família que comanda o clã, tanto na parte gerencial quanto militar, é ela quem fornece a maioria dos samurais para o exército do clã. Como o exército do Caranguejo é o maior do império, imagina-se que a família Hida seja uma das maiores do império.
Na visão dos outros clãs, a família Hida e o clã Caranguejo são um só, pois eles acreditam que todos os samurais do clã são grandes, fortes, sujos e estúpidos demais para entender como se comportar corretamente em uma corte. E essa visão é até encorajada por alguns, pois leva os clãs a subestimarem o Caranguejo, algo que eles certamente irão se arrepender. Apesar de não fugirem muito dessa visão, os Hida não são nada burros, pois de suas fileiras saíram alguns dos maiores generais do império. Acontece que eles empregam seus esforços e mentes no combate diário contra as forças das Shadownlands e não tem muito tempo para o que consideram “amenidades”.
O foco em seu dever de defender o império é grande pois, desde a infância, os futuros samurais já são influenciados a guerrear. Suas brincadeiras principais são jogos que os treinam para serem fortes e a pensarem defensivamente. Quando eles atingem a idade e vão para o dojo o treinamento se torna mais brutal, e os jovens são levados até o limite da dor, tendo que lutar até o ultimo suspiro antes de cair.
Para se tornar um samurai, um Caranguejo deve ir para as Shadowlands e só podem retornar após conseguir trazer a cabeça de uma criatura. Aos que retornam com os maiores troféus (a cabeça de um ogre, troll ou mesmo um oni) recebem cargos mais expressivos dentro da família.
Isto pode parecer cruel para os outros clãs, mas é considerado extremamente importante por uma família que lida com o combate diariamente. Percebe-se que os Hida valorizam a força e a resistência individual, e aqueles que conseguem ser mais do que isso, ter um pensamento mais amplo do campo de batalha, se tornam os líderes da família.
Hiruma
Os Hiruma geralmente são menores e mais ágeis que os Hida, mas isso os servem perfeitamente. Eles são os batedores do clã, conhecendo as Shadowlands como nenhuma outra família do império.
No entanto a família sofreu uma grande tragédia em sua história, quando um grande exército das Shadowlands varreu o território Hiruma e tomou as terras ancestrais da família, que perdeu muito dos seus registros, inclusive de suas técnicas milenares. A família manteve sua função dentro do clã ao receber treinamento dos batedores Shinjo do clã Unicórnio. Apenas quatro séculos mais tarde a família conseguiu recuperar suas técnicas ancestrais, porém mantiveram muito do que aprenderam com os Unicórnios.
Mas nem todos os samurais superaram essa perda, e juraram que não mais usariam seu mon enquanto não recuperassem suas terras. O ódio gerado pela frustração criou dentro da família um número muito grande de berserkers, guerreiros que entram em uma fúria cega e só conseguem parar de lutar até que ele ou todos os inimigos estejam mortos.
Além de serem reconhecidos como excelentes batedores, os samurais Hiruma também são valorizados como yojimbos pelos diplomatas do clã. Ao contrário dos samurais Hida, que são barulhentos e rudes em momentos impróprios, os Hiruma são observadores extraordinário e, principalmente, silenciosos.
Os samurais da família Hiruma preferem uma abordagem diferente dos Hida, confiando em sua percepção, para verem e ouvirem coisas que os outros podem não perceber, e em sua agilidade para não serem percebidos. Mas ao contrário do que pode parecer, eles não são covardes, e mostrarão o mesmo ímpeto dos Hida em derrotar qualquer inimigo.
Kaiu
A família Kaiu é um dos diferenciais do Caranguejo para os outros clãs. Dessa família nasce a grande maioria dos melhores engenheiros do império. A sua marca registrada é a grande muralha que protege o território do clã. Erguida em apenas 73 dias, ela é constantemente reforçada e aprimorada para manter as hostes das Shadowlands longe do império.
A reputação dos Kaiu é tamanha que, quando qualquer clã de Rokugan precisa construir uma obra para ser duradoura, ele invariavelmente convidará um engenheiro Kaiu para desenvolvê-la.
