Particularmente, meu primeiro contato com fanzines se deu em meados dos anos 1980, quando a forma de disseminar informações entre os fãs de Heavy Metal se dava unicamente através desse tipo de publicação. Na época, eram edições xerocadas contendo textos datilografados ou até mesmo manuscritos, que faziam uso de reproduções de fotos e encartes de LPs ou K7s, logotipos copiados a mão e, eventualmente, a cópia da cópia da cópia de uma foto que havia saído em uma revista importada que alguém havia conseguido botar as mãos, e que quando chegava nas páginas da publicação, mal passava de um borrão em tons de cinza. Mas, conforme a legenda, você tinha certeza de que quem estava ali era o Quorthon, vocalista do Bathory… Esse tipo de iniciativa era o cerne do espírito “do it yourself” (DIY): faça você mesmo.
Algum tempo depois foram os zines de ficção científica que não só resenhavam livros e apresentavam biografias de autores consagrados, como traziam contos de escritores brasileiros que começavam a despontar no cenário ou até mesmo apresentavam seu cartão de visitas.
Fanzines sempre tiveram uma forte relação com nichos, com o underground. Dificilmente, em suas respectivas épocas, publicações estabelecidas abriam suas páginas para esses temas da mesma forma que o aparecimento de publicações especializadas estaria obrigatoriamente relacionado à superação das barreiras desses nichos. Vale lembrar que nesse caso estamos tratando da época pré-internet.
Envelopes que demoravam semanas para chegar pelo correio tradicional (os estrangeiros chamavam de slug-mail) foram substituídos pelo simples “enter” enviando quase que instantaneamente um arquivo ao destinatário. Não somente a internet, mas a evolução tecnológica como um todo trouxe ganhos incomensuráveis para a produção de zines.
Os primórdios do jogo que deu o pontapé inicial ao hobby tinham em sua forma a característica de fanzines: o “faça você mesmo” (DIY), as técnicas de edição e reprodução, o tamanho e a forma de divulgação muitas vezes no boca a boca e, principalmente, a paixão pela coisa.
No Brasil, o formato voltado para o público OSR (Old School Renaissance), tanto físico quanto eletrônico, tem fiéis apoiadores que acompanham edições que transitam de zines tradicionais até algumas facilmente classificáveis como prozines, com editoração e impressão profissionais.
O grande trunfo da publicação de fanzines reside principalmente na liberdade editorial e estética explorada por seus produtores. Sem as limitações e entraves que uma publicação comercial sofreria, a edição de um zine pode viajar quase que livremente através dos mais variados conceitos e padrões.
Essas linhas editoriais podem viajar nas mais diversas alternativas, deixando os editores livres por optar e variar conteúdos de edição a edição: porque não ampliar um conjunto de cenários clássicos (como o Beyond the Borderlands do @gnarledmonster) ou mesmo mergulhar em temáticas específicas (a vindoura Torches #4)? E que tais coletâneas de aventuras daqueles que compartilham da mesma visão do perigo e intensidade de uma mortífera “one shot”, como o D20Age #7 do incansável DM Quiral? E daí, por que não monstros, artefatos, lendas, linhagens, ensaios, relatos, entrevistas, biografias, portfólios, depoimentos etc.?
Além dos atrativos dos conteúdos distanciados do padrão, o nicho dos zines OSR acaba por impulsionar também o nome de vários artistas que começam a ter seus trabalhos reconhecidos pelos fãs e editoras independentes nacionais e estrangeiras. Neles temos a oportunidade de debruçar-nos em artes que representam não só personagens icônicos e pitorescas cenas de aventuras, mas também mapas e masmorras nos mais variados estilos de representação.
Então fica a dica para o leitor: se você curte a amálgama de sistemas com a abordagem OSR que vêm surgindo na cena brasileira, dê uma oportunidade para uma série de conteúdos alternativos que podem acrescentar um colorido para a sua mesa.
Dê uma conferida em:
+Morra! do Bruno Prozaiko e Rafael Nicoletti
Beyond the Borderlands do Alex Damasceno
Caveira Velha do Diogo Nogueira
Torches Magazine do RPG com Nozes
Por Marcelo Augusto
Equipe REDERPG