Conheço e jogo RPG desde 1993, sendo o meu principal “antidepressivo”, mas nos últimos anos precisei me afastar do hobby. Em 2020 seria o ano que eu tinha planejado para retomar minhas atividades, mas aí veio justamente 2020. Se eu tivesse que definir 2020 em uma palavra acho que seria angústia.
Entre tantos acontecimentos, preocupações e ansiedade com a pandemia, a vontade de voltar a jogar RPG ainda permanecia, mas até então isso era para mim sinônimo de jogo presencial. O fato é que no final do ano passado finalmente me aventurei a mestrar on-line. Essa foi, acima de tudo, uma jornada de aprendizado e paciência e hoje, em pleno 2021, escrevi esse artigo para contar essa minha inesquecível experiência com a esperança que seja útil a alguém.
Para começar, vencida a natural resistência ao novo, busquei assistir a mesas on-line já tendo em mente que iria jogar Dungeons & Dragons 5ª Edição. Alias, escolher de antemão o jogo é fundamental e orientará todos os seus esforços. Eu já assistia a partidas de RPG pelo You Tube, mas agora o foco era aprender a mestrar à distância. Aprendi muito e fiquei fã de alguns canais, como Perdido no Play, Vertente Geek e Nerd & Nerd. Recomendo muito.
Enquanto assistia às partidas, procurei material sobre o tema. Tendo em vista todo o quadro da pandemia e a necessidade de isolamento, houve muita procura por tutoriais para auxiliar a jogar pela internet. Um muito bom e o primeiro que li foi um artigo publicado em duas partes na Dragão Brasil números 137 e 138 intitulado “Dados Virtuais” (e que podem ser baixados gratuitamente em jamboeditora.com.br/db-rpg-pela-internet). Quanto a artigos na internet um que me ajudou foi o artigo “Como jogar RPG de mesa online” no site do Jovem Nerd.
Já munido de um bom conhecimento, decide que usaria o Roll20 para jogar. Aqui confesso que demorei um pouco a compreender a necessidade de dois programas, um para a mesa e outro para a comunicação entre os jogadores. Entre as opções de programas para simular a mesa há o Discord (usando bots), Fantasy Ground e Foundry, contudo escolhi o Roll20 por possuir uma versão grátis e por achá-lo mais fácil e mais apropriado para jogar D&D. O Roll20 também possui uma ferramenta para permitir a comunicação, todavia, por experiência pessoal você não deve usá-la. Vou falar mais sobre isso adiante.
Marquei uma sessão zero no Roll20. Essa experiência se revelou essencial e é interessante que você experimente o sistema digital que deseja utilizar antes da sessão principal. Nela pude experimentar o programa com os jogadores e pude ter a primeira experiência real de jogo on-line. E graças a ela pude constatar alguns problemas e tive oportunidade de minimizá-los.
Como já tinha mencionado, além do programa para a mesa, você precisará de um programa para a comunicação entre os integrantes da mesa. Quando você está jogando um chat de voz é fundamental. Apesar de que teoricamente ser possível jogar digitando no Roll20, na prática isso é inviável. O Roll20 possui um sistema de chat por voz que parece muito prático, mas na minha experiência ele perde rapidamente a eficiência e compromete a fluidez do jogo. Para contornar o problema basta utilizar um programa para esse fim em conjunto com o Roll20. Utilizei o Google Meet, mas há outros, como o Skype e o Discord.
Sobre a minha experiência com o chat de voz, tentei utilizar o sistema do Roll20 na sessão zero, mas, com o passar do tempo, o sistema fica instável e no final da sessão o navegador travava de minuto em minuto. Desconfio que o fato que o servidor esteja distante e um consumo elevado de memória foram as causas. Sobre o navegador, utilizei na sessão zero o Google Chrome que funcionou bem no começo, mas me deu trabalho no final. Mudei para o Edge e aparentemente o desempenho melhorou.
Outra solução para melhorar o desempenho, agora voltada para a conexão, foi utilizar um cabo de rede para ligar o computador ao modem.
Assim, escolhido o sistema que utilizaria (Roll20), o chat de voz (Google Meet) e realizada a sessão zero, meu próximo passa era finalmente mestrar. Escrevi a minha primeira estória para D&D 5ª edição, que acabou rendendo uma micro-campanha de 3 aventuras, e parti preparar a sessão no Roll20.
Para os mapas das masmorras utilizei o Dungeon Painter. Ele era utilizado de forma on-line, mas com a morte do Java, agora é necessário baixá-lo. É um bom gerador gratuito de masmorras simples. Fica a dica de que quando for exportar o mapa, defina cada quadrado com 70 pixels. Isso fará com que o mapa gerado combine com a grade do Roll20. Para gerar transparências, como para marcadores de personagens ou mobílias, utilizei o site Pixlr, também gratuito e ainda on-line, com bons resultados.
Por fim, estabeleci que a mesa de Roll20 será uma extensão da mesa presencial e assim, pelo menos no primeiro momento, acabei não utilizando alguns dos recursos do sistema, como a ficha com suas jogadas automatizadas, o que me parece ter deixado a sessão bem próxima da realizada presencialmente e diminuiu o meu estresse de apreender o sistema.
Outra regra da casa foi utilizar os marcadores (token) de cada personagem para registrar os pontos de vida e manter essa contagem atualizada durante a exploração de masmorras. Além de facilitar o controle, a visualização dos pontos de vida do grupo gerou uma interessante tensão.
E assim, na metade de agosto do angustiante 2020, finalmente mestrei a primeira aventura on-line.
Durante a sessão utilizei várias telas. Preparei muitas, não apenas para os mapas, mas com paisagens e desenhos ilustrativos, tudo em uma tentativa de explorar o ambiente virtual. Tentei simular uma “apresentação de slides” e acho que atingi meus objetivos. Todavia, o trabalho que isso me deu me fez concluir que talvez o melhor a ser feito é se utilizar mais o “teatro da mente” sob o risco de diminuir a frequência das sessões. Por outro lado, os novos recursos que esse modo de jogar oferece, como exibir imagens em diferentes telas, músicas e efeitos sonoros, são muito tentadores.
Era isso. De fato consegui voltar a jogar RPG, um desejo antigo que se realiza, mesmo não sendo da forma que imaginava. Os diferentes modos de jogar, presencial e on-line, trazem vantagens e desvantagens, mas acredito que devam coexistir a partir de agora e contribuirão para a longevidade e expansão no hobby. Espero que esse breve relato lhe seja proveitoso de alguma forma. Para mim foi uma experiência única, afinal, a primeira vez a gente nunca esquece. Até.
Por Kubiach