Apesar de ser esperado para este ano, a anúncio da 5ª Edição de Dungeons & Dragons – a qual a partir de agora vamos nos referir pelo nome oficial, D&D Next – causou certa surpresa e, naturalmente, bastante alvoroço. Certa surpresa por ter sido antes do esperado, e por ter sido precedido de uma reportagem reveladora no New York Times.
Este artigo tem como objetivo pensar no que levou a Wizards a lançar esta nova edição, no que está sendo colocado como diretrizes dela, e o que esperar do futuro do D&D e do RPG como um todo.
Antes
A 4ª Edição teve um grande defeito: ela aprofundou em muito o fracionamento da base de jogadores antigos de D&D, por conta das mudanças profundas no sistema. Esse fracionamento já existia, desde a 3.0, mas sem dúvida a 4ª Edição o aumentou ao ponto de abrir espaço para que o Pathfinder RPG abocanhasse uma fatia significativa do mercado. Mas isso seria compensando – e muito compensado – se a nova edição trouxesse para o RPG uma fatia, ainda que “pequena”, dos milhões de jogadores de MMORPGs e games online, a maioria desses jogos inspirada em D&D. A 4ª Edição foi criada, entre outros motivos, para atrair esse grande público para o RPG de mesa.
Independente do quanto ela foi bem sucedida ou não nesse intento, independente do quanto ela vendeu ou não – e posso até afirmar que a 4ª Edição vendeu tanto ou mais que a 3.5, mas menos que a 3.0 – o real problema é que ela não conseguiu atingir a meta desejada pela Hasbro. Mesmo com os seus principais livros ficando sempre entre os mais vendidos da Amazon e até figurando entre os Best Sellers do New York Times. Porque a Hasbro, a dona da Wizards, quer (e pelo visto, precisa) que o Dungeons & Dragons seja um negócio de mais de 100 milhões de dólares! Inclua nessa cifra tudo que for relacionado à marca D&D, dos livros, passando pelo D&D Insider, até os games eletrônicos licenciados.
Então, do ponto de vista de metas da Wizards (Hasbro), a 4ª Edição não foi bem sucedida. Mas a 3.5 acabou também não sendo, pois a crise de vendas (e do RPG) vem desde 2005, conforme citou o próprio artigo do New York Times. E por isso, podem ter certeza de uma coisa: se a Wizards tivesse lançado algo semelhante ao Pathfinder RPG, ela teria o mesmo problema que hoje tem com a 4ª Edição.
Dando um exemplo com números (mas que eu acredito que não estão tão longe do seja a proporção da realidade de vendas), 50 mil exemplares vendidos do livro básico do Pathfinder RPG são um baita lucro para a Paizo. Mas 150 mil exemplares vendidos do Livro do Jogador da 4ª Edição talvez ainda sejam abaixo do esperado para Wizards (antes que alguém pergunte, reforço que é apenas um exemplo numérico para sintetizar o que eu quero dizer).
Ou talvez esteja até acima do esperado pela Wizards (Hasbro), mas como um todo, o negócio, a marca Dungeons & Dragons está dando um lucro abaixo dos 100 milhões esperado pela Hasbro.
Porque não tenham dúvida: mesmo com o grande sucesso do Pathfinder RPG, mesmo com toda balbúrdia que os “haters” da 4ª Edição fazem, ela ainda é disparada mais jogada e possui mais jogadores que o OGL da Paizo e a antiga 3.5 juntas. Pelo menos em termos de mercado de língua inglesa, que é aquele que importa para a Wizards.
Claro que o crescimento, o sucesso e a consolidação do Pathfinder RPG, que abocanhou uma fatia significativa do mercado, também contribuíram em muito para os problemas da 4ª Edição. Problemas esses que são, primeiramente, administrativos, de escolhas erradas no gerenciamento da linha de produtos D&D, conforme falei neste outro artigo. Do outro lado, a estratégia de mercado da Paizo é infinitamente superior à da Wizards e foi outro fator decisivo para o crescimento do Pathfinder.
Ironicamente, uma das melhores coisas que a 4ª Edição trouxe, talvez possa ter contribuído para os problemas da 4ª Edição. Não temos os números exatos do D&D Insider – embora se saiba que ele deve ter, pelo menos, 60 mil ou mais assinantes. Não sabemos se ele é lucrativo ou não e o quanto é lucrativo, se consegue corresponder às expectativas da Wizards.