Além de engenheiros a família ainda possui habilidosos artesãos. Os Kaiu são os armeiros do Caranguejo, criando as melhores armas e armaduras disponíveis dentro do clã. Eles também constroem armas de cerco para melhorar as defesas do clã e armadilhas elaboradas para proteger os túneis abaixo das muralhas.
Todo esse reconhecimento não é por acaso, os Kaiu são planejadores por natureza. Eles gastam muito tempo em um projeto tentando prever o formato que trará mais vantagem para a construção. Além disso, testam exaustivamente suas criações tentando se certificar que estão entregando o melhor trabalho possível. E caso eles falhem neste intento, usam isso para aprimorar seus projetos futuros.
Quando estão de folga, os Kaiu gostam de criar brinquedos, distraindo sua mente com um trabalho mais leve. As vezes esses brinquedos se tornam um projeto de verdade. Isto mostra que os Kaiu são os workaholic do clã, sempre pensando e analisando como aprimorar seu trabalho, valorizando o pensamento crítico, a criatividade para inovar e a habilidade manual para construir.
Kuni
Os Kuni são os samurais que passam a maior parte do tempo em contato com as terras e as criaturas das Shadowlands. É dever dos Kuni descobrir as forças e fraquezas dos inimigos, assim eles passam o tempo conduzindo experimentos, dissecando criaturas e mergulhando fundo nos segredos das Shadowlands.
Foi um Kuni chamado Kuni Nakanu quem primeiro identificou e nomeou a Mácula das Shadownlads, documentando os efeitos que ele causava ao corpo dos vivos e dos mortos. Foram os Kuni quem descobriram os efeitos purificadores do jade e seus efeitos nas criaturas nativas das Shadowlands ou corrompidas pela Mácula.
Essa dedicação em pesquisar os segredos das Shadowlands cobra seu preço, e a família Kuni é, junto com os Monges Tatuados do Dragão, a família com maior incidência de pessoas insanas no império. As coisas que eles fazem e vêem geralmente cobram o seu preço. Por isso eles são temidos pelas famílias dos outros clãs.
O mesmo ataque que tomou as terras dos Hiruma também corrompeu as terras ancestrais dos Kuni. Como solução eles descontaminaram a terra, mas no processo eles expulsaram os kami elementais também, tornando-a uma terra desolada. Assim, para treinar seus shugenjas os Kuni não possuem mais templos onde treinam seus aprendizem, ao invés, cada shugenja treina um ou dois aprendizes que os acompanha durante sua jornada.
Os Kuni são os shugenjas do clã, mas eles também treinam uma ordem de guerreiros místicos conhecidos como Caçadores de Bruxas. Essa divisão especial é especializada em descobrir utilizadores do maho (magia negra) e criaturas que se disfarçam de humanos. Assim como os shugenjas, os caçadores de bruxas tem o costume de pintar o rosto, e isso os deixam com um aspecto ainda mais assustador do que o de costume.
Os Kuni são extremamente dedicados e incansáveis na busca de respostas e não é a opinião das pessoas ou um tabu que irá lhes impedir de descobrir a verdade.
Toritaka
Essa família originalmente era o clã menor Falcão. Esse clã teve origem em um camponês que se sacrificou para salvar a vida do imperador do ataque de um ninja no século IX. A família deste camponês foi concedida o direito de elevar-se ao status de samurai e formar um clã.
A família recebeu o direito de sediar seu clã recém formado em um terreno entre a Floresta Shinomem e as Montanhas do Crepúsculos, dois locais famosos por serem assombrados. Logo após sua formação o clã se especializou no combate aos espíritos malignos, desenvolvendo técnicas para detectar e derrotar fantasmas e espíritos.
Essa especialização aproximou o clã Falcão da família Kuni, e durante gerações eles colaboraram entre si para resolução de acontecimentos misteriosos. Mas foi apenas no século XII que o Falcão foi incorporado ao Caranguejo.
