Pathfinder 2ª Edição: Capas em português e entrevista com os tradutores!

Imagem da capa do Pathfinder 2ª Edição em português.

A REDERPG entrevistou, com exclusividade, a equipe responsável pela tradução do Pathfinder 2ª Edição, agora pelas mãos da New Order Editora, e que será lançado no Brasil quase que simultaneamente com a original da Paizo. Confiram a seguir o papo sensacional com Bruno Mares, Calvin Semião e Nino Xavier Simas:

1) Primeiramente, gostaria que vocês se apresentassem para os jogadores brasileiros que ainda não os conhecem, falassem um pouco de seus respectivos trabalhos anteriores, história pessoal com o RPG e como assumiram esta importante tarefa da nova edição do Pathfinder.

BRUNO: Comecei com First Quest (e posteriormente AD&D) 20 anos atrás. Seguindo o caminho natural de evolução de edições, migrei para o D&D 3.0 no início dos anos 2000. Nesse período, buscando coisas novas acabei conhecendo o Mundo das Trevas e até hoje tenho Lobisomem: O Apocalipse e Múmia: A Ressurreição no meu top 3 de jogos preferidos, junto do Pathfinder. Com o tempo, aprendi a apreciar, jogar e estudar vários outros sistemas diferentes, de MHRPG a GURPS e de Yggdrasil a Lenda dos Cinco Anéis, e acho que isso só agregou à minha experiência de jogo.

Lá no comecinho de 2008, ouvi falar sobre a tal evolução do Pathfinder pra quem não estava satisfeito com a 4ª Edição do D&D (que eu adoro) e comecei a brincar com ele logo na versão alfa 1.1. De lá pra cá, tomei cada vez mais gosto pelo jogo, especialmente pela capacidade de customização quase infinita, pelo fato das aventuras fazerem diferença na história de Golarion (pra quem não sabe, o resultado das ações dos PJs e os desfechos prováveis das Trilhas de Aventuras e da Sociedade Pathfinder impactam diretamente na história oficial do cenário de Pathfinder, agora chamado de Presságios Perdidos) e pelo fato da Paizo ouvir muito os fãs na evolução do jogo, especialmente nos playtests de cada livro que lançam.

Até me arrisquei em outros jogos de fantasia medieval muito bons, como 13ª Era, mas sempre voltei pro Pathfinder.

Pra chegar nesse mundo editorial, procurei a Paizo ainda à época do anúncio do Starfinder pra ver uma forma de viabilizar o jogo no Brasil, e os contatos com eles acabaram me fazendo cruzar caminho com a New Order nas pessoas de Anésio e Manjuba. Fizemos testes, sabatinas e entrei pra equipe de tradução do Starfinder. Aproveitando minha experiência administrativa, acabei assumindo a parte de coordenação da linha.

Nesse meio tempo passei a trabalhar também com a Pensamento Coletivo, no Knave, no Symbaroum e em mais dois jogos que estão pra sair.

Meu sonho de nerd era trabalhar no meu jogo preferido, e como a receptividade ao texto do Starfinder foi muito boa, propus pro Anésio o lançamento simultâneo do PDF do Pathfinder Segunda Edição, ele comprou a ideia e me permitiu sonhar me colocando a cargo junto desses outros dois caras sensacionais que são o Calvin e o Nino, além do Rafael Tschope com as diagramações absurdas dele.

CALVIN: Meu nome é Calvin (da história em quadrinhos que atormenta provas de português), tenho 29 e sou formado em Direito. Comecei a traduzir no Reduto do Bucaneiro e o Rafão Araújo me incentivou a procurar editoras para traduzir mais. Traduzi o Unframed pra Pensamento Coletivo e terminei o que faltava do Dragon Kings para a mesma editora. Depois de fazer um teste para traduzir o Starfinder, comecei a minha frutífera parceria com o Bruno. Desde então traduzimos Starfinder básico, as duas primeiras Trilhas de Aventuras, o Arquivo Alienígena, o Mundos do Pacto e o Arsenal. (Acho que uma parte disso ainda não está oficialmente anunciado). Além disso, ainda traduzimos Symbaorum, Beyond the Wall (A Pensamento Coletivo já anunciou esse? Nem lembro…) e o Knave para a Pensamento Coletivo.

