Caros amigos e amigas da REDERPG, esse é o primeiro artigo que escrevo para o site e espero que o mesmo seja do interesse da maior parte de vocês.
O que o me levou a escrever sobre o tema, foi uma experiência que eu tive e que me fez refletir a respeito. Um dia desses, num dos muitos grupos de RPG ao qual faço parte, um jovem resolveu postar algumas análises que fez sobre um suplemento que acabara de sair. Eu me interessei em ler para saber um pouco mais a respeito, mas o que acabou chamando a minha atenção não foi o suplemento em si, e sim a maneira como o jovem reagiu a certos assuntos tratados no livro que decidira resenhar.
Esse rapaz ficou profundamente contrariado com uma sessão voltada ao Narrador que aconselhava sobre certos cuidados ao lidar com os chamados “gatilhos”, as situações que podem gerar desconforto em um jogador ou jogadora durante a partida e que o Narrador ou Narradora do cenário deveria ter cuidado ou evitar.
Para minha surpresa, a reação desse jovem foi bem negativa ao que o livro estava propondo, considerando que a iniciativa da editora feria um suposto sentimento de liberdade de expressão que o mesmo sentia possuir. Em uma fala bem extrema, o rapaz colocou mais ou menos o seguinte: “que não era o Narrador que deveria evitar determinados assuntos, até porque, assim sendo, teria parte da diversão em narrar coibida. Quem deveria ser evitado era o tal jogador, que não jogasse aquele jogo se a coisa fosse o incomodar tanto assim e pronto, problema resolvido.”
Fiquei aqui pensando com os meus botões por que algumas questões do que está sendo chamado de “politicamente correto” incomoda tanto certos jogadores.
Posso começar afirmando o óbvio. Normalmente o tal jogador incomodado é branco, homem cisgênero e heterossexual. Em muitos casos pertence à classe média, tem família estruturada e defende um pensamento burguês.
Claro que não é exclusividade do tipo acima, o famoso nerd normativo, tais pensamentos. Existem variações, claro que sim, mas se buscarmos os perfis de gente que normalmente se ofende com o discurso do politicamente correto, veremos que essas são as pessoas que mais se expõem em comentários virulentos e agressivos.
A coisa piora cada vez mais, quando esses sujeitos, outrora detentores de um sentimento que o entretenimento geek era voltado exclusivamente para eles, percebem mais e mais uma quebra nos padrões preestabelecidos em seu universo cultural. Um novo super-homem bissexual, uma Thor mulher, uma Batgirl negra e lésbica. Um Dumbledore gay.
Tudo isso é como uma facada no frágil ego do jovem nerd que antes nutria tantas certezas sobre o seu mundinho de fantasia.
E aí no RPG as coisas começam a mudar também, mais e mais.
Não apenas um número maior de mulheres está jogando, narrando, comprando e comentando. Mas também há uma maior inserção da comunidade LGBTQIA+ e dos seus interesses, uma maior discussão sobre o bem e o mal em cenários e sistemas. O papel do negro e da negra, das africanidades e da cultura africana nos cenários já lançados e nos que serão lançados futuramente.
Quando eu tinha dezesseis anos, era muito comum numa mesa de D&D matarmos orcs a rodo, nada escapava da nossa fúria assassina de aventureiros honrados e heroicos. Os elfos Drow, também chamados de elfos negros, eram vilões e ponto final, nasciam malignos e não tinha que se pensar a respeito. Cada monstro, mesmo os humanoides e inteligentes, tinham a sua sina predeterminada por livros que impunham uma questão epistêmica de que, cada um desses seres nascia mau e pronto.
Então existiam os variantes que fugiam à regra e daí tínhamos alguns heróis trágicos, que tentavam suavizar a questão toda com um discurso de que: “para toda regra há a sua exceção”.
Drizzt Do’Urden, o valoroso elfo negro patrulheiro do cenário Forgotten Realms, que fugira do seu destino ao abandonar a terrível sociedade Drow moradora do Underdark, é o exemplo mais lembrado e comentado. Como uma história poderia ficar tão boa se não fosse assim, se a sociedade Drow não fosse maligna por natureza, ou no caso maligna por se associar com a terrível Loth, a deusa aranha?