Um poderoso ritual de magia negra invocou uma terrível força demoníaca chamada Shuten Doji que avançou pelo território do Falcão dizimando milhares de camponeses e samurais antes que pudesse ser contida. O clã do Falcão foi assistido por seus vizinhos do Caranguejo e logo após a família se uniu as suas fileiras.
Além de especialistas no combate com espíritos os Toritaka, como o nome de seu antigo clã já denunciava, são especialistas em falcoaria. Eles são reconhecidos como os melhores nesse esporte, mas não treinam seus falcões apenas para isso. Os animais são usados como olhos extras e são treinados a vasculhas uma área localizando coisas estranhas e avisando seu treinador.
Essa família ainda é nova no clã e está lutando para se posicionar perante outras famílias milenares. Apesar de contar com certa afinidade com os Kuni eles devem tentar se destacar e se tornarem uma nova força dentro do clã.
Yasuki
Essa família foi e ainda é motivo de tensão entre os clãs Caranguejo e Garça. Eles se originaram no clã Garça, mas sua principal atividade, o comércio, não se encaixava muito bem naquele clã pois a valorização do dinheiro, propriedades e bens não é algo deve ser valorizado de acordo com a filosofia dos samurais.
Durante a primeira guerra entre os clãs, o daimyo do clã Garça proibiu a família Yasuki de comercializar com os Caranguejos, ao invés disso eles debandaram para as terras dos inimigos que, mais pragmáticos, os receberam de braços abertos. Nunca antes uma família inteira havia abandonado um clã, e esse fato ainda não foi totalmente aceito pelo clã Garça.
A família Yasuki é a mais peculiar do clã Caranguejo, uma vez que eles não estão treinados para combater as forças das Shadowlands e a muitos nunca se aproximaram das muralhas Kaiu. No entanto essa família é fundamental para clã, pois sua natureza mercante garante os recursos que os exércitos do Caranguejo necessita para continuar sua luta.
Dessa família vêem os mais refinados comerciantes do império. Com seus olhos treinados, os Yasuki conseguem encontrar oportunidades para negócios em todas as situações, e assim possuem os itens mais requintados e exóticos para vender. Dizem que eles também estão envolvidos com contrabando e outras atividades comerciais ilegais, mas nada comprovado. Como o ato de comprar e vender não é algo que os samurais estão acostumados, há sempre desconfiança por esta postura da família. Mas, sabendo de sua importância, o clã sempre está ao seu lado nessas horas.
Os Yasuki também servem como diplomatas e cortesãos para o clã, uma vez que as outras famílias estão ocupadas demais para lidar com efemeridades. Os samurais dessa família sabem aproveitar as oportunidades e estão sempre atentos e vigilantes para os acontecimentos ao seu redor. Eles são bons observadores e buscam tirar proveito de todas as situações, principalmente se isso for render um belo lucro.
Conclusão
Essa visão geral do clã mostra como o clã está envolvido em combater as forças das Shadowlands. Todas as famílias e recursos do clã estão voltados para esse dever e não é difícil imaginar as crianças desse clã sendo doutrinadas nesse dever desde sedo, sendo lembradas constantemente dos perigos que existem do outro lado da muralha e das conseqüências para o império caso o clã falhe em sua missão.
Apesar da visão pragmática e da orientação militar, cada família do clã possui características que as destacam de todas as outras do império, proporcionando a criação de indivíduos com personalidades e habilidades únicas.
Escolha ser um samurai do clã Caranguejo se você deseja ser:
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um guerreiro grande, forte e destemido empunhando uma arma enorme para enfrentar bestas sobrenaturais;
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um guerreiro perspicaz, com grande conhecimento do terreno e que avança rapidamente sobre a sua presa antes que ela possa reagir;
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um shugenja com grande conhecimento sobre as Shadowlands e com o conhecimento necessário para derrotar suas criaturas;
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um cortesão habilidoso nas artes do comercio e com o conhecimento e recursos para conseguir os objetos mais exóticos e raros;
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um artesão com a habilidade para construir os itens mais poderosos e desejados por todos os samurais; ou
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um guerreiro místico com grande conhecimento que vaga pelas terras do império a procura de magia negra ou criaturas disfarçadas.
Por Rafael Silva