Mas o fato é, para o jogador que apenas quer as novas opções para construção de personagem, basta assinar o D&D Insider, gastando 10 dólares por mês, não sendo necessário comprar nenhum suplemento. Talvez isso tenha um peso na queda de vendas dos suplementos da 4ª Edição, ainda mais com a maioria dos produtos que estão sendo lançados cada vez mais voltados para Mestres, com mapas, marcadores e outros acessórios.
Agora
Mike Mearls, o novo chefão do D&D da Wizards, mostrou que é um cara inteligente. Ele não quer apenas lançar uma nova edição que resolva essas questões: ele quer lançar uma edição definitiva, capaz de agregar e reunir a base fragmentada de fãs e jogadores de D&D, de todas as edições do jogo. Ou simplesmente, fazer o D&D Next.
Para isso, ele chamou de volta para trabalhar na Wizards Monte Cook, um dos criadores da 3ª Edição, um nome que é venerado pelos jogadores americanos, que é a base de jogadores que interessa à Wizards, como já falamos. Monte Cook é um dos três principais designers do novo D&D Next.
A proposta é fazer um sistema modular, em que seja possível adicionar os elementos de mecânica de jogo que cada um prefere, de qualquer edição de D&D. Isso é explicitado pelo próprio Monte Cook, neste artigo que publicamos, traduzido pelo Luiz Agostinho.
Além disso, eles vão seguir o exemplo da Paizo e o seu Pathfinder RPG: fazer playtests abertos aos jogadores do mundo todo. Eles querem saber qual o jogo que nós queremos jogar, nas próprias palavras deles.
O que inicialmente foi recebido com desconfiança, agora fica claro que é um grande convite à participação de todos os jogadores, de todos aqueles que amam, não apenas o D&D, mas também o RPG como um todo e a fantasia medieval. Para fazer um jogo que irá agradar o máximo de pessoas possíveis e trazer de volta aquela sensação de se jogar RPG pela primeira vez.
Eu curto a 4ª Edição e desejo que as inovações que ela trouxe continuem de alguma forma no D&D Next. Mas estou otimista do que virá a partir de abril, com os playtests abertos.
Se você domina inglês o suficiente, pode participar, basta clicar no “Sign Up Now” no final do anúncio oficial:
http://www.wizards.com/dnd/Article.aspx?x=dnd/4ll/20120109
E depois?
Por mais que a gente esteja otimista, há algumas questões que devemos colocar ou deixar no ar, para vermos como serão respondidas. Porque é importante pensar sobre isso não apenas do ponto de vista do jogo D&D, mas também do hobby RPG e do ramo de negócio D&D.
Haverá alguma licença para terceiros? Eu acredito com certeza que terá, mas será uma nova OGL ou como a infeliz GSL?
Quantos jogadores o D&D Next vai tirar do Pathfinder RPG? A Paizo vai ficar sentada olhando essa grande jogada da Wizards, ou pretende no momento certo lançar uma 2ª Edição do Pathfinder? Porque, pode ter certeza, a Paizo conquistou uma fatia muito grande do mercado, como não se via desde o Vampiro, a Máscara da White Wolf, e ela seria muito tola se abrisse mão disso para aderir ao novo D&D.
E a Devir? A Devir vai ter uma terceira chance (a segunda foi com a 4ª Edição) de administrar bem o Dungeons & Dragons. Esperamos que a boa administração do início da 4ª Edição no Brasi que depois veio a se perder, desta vez se repita e seja mantida com o D&D Next.
Será que a Wizards será bem sucedida em agregar, em reunir a base de fãs do D&D de todas as edições sob uma única edição? A melhor maneira de propagar o hobby é os jogadores antigos ensinando e trazendo novos jogadores para o RPG. Um dos objetivos desta nova edição é fazer os jogadores de todas as edições se tornarem mais ativos e participativos além de seus grupos de jogos. Porque são os jogadores que criam novos jogadores, mais do que sistemas ou jogos feitos para isso.
Será que o D&D Next vai durar mais do que quatro anos, ou vamos ter alguma famigerada revisão no meio do caminho, ou mesmo uma 6ª Edição? Porque, se esta edição quer ter um caráter definitivo e de agregadora, ela precisará ter mais fôlego e materiais descritivos melhores para que ela dê lucro por mais tempo.
Por fim, a pergunta mais delicada: será que atingindo todos os objetivos com o D&D Next, a Wizards vai cumprir a meta que Hasbro espera do negócio D&D? Porque, no final das contas, a raiz de todos os problemas é a Hasbro e o que ela espera de lucro com o RPG.
