Devemos ressaltar que o RPG com material em português é algo extremamente recente, visto que o primeiro título a ganhar uma versão traduzida, foi Dungeons & Dragons da Sociedade Tipográfica S.A. em 1989, edição portuguesa esta que completa seus 30 anos de existência neste ano de 2019. Muita água rolou nestes quase trinta anos de material traduzido, e o próprio RPG sofreu por mudanças muito pesadas, principalmente quanto à sua comercialização.
Porém, elencaremos aqui os fatos que tornam importante a tradução de obras desse material, podendo destacar como primordial, o acesso àqueles que não têm domínio do idioma estrangeiro. O barateamento dos custos do material. A migração para a realidade nacional. Valorização do nosso próprio idioma.
Esse é o motivo mais importante e substancial da tradução. Assim como na maior parte dos países, a maioria da população conhece apenas o seu idioma nativo, e esse motivo para fatores culturais e de disseminação de conteúdo, já é suficiente para que seja necessário o trabalho de tradução. Não raro, muitas pessoas antes da década de 1990 não conseguiam sequer tentar começar a jogar por conta da transposição linguística, sendo assim, de vital importância para a propagação do RPG a tradução de suas obras. Muitas pessoas que se especializam na área dos jogos de RPG por muitas vezes acabam desenvolvendo um aprendizado de uma segunda língua, na maioria dos casos o inglês, mas muito disso se deve ao fato de primeiro terem o acesso ao material nacional, para depois em suas pesquisas buscarem por mais. Essa primeira porta, mesmo que simples, abre um universo espetacular de diversão e aprendizado.
É inegável a situação econômica do nosso país que se arrasta por vários anos, ainda mais comparada aos países que produzem conteúdo de RPG em escala muito maior que o Brasil. Os custos de livros de literatura em nosso país, numericamente se equivalem aos valores dos livros de RPG importados. No entanto, a diferença cambial é gritante fazendo com que esses livros facilmente passem da casa de uma centena de reais. O livro traduzido, passa pelo trabalho de uma editora nacional, assim sendo, pessoas que sabem a realidade do mercado, se o livro é traduzido, ele atende essas necessidades dos consumidores, que em muitos casos, mesmo sabendo a língua nativa do material, só podem adquirir uma cópia física por conta do barateamento do material nacional, mesmo esse às vezes sendo a diferença de algumas dezenas de reais e a economia de um frete astronômico para o material vir de outro país.
Ao traduzir material para o português, as editoras se preocupam também com a nossa própria realidade linguística, e muitas vezes enfrentam os problemas de simplesmente traduzir literalmente certas terminologias, ou criar novas para se adequar ao jogo traduzido. Fora o impacto linguístico, que muitas vezes é negativo em uma tradução direta, e dessa maneira o tradutor precisa ter cautela e por vezes trocar a palavra ou palavras para que fique ao menos mais agradável ao leitor. Esse é um cuidado, que mesmo sendo tomado, sempre traz muita discussão da comunidade de fãs de jogos, que em diversos momentos se preocupam mais com a literalidade do termo, ou mesmo, em novas edições de um material, preferem as terminologias do anterior às novas, no entanto, muitas destas estão atreladas ao tradutor que realizou o trabalho anterior.
No Brasil se fala o português, é a língua que minimamente toda a população domina em seus diversos graus de escolaridade. Dessa maneira, temos que valorizar o idioma, um dos mais ricos do mundo em sentido linguístico, com perto de meio milhão de palavras, o idioma oficial do nosso país. Um cuidado que devemos apontar para o nosso querido divertimento, é que o RPG ganha muito espaço nos meios eletrônicos, e mesmo em escolas, vez ou outra a terminologia passa a ser reconhecida não só pela juventude, mas também por professores. Assim sendo, essa é uma porta que muitos docentes que conhecem o jogo, usam para trazê-lo à realidade da escola e dos alunos, fato que dificilmente pode ser alcançado sem o material traduzido.
Depois destes argumentos apresentados, podemos realmente ter um novo prisma do motivo, e principalmente da necessidade de se traduzir os sistemas de RPG que tanto amamos, sem deixar de lado é claro, muito material nacional que surge, tanto para complementar os estrangeiros como sistemas e mundos totalmente novos, que abrem novos horizontes para nossa imaginação e diversão.
André Raron Teixeira
Equipe REDERPG