Dando continuidade aos nossos artigos, iniciaremos uma série sobre os mecanismos dos jogos modernos. Muita gente conhece os tradicionais jogos nacionais, baseados em rolagem de dados e movimentação de peão no tabuleiro (Banco Imobiliário, um exemplo clássico), ou de perguntas e respostas (Master, Show do Milhão, etc). Mas os atuais (para nós, brasileiros, porque lá “fora” tem mais de vinte anos isso…) são de vários tipos diferentes. Vamos falar um pouco sobre cada tipo…
Falando um pouquinho mais sobre os jogos Alemães…
Além de ser um hobby extremamente agradável e que, acima de tudo, promove a integração social das pessoas (nestes tempos cada vez mais virtuais, onde o pessoal prefere conversar no Second Life, em vez de ao vivo…), os jogos Alemães são ideais para qualquer um. Tendo sempre a visão de que sempre são grupos de jogadores que os jogam (são raros os jogos para duas pessoas, mas mesmo estes podem ser adaptados para mais participantes), eles têm duração de no máximo 60 minutos, em muitos casos possuindo regras que limitam o tempo (número específico de turnos, número específico de recursos, etc), regras fáceis de aprender, alta jogabilidade e são extremamente atraentes.
Além disso, os temas explorados pelos mesmos são variados, desde colonialismo, passando pela administração de uma empresa elétrica, até a organização de shows na Roma antiga, entre outros. Eles parecem complicados de entender, mas são espetaculares e divertidos. Os jogos guardam muito da filosofia de abstração, com um grau de raciocínio, fazendo que os jogadores nunca caiam na mesmice.
Em todos os casos, um jogador nunca é eliminado do jogo e o vencedor ganha uma partida quando faz os chamados pontos de vitória, obtidos mediante diversas condições. Diversos mecanismos de jogo foram desenvolvidos: baseados em leilão, gerenciamento/organização de recursos, construção/manutenção, controle de área, etc.
Cada um deles pode ser inclusive mesclado, dando origem a sistemas mistos que criam variantes gerando assim excelentes títulos. Vamos começar mostrando como funciona o jogo de leilão para que possamos entender mais sobre os demais sistemas.
O mecanismo de leilão
Quando pensamos em leilão, pensamos logo nos leiloeiros vendendo obras de arte, jóias, etc… Acontece que o mecanismo de leilão pode ser utilizado em diversos temas. Vou começar falando do jogo Hollywood Blockbuster, onde você é um dono de estúdio de Hollywood e precisa contratar diretores, atores, efeitos especiais, trilha sonora para montar uma produção cinematográfica. Aquele que fizer o filme em diversas categorias (terror, suspense, drama, etc) ganha pontos de vitória e o Oscar !!! Cada jogador começa com uma quantia específica de dinheiro e vai contratando o elenco através de leilões. Quem assina o jogo, nada mais é que o consagrado Reiner Knizia.
O Hollywood Blockbuster – Exemplos de filmes que podem ser feitos
E o Oscar vai para…
Um outro exemplo clássico é o Arte Moderna, um jogo Europeu lançado no Brasil pela extinta Odysseia Jogos. Neste jogo cada jogador é um “marchand” que negocia quadros em leilões de arte. O jogo é lindíssimo e muito fácil de jogar.
A Caixa do Arte Moderna nacional
O jogo em si
O interessante do Arte Moderna é que realmente é a ideia do leilão clássico, com diversas variantes, criando inclusive a valorização de um artista. O jogo é ótimo para entrar neste mundo, além de comportar até 5 jogadores. É assinado novamente por Reiner Knizia.
Na linha nacional, a Estrela lançou um jogo de dois autores brasileiros chamados Zatz e o Halaban. Trata-se do Riquezas do Sultão, onde os filhos do sultão irão através de leilão obter as jóias mas belas do pai. O jogo é muito bom, mas o tratamento que a Estrela deu ao mesmo, deixa muito a desejar. A qualidade das cartas e dos demais componentes é péssima (tirando as pedrinhas que representam as jóias, que são muito bonitas), e ainda não colocaram nenhuma referência na capa aos autores nacionais (total descaso mesmo com o ótimo trabalho deles). A Estrela é “mestra” em dar este tipo de “furo” em seus produtos. O jogo em si é muito bom e ótimo de jogar, diversão garantida, desde que você não se importe com a qualidade gráfica
E para finalizar meu artigo, queria falar num dos jogos que atualmente é um dos meus preferidos em minha Ludoteca: o Power Grid.
A capa do Power Grid
De autoria de Friedemann Friese (consagrado pelos seus jogos com títulos iniciados pela letra F, por exemplo, o Power Grid em alemão é chamado de Funkenschlag), os jogadores são donos de empresas de abastecimento elétrico e precisam suprir as necessidades energéticas de cidades.
Isto é feito através de compras de usinas, através de leilões (ou seja, do mesmo mecanismos de outros jogos) e iluminando cidades específicas, montando assim sua rede de abastecimento (conquista de área). Este jogo é sensacional, e muita gente que não o conhece acha que o mesmo tem um tema sem graça, mas ele se revela um clássico. Existem variantes que locais na Europa não podem utilizar energia nuclear, só energia “limpa”. Eu recomendo muito este jogo!
Exemplo das Usinas
O tabuleiro do jogo
Finalizando
Quem imaginaria que um mecanismo de leilão pudesse abarcar tantos temas diferentes? A diversidade e a facilidade de utilizar esta mecânica é fantástica! Com este artigo iniciamos a nossa série para que nossos leitores possam ter uma idéia de como o universo dos jogos de tabuleiro modernos é realmente amplo. Nas próximas semanas estaremos dando continuidade a nossa série de mecanismos de jogos, não percam!
Nota Importante: Todas estas imagens vieram do site Boardgame Geek, recomendo que todos visitem o mesmo. Vocês poderão ver mais imagens fantásticas!
Por Antônio Marcelo
Riachuelo Games
“Mecanismos de Jogos Modernos (I) – Jogos Baseados em Leilão” foi publicado originalmente no antigo portal em 7 de novembro de 2007 e teve 2.320 leituras.