Hoje a própria Wizards of the Coast, a editora que cuida do D&D nos EUA e cada vez mais no resto do mundo, não quer mais seguir esse “padrãozinho” de cenário. A própria editora está mudando sua postura em relação a estabelecer orcs malignos e goblins cruéis, criaturas em sua essência maléficas e desvirtuadas.
E com isso estamos vendo o nerd normativo convulsionando com cada mudança que considera uma afronta ao “jeito certo de se jogar RPG”.
Lembra do rapaz mencionado no começo desse artigo?
Ele diz que não é o Narrador que deve mudar a história, para não perder a diversão de narrar, mas é o jogador que deve não participar se uma história for lhe causar algum transtorno.
Mas aí eu pergunto: como o jogador vai estar ciente disso? De quais histórias deve participar ou não?
Não é melhor o Narrador conversar com os jogadores e jogadores e discutir quais temas não seria interessante abordar na história? Será que uma aventura ficará menos divertida se um dos jogadores pedir ao Narrador que não utilize como tema violência contra animais, ou contra pessoas negras ou contra os homossexuais?
Eu não li o tal suplemento mencionado pelo rapaz, mas será que a sugestão da editora não era simplesmente essa? Um pouco de bom senso por parte do Narrador? Ter bom senso não é o mesmo que proibir a liberdade de expressão, mas, ao que me parece, tanto nesse jogador como em muitos outros, o que falta é um pouco de maturidade, uma maturidade que está aos poucos se formando nos grupos de RPG que percebem o quanto a diversidade e a inclusão são fatores positivos para o nosso universo.
No fim, o que me parece, é que o nerd normativo, tão apegado aos seus orcs malignos e às suas mesas com mais quatro ou cinco nerds branquelos e “machões” (que adoram bandas com caras vestidos em sunga de pele de texugo, ao melhor estilo Manowar) têm medo de discutir coisas que nunca foram discutidas.
O mal em um cenário surge simplesmente por conta da natureza de cada raça? Ou dos deuses? Ou a maneira como as relações sociais foram estabelecidas tem alguma influência nessa história?
Percebam, não é uma questão de adentrar em discussões filosóficas sacando os livros do Kant, Hegel, Nietzsche e outros. A não ser, claro, que o grupo esteja disposto a fazer tal trabalho. Mas é uma questão de pensar um pouco mais para dar profundidade a um vilão, ou a um grupo de vilões. Considerar todos os orcs maus porque a raça é má por essência hoje em dia é uma baita preguiça intelectual.
E aí talvez esteja uma resposta para a questão toda. Talvez o nerd normativo esteja por demais preguiçoso, muito acostumado a receber tudo mastigadinho das editoras e pouco propenso a pensar em mudanças estruturais nos seus cenários e, em muitos casos, nas suas relações sociais fora da mesa de jogo.
Não é à toa que muitos desses nerds viram tiozões que sentam em cima dos seus livros favoritos, edições lançadas em algum momento dos anos noventa, e as consideram as melhores já lançadas. Esses caras pararam de ler há muito, e é bem mais simples dizer que o que tinha antes era melhor e fim de discussão. E de que é bem mais seguro jogar com outros quatro ou cinco branquelos machões, que não vão trazer à baila durante o jogo temas que sejam constrangedores, como a igualdade de gênero, raça e sexualidade.
Mas eu quero dizer algo para tranquilizar você, nerd normativo.
Se você quiser continuar considerando todos os orcs malignos, se quiser que as suas mesas só tenham caras iguais a você, se quiser que nada mude e tudo siga do mesmo jeito de sempre, parabéns, esse é o seu desejo e ele pode ser atendido.
Até porque, dentro da sua casa, e respeitando as leis, você pode fazer o que quiser.
Não vai ter a polícia secreta de nenhuma editora tentando abrir a porta da sua casa à força, te prender e levar os seus livros embora, mesmo que você dizime uma vila inteira de goblins ou resolva usar como vilão uma drag queen famosa da qual desdenha. Mas, lembre-se: isso vale para a sua casa.