Minha história com o RPG é meio estranha. Algumas das memórias mais antigas que eu tenho são de jogar RPG na escada da minha avó com os vizinhos. O mais velho ensinou para gente. Eu tinha uns 5 ou 6 anos e era o mais novo por uns 3 anos. A gente jogava Vampiro no melhor estilo X-Men noturno. Era o vício que define a minha vida. Conheci a Dragão Brasil e logo acabamos indo para o Defensores de Tóquio que era mais a pegada na época. Vim acompanhando os sistemas (consegui aquela caixa vermelha do D&D 1ª Edição) até a chegada da 3ª Edição. Joguei praticamente de tudo da Era Devir. Com o advento do Pathfinder, eu praticamente encontrei uma nova fé. Assim que pus as mãos em um cartão internacional, eu comecei a comprar praticamente tudo o que o dinheiro dava. Todos os meus amigos foram “evangelizados”. A gente até chamava de “Caminho” como trocadilho e tal. Desde o Pathfinder praticamente TODAS as minhas campanhas longas giram nesse eixo. Starfinder veio pra tirar um pouco dessa hegemonia e às vezes rolam umas campanhas curtinhas de outros sistemas para testar. Mas sempre voltávamos ao Pathfinder.

Essa… devoção (meio feio, né?)… me colocou em contato com a New Order por causa do Starfinder. ASSIM que lançou eu fui num evento mostrar os livros para os caras e implorar para eles trazerem. Como eu já tinha pedido para fazer testes para traduzir, eles pediram para eu traduzir umas páginas dele, já que eu já tava com o livro e tal… Honestamente, não imaginava que era pra trazer logo o Starfinder. Aí, como teve uma reação legal da galera e eu e o Bruno somos meio fanáticos pelo jogo… Acabamos ficando com a parte da Paizo.

NINO: Olá, pessoal! Eu sou o Nino – juro que esse é o meu nome mesmo, não é apelido. Eu comecei no RPG com a revistinha do 3D&T e, estranhamente, Vampiro: A Máscara – em ambos jogava com super-heróis e personagens de videogames, só ocasionalmente bebendo sangue. No Ensino Médio conheci o AD&D na escola através de um Mestre fantástico chamado Daniel Ramos. Nos tornamos grandes amigos e colegas de escrita em diversas iniciativas (como o Pensotopia e Paragons), e trabalhei ao lado de sua esposa Elisa Guimarães em alguns poucos projetos de tradução e revisão.

Conhecendo meu trabalho, os dois me indicaram para um projeto exigente: a tradução do D&D quinta edição pela associação das empresas RedBox, MeepleBR e Fire on Board. Trabalhar com Igor Moreno (um verdadeiro ícone do game design) e Gabriel Oliva Brum (tradutor de enorme experiência agora na HarperCollins Brasil) em algo que todos amamos foi uma experiência única, extremamente enriquecedora – só parcialmente apagada pelo imbróglio legal e não publicação do texto.

Usaria essa experiência adquirida para traduzir o Blades in the Dark, um excelente RPG sobre crimes em um cenário urbano industrial fantástico, para a editora RedBox. Um pouco mais seguro das minhas credenciais, comecei a enviar currículo e amostras de tradução para as empresas brasileiras. O pessoal da RedBox fez a ponte com a New Order, que precisava de um revisor para agregar à excelente equipe da Starfinder em um projeto novo e ambicioso. O resto é história.

2) A nova 2ª Edição do Pathfinder tem muita referência em termos de tradução no Starfinder? O Starfinder (que já está sendo conferido em PDF por quem financiou) vai ser a base para vocês traduzirem o Pathfinder ou a Paizo tem alguma guideline como a Wizards para o D&D?

