Passada a “ressaca” do maior evento brasileiro de boardgames e RPG, eu finalmente me sento para fazer uma avaliação do Diversão Offline 2022 (DOFF), que retorna após dois anos de pandemia.
Embora seja triste para nós cariocas perder o evento para São Paulo, eu entendo a necessidade do DOFF estar na cidade que sedia a maior parte das empresas de jogos analógicos brasileiras. O local é magnífico, uma estrutura excelente, como a estrutura onde era realizado aqui no Rio de Janeiro, só que maior. Ele é perto da Rodoviária de Sampa e, para minha alegria, igualmente perto de onde meu filho mora lá na cidade: um uberzinho pra lá, outro pra cá e estadia gratuita garantida!
Os stands estavam enormes, como os da Galápagos, Conclave, Grok, Funbox, MeepleBR, Devir, New Order etc., e a imensa maioria das empresas e editoras brasileiras, das grandes às pequenas, estavam lá (muitos sentiram falta da GROW, grande ausência do evento). Alguns stands foram divididos por mais de uma pequena editora, então fica a dica para as empresas e iniciativas que não foram ou não estavam representadas de algum modo: busquem parcerias, porque é imprescindível estar no próximo DOFF no ano que vem. Se a sua empresa/iniciativa/marca não estava no evento, não importando o tamanho dela no mercado, você cometeu um grande equívoco.
O Diversão Offline em Sampa explicitou aquilo que todos sabiam: o mercado de boargames brasileiro é um gigante do entretenimento. E vai continuar crescendo e lucrando muito, mesmo com as costumeiras (e muitas vezes justas) reclamações sobre o alto preço dos jogos por parte dos consumidores (saudade do dólar a 3 reais, não é, meu filho?). Reclamam, mas compram. E são recompensados com muitos e variados lançamentos, boardgames para todos os estilos e gostos. E novas empresas surgem ou entram para o mercado de jogos de tabuleiro e colocam seus stands no DOFF. Então, sim, os jogos de tabuleiro dominam o evento e você tem a possibilidade de jogar lá todos os lançamentos e boa parte dos demais boardgames de cada empresa presente, além de protótipos e futuros lançamentos. Eu mesmo experimentei o For the Queen, muito bom, que será lançado no Brasil pela New Order, e o maravilhoso Oriflamme, já disponível em português pela Buró.
Não experimentei mais (fiquei babando na nova edição do Kemet, lançado em português pela Conclave) porque, como muitos sabem, acabei de lançar um novo livro de RPG, o Epifania: Deuses em Nós, e fiquei mais “preso” ao stand da minha editora, a New Order, atendendo e autografando os exemplares do meu livro que a galera comprou. Mas, mesmo assim, também consegui jogar uma aventura de Starfinder RPG mestrada pelo grande Rafael Tschope.
Eu tentei resistir bravamente e não comprar nada (estou precisando cortar gastos), mas acabei sucumbindo a comprar um Projeto Gaia, que está esgotado, mas que a Grok Games trouxe 27 unidades finais, “raspando o tacho” para disponibilizá-las no evento.
Então, ano que vem, faça um pé de meia, não apenas pelos gastos de viagem/hospedagem/comida etc., mas também para comprar jogos e livros, porque haverá MUITAS ofertas irresistíveis (alguém falou em Império Esmeralda de Lenda dos Cinco Anéis 4ª Edição a 30 reais?).
E O RPG?
Apesar de alguns poucos dizerem o contrário, o RPG brasileiro também vive seu melhor momento. Mesmo com a recente mudança na gestão do Dungeons & Dragons e a consequente espera pela retomada dos lançamentos de D&D, nunca tivemos tantos jogos diferentes de alta qualidade, sejam traduzidos, sejam os criados por autores e designers brasileiros.
Embora não tenha a dimensão financeira dos boardgames, há RPG para todos os gostos, todos os estilos, todos os tipos de cenário, todos os tipos de sistemas e formatos variados, dos mais baratos aos livrões coloridos de capa dura.
Todas as principais editoras de RPG estavam lá, destaque para os stands enormes da New Order e da Retropunk. Mas o que mais me chamou a atenção foi a presença e parcerias entre as pequenas editoras (mas grandes em qualidade) e estúdios: Coisinha Verde, Lampião, Dungeonist, Craftando, 101 Games, Nozes Game, CHA etc. (já peço desculpas de antemão se não citei alguma).
Minha lista de “dívidas” de vídeo-resenhas aumentou um bocado…
MAS NEM TUDO SÃO FLORES
Embora o Diversão Offline seja simplesmente imprescindível para o mercado brasileiro de boardgames e de RPG, o evento tem alguns pontos a melhorar.
Todos reclamaram da longa fila e demora para entrar, e olha que não estavam pedindo passaporte de vacina (para mim, pelo menos, não pediram e eu estava com ele). Então é preciso criar uma estrutura para “atacar” a fila e agilizar a entrada (apenas Imprensa e Expositores não tiveram demora em entrar e, nesse quesito, eles atacavam a fila).
As praças de alimentação tinham poucas opções e caras (7 reais uma garrafinha de água mineral e 48 reais um bowl!). No sábado, almoçar foi uma fila enorme em todas as opções para comprar e uma espera maior ainda para a comida ficar pronta (as moças que preparavam a comida do trailer de comida chinesa foram verdadeiras heroínas).
Por fim, não tinha bebedouros. Entendemos que, diante do risco sanitário, bebedouros podem ser um problema, mas para ano que vem é algo que não pode faltar, ainda mais que neste ano a imensa maioria das pessoas já estava sem máscara.
E O BALANÇO FINAL?
O evento é maravilhoso. É como ir num parque de diversões e curtir tudo que a gente ama de boardgame e RPG. Jogar, experimentar jogos novos, comprar com preço bem mais em conta etc. Minha criança interior está extremamente feliz, mesmo não podendo fazer tudo que eu gostaria por conta de estar promovendo o meu livro.
Além disso, este não foi apenas o evento de 2022: ele é o evento que era para acontecer em 2020 e que foi adiado por dois anos por conta da pandemia. Ainda assim, com toda situação sanitária catastrófica do nosso país, com todas as dificuldades, em uma conjuntura em que várias empresas da área do entretenimento fecharam ou faliram, a galera do Diversão Offline foi heroica e segurou o rojão para nos presentear com um evento que, se ainda precisa melhorar em alguns pontos, foi excelente de modo geral!
Parabéns à maravilhosa equipe da organização e até o Diversão Offline 2023!
Por Marcelo Telles
Editor da REDERPG