E a internet não é o seu quintal.
Por Fernando Fiorin
Equipe REDERPG
Danrical
Apesar do autor do texto ser meio preconceituoso, a verdade é que qualquer um pode achar a sua própria “tribo”. E se por acaso não se sentir bem em uma mesa, é só sair dela e pronto. Sem a necessidade de traumas ou textão na internet. Maturidade, gente.
scafutto20
Mas a carapuça serviu mto rápido kkkkkkkk
MTelles
Não é uma questão de “tribo”, mas de não ter preconceito em uma mesa de jogo.
Naymael
“Eu não li o tal suplemento mencionado pelo rapaz” tá então vc está presumindo o que está escrito e por causa da sua pressurização (que pode ou não estar certa) está derivando que o comentário do nerd é errado? Sinceramente o mínimo quando e vc devia ter feito antes de escrever essa matéria é ter lido as fontes originais e ver se sua postura se mantém. Isso é bem básico.
Não acho que que sua suposição seja errada, mas partindo do pressuposto que ela está certa, perceba o seguinte. A maioria esmagadora das seções de RPG são jogadas em um rede de contatos próximas, amigos. E quase que por definição amigos tendem a conhecer os limites uns dos outros e o que esperam retirar da sessão. O que vc/revista está sugerindo é basicamente bom senso. O problema é que todo mundo acha que tem bom senso, minha professora de redação já dizia “conscientização não é conclusão de nada”. Então uma revista sugerir que certos tópicos podem ser delicados e cair no óbvio e ao meu ver redundante, pode até ser correto mas não acho que é efetivo.
Agora por final a questão do ponto sobre “nem tudo ser preto no branco, racismo e etc”. Aventuras que tem uma temática assim são completemte válidas e eu na idade que tenho até acho elas mais interessantes, agora tentar inferir que essa deveria ser a normal é ridículo. Isso exige que os jogadores querem ter uma aventura mais madura e com temáticas mais sérias, o que não é necessário. O RPG é um passatempo para se divertir, assim como o vídeo game. Qua do vc joga um jogo beat and up ou GTA vc se pergunta se o cara que vc tá espancando teve chance na vida? Não, pq é um jogo, é só para se divertir, assumir que existe um preto no branco faz c que essas ações sejam possíveis. O que não pode acontecer é pessoas assumirem que isso se traduz para realidade mas para isso temos outras maneiras de fazer.
MTelles
Eu não sou o autor do artigo, mas posso te afirmar que, ao contrário do que você pensa, hoje a maior parte das mesas se RPG é online e jogada com pessoas que não necessariamente são contatos próximos ou se conhecem. E assim, o artigo é extremamente pertinente.
Tiago Almeida
Achei o texto um pouco confuso, mas concordo com comentários do Naymael, imagino que um grupo de jogadores são de modos em geral indivíduos que estão junto para se divertir, explorar o mundo imaginado ou narrado, pela visão do mestre do jogo, e claro explorar a história ou o desenvolvimento dos personagens (com sorte ambos).
Normalmente se o personagem é criado no inicio da campanha há um sinergismo natural ( o orc bom foi criado pela unica tribo já extinta de orc bons) ou simplesmente não é possível no senário (não há orc bom no senhor dos anéis, ele são os elfos) pois não se encaixa na história que será narrada pelos mestre e vivenciada pelos jogadores ( ser o o rei élfico de uma reino benéfico e poderoso em ravenlof… dá não véio).
Sobre “nem tudo ser preto no branco, racismo e etc”. está certo! mas as vezes não, depende tudo do grupo formado pelo jogadores e mestre, se esse grupo esta confortável um em um mundo onde todo orc é mal esta tudo ótimo com isso, se preferem um mundo de onde não há padrão, esta certo também, se só um desses jogadores não consegue se sentir confortável com seu personagem no mundo mude ou o adapte. (meu capitão pirata virou líder de assaltantes de trem, no mundo sem navios do meu amigo Domênico ).
