Animais como Personagens de Jogadores

A maior parte dos jogadores de RPG teve o início de sua experiência nas mesas ao interpretar heróis medievais fantásticos, vampiros e lobisomens em um mundo obscuro ou, em alguns casos, até personagens absurdos com o objetivo de salvar Tóquio. Mas, muitas vezes, a parte de Roleplay da sigla nos incentiva a procurar situações e personagens mais complexos, interessantes ou simplesmente diferentes daquilo ao que estamos acostumados. O desafio de interpretar alguém que vive muito diferente da nossa realidade, seja por suas características ou as de seu mundo, muitas vezes nos faz buscar alternativas para os clássicos. Se já estamos acostumados a jogar com personagens de várias espécies e em vários cenários incríveis, por que não animais?

Com as grandes expectativas na tradução do mundialmente bem-sucedido Pugmire, levantamos aqui algumas possibilidades de jogos feitos para interpretar peludos de todos os tipos: caninos, felinos e até roedores. E então? Preparado para encher sua mesa de pulgas?

Bunnies & Burrows

A ideia de jogar com animais, apesar de não ser uma experiência comum para a maioria dos jogadores, certamente não é nova. Apenas dois anos após o lançamento do primeiro Dungeons & Dragons, a Fantasy Games Unlimited realizou um feito ousado ao lançar o Bunnies & Burrows, jogo que tem, como tema, coelhos relativamente comuns. Inspirado no romance Watership Down (A Longa Jornada, no Brasil), Bunnies & Burrows foi um jogo revolucionário em vários sentidos, apresentando um sistema de perícias, algo inexistente na época, um sistema de artes marciais chamado Bun Fu (?!) e focando em interpretação e solução de problemas em vez de combate, uma vez que, sejamos francos, os personagens são apenas coelhinhos.

Apesar de ideias que estavam anos à frente dos RPGs da época, Bunnies & Burrows não teve boa recepção, principalmente pela falta de qualidade gráfica. Mesmo assim, com seu séquito de jogadores fiéis, teve uma segunda edição e até uma adaptação para GURPS. Se você assistiu ao filme Em Busca de Watership Down, inspirado no mesmo livro que deu início ao jogo, já sabe o tipo de aventuras que esse clássico RPG propõe, incluindo enfrentar raposas e lidar com situações políticas dentro da hierarquia dos roedores.

Sua mais recente versão, a 3ª Edição, foi lançada este ano pela Frog God Games após um financiamento coletivo bem-sucedido e, desta vez, com uma belíssima arte:

froggodgames.com/frogs/product/bunnies-burrows/

Mouse Guard RPG

Falando em roedores, você talvez tenha ouvido falar nos quadrinhos de Mouse Guard (Os Pequenos Guardiões, no Brasil), seja por suas histórias épicas ou pelas suas ilustrações belíssimas. Baseado nas graphic novels e usando um sistema levemente adaptado de Burning Wheel, em 2008 foi lançado o Mouse Guard RPG, um premiadíssimo jogo da Archaia Studio Press.

No cenário de Mouse Guard, camundongos evoluíram como sociedade até chegar em um mundo medieval, que mantém seguro de grandes predadores com o uso de alquimia e grandes (ou pequenos) exércitos. No dia a dia, porém, a linha de defesa entre os perigos do mundo e as cidades de camundongos é a Mouse Guard, uma espécie de guilda de aventureiros, patrulheiros, mensageiros e diplomatas regidos pela matriarca Gwendolyn. O jogo traz diversos conceitos interessantes na criação de personagens, como a escolha da cor da capa de seu camundongo (que representa a sua personalidade), e gameplay, como o sistema de resolução de conflitos baseado em uma espécie de pedra-papel-e-tesoura de ações.

O jogo foi trazido para o Brasil pela Retropunk no ano passado e fez grande sucesso. É uma ótima maneira de interpretar animais ainda dentro dos moldes medievais (com pouquíssima fantasia) e ter a experiência única de escapar de corujas e tentar se comunicar com esquilos insanos.

The Secrets of Cats

Se você não tem tanto interesse em jogar com camundongos, mas sim caçá-los, uma boa alternativa é o The Secrets of Cats, da Evil Hat (apenas em inglês). Na hora em que se pensa em usar um sistema para jogar com personagens tão diferentes do comum como gatos domésticos, não é difícil pensar em FATE e, com isso em mente, Richard Bellingham desenvolveu este cenário curioso, cheio de mistério e misticismo.

O conceito por traz de The Secrets of Cats é que os gatos têm uma espécie de “parlamento” próprio e utilizam sua ligação com o sobrenatural e seus rituais de proteção (e você achava que as baratas deixadas na porta de casa eram comida…) para cuidar de seus humanos e defendê-los de poderes ocultos e perigosos. O jogo conta com uma aventura pronta que se passa na pequena cidade americana de Silver Ford. Infelizmente ainda não tem tradução, mas o jogo original em inglês de 2016 pode ser encontrado no Drivethru RPG.

Garras Vermelhas

Você não precisa necessariamente aprender todo um novo sistema para jogar com animais, nem convencer o seu grupo costumeiro a assumir papéis de peludos de quatro patas, principalmente quando um popular RPG já faz você assumir esse papel. Quem jogou as edições clássicas de Lobisomem: O Apocalipse sabe que eu estou falando da tribo dos Garras Vermelhas, conhecidos por serem os mais próximos dos animais entre os Garou.

Se você já jogou Lobisomem e experimentou o papel de um Garra Vermelha, vale muito a pena conferir o Livro da Tribo: Garras Vermelhas, que, além de ser riquíssimo em arte e elementos para o jogo, traz um capítulo inteiro sobre os paradigmas de se jogar com um personagem que é praticamente um lobo e, muitas vezes, nunca teve contato com humanos. Essa é uma boa alternativa para quem ainda não quer fugir muito do comum, mas tem a vontade de ter essa experiência animal (sem trocadilhos).

Finalmente… Pugmire

Perto do lançamento da versão em português desse incrível RPG pela New Order Editora, a expectativa é muito grande pela recepção do jogo no Brasil. Lançado originalmente pela Onyx Path, Pugmire tem um cenário que tem várias similaridades com Mouse Guard, uma vez que apresenta um mundo sem humanos (apesar de eles estarem no passado e gênese do mundo apresentado), onde animais evoluíram até uma civilização medieval. No entanto, além de ter como personagens principais os melhores amigos do homem, a fantasia está muito presente, trazendo magia e desafios místicos em um sistema baseado na versão livre da 5ª edição de D&D.

O RPG foi financiado coletivamente, recebendo mais de 190 mil dólares na versão original e já conta com a expansão Monarchies of Mau na gringa. Agora basta saber se, tendo sucesso em terras tupiniquins, teremos acesso a esses materiais na versão em português.

Por Lucas Tola
Equipe REDE
RPG

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