Curioso como interpretar uma regra do Livro do Jogador? Incerto sobre o que o time D&D quis dizer ao escrever uma seção no Guia do Mestre? Quer uma luz a respeito de um trecho do Manual dos Monstros ou outro livro de D&D? Então o Conselho do Sábio é para você!
O Conselho do Sábio (Sage Advice) apareceu pela primeira vez em 1979 na revista The Dragon, começando na edição 31. O sábio naquele tempo era Jean Wells. Suas respostas cobriam uma variedade de tópicos sobre D&D: regras, etiqueta na mesa de jogo, datas de lançamentos de novos produtos, e conhecimentos sobre o multiverso do D&D. As perguntas e respostas às vezes flertavam com o bizarro. Curioso sobre gerar orcs para um exército? O sábio tinha a resposta: “Orcs são mamíferos e portanto não põem ovos.” (N.T.: a resposta faz um trocadilho com o termo original – spawn – que pode ser interpretado como pôr ovos.)
Fazendo um avanço rápido até hoje, essa nova encarnação do Conselho do Sábio focará nas regras do jogo, especialmente em como interpretá-las quando as mesmas não forem claras. Por mais de um mês, os fãs do D&D têm em mãos todos os três livros básicos da nova edição. Com os jogos seguindo seu ritmo, as perguntas vão surgindo. Quase sempre o Mestre ou outros jogadores podem resolver as coisas, mas em casos raros quando seu grupo está com dificuldades, você pode entrar em contato conosco. Se acha que a pergunta é algo que você gostaria que o time D&D considerasse, mande o questionamento para sageadvice@wizards.com . Daremos nosso melhor para resolver tantas perguntas quanto o possível.
No caso de você estar se perguntando quem é o novo sábio, sou um dos dois designers-chefes da nova edição, assim como designer-chefe do Livro do Jogador e um dos designers-chefes do Guia do Mestre. Também sou o editor-chefe que supervisiona a criação de material para o jogo.
Agora vamos ao nosso primeiro lote de perguntas! Elas têm um tema comum: filosofia por trás das regras e decisões em D&D. Essas respostas irão estabelecer bases para as colunas dos próximos meses.
Por que ter uma coluna como o Conselho do Sábio quando o Mestre pode simplesmente tomar uma decisão?
Regras são uma grande parte do que faz o D&D ser um jogo, ao invés de ser simplesmente uma contação de histórias improvisada. As regras do jogo existem para ajudar a organizar e até inspirar as ações em uma campanha de D&D. As regras são uma ferramenta, e queremos que as ferramentas sejam as mais efetivas possíveis. Não importa quão boas elas possam ser, elas necessitam de um grupo de jogadores para trazer elas à vida e de um Mestre para guiar seu uso.
O Mestre de Jogo é a chave de tudo. Várias fatos inesperados podem acontecer em uma campanha de D&D, e nenhum conjunto de regras poderia ser responsável por todas as contingências. Se as regras tentam fazer isso, o jogo pode se tornar injogável. Uma alternativa seria limitar as ações dos personagens, o que seria contraproducente em um mundo aberto como o D&D. A direção que tomamos nessa nova edição é estabelecer uma base de regras na qual o Mestre poderia se basear, e abraçamos o papel do Mestre como uma ponte entre as coisas que abordam as regras e as coisas que elas não tratam.
Em uma sessão típica de D&D, o Mestre faz numerosas decisões baseadas nas regras, algumas imperceptíveis e outras óbvias. Os jogadores também as interpretam, e assim o jogo se mantém fluido. Há momentos, porém, que a intenção da regra não é clara ou parece contradizer outra.
Lidar com essas situações é onde Conselho do Sábio entra. Essa coluna não substitui o julgamento do Mestre. Tal como as regras, a coluna destina-se a dar aos Mestres, bem como aos jogadores, ferramentas para ajustar o jogo de acordo com suas preferências. A coluna deve também revelar perspectivas que ajudam você a enxergar partes do jogo sob uma nova luz e a ter uma melhor sintonia com o D&D.
Quando responder os questionamentos, usarei três diferentes perspectivas.
RAW. “Regras como escritas” (rules as written) – isso é o que RAW significa originalmente. Quando fizer uma interpretação do modo RAW das regras, estarei estudando o que o contexto textual diz, sem levar em consideração o que o criador quis dizer. O texto é forçado a ser autoexplicativo.
Sempre que considerar uma regra, partirei dessa perspectiva; é importante para mim tentar ver as coisas como vocês vêm, não o que eu quis que fosse publicado ou nossa intenção.
RAI. Alguns de vocês se interessam em conhecer a intenção por trás da regra. É onde vem o sentido de RAI: “regras como projetadas” (rules as intended). É uma aproximação de tudo que os criadores desejavam passar quando escrevem qualquer coisa. Em um mundo ideal, RAW e RAI se alinham perfeitamente, mas às vezes as palavras não tem sucesso em fazer a ligação com o projeto dos escritores. Ou às vezes obtêm sucesso em um grupo e falha com outro.
Então, quando eu comentar sobre a interpretação RAI de uma regra, estarei puxando a cortina e mostrando o que a equipe quis dizer ao escrever determinada regra.
RAF. Independentemente do que está na página ou o que a equipe quis dizer, D&D deve ser divertido, e o Mestre é o mestre de cerimônias em cada mesa de jogo. Os melhores Mestres conseguem moldar o jogo em tempo real para trazer alegria e diversão aos seus jogadores. Esses Mestres direcionam para RAF: “regras para a diversão” (rules as fun).
Nós esperamos que os Mestres se afastem das regras durante a execução de uma determinada campanha ou quando se busca a diversão de um determinado grupo de jogadores. Às vezes, minhas respostas irão incluir conselhos em como alcançar a interpretação RAF para o seu grupo.
Eu recomendo uma mistura saudável de RAW, RAI e RAF!
Haverá erratas para os livros básicos?
Sim, haverá. Estamos estudando o twitter, fóruns, e-mails e nossas experiências de jogo para encontrar onde os livros básicos precisam de correção. Nós começaremos publicando correções para o Livro do Jogador e em seguida para os outros livros.
Não esperem mudanças exageradas nas vindouras erratas. Estamos focados em fazer correções simples: retirando palavras estranhas, acrescentando palavras que faltem, e esclarecer coisas que não estão claras.
A quinta edição agora pertence a milhares de grupos que a jogam. Seria inapropriado para a equipe de criação usar erratas como modo de reformular o jogo. Então quando nos depararmos com algo que beira a recriação do que uma correção, vamos colocar em uma fila de coisas para serem testadas e possivelmente publicar no futuro. Nós vamos deixar você sabendo se um redesign virar a esquina!
O que vem a seguir?
Nos próximos meses do Conselho do Sábio, irei mergulhar em uma variedade de questões de regras. Enquanto isso, você pode me seguir no Twitter (@JeremyECrawford), onde darei respostas curtas a algumas perguntas e reunirei material para futuras colunas.
Conselho do Sábio por Jeremy Crawford – 16/02/2015
Tradução de Felipe Gomes
Equipe REDERPG
Link para o artigo original: http://dnd.wizards.com/articles/features/philosophy-behind-rules-and-rulings
