Este é um assunto que vejo ser abordado com uma certa frequência nos grupos em que participo. Há muitas visões diferentes, mesmo até preconceituosas, quanto à questão dos Sistemas Próprios, em que os argumentos vão de plausíveis a puro preconceito. Portanto, tratarei o assunto das duas formas, como o lixo que realmente podem ser, ou o luxo, o primor que podem se tornar.
Quando se apoia a ideia de que eles são ruins, podemos avaliar que a maior parte das argumentações acabam sendo que não são realmente Sistemas Próprios, e sim, apenas um conglomerado de ideias copiadas de um sistema já existente, tendo apenas algumas quirelas de acréscimo. Esse é um argumento difícil de refutar, vamos ao exemplo: quando se coloca a adaptação de uma mídia que não é representada com um RPG para o seu “sistema”, que é algo copiado de outro já existente, só adicionando o que o mundo usado como base traz de novo. Com uma grande parcela de certeza, isso pode gerar algo desequilibrado ou mesmo só um Sistema Próprio ruim, apesar de que Pathfinder em sua primeira edição era exatamente isso, porém, voltarei a esse argumento mais adiante.
Outro ponto são sistemas feitos realmente de um rascunho. Mundo, mecânicas, poderes e até o conceito de organização dos personagens ou mesmo de jogadores. Quanto ao enredo do mundo em que está ambientado, temos a questão literária para observar, pois, um mundo bem feito como uma obra Tolkeniana cheia de detalhes sobre várias coisas, pode não ser agradável a todos. Isso já é um ponto contra esse Sistema Próprio criado do zero, mas, sem falar dessa parte que está mais ligada ao gosto pessoal, temos as mecânicas de jogo e regras que, por muitas vezes, podem ser desbalanceadas e sem sentido em muitos pontos. E já vi isso sendo criticado em sistemas de sucesso de vendas no Brasil, como é o caso do Tormenta 20. Uma única pessoa conseguir passar por estes dois crivos sem os devidos testes ou experiência de Game Design, o que pode resultar em um desastre de sistema realmente. Mas vemos publicações sendo feitas de sistemas totalmente novos e nacionais como é o caso do Epifania e Belregard, que são exemplos de sistemas que não caem nos erros apontados aqui.
Por fim, só o preconceito simples e puro, baseado em discursos como: “foi um fulano qualquer que fez isso, deve ter ficado uma porcaria”, sem qualquer tipo de leitura ou busca de informações. Este é um caminho ruim, que cai no ponto de várias críticas em que outra temática é abordada como o “jeito certo de se jogar RPG”. Porém, isso é assunto para outras rodadas e alguns dos textos da REDERPG abordaram isso recentemente, sugiro procurá-los e boa leitura.
Continuando o serviço de advogado do diabo, sistemas próprios geram ao seu criador uma satisfação muito grande, mesmo que fique literalmente um horror. Pois ele pode ver pessoas jogando aquilo que ele criou desde o mundo até mesmo um sistema. Mesmo recebendo críticas por mais massacrantes que sejam, aquele que cria porque gosta vai literalmente absorver tudo e melhorar o sistema que criou ou mesmo para sistemas futuros, só esse fator criativo para esse indivíduo já vale a menção de um fator do “luxo” dos Sistemas Próprios.
Resolver um problema da comunidade sim, porque existem sistemas que surgem porque nenhum existente realmente se encaixa com o que precisa ser feito; e existem situações sim que o GURPS e demais sistemas que se propõem genéricos não conseguem adaptar. Uma determinada obra aclamada, vou usar de exemplo Pokémon, pois ele não tem um sistema oficial, ou posso estar errado, mas só de procurar uma busca rápida eu encontrei uns dois ou três sistemas próprios e vários sistemas mais “caseiros” para um nicho menor de jogadores que, provavelmente, existe. Porque se há milhões de jogadores que passaram a caminhar em suas cidades para jogar Pokémon em seus celulares, por que jogadores de RPG não fariam o mesmo?
Atender demandas que surgem, isso acontece principalmente para maneiras de jogar RPG que fogem um pouco do convencional, como aquele grupo que não tem mais como se reunir, mas quer continuar jogando junto de alguma maneira. A grande maioria dos sistemas existentes não conseguiria comportar essa situação por conta de seus muitos turnos de ação, principalmente em combates. Devo dizer até que mesmo RPGs consagrados como D&D têm certa dificuldade em rolar uma mesa quando os combates são por demais elaborados, levando a uma demora excessiva para os que estão presentes, imagina em momentos diferentes. Então, regras e mecânicas próprias se fazem necessárias. Vide o artigo RPG em Fórum? se quiserem ver mais sobre o assunto.
Citei aqui obras publicadas como exemplos de Sistemas Próprios, o que realmente o são se formos ver na essência, e mesmo sistemas consagrados, antes se iniciaram como algo novo. A real diferença está no índice de profissionalização dos indivíduos, se a pessoa está há anos no mercado produzindo e refinando a sua obra, e esta já é consumida por várias pessoas. É óbvio que ele, ou melhor, a equipe, já tem direcionamentos e mesmo propostas de roteiro e game design a seguir, algo que pessoas que estão iniciando seus Sistemas Próprios podem vir a ter ou não. Mas, o resumo de tudo, mesmo a aclamada obra que jogamos já foi o “patinho feio” dentro de um playtest que conseguiu a atenção de uma editora e caiu nas graças de uma publicação.
André Raron Teixeira
Equipe REDERPG
ReiVS
Ao meu ver, na maioria das vezes, um sistema novo só faz sentido quanto ele tem uma necessidade, seja pra facilitar a jogabilidade, interpretar um conceito/ação ou por necessidade do cenário.