CALVIN: Sim, uma parte dos termos já foi determinado antes, no Starfinder e não tem muito sentido mudar. A Paizo tem se mostrado uma empresa bem livre, embora ela fiscalize tanto o PDF quando o impresso antes de liberar a entrega, ela entende que a New Order conhece melhor o mercado brasileiro do que ela. Até hoje não houve nenhum problema com escolha de termo algum, inclusive eles ajudaram a escolher alguns mais… espinhosos.

BRUNO: O Pathfinder vai sim seguir o Starfinder em várias coisas, desde termos de regras — como rolagem de ataque, espaços de magia e jogadas de salvamento — a nomes de cenário, porque é assim nas versões originais em inglês e nosso intuito é passar a mesma experiência para os jogadores brasileiros. Não faz sentido mudar e fazer os jogos não conversarem entre si. Sem contar que é sensacional você poder ler sobre os Capitães Livres caçando tesouros nos mares de Golarion e depois atacando naves no espaço dos Mundos do Pacto…

Sobre orientação de tradução, a Paizo passa alguns parâmetros básicos sobre respeitar o material, o sistema e o cenário de forma coerente, mas é mais sobre a qualidade da versão final do que opinar ou fazer gerência diretamente na tradução. A preocupação mais imediata deles é com a identidade visual do jogo e com a marca e experiência que eles representam. Mas, no geral, são bem flexíveis, inclusive abrindo algumas exceções bem legais quando a gente pediu, como por exemplo, podermos fazer o lançamento simultâneo ao da versão em inglês. Até o momento, o Brasil é o único país do mundo que poderá oferecer isto.

O melhor de tudo no relacionamento com a Paizo é que, além de extremamente profissionais e competentes, eles são super solícitos e nos atendem muito bem em todas as demandas e dúvidas que temos. Entre elas, todos os questionamentos que fazemos sobre os termos de tradução, partindo desde o embasamento morfológico do termo até o “isso soa legal em português, usa esse”. Eles focam muito no resultado final da experiência do leitor e isso ajuda muito.

No Starfinder, por exemplo, alguns dos termos mais complicados e impactantes — como Deriva (Drift), Lacuna (Gap) e apressamandra (skittermander) — tiveram participação direta do Robert McCreary, que é o principal escritor e criador do cenário, na definição.

É um trabalho feito a quatro mãos entre New Order e Paizo, e acho que quem ganha com isso são os fãs.

Imagem da capa do Pathfinder 2ª Edição em português.

3) E em relação à 1a Edição do Pathfinder em português lançada pela Devir? Há mudanças significativas nos termos?

BRUNO: Eu fiz a leitura de todo o material quando saiu, como fã, e depois em 2017, já como tradutor do Starfinder. Tinha ainda muitos vícios das traduções antigas da época da 3ª edição do D&D e umas inovações e evoluções interessantes. Levamos em consideração por respeito à facilidade de assimilação dos fãs. Porém, como o material lançado foi muito limitado (em quantidade) e saiu já nos finalmentes da 1ª edição, entendemos que a aceitação e disseminação dele foi relativamente muito baixa na comunidade, que é em sua maioria formada por quem domina o inglês pelo único motivo do jogo ter demorado a sair aqui.

Por isso, optamos por reconstruir tudo do zero. Do zero, mas com embasamento e muita pesquisa. Entre essas ações, fizemos e fazemos consulta ativa e recorrente aos membros da comunidade pela internet (através de enquetes abertas, grupos fechados e perguntas diretas ao pessoal que nitidamente detém maior conhecimento do sistema e do cenário). Além disso, trocamos ideia com tradutores de outros sistemas e de outros materiais não relacionados a RPG, especialmente um pessoal com foco em fantasia e mitologia, sempre buscando construir um melhor e mais fácil entendimento pro leitor.

Ainda assim, a gente volta e meia vê alguém reclamando de alguma coisa na internet sobre alguma tradução (nossa ou não) e logo voltamos pra mesa de estudo pra revisitar se temos algo assim no nosso material ou se podemos melhorar um termo ou outro. Se o bicho pega, a gente vai lá na Paizo, como disse na pergunta anterior, e consulta os criadores do jogo.

Resumindo: não usamos a Devir como base, mas não haverá nada significativamente muito diferente que faça parecer um jogo completamente diferente ou alien para o leitor. Armor Class continua sendo Classe de Armadura, ranger continua sendo patrulheiro e spells continua como magia. As maiores mudanças, por enquanto, estão em saving throws (jogada de salvamento) e Speed (Velocidade). Fora isso, segue a vida normalmente. Teremos o que consideramos evoluções ao que os fãs mais antigos estão acostumados, mas ninguém quer reinventar a roda aqui. Apenas melhorar a experiência de jogo, facilitar o entendimento e aproximar ao máximo a experiência de leitura de como ela é feita em inglês, levando em consideração todo o trabalho da Paizo em cima do wording do Pathfinder 2ª edição (assim como fizemos no Starfinder; mas acredito que melhor, devido ao aprendizado contínuo ganho no processo).

NINO: A tradução da 2ª edição respeita a memória de tradução e mantém a maior parte da terminologia estabelecida pela Devir na primeira edição (e antes, nas edições 3.0 e 3.5 de D&D). Apesar disso, vários termos foram atualizados (afinal, se passaram 18 anos desde a primeira tradução e muito se mudou nesse período), localizados ou alterados – refletindo a grande mudança que o sistema passou.

CALVIN: Eu tenho o Livro Básico em português, mas nunca abri de verdade. Ficou como livro pra quem não sabe inglês. O suplemento Mar Interior eu já estava ansioso pela 2ª Edição e não comprei. Trabalhar na Devir era um sonho de infância. Eles mantiveram a chama acesa. Mas em algum momento parece que se desviaram. Acho (opinião pessoal) que o falecimento do Douglas foi um golpe pesado e eles ainda não se recuperaram. Sonho com o dia que a Devir vai se reerguer e voltar a ser o antigo bastião.

4) Já estão prontos para alguma eventual reclamação dos fãs com relação aos termos? Ou as enquetes feitas na internet já criaram uma aceitação dos termos?

CALVIN: A gente sempre se mantém aberto. A comunidade sabe quem a gente é e que a gente responde. As escolhas que fazemos são embasadas morfologicamente ou consuetudinariamente. E em caso de dúvida, fazemos as enquetes. Temos um grupo de aconselhamento sobre os termos também. Ajuda bastante.

BRUNO: A gente está sempre pronto e disposto a ouvir qualquer questionamento em relação aos termos, desde que sejam bem fundamentados (e não apenas saudosismo ou “porque sempre foi assim e já estou acostumado”). Tudo que está escrito pode ser rediscutido e mudado se for a melhor opção.

O pessoal (ao menos da comunidade Pathfinder RPG Brasil) costuma saber quem a gente é, porque fazemos questão de estar próximos da comunidade e a interação com eles tem sido bem legal, respeitosa e construtiva de ambas as partes. Os livros são feitos para a comunidade, então têm de ficar de forma que os fãs estejam satisfeitos dentro do que for possível. A gente só faz a parte de viabilizar, mas temos ciência total que o material é da comunidade como um todo (e eu sou fã, então sei bem como é esse sentimento).

5) E o sistema em si? Quais foram as principais mudanças da 1ª para a 2ª edição?

NINO: As mudanças de sistema foram significativas, diferente das transições 3.0 para 3.5 e 3.5 para Pathfinder. Vários subsistemas diversos foram consolidados: cada personagem pode usar 3 ações por turno (uma para se mover, outra para levantar o escudo em defesa e outra para atacar, por exemplo), todas as habilidades de classe que podiam ser escolhidas de uma lista (como as revelações de Oráculo, proezas de ladino e talentos de combate de guerreiro) foram transformadas em “talentos de classe”, características raciais alternativas viraram “talentos raciais”, e muitos outros.

Diferente da quinta edição do D&D, que adotou um design de jogo de diminuir as escolhas por nível para facilitar a criação rápida de personagens, a segunda edição de Pathfinder se ateve às suas forças: a alta capacidade de customização dos personagens. Isso se estende para as escolhas de habilidades raciais, de classe, biografia até talentos de combate, magias e itens mágicos. Nunca existe um “nível morto” em Pathfinder onde você não faz nenhuma escolha e não ganha nenhuma habilidade interessante.

BRUNO: Além da maior fluidez e agilidade do sistema (que diminuiu muito o tempo de combate, inclusive para personagens de nível alto) e do aumento considerável nas opções táticas que o sistema de 3 ações passa a permitir para personagens de qualquer nível, acho muito interessante reforçar que o sistema de proficiência e suas graduações também contribuiu muito pra melhoria do jogo. No PF1, existiam várias métricas diferentes de poder na matemática do jogo (ataques, CDs, salvamentos e perícias, por exemplo). E isso era meio caótico, ninguém tinha certeza quando um bônus +X era bom, dependendo do assunto. Agora, a matemática foi padronizada e todas as estatísticas podem conversar entre si sem problemas. Isso melhorou muito a assimilação de níveis de poder tanto para novatos quanto para veteranos.

Pela experiência que tive narrando a campanha do Playtest (Doomsday Dawn, ou Alvorada do Apocalipse), os combates foram muito melhores em questão de tempo, tática, reviravoltas e diversão. E isso tudo resultou em mais tempo para interpretação e num tempo geral de campanha bem menor do que estávamos acostumados. Teve sessão de 4 horas no 14º nível em que jogamos 4 combates e ainda sobrou um bom tempo para explorar e interpretar os personagens. Isso significa que, agora, no PF2, os níveis altos serão jogados antes do grupo debandar… Hahaha!

Em suma: o tempo de jogo será muito melhor aproveitado e a diversão muito maior! (E finalmente vamos poder enfrentar aquele dragão ancião ou o lich das trevas que todo mundo só fica namorando as fichas deles…)

E ainda tem os graus de sucesso, que tem um sistema de críticos que envolve sucesso crítico, sucesso, falha e falha crítica. Se superar a dificuldade de algo em 10 pontos ou mais ou se falhar em algo por 10 pontos ou mais, você obtém um sucesso crítico ou uma falha crítica (mas ainda existem os 1 natural e 20 natural rolados no d20 que têm o mesmo efeito). Isso permite quem é muito bom em algo sempre se destacar, e diferencia bastante os personagens.

Além disso, a maioria das magias agora possui esses quatro resultados possíveis (explicadas e escritas de forma simples e descomplicada). Não existe mais aquele conceito de “save or die” (teste de salvamento ou morre). Quase nenhuma magia agora fica sem gerar efeito (por menor que seja) contra o alvo a não ser que ele obtenha um sucesso crítico. Sabe aquela sensação de que você esperou a rodada inteira pra chegar sua vez só pra você lançar uma magia, o alvo conseguir se livrar dela e você se sentir um inútil? Não existe mais!

E no meio disso tudo ainda tem um nivelamento de poder muito bom entre as classes, tanto conjuradoras quanto marciais. Mas não vou entrar nisso agora pra não estragar a surpresa e dar spoilers indevidos…

CALVIN: Tem também as partes que eu mais gostei (fora o avanço do cenário). Que é que escolher a sua raça (agora ancestralidade) não é só mais pegar os bônus iniciais e acabou o efeito mecânico dela. Ao longo dos níveis você vai escolhendo mais talentos de ancestralidade. Tem alguns que só podem ser pegos no 1º nível por ser algo que não se desenvolve com o tempo, mas tem talentos que você pode pegar em níveis mais elevados.

E a multiclasse? Gente… Adorei aquela multiclasse. Agora a multiclasse é escolhida como uma série de talentos também. Você opta entre pegar poderes da sua classe ou se dedicar à multiclasse, pegando algumas características de outra classe. Essencialmente permitindo que você faça “híbridos” que não deixam nada a desejar para alguém de uma única classe, como era o caso antigo.

BRUNO: Ah, vale destacar que ainda tem os arquétipos, que passaram a fazer parte integral das regras básicas (e que as multiclasses funcionam utilizando a mecânica deles), tudo sem prejudicar os poderes principais das classes básicas, permitindo criar vários tipos de personagens de forma equilibrada, como um clérigo ou mago combatente, por exemplo.

CALVIN: Ou um Witcher!

Capa do Bestiário da 2ª Edição do Pathfinder em português.

6) Diante do sucesso do D&D 5ª Edição, não seriam “opções demais” em relação às tendências atuais de design que focam em simplicidade e em um leque mais enxuto de opções?

CALVIN: Embora possuam temática iguais, os jogos são diferentes e possuem públicos diferentes. Não adiantaria “chover no molhado” e tentar competir com D&D oferecendo o que o D&D já oferece. A força do Pathfinder é ter opções. É suas opções importarem de verdade. O Pathfinder veio para mostrar que você pode ter opções e pode montar o seu personagem do jeito que quiser e ainda ter um jogo ágil. Eu vejo o D&D 5ª Edição como um excelente jogo para one shots, mas a menos que você tenha muitos livros, você não tem um leque de opções variado. Um bárbaro vai ser sempre 2 opções. Ou vai escolher o Caminho do Amoque ou o Caminho Guerreiro Totêmico. Muito pouca variedade. O Pathfinder não. A cada nível você vai tomar decisões que vão aumentar as opções do seu personagem. O personagem vai se desenvolvendo e adquirindo complexidade conforme você vai desenvolvendo a história junto com ele. Você consegue fazer milhares de personagens diferentes só com o Livro Básico de Pathfinder e isso vai crescer exponencialmente. Eu sempre tive uma preferência por sistemas mais robustos… Parece suspeito, eu sei, mas para mim, a migração é certa!

NINO: Sim e não. As tendências atuais de design de simplicidade podem ser vistas em várias mecânicas ao longo do sistema – como a unificação do sistema de graduações de proficiência, que se aplica em ataques (proficiência em arma), CA (em armadura), perícias e testes de salvamento. Tudo segue uma matemática unificada.

Existe uma gama enorme de jogadores de RPG, e alguns se sentem atraídos por mecânicas mais simples e diretas enquanto outros preferem sistemas mais complexos e de alta granularidade – e uma boa parte usa sistemas diferentes para propósitos distintos. Pathfinder oferece um sistema tático, granular e cheio de possibilidades de customização.

Um exemplo claro são as tabelas de equipamentos: em D&D, um machado de batalha é funcionalmente idêntico a uma espada longa que é igual a um martelo de combate. As armaduras são basicamente divididas entre as melhores da categoria (que são caras) e as piores e baratas. Em Pathfinder 2e cada uma dessas armas e armaduras tem características próprias (as cotas de malhas são flexíveis, porém barulhentas; espadas longas podem ser usadas para perfurar, enquanto machados ajudam a acertar vários alvos em golpes amplos).

Do mesmo jeito que existe público para 7º Mar e para Shadowrun, existe público para Pathfinder e D&D 5e.

BRUNO: Entendo que o Pathfinder faz uma boa interpretação e utilização dessas tendências nas regras básicas e que fundamentam o jogo do início ao fim, como o Nino disse.

Qualquer pessoa que ler a introdução do livro, quase sem precisar ler o capítulo de regras de jogo (que é breve e conciso), está pronta para jogar com pouca ou talvez nenhuma preparação, se tiver um colega que entenda o básico do jogo. O Pathfinder agora é amigável e simpático para iniciantes, crianças e pessoas sem tempo, mas sem chegar à simploriedade que vemos em alguns jogos mais novos. Apesar dessa facilitação de interpretação, nada foi banalizado, e situações diferentes ainda importam e impactam o jogo de formas diferentes. Estar atrás de uma muralha atirando suas flechas ou ficar invisível são regras simples de interpretar, mas que oferecem benefícios táticos bem diferentes. Isso gera opções de decisão muito legais na hora do jogo.

Mas gostaria muito de reforçar que, elegantemente, o PF2 mostra que simplicidade e multiplicidade de opções não são antônimos (ou inimigos) e que podem funcionar muito bem juntos. O jogo é todo bem amarrado, mas você tem milhares de possibilidades de personagens para criar. Não é simplesmente “escolher raça e classe e seguir rumo”. Claro, você pode fazer isso muito bem, porque o jogo permite. Mas você pode ou não, depende somente de você, tomar decisões diferentes e mais elaboradas para seu personagem ter personalidade própria. A exemplo do bárbaro, que o Calvin citou, no Pathfinder 2e, você pode escolher o caminho dele como instinto do dragão, dos animais ou dos gigantes e escolher habilidades variadas dentro de cada uma dessas opções, mas se não quiser escolher nada disso, basta seguir como o “bárbaro do furor” e seguir a vida sem pensar demais nas suas opções.

7) O Calvin citou o avanço do cenário. Imagino que teremos Golarion em português, não?

CALVIN: O cenário de Pathfinder é uma das coisas mais bem feitas que eu já vi na minha vida. O Pact Worlds do Starfinder é o melhor livro de cenário já escrito na história, então podemos esperar o mesmo capricho para o “carro chefe”, Golarion. O livro básico possui algumas páginas de cenário. É possível usá-lo sem problemas. O mais lindo disso é que TODAS as Trilhas de Aventura da 1ª edição foram aplicadas ao cenário como se tivessem sido bem sucedidas. Mas agora, depois de escrever isso tudo, eu vi que a pergunta é outra. Sim, teremos Golarion em português. Mais confirmado do que gol no Vasco teremos as 26 páginas de cenário do Livro Básico. E o primeiro Livro de Cenário (lembrando que agora serão vários, detalhando uma região por vez) estará como meta extra no Financiamento Coletivo. Não vejo a hora para traduzir isso…

BRUNO: As Trilhas de Aventuras também serão todas traduzidas aqui, provavelmente com a mesma regularidade que se tem lá fora.

Também está mais do que confirmado a tradução da versão comemorativa de Kingmaker para a 2ª Edição aqui no Brasil. Lembrando que só sai lá fora no final de 2020, então ainda vai sair muita coisa antes dele chegar.

NINO: A grande diferença do cenário de Golarion na segunda edição é que ele agrupa vários reinos, nações e estados em eixos temáticos que possuem ligações culturais ou rivalidades entre si. Golarion sempre foi um cenário muito diverso, uma colcha de retalhos que faz sentido – cada reino moderno é diferente, mas possui uma rica história em comum com as outras nações. Essa categorização em eixos facilita ao Mestre de Jogo escolher o cenário para sua aventura e deixa mais claro quais os temas que influenciam esse lugares. Então, ao invés das cidades díspares de Varisia temos as Terras das Sagas, regiões influenciadas pesadamente pelo passado distante, tradições culturais riquíssimas e moldadas por corajosos heróis – incluindo as Terras dos Reis Linnorm, o Reino dos Senhores dos Mamutes, Irrisen e Varisia.

8) Então, quais os suplementos que serão metas extras no financiamento do livro básico? Qual será a ordem de lançamentos do Pathfinder 2ª Edição em português?

BRUNO: A meta base terá o Livro Básico e o Bestiário. Heróis e monstros estarão prontos para todos logo no início do financiamento. O PDF do Livro Básico sai no dia 1º julho e, pelo único motivo de precisarmos de algumas horinhas de sono, o PDF do Bestiário sai ao final de setembro ou no início de outubro.

Vamos lançar tudo na mesma ordem que os lançamentos vão acontecer lá fora. Como pretendemos trazer TODOS os suplementos e aventuras, não tem porque ficar selecionando um ou outro ou mudar a ordem. Vamos respeitar a mesma ordem da Paizo lá fora.

Ou seja, todos os materiais já anunciados pela Paizo para o lançamento serão meta extra: as fichas oficiais personalizadas por classe, Escudo do Mestre, Guia de Campanha: Presságios Perdidos (livro do cenário), a Trilha de Aventuras Era das Cinzas completa (cada volume será uma meta, naturalmente) e a aventura Queda de Pedra-Flagelo (nome provisório).

Também vamos ter outros materiais que estão sendo definidos certinho. Um exemplo entre esses materiais é a ficha para a plataforma Roll20, que já está sendo avaliada.

E se o pessoal apoiar com vontade, já temos no radar mapeados alguns livros que a Paizo ainda nem anunciou publicamente…

9) A REDERPG agradece a vocês três por esta entrevista. Deixem uma palavra final para os jogadores brasileiros!

NINO: Considerando que estamos no mês do Orgulho LGBT, gostaria de compartilhar um trecho do próprio livro básico:

“O Pathfinder é um jogo para todos, independentemente de sua idade, gênero, raça ou etnia, religião, orientação sexual ou quaisquer outras identidades e experiências de vida. É responsabilidade de todos os jogadores, não apenas do MJ, garantir que a mesa seja divertida e receptiva para todos.”

CALVIN: Bom… Acho que no lá no fundo o RPG é sobre juntar os amigos e contar boas histórias. O sistema é uma caixa de ferramentas para ajudar a contar essas histórias. É uma boa lembrar que embora os livros sejam excelentes caixas de ferramentas, a inspiração pode vir em muitos lugares. Então sites como a REDERPG sempre têm alguma coisa nova para ser usada. A New Order Warriors tá aí mensalmente fornecendo suporte aos sistemas da empresa, assim como a Dragão Brasil. E como a galera da velha guarda pode dizer… Estamos na Era de Ouro do RPG. Nunca tivemos tantas opções, tanta editoras, tantas oportunidades… Tantas aventuras! Aproveitemos isso, meus amigos! E vamos mostrar para todos que todos são bem-vindos. Que todos estão seguros em nosso meio. Que todos tem voz. Afinal… É muito difícil se aventurar sem um grupo bem variado!

BRUNO: Nós é quem agradecemos pelo convite e por todo o trabalho que vocês têm feito em prol do RPG, Marcelo. Agradecemos também, de coração, pela receptividade, confiança, apoio e incentivo dos Pathfinders e Starfinders brasileiros. Esperamos muito que todos fiquem bem satisfeitos com a versão em português, pois estamos trabalhando nela com todo o carinho e cuidado que nossa comunidade merece. Sempre falo isso, mas é importante ressaltar também que contamos muito com a participação ativa dos fãs e que queremos construir tudo a quatro mãos com eles. Questionem, perguntem, cobrem, opinem e critiquem. Pro sistema e cenário terem sucesso, são vocês quem fazem isso, nós somos apenas facilitadores cumprindo suas vontades.

E fazendo uma gracinha, vou soltar dois spoilers exclusivos aqui:

– Primeiro, quero contar que a data do financiamento está oficialmente definida para começar em 1º de julho (e que além de surpresas nos primeiros dias… [não posso contar o resto]).

– Segundo, quero lembrar que agora os goblins serão uma ancestralidade básica no Pathfinder e, para ajudar os fãs a entenderem melhor esses monstrinhos e conseguirem recebê-lo da melhor forma possível, vou fazer uma breve descrição deles:

Goblin, uma das raças básicas do Pathfinder 2ª Edição, diretamente do Livro Básico em português!

Toma aí, páginas 46 e 47 do livro! (Observação: texto ainda não revisado)

Valeu, galera!

Entrevista concedida a Marcelo Telles
Editor da REDE
RPG

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