RPG e Educação: Usando o RPG e o filme 300 em sala de aula

Hoje vou fazer um relato de uma experiência que eu tive com o RPG no ensino superior. Bom, com base na grande literatura que temos sobre a utilização do RPG na Educação, é perceptível que essa ferramenta pedagógica pode ser utilizada em qualquer nível educacional, obviamente respeitando as características das diferentes etapas de ensino.

Isto posto, minha experiência foi aplicar um jogo de RPG na disciplina de Fundamentos da Educação I, no primeiro ano do curso de Pedagogia da universidade na qual eu leciono. Essa disciplina possui o objetivo de apresentar e discutir questões históricas e filosóficas da educação em diversos períodos históricos. Nesse sentido, resolvi elaborar um jogo ambientada na cidade-estado de Esparta.

Para iniciarmos a discussão sobre o tema, disponibilizei o texto “Educação Cívica: Esparta e Atenas” de Izabel de Carvalho Gonçalves Dias, presente no livro “Fundamentos da Educação: recortes e discussões. Vol. II” organizador por Paulo Gomes Lima e Silvio Cesar Moral Marques. Após a discussão do referido texto, assistimos ao filme “300”. A minha ideia era tencionar as representações históricas presentes no filme com o conteúdo abordado no texto, porém sem o objetivo de apontar imprecisões ou falácias históricas presentes na obra cinematográfica. Destaquei algumas cenas dessa película como o treinamento das crianças e jovens, a educação militar e sua importância dentro da sociedade espartana.

A essa altura, os alunos e alunas já estavam com uma visão bem interessante a respeito da sociedade espartana e seus princípios educacionais. Foi aqui que inseri o RPG. Ninguém da turma havia jogado ou sequer conheciam o que significava o jogo, porém, após uma rápida explicação, gostaram da ideia e se propuseram a experimentar.

Para a organização da turma, dividi a mesma em 5 grupos de 4 ou 5 alunas e alunos, eles e elas representariam soldados adultos a serviço de Leônidas, o líder espartano. O jogo começou quando Leônidas chamou as personagens para informar que alguns espiões do Xá Xerxes estavam escondidos em Esparta e a missão era encontrar e capturar os invasores.

Durante essa busca, as personagens se depararam com alguns desafios e pistas para encontrar os espiões. Quando os mesmos foram localizados, houve uma batalha na qual os jogadores saíram vencedores, sobrando apenas um espião vivo que foi preso, interrogado e entregue a Leônidas.

O jogo transcorreu de forma muito tranquila e animada, todos os alunos e alunas estavam motivados e motivadas, conheciam o cenário (Esparta) e o espírito espartano. Mas foi no final que algo realmente surpreendente aconteceu.

Após Leônidas descobrir do espião que Xerxes estaria preparando um exército para invadir Esparta pela fronteira noroeste, o mesmo rapidamente organizou seus homens e decidiu marchar e surpreender o inimigo. Para finalizar o jogo com uma pitada de dramatização e sentimento de uma possível continuação, eu fiz um breve discurso representando Leônidas e terminei com algo mais ou menos assim (não lembro exatamente as palavras) “Espartanos, Xerxes quer nos fazer uma surpresa, pois bem, faremos isso antes. Ao amanhecer estaremos brandindo espadas e ao anoitecer estaremos brindando taças em comemoração à nossa vitória. Espartamos, vocês estão comigo!!??”. Nesse momento, sem nenhum ensaio ou premeditação, a turma inteira em um coral uníssono respondeu “Arru!!, Arru!!, Arru!!”.

Nesse momento, eu percebi como eles e elas estavam imersos no jogo. Reproduziram a mesma fala dos soldados aos discursos de Leônidas no filme, eles estavam vivenciando aquilo, estavam se imaginando como soldados prontos para seguir seu líder. Aquilo foi mágico para mim, até hoje me arrepio quando lembro da cena. Foi algo totalmente natural, sem ser combinado, eles apenas sentiram vontade de fazer aquilo.

Essa experiência, apenas reforçou o que eu sabia e o que toda literatura sobre RPG e educação já afirmaram. O RPG pode ser utilizado como ferramenta pedagógica e com grandes retornos educacionais. Como um jogo cooperativo, lúdico e com extrema liberdade, ele possibilita experiências de ensino que dificilmente, seriam saboreadas de outras formas. Continuarei utilizando o RPG em minhas aulas e sugiro que as professoras e professores que estejam lendo esse relato, se encorajem e façam o mesmo. É muito gratificando para elas, eles e para nós.

Por Ernando Brito Gonçalves Junior
Equipe REDE
RPG

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