Dawnforge é um aclamado cenário de fantasia da Fantasy Flight Games, lançado na época do “boom” do Sistema d20. A resenha a seguir foi escrita pelo Tzimisce, e publicada no antigo portal em 26 de agosto de 2005, onde teve 1662 leituras. Confiram a seguir:
A Fantasy Flight Games já provou que possui um material de qualidade excepcional quando lançou há cerca de 2 anos o incrível Midnight, considerado um dos melhores cenários de D&D do mercado. Midnight descrevia um mundo sombrio onde um deus maligno reinava supremo após ter corrompido os maiores heróis do mundo. Midnight possui os melhores elementos de um cenário ao mesmo tempo clássico e dark fantasy.
A Fantasy Flight Games retorna agora com Dawnforge. Onde Midnight narra um mundo imerso numa idade das trevas, em sua última era; Dawnforge narra um mundo que acabou de sair das forjas da criação, onde jovens deuses caminham entre os mortais e o destino de cada raça ainda não fora traçado.
Visual de Primeira Era
Dawnforge é um belíssimo tomo de capa-dura dourada. A arte da capa é sensacional, mostrando um bando de aventureiros no mítico império da ilha demoníaca de Valhedar. Da mesma forma que Midnight, as primeiras páginas de Dawnforge são feitas de papel especial e totalmente coloridas. Elas servem como uma espécie de preview do cenário.
Internamente, Dawnforge possui 254 páginas, sendo dividido em 12 capítulos. A arte preto-e-branco do livro é igualmente bem feita, passando bem o clima mitológico do mundo.
Forja da Aurora
A idéia de Dawnforge é descrever um mundo de fantasia jovem, habitado por povos ainda fantásticos e poderosos. Ao invés de ruínas de impérios antigos, os personagens podem ser os reis destes impérios lendários. Os autores se concentram em fornecer diversos ganchos e informações, mas deixam o destino do mundo aberto para o mestre e os jogadores criarem suas próprias sagas. Uma leitura das páginas inicias do cenário passa de maneira bem inteligente essa idéia. Ao ler os diversos reinos e terras é difícil não imaginar futuras catástrofes, guerras ou profecias ocorrendo em torno das diversas raças.
Dawnforge possui uma grande seleção de raças:
– Doppelgangers: os clássicos metamorfos de D&D são mostrados aqui sobre uma luz diferente. Esta raça vem das exóticas terras recém-descobertas e ainda não mostraram ao mundo se são malignos ou benignos. Uma curiosidade é que a telepatia e habilidade metamórfica dos doppelgangers traz uma estranha conseqüência biológica – eles são totalmente incapazes de compreender qualquer língua escrita.
– Anões: os anões de Dawnforge estão no auge do seu poder, com orgulhosos reinos incrustados nas montanhas. Eles vivem eternamente em guerra com seus maiores rivais – os gigantes. Uma tênue trégua mantém ambos os povos alertas e preparando suas armas.
– Elfos: os elfos do cenário vieram de um mundo paralelo chamado Itheria, junto com as diversas raças feéricas. Não se sabe se foram exilados ou se vieram por vontade própria, pois tiveram suas memórias daquele reino apagadas. De qualquer forma eles pagaram um alto preço, tornando-se mortais. Dawnforge traz duas raças de elfos, os elfos da aurora e os elfos da noite.
– Gnomos: uma das ideias mais originais de Dawnforge são os gnomos. Originados de Itheria, esse povo mantém laços fortes com o mundo das fadas e por isso é dotado de vários dons mágicos. Gnomos em Dawnforge são mais fadas do que mortais e não precisam de comida ou bebida, se mantendo apenas com as energias místicas do mundo.
– Halflings: em Dawnforge os pequenos são um povo cigano que vive próximo às terras humanas.
– Humanos: existem quatro sub-raças humanas. Os highlanders são um povo bárbaro orgulhoso e bélico; os lowlanders são agricultores pacatos amantes da natureza; os saltbloods são um misterioso povo marinheiro; e os trueborns são humanos altos, exímios cavaleiros dotados de sangue celestial e construtores de reinos.
– Lizardfolk: o povo-lagarto vive no continente recém-descoberto de Tamerland. São grandes druidas e mestres na sabedoria das selvas e de seus senhores dracônicos.
– Minotauros: escravos dos gigantes, os minotauros se rebelaram há poucos anos e tentam achar seu lugar no mundo.
– Orcs: em Dawnforge os orcs são um povo de sobreviventes, nem maligno, nem benigno. Eles tentam provar às outras raças que são um povo civilizado.
– Ogros: outra raça escrava dos gigantes, os ogros ainda não conseguiram coragem para se livrar de seus mestres.
– Tieflings: essa raça meia-humana é senhora de um dos maiores impérios do mundo, um reino decadente, cheio de corrupção, riqueza e intriga.
– Yuan-ti Thinblood: os yuan-ti são um povo secreto que vive nas terras quentes do sul. Eles usam os quase-humanos thinblood como espiões contra as outras raças.
O destaque das raças é que além de todas estarem disponíveis desde o 1° nível, elas seguem regras de progressão diferentes de D&D. Em Dawnforge, os mortais estão no auge de sua pureza e poder e por isso os personagens dos jogadores são verdadeiros campeões de suas raças. Todo personagem em Dawnforge ganha um conjunto de racial talent feats e racial tranformations para customizar seu avanço de acordo o papel clássico de sua raça. Dessa forma, elfos podem ignorar penalidades devido a envelhecimento, humanos trueborn e tieflings podem despertar seu sangue extra-planar, ogros podem atingir um tamanho sobre-humano, anões podem ser tornar duros como rocha etc.
Após as raças temos quatro classes novas. O disciple entra no lugar do clérigo, representando as diferenças no cenário. Não existem divindades verdadeiras em Dawnforge, mas sim Imortais, criaturas semi-divinas que caminham sobre o mundo. Os disciples representam mortais que estão mais próximos dessas criaturas e são capazes de canalizar o poder das mesmas ou mesmo clamar por uma intervenção em momentos de desespero. O shaman entre no lugar do druida e possui uma maior afinidade com magias elementais, além de certos dons envolvendo rituais. O shaper é um personagem em harmonia com as forças divinas latentes de Dawnforge, capaz de realizar magia divina sem o auxílio dos Imortais (na verdade, talvez os shapers sejam “Imortais em treinamento”). O spirit adept é um guerreiro espiritual capaz de canalizar energias místicas em diversas formas de ataques desarmados (lembra uma versão nova do monge, com um sistema de “pontos espirituais” para ativar suas várias habilidades).
Dawnforge traz uma regra já famosa para fãs de Midnight, as chamadas legendary classes. Essas classes de prestígio possuem pré-requisitos rigorosos e são totalmente customizáveis, sendo que cada jogadores escolhe quando ganhar e qual a intensidade de suas várias habilidades. São em geral classes mais fortes, que requerem não somente requisitos mecânicos, mas feitos heroicos para poderem ser acessadas (como enfrentar dragões, derrotar gigantes, quebrar uma maldição, etc.). Esses feitos por sua vez são medidos através de legend points.
Fora as legendary classes, os legend points são usados também para se avançar nos legendary paths (espero que isso não esteja ficando confuso… hehehehe). Cada legendary path é ligado a um atributo e concede bônus e aumentos no seu uso. Um herói seguidor do legendary path da Força é praticamente um Hércules quando necessário. É possível ter mais de um legendary path, mas o personagem perde potência em troca de versatilidade.
Dawnforge traz novos talentos, armas, equipamentos e alguns detalhes extras para magias, em especial magias arcanas. O livro também possui regