Após uma longa espera, a nova edição de Space Dragon finalmente chegou às mãos de seus apoiadores, ou pelo menos o arquivo digital chegou e está lindo, cheiroso e garboso. Basicamente não traz nada de novo, mas quem pensa que o produto é dispensável, está mais do que enganado.
O texto é bem escrito e limpo, bastante divertido e sem nenhuma embromação. Ao contrário de outros livros de regras que eu li, ele não se coloca acima do Mestre ou do jogador, e os exemplos dados no livro são muito esclarecedores. É o tipo de material que se pode utilizar sem dificuldade, tanto para quem nunca mestrou na vida, quanto para quem nunca jogou na vida.
A similaridade com o Old Dragon – sim, mesmas regras, eu sei – permite que qualquer um que já tenha entrado em contato com o jogo-irmão se familiarize muito rápido, apenas tendo que se acostumar com um ou outro termo diferente (como o nome das jogadas de proteção).
Uma das coisas que mais achei interessante aqui é que o sistema, embora tenha um tema específico, pode ser utilizada em qualquer cenário de temática moderna ou futurista. Minha esposa trabalha no setor estratégico de um dos maiores hospitais aqui da capital e, por alguns anos, trabalhei no setor de desenvolvimento e treinamento de um Call Center daqui (sim, tempos sombrios, irmãos…). Mais de uma vez imaginei como utilizar alguns jogos do Space Dragon em brainstorms e reuniões de planejamento… Os autores deveriam pensar em algo deste tipo, voltado ao mundo corporativo, por exemplo. É um filão que necessita deste tipo de pedagogia, mas que basicamente não possui nenhum material produzido para este fim.
Há poucas atualizações nas regras, apenas algum ajuste aqui ou ali, como tipos de dano, atualização da tabela de relíquias tecnológicas, as invenções deixam de ser uma mera lista estranha de magias e passam a tomar característica e personalidades próprias, dando outro gás ao material.
Assim como o Old Dragon, as regras são simples, mas em alguns momentos ficam engasgadas para quem não é acostumado com elas: Porcentagens, rolagens com valores acima, rolagens com valores abaixo… para um novato pode ser bastante atravancador se lembrar quando usar o quê, mas no geral as regras cumprem bastante o seu papel e materiais consagrados como Star Trek, Star Wars, Battlestar Galactica ou qualquer outra série que se passe em um space ópera, pode ser facilmente emulado com pouca ou nenhuma alteração no material.
Nunca curti a descrição dos humanos… Dizer “raça arcaica” pode dar um pano pra manga bem comprido na mão de algum babaca engraçadinho por aí… A lista de aprimoramentos dos Mutantes está excelente. Não é possível jogar uma campanha super-heroica, mas podemos chegar bem perto!
Num primeiro momento, senti falta de raças alienígenas jogáveis, mas considerando que temos opções com os Mutantes, podemos nos virar até que a editora lance alguma coisa ou que, quem sabe um certo alquimista alto e bonitão tome vergonha na cara e tire alguns projetos da gaveta…
Devo confessar que desde a primeira edição não gosto da tabela de “Desativar Robôs”, e nem dos Talentos do Gatuno: é como jogar literalmente o clérigo e o ladrão do Old Dragon no espaço, mas isso não quer dizer que sejam ruins ou não funcionem, especialmente nas campanhas propostas pelo livro básico. Ao mesmo tempo, acho que a tabela do Cosmonauta – com as devidas alterações – se encaixaria perfeitamente no Homem de Armas do Old Dragon, mas não sei se seria adequado a proposta do jogo. E nunca entendi porque o Mentalista não recebe PVs em todos os níveis…
A arte mescla materiais de domínio público, muito bem escolhidas e tratadas, e material original de uma equipe que não deixa a peteca cair! Acho que desde o lançamento de Senhores da Guerra não faço críticas negativas tanto ao projeto de arte quanto a arte em si dos livros da RBX – mesmo eu não gostando de algumas artes do Guia de Raças – e sei que se depender do Dan, da Luisa e dos desenhistas selecionados a pinça a qualidade nunca vai cair!
Mas eu só falei bem até agora e sei que o pequeno ferengi que está esvaziando os bolsos da distinta senhora zabrak ao lado daquele Morty do universo C14, sim, você mesmo (R1C5, chame a segurança por gentileza!), deve estar perguntando: e então Alquimista? O novo Space Dragon é bom?
A resposta é um sonoro “sim”. Space Dragon é um livro muito bom, bonito e acredito que a versão impressa será espetacular, o tipo de livro que você pode deixar do lado dos seus clássicos de ficção científica, mas, sendo sincero, ele não é indispensável se você já possui a versão antiga em preto e branco. Basicamente, as mudanças não são suficientes para que você tenha a necessidade de comprar um livro novo, a não ser que você queira ter os dois ou, como é o meu caso, substituir o livro anterior – o meu estava bem detonado…
No geral, não posso dar uma nota baixa para o Space Dragon, mesmo ele tendo coisas que não gosto, afinal, ele será bom ou ruim para cada um, dependendo do seu gosto, e ainda temos um complicador com a chegada do Starfinder, um RPG new school com uma variedade muito maior de informações, mas com uma quantidade de regras e pormenores muito maiores do que o Space Dragon.
Mas uma coisa posso dizer: se você quer simplicidade de regras e material suficiente para uma campanha livre, modular e cujos cenários podem ser moldados à sua vontade, escolha o Space. Não deve nada a nenhum RPG gringo!
Notas (de 1 a 6)
Texto: 6 (Simples e útil)
Conteúdo: 6 (Como eu disse, não deve nada a nenhum RPG gringo)
Arte/layout: 6 (Assim como em Vikings, vou ranquear a arte, ainda não temos o produto final em mãos…)
Nota Final: 6
Por Sérgio “O Alquimista” Gomes
Equipe REDERPG