D&D 5ª Edição: Manual dos Monstros: Como criar o seu cenário a partir dos monstros

Olá, lacaios! A Wizards of The Coast já vai lançar seu terceiro arco de aventuras prontas, depois de Tirania dos Dragões e Príncipes do Apocalipse. Embora eu não odeie aventuras prontas, não estou muito empolgado para as próximas. Para Mestres iniciantes em D&D, uma aventura pronta é tudo que ele precisa – é um atalho que ele toma para mestrar um arco coeso, com encontros que fazem sentido, com PdMs já criados e todo o resto –, mas quanto mais você conhece seu grupo, seu jeito de Mestrar e o ritmo do seu jogo, mais você se afasta de coisas já criadas. E aí é que, para mim, a maior diversão de ser Mestre começa: criar! E se estamos falando de sementes de inspiração, a 5ª edição não deixa a desejar (principalmente se você souber explorar as tabelas do Guia do Mestre).

Entretanto, os três livros têm muita informação e diversas tabelas, o que torna fácil nos deixar assoberbados com a quantidade de situações que podemos construir.

Hoje vou falar sobre como tirar o melhor possível do Manual dos Monstros e como usá-lo para mapear o seu cenário. Sim! Mapear o cenário a partir do Manual dos Monstros, usando um pouquinho de Biologia.

Tire uns momentos para compreender esse gráfico:

Monster Chalenge

Você pode já ter visto esse gráfico, que mostra quantos Monstros de ND baixo existem em comparação com Monstros de ND alto. Ele pode desanimar na hora de criar uma campanha de nível alto, mas a disposição numérica dele é, de fato, bastante inteligente. Criaturas de ND alto são formidáveis e podem ser poderosas por diversos motivos: seja por seu tamanho, seu apetite, seus poderes mágicos, sua capacidade intelectual ou todos os anteriores (estamos olhando pra você, Kraken). Criaturas de ND alto estão nos topos de seus domínios e geralmente são os soberanos nos territórios que ocupam já que não existe força que os possa enfrentar. Criaturas de ND baixo são numerosas, frágeis, e competem com muitas outras criaturas por comida, território, etc. Existem muitos Goblins, mas poucos Bugbears, da mesma maneira que existem muitas piranhas, mas poucos crocodilos no nosso mundo.

Você vai notar que falei da soberania das criaturas de ND alto, sendo esta a cereja do bolo que colocaremos ao criar nosso cenário. Imagine uma região inóspita, uma floresta fechada que cobre uma região de cânions. A partir daí, vamos escolher, arbitrariamente, as criaturas dessa área pensando no papel que elas têm em geral.

A Base da Pirâmide – ND 0 a 2

Aqui, qualquer criatura relativamente pouco refinada atende ao que queremos. Elas serão a grande massa viva do nosso ecossistema, o tipo de criatura mais comum da área, já que geralmente não levo animais comuns em consideração. Como estamos trabalhando com uma floresta isolada e enorme, gosto dos Fey. Dríades, Pixies, Sátiros e Sprites.

A imagem mental que você tinha dessa floresta já mudou, certo? Mais flores, mais riachos, mais risadinhas, flautas de pan durante a noite e rações sumindo misteriosamente enquanto os aventureiros acampam. Pois é assim que deve ser! As criaturas de um cenário afetam diretamente a sua aparência e dinâmica.

Quer um truque que funciona muito bem? Aí vai: sempre crie competição, em todos os níveis da pirâmide. Além do fato de ser pouco interessante, o que impede os amigáveis Fey de simplesmente infestarem todos os cantos da floresta? Bem, vamos dar uma olhada nos Blight. Estas são plantas vivas, malignas, territoriais e agressivas que se espalham como ervas daninhas (segundo o texto delas, surgiram quando um Vampiro contaminou uma espécie de árvore primordial com seu sangue. Calma, vamos lembrar desse Vampiro mais à frente!): Blight Agulha, Blight Vinha e Blight Graveto. Mais uma vez, começamos a imaginar uma floresta diferente da primeira, certo? Regiões com árvores envelhecidas, escuras, carcaças de animais e ravinas traiçoeiras. E estamos só na base da cadeia alimentar.

Pequenos Predadores: ND 3 a 5

Estes são os primeiros dominantes sobre a base da pirâmide, as criaturas que realmente tornam esse lugar interessante – e desafiador – para um grupo de aventureiros. Adentramos mais na nossa floresta e os Fey e Blights da base da pirâmide são menos numerosos aqui. Vamos manter simples, a partir de agora: animais gigantes. Eles são uma boa opção porque tem ND muito amplo, desde o Javali Gigante e o Tigre Dente-de-Sabre, ND 2, até o Crocodilo Gigante, ND 5. Como nossa floresta é terra dos Fey, faz muito sentido povoá-la com um Unicórnio. Ele pode ser venerado pelos Fey, e protegido por eles, pois é uma criatura lendária, afinal! Também podemos ter Pégasos nas cachoeiras dos cânions, que são uma adição muito bem vinda. Aqui, a própria variedade de animais já é bastante para que eles compitam entre si.

Grandes Predadores: ND 6 a 12

As coisas ficam realmente preocupantes para os nossos aventureiros, agora. Estamos falando de criaturas sobre as quais só existem rumores de que habitam aquela região. Certamente, são apenas boatos sobre um Aboleth cujo covil fica no remoto lago. Ninguém acreditaria que um Dragão Verde Jovem sai para caçar os Pégasos às escondidas. As planícies do outro lado do Rio Vermelho não devem abrigar Tiranossauros…

No entanto, ninguém sabe com certeza sobre estas criaturas porque elas jamais deixam sobreviventes.

Aqui trabalhamos com criaturas muito imponentes, que causam medo nos níveis inferiores, que os dominam, escravizam ou simplesmente predam. Estabelecer qual a relação dos grandes predadores com as faixas menores é importante, pois vai dar coesão ao seu ecossistema. Caso não seja possível ligar diretamente estes predadores aos níveis mais baixos, pense sempre em criaturas menores que geralmente os acompanhariam. Um Aboleth pode ser venerado por uma pequena tribo de Kuo-Toas, ou Cultistas (cultistas são o coringa do D&D. Você pode enfiá-los em qualquer cenário sob qualquer circunstância com muito pouca explicação. Por isso eu não tenho paciência para cultos. É um desafio preguiçoso). Já um Tiranossauro pode ser caçado por uma pequena manada de Centauros, escusos e xenofóbicos.

Evite simplesmente colocar uma criatura poderosa sem que ela tenha uma boa base na qual se sustentar, ou sobre a qual reinar. Monster-Manual

O Topo da Cadeia: ND 12 e mais.

Este nível de poder foge de algumas das nossas regras anteriores. Elas são tão improváveis, fantásticas e lendárias que é possível que habitem o local desde muito antes de qualquer tempo coincidente com a história escrita dos aventureiros. A imaginação pode fluir com menos amarras, o que faz sentido (ou não): dragões são sempre uma boa escolha, mas por que não podemos ter uma Androsfinge como uma candidata a soberana do território, numa ruína inominável, tão escondida no fundo do cânion que nem mesmo nosso Dragão Verde poderia saber dela? Um Arquimago, ou Lich, cuja torre está escondida por magias poderosas, próxima ao cume de um dos montes? Até mesmo um verme púrpura, que desperta faminto para devorar um ou dois Tiranossauros e volta a repousar no fundo de um complexo de cavernas poderia funcionar. Ah, e não podemos esquecer nosso Vampiro, mencionado lá no início do artigo, que também é uma ótima opção.

Todas as possibilidades anteriores podem coexistir, mas, lembre-se: criaturas dessa magnanimidade não tendem a se encontrar fisicamente no cenário, dado que um embate poderia significar o fim de uma delas. Lembre-se de deixá-las bem distantes umas das outras, para que possam sentir-se seguras e donas de seu próprio território. Também não deixe de incorporar os Covis dessas criaturas e Ações de Covis. Estes efeitos vão afetar diretamente a descrição do seu cenário, além de oferecer novas mecânicas para a composição dos desafios dos aventureiros.

Não se esqueça de dar a base à elas! Que outras criaturas habitariam a ruína da Androsfinge e o que ela guardaria? Quem serviria ao Arquimago? Elfos corruptos, uma civilização perdida de anões ou demônios honrando um pacto? Que criaturas da noite seriam servas do Vampiro?

Ao fim, não só teremos formado um cenário com diversos encontros possíveis ao longo de patamares de desafio diferentes como também conceberíamos criaturas variadas capazes de interagir entre si de incontáveis maneiras. Temos à mão, agora, algo que não é mais uma floresta qualquer, mas sim um ecossistema equilibrado de monstros pronto para alimentar uma campanha ao longo de vários e vários níveis!

Esse exercício de criação envolve prática e, é claro, a escolha dos ND em cada degrau da pirâmide ficará ao seu critério. Também consultei os monstros rapidamente pelo http://kobold.club/fight/#/encounter-builder, ferramenta que te permite filtrar por tipo, ND e localidade (totalmente recomendado, não vivo mais sem ele).

Em breve, escreverei sobre como criar encontros interessantes e explicar porquê você não precisa se incomodar com a criação de encontros de dificuldade fácil ou média, somente os difícil.

Até a próxima!

Por DM Caio Cobra
Equipe REDE
RPG

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