Mas se for o jogador que não se sente confortável com um jogo onde o restante do grupo (mestre e outros jogadores) deveria pensar por que ele quer mudar o que funciona ao outro? que tal ele propor narrar a próxima campanha no mundo segundo a visão dele, mas por que em vez disso exigir que o mundo seja conforme a sua vontade!
Para mim é o famoso caso do “mala que não sabe que jogar RPG” não entende que no fundo o jogo é uma criação coletiva se vc tem que brigar ou se impor para algo ser do seu jeito, em um jogo de RPG, você ta fazendo errado, você esta fora do “jeito certo de se jogar RPG” pois o jeito certo é todos se divertirem; na minha experiencia há 3 jeitos certo de lidar com isso: 1 o cara e tão gente boa que o grupo tolera os 30 minutos que ele fica criando caso ou 2 o cara não é tão gente boa e o grupo para de convidar ou 3 parar a aventura e iniciar outra campanha sem o cara.
Quanto a segunda polêmica abordada no texto, a dos HQ, “Um novo super-homem bissexual, uma Thor mulher, uma Batgirl negra e lésbica” vou acrescentar Robin (TIM) que “virou bissexual”, na minha opinião, como leitor da antigas, pare todas péssimas idéias, talvez seja eu um um velho nerd com ego frágil ou um leitor que veja a necessidade de se apropria de uma personagem, ou nome ( novo super homem, nova Thor) para causa LGNBT. falta de talento onde a sexualidade personagem passa ser a definição dele.
No caso do TIm, eu li HQ por anos com ele, incluindo a série justiça jovem e mesmo nas senas com piscina munda vi ele pensar algo com ” que bundinha do super Boy” nas HQ assim como em livros é possível literalmente ler a mente do personagem se aceitarmos que um personagem pode se descobri bi, sem nunca tem um pensamento como esse… poderia acreditar que ele pode se descobri curado na revista seguinte devido a escolha do editor ( o que seria um grande absurdo)
E sobre se apropriar dos nomes, pro que não cria personagens que são homossexuais “Apolo e Meia-noite” são praticamente um super-home e um bat-mam, homossexuais, são personagem legais e carismáticos, um dos casais mais legais e temidos do HQ, e embora lendo as história descobrimos (desconfiamos) que o meia noite o ativo e apolo o passivo, a sexualidade dos personagens não é o que os definem, Apolo é uma pessoa com personalidade mais gueta e introvertidos que perde a noção quando fica bravo, já meia noite um filha da mãe, sádico e vingativo claramente o mais carismático da equipe, os dois tem seu casamento e adotam uma filha, tudo muito bem escrito. São super heróis com historias de super-heróis e são homossexuais. Já os citado no texto original parecem ser personagens que sua opção sexual os definem, com historias não bens escritas focado na sexualidade e não no heroísmo.
Hoje não me parece ter uma “inclusão” de super-heróis com outras sexualidade no gênero de super-heróis (o que havia com Apolo e Meia-noite), mas sim uma inclusão de historia de outra sexualidade no gênero de super -heróis, eu eu quero história de super-heróis não sobre sexualidade.
Ou eu é que sou hétero, branco e de classe média, mas Apolo e Meia-noite eram co cara(h@… carvalho.
TetuAndrade
Muito interessante. Essa idéia de conversa entre narrador e jogadores antes da partida nunca foi necessário, mas é uma excelente iniciativa. Meu último jogo narrando foi em família e ficou muito nítida essa questão da diferença do que antes era estabelecido como verdade, como raças boas e ruins, heróis e vilões, pois em uma emboscada de goblins onde deixei um deles propositalmente pra trás, estava narrando, para ser interrogado acabou virando companion do arqueiro que minha filha interpretava e foi fantástico, como jogador nunca pensaria em fazer isso e como crio o mundo junto dos jogadores bolei um background para que a opção da jogadora funcionasse. Enfim é sempre bom quebrar paradigmas e melhor ainda quando a mesa é diversificada em sexo, gênero, idade, etnias, religiosidade, pensamentos etc.