Na coluna passada, eu falei sobre os jogos de estratégia e agora vou falar de um estilo de jogo de tabuleiro clássico: os wargames. Este tipo de jogo é um dos meus preferidos e vou nesta coluna dar uma pincelada sobre os mesmos.
Os Wargames
Um wargame, ou jogo de guerra traduzindo para o português, é nada mais do que a reprodução, ou melhor, a simulação de um conflito militar real ou hipotético, afim de que possa ser feito um estudo sobre os aspectos estratégicos do mesmo. Os wargames são tão antigos, que tem antecessores como o chinês Chaturanga, o romano Latrunculli, até o Koenigspiel, inventado em Ulm, pelo alemão Christopher Weikhmann em 1664.
Entre os anos de 1780 a 1824, vários tipos de desenvolvimento foram realizados, sendo que em 1824 um tenente Prussiano de nome Von Reisswitz criou o chamado “kriegspiel”, um conjunto de regras que era considerado um wargame clássico, pois criava os conceitos de movimentação para diferentes unidades, cálculos para resolução de combate, experiência de combate em unidades do exército, etc.
Durante o restante do século 19, este tipo de jogo foi utilizado por militares de diversos países para simular conflitos. Em 1913, os wargames começaram a tomar os primeiros rumos de hobby, através de H.G. Wells, que lançou o chamado Little Wars, que inclusive contemplava o uso de miniaturas. Durante a Segunda Guerra Mundial, muitos jogos também foram criados, sobretudo com apoio de cientistas, principalmente matemáticos, para estudos de situações de combate.
O primeiro wargame comercial com fins de hobby foi criado em 1953 nos EUA por Charles S. Roberts, e tinha o nome de Tactics. Este jogo era o clássico wargame de tabuleiro e teve uma produção totalmente profissional pela Stack-pole Company, que já publicava livros militares. Em 1958, aproveitando que muitas pessoas se interessavam por este tipo de jogo, Roberts fundou a lendária Avalon Hill, que se tornou pioneira e logo sinônimo de wargames nas décadas seguintes.
A Avalon Hill foi sempre o sinônimo da palavra wargames de tabuleiro. Seus três primeiros lançamentos, Gettysburg, Tactics II e Dispatcher, fizeram com que a empresa fosse a pioneira nos jogos de estratégia baseados em eventos históricos.
Em 1962 foi adquirida pela Monarch, uma grande empresa gráfica e se tornou a Monarch Avalon Printing Company, onde nesta altura os wargames se tornaram extremamente populares. Por 25 anos a Avalon Hill publicou clássicos como Squad Leader, que se tornou um wargame sinônimo de Segunda Guerra Mundial ao nível de pelotão.
Em 1976, a Avalon Hill criou a chamada Divisão de Jogos de Passatempo, onde comprou os direitos dos produtos da 3M, que focavam menos o aspecto histórico e mais o estratégico, e abordavam assuntos como: política, esportes, negócios, etc.
Em 1980, a Avalon começou a publicar seus jogos no computador, em outras palavras, ela começou a ver um mercado que nascia e que de certa forma iria acabar com os wargames de tabuleiro. Inicialmente lançando vários títulos para o antigo Commodore 64. Inicialmente os resultados foram decepcionantes, com os gráficos muito pobres e a IA (inteligência artificial) extremamente fraca, a empresa amargou um fracasso nessas tentativas. Depois de 8 anos, ela resolveu voltar ao seu velho estilo de jogo de tabuleiro e recuperou de certa forma o sucesso.
Na década de 90, os wargames de tabuleiro começaram a perder mercado para os computadores, que com gráficos cada vez mais poderosos, IA desenvolvida e logo depois a Internet com a possibilidade de jogos em rede e online, enterraram de vez grandes títulos. Finalmente, em 1998, a Hasbro comprou a Avalon Hill.
Infelizmente muitos clássicos foram tirados do mercado com esta compra, já que a empresa deixou de publicar grandes jogos de tabuleiro. Hoje o site da Avalon está no ar com seus produtos Risk e o Axis and Allies, mas os grandes clássicos se foram.
Na mesma década de 90 aconteceu o período negro dos Wargames, com um quase desaparecimento dos jogos. Muitas empresas fecharam e os wargames ficaram segregados a nichos muito pequenos e muito pouco expressivos. O renascimento se deu sob a forma de empresas pequenas, quase iniciativas pessoais no início do século XXI. Muitos estúdios surgiram e começaram a publicar novos títulos reavivando assim o mercado.
Mecânica de Jogo
Os wargames reproduzem batalhas históricas com o máximo de acuidade possível. Basicamente existem dois grandes tipos: os estratégicos (grandes exércitos) e os táticos (pelotões). O mecanismo é baseado no conceito de “hex and counter” (hexágono e peça), um tabuleiro de jogo dividido em hexágonos e as peças em forma de quadrados representando as unidades. Normalmente nas peças existem informações como movimentação, poder de ataque e de defesa. O jogo ainda contém uma tabela onde são resolvidos os combates rolando os dados e comparando ataque e defesa, obtendo assim diversos resultados.
Os wargames podem abarcar os tipos: aéreos, terrestres e marítimos, sendo que os mais comuns são os terrestres com a reprodução de batalhas dos tempos antigos até baseados em ficção científica.
Os Wargames Modernos
Os wargames durante muito tempo foram chamados de jogos difíceis e demorados. Isto de certa forma foi uma verdade e contribuiu em muito para o seu quase desaparecimento. No final dos anos 90, os jogos começaram a mudar sua tônica, com jogos complexos e demorados dando lugar a jogos mais rápidos e com regras mais simples, sem perder a jogabilidade e o contexto histórico. Muitas mudanças foram promovidas, mas o conceito de “hex and counter” continua sendo o principal. Muitos wargames começaram a colocar mecanismos dos Alemães e começaram a se tornar mais amigáveis.
Hoje os wargames continuam ainda sendo um nicho de mercado, mas estão lentamente retomando seu lugar no mundo dos jogos de tabuleiro.
Por Antônio Marcelo
Riachuelo Games
Artigos anteriores dessa série:
Mecanismos de Jogos Modernos (I) – Jogos Baseados em Leilão
Mecanismos de Jogos Modernos (II) – Jogos de Economia
Mecanismos de Jogos Modernos (III) – Jogos de Estratégia
“Mecanismos de Jogos Modernos (IV) – Wargames” foi publicado originalmente no antigo portal em 19 de dezembro de 2007 e teve 2.822 leituras.