A Importância de se matar o Taverneiro

Pode parecer estranho, em primeiro momento, o fato de se afirmar que a morte de tão ilustre e necessária figura seja de suma importância. No entanto, o que pretendemos apontar nesse momento é um dos requisitos mais importantes do RPG, a interpretação de personagens que não são tão agraciados entre as campanhas, no caso os vilões, que sempre têm um ponto de partida, seja ele grandioso, ou meramente incidental, como por exemplo, causando a morte de nosso querido ponto de ligação entre histórias, o Taverneiro.

Um excelente início para qualquer aventura pode ocorrer naquela acolhedora estada na taverna local, juntamente a seus inusitados, criativos, ou mesmo plagiados nomes de tavernas. Estas – e seus não menos ilustres protagonistas, seus donos, empregados que são pontos-chave, ou meros coadjuvantes – podem ser úteis ao unir, ou mesmo repassar as novas aventuras aos jogadores. Com esse cenário armado é que se inicia o verdadeiro foco deste informativo.

Uma missão foi dada ao grupo de aventureiros, algo nada complicado, tal como a investigação do cemitério local, onde gradativamente sumiam corpos, e é claro, os entes destes, insatisfeitos com a situação, deixaram a missão para ser realizada na taverna para quem quisesse fazê-lo. Após aceitar tal empreitada, o grupo resolve se instalar na própria taverna e agir mais tarde, durante a noite, para tentar pegar os gatunos em pleno ato.

Mas antes de saírem, há um desentendimento com o Taverneiro, que é atacado e arremessado sobre as bebidas e então, incendiado. Sua morte foi rápida, o incêndio acontecia, mas as personagens não se arrependem do ato, na verdade, preferem saquear e deixar o local às chamas que consomem todo o recinto. Eis o primeiro passo, de uma sequência que levaria aquele grupo a se tornar um grupo de malfeitores em vez de um grupo heroico.

Este foi um exemplo de campanha em que, inicialmente, tínhamos um grupo de heróis, que posteriormente passou a ser um grupo de vilões. Porém, para os jogadores, e mesmo como seres humanos, é interessante uma nova perspectiva, testar o que o RPG pode nos dar com uma variabilidade de personagens e arquétipos que cometeriam atos e ações que nunca fariam na sua vida real, mas que, para efeitos de extravasar, têm uma grande parcela de satisfação. Muitos dos jogos que iniciamos têm atos de violência, então explorar esse fator é muito interessante para aprofundar a interpretação e os personagens.

O mais interessante, é que a campanha com vilões tem outras situações ou mesmo temas. Na campanha acima citada, os personagens praticamente tomaram o lugar dos ladrões de túmulos, ao acabar com eles, e continuaram o plano de certa forma. Porém, deixaram isso de lado para obter mais lucros em outra situação, trabalhando como mercenários para se infiltrarem e matarem o rei daquelas terras. O motivo, só os jogadores sabem, mas é assim que muitas campanhas funcionam; algo que é o centro da diversão, tanto dos jogadores como do narrador.

Concluindo, essa é a importância de se matar o taverneiro, uma oportunidade que surge de uma situação inusitada, mas que também pode ser planejada, e uma épica campanha de vilões pode ser um novo modo de se divertir. Os gatilhos podem ser muitos, porém, o que há de mais importante é a diversão que o RPG pode nos proporcionar, seja salvando a vila ou raptando a princesa ou príncipe.

André Raron Teixeira
Equipe REDE
RPG

 

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2 Comments
  1. Interessante.

    Não mestrei muitas vezes, acho que não chegaram há 10 situações. Mas foram todas bem diferentes uma da outra e sem o uso de taverneiros.

    A primeira foi uma adaptação de Yu Yu Hakusho para d20 system de D&D 3.5 que eu e um amigos fizemos. O plano de fundo era o próximo torneio do Makai, 3 anos depois do fim do anime.

    Depois veio uma mesa que esse amigo, minha esposa e eu chamamos de Badarosca, e ideia é rolar o máximo de coisas possíveis na criação do personagem de modo aleatório e o cunho em geral é a comédia. Nessas saem Halflings barbaros sem força. Magos meio-orcs sem inteligencia, etc.

    Posteriormente foi uma aventura de “resgate a princesa” para iniciar novos jogadores. Preferi algo mais clássico. Também tiveram outras duas vezes, se não me engano, com histórias sérias mas sem o uso de taverneiros para o pontapé inicial.

    Teve outra Badarosca, dessa vez usando o Brasil na época dos Bandeirantes como cenário e uma guerra pela cidade de Biscolacha entre os reinos de Saint Paul e Hell de Janeiro (ou algo assim os nomes).

    Sempre preferi histórias motivadas por objetivos não relacionados a “fazer missões para juntar fortunas”.

  2. Sim. Muitos podem ser os pontos de partida. Só quis usar esse exemplo por ser icônico.

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