A proposta do D&D Next é perfeita. Talvez, o grande sonho de todo jogador de D&D. Mais do que isso, o mercado do RPG precisa desta nova edição, que o D&D alavanque suas vendas e retome a dianteira, como principal marca que é.
Mais do que ficar na torcida, iremos fazer a nossa parte.
Marcelo Telles
Coordenador do REDERPG
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Alex Stirner
OU tomara que não lance um D&D Next Essential, ou Next .5 (o que é na verdade a mesma coisa) isso que tira a credibilidade de suas edições…
scarab
Sinto uma leve desconfiança que ainda não vai ser dessa vez que vamos ter uma edição definitiva. Acredito que futuramente vai ter mais edições até mesmo pq a Wizard tem olho grande por ser uma empresa.
É logico e evidente que a Paizo não vai deixar assim barato com certeza eles devem lançar algo para facilitar ou melhorar ainda mais sua imagem.
Agora não sei não como vai ficar esse proximo D&D , mais com certeza vai valaer a pena de acompanhar essa nova edição.
Arcanjo.sk
Só uma coisa. Sem querer sem chato, de onde vem a afirmação que ” ela ainda é disparada mais jogada e possui mais jogadores que o OGL da Paizo e a antiga 3.5 juntas”? E o mais vendido? Que critérios são usados para tais afirmações? já afirmações que o Pathfinder vende tanto quanto a 4E, se não mais, mas isso se limitando aos EUA. E sobre o “mais jogado que todos os outros juntos” acho bem complicado de se ter certeza.
Não é querendo desdenhar ou implicar, mas eu sempre fico um pé atrás com afirmações categóricas. É claro que como a marca D&D tem uma enorme força no mercado, e, considerando seu histórico, é de se imaginar que ele venda bastante, ao menos comparando ao mercado de RPG. Mas quanto a ele ser o número 1 de vendas E jogadores eu iria preferir pesquisar melhor, já que o Pathfinder cresceu muito desde que foi lançado.
Quanto a D&D Next, eu achei a idéia realmente muito interessante. Ainda acho difícil funcionar bem como prometem, mas tenho esperanças. Vamos esperar pra ver.
MTelles
“Não é querendo desdenhar ou implicar, mas eu sempre fico um pé atrás com afirmações categóricas.”
É o que eu sempre digo: cada um acredita naquilo que quer, que pode ou que lhe é mais confortável. Já vi muita gente nesse mercado falar três coisas diferentes sobre um fato, mudar a versão cada vez que o assunto é abordado.
Eu tenho dito as mesmas coisas desde 2006.
E agora, o New York Times confirma tudo o que eu sempre disse. Então, talvez eu tenha algum crédito, não acha?
Os livros da Paizo, principalmente os suplementos, têm vendido bem, provavelmente até mais que alguns suplementos de D&D. Mas os livros básicos de D&D foram best sellers do New York Times, não dá para comparar.
Conforme citado pelo Gustavo Sembiano dos RPGArautos (que promove jogos tanto de D&D quanto de Pathfinder), os dados que mostram que o Pathfinder vende mais que D&D vêm do ICV2, que tem por base entrevistas, não números, e não leva em conta os grandes magazines – Amazon, B&N, etc.
Além disso, mais de 60 mil pessoas que PAGAM para usar o D&D Insider, um fato que sempre é esquecido pelos “analistas” que gostam de decretar o fracasso da 4a Edição, mas que negam a crise do hobby que vem desde 2005, conforme eu sempre falei, e agora o New York Times atesta.
Nerun
Agora é você que tem um ponto! ;-)
Concordo plenamente. Prefiro GURPS, mas já joguei muito D&D. D&D tem trocentas edições, trocentos jogadores. As vendas de D&D 4 não são suficientes para refletir a realidade.
guievodevo
Sinceramente, gosto de todas as edições, cada uma tem suas qualidades e defeitos, e essa ideia de juntar tudo de bom, me deu um pouco de receio de ficar tipo colcha de retalhos , mas a galera que esta por trás dessa edição são , desculpe o palavreado, picas das galaxias do RPG. Se for pra esperar algo espero alguma coisa boa.
Mammoth
Eu recolocaria algumas ideias de outra maneira, porque, é relativamente óbvio que desde alguns anos o mercado de RPG está enfraquecido, quem começou a jogar RPG à uns 10 anos atrás percebeu isso, lojas fechando, linhas descontinuadas, produtos atrasados, menos material nas bancas, etc.
D&D é extraordinário, não preciso nem dizer as razões, mas, a notícia do New York Times não traz novidades, ele apenas reforça o que já era pressentido. O artigo ainda comenta por alto algum incomodo por parte dos fãs de outras linhas da própria WotC para com o D&D. Eu não discordo das frases categóricas do Telles, mas, a falta de dados (algo que é comum para todo mundo infelizmente) deixa no ar dúvidas sobre a margem de sucesso ou falha de algumas coisas que apareceram no mercado nos últimos anos.
Uma ideia que aparece na conclusão do artigo deixa outra dúvida no ar, de que essa nova edição pode não conciliar todas as regras boas das edições, o que é algo que realmente tem algum impacto: definitivamente não veremos um livro de regras que nos permita escolher para os nossos personagens um sistema de perícia de qualquer edição anterior, ou, um sistema de combate de qualquer outra edição.
Eles prometem pegar apenas o MELHOR de outras edições, mas, isso é algo extremamente subjetivo, e na notícia eles sugerem que a edição pode ser um tiro no próprio pé caso essas coisas boas que eles tragam não agradem certos jogadores. Não acredito que será um sistema perfeito ou definitivo, mas, com certeza será um produto que dirá para a WotC o que é que a maioria dos jogadores querem jogar.
Eu estou feliz com o Path, não vou migrar, mas, estou otimista quanto ao sucesso da 5ª em comparado com a 4ª.
MTelles
Na quarta-feira iremos republicar um artigo do antigo portal que mostra como jogar uma campanha nos moldes da 1a Edição usando a 4a Edição. É muito interessante porque nos dá uma ideia de como essa estrutura modular poderá ser feita.
É provável que o D&D Next não seja uma unanimidade, mas ele vai pegar a média do que gostam os jogadores ou do que gostam os jogadores em média! ;-) Mas acredito que haverá muito espaço para cada Mestre e seu grupo customizarem as regras conforme preferirem, além de permitir o uso de coisas diferentes, como é o caso hoje de um personagem feito nos moldes da linha principal e outro feito segundo a linha Essencial.
Nerun
No aguardo desse artigo!
lauro1980
Sempre quando vejo esse tipo de notícia, me pergunto: precisamos mesmo de mais um “novo” D&D?
Particularmente, acho que não; não gostei muito da 4 edição, e optei por continuar a jogar com a versão 3.5, que ainda acho a melhor.
É um pouco frustrante ter que comprar tudo de novo, o mesmo material, para um “novo” sistema. Principalmente considerando que a 4 edição ainda é muito “recente” se pensarmos em um jogo que é, basicamente, auto-suficiente.
Do AD&D para a 3.0 foi um salto temporal e tanto, o mesmo não acontece agora.
Pra mim, a questão é de qualidade. Se tivessem liberado mais material de qualidade superior, quem sabe não teriam mais fãs dedicados?
Não estamos ouvindo tantas pessoas indo em defesa da 4 edição como ouvíamos dos fãs da 3.0 e 3.5 quando ela foi “descontinuada”, o que é um sinal de que algo não está indo tão bem assim.
A questão é que a Hasbro perdeu muita moral dos fãs que se importam com D&D, com essa tendência em valorizar o lucro desenfreado acima da qualidade e da utilidade.
O D&D Insider é até interessante, mas é um serviço desnecessário e, principalmente, caro demais mensalmente. Deveria ser algo gratuito para manter os jogadores interessados, logados e informados, o que não acontece realmente.
Aqui no Brasil então, nem se fala… Novamente teremos tudo de novo de forma incompleta…
Alex Stirner
Bem eu parei no AD&D 2ed, mas confesso que sinto falta de novamente me empolgar com D&D, hoje em dia jogo de tudo, meus jogos vão de Best Friends à Dogs in the Veyneard… E as coisas que estão saibdo para a tal “D&D Next” estão me empolgando… A 4ª edição não me empolgou nem a ponto de comprar e testar, aquilo ali não o que eu imagino de D&D, aliás, aquilo ali talvez seja algo que eu nunca imaginaria de D&D, estou esperançoso com essa nova edição, estou acompanhando tudo, quero ver logo algumas regras prontinhas, algo mais real pra analisar… Mas finalmente o D&D tem a chance de novamente ver o cor dos meus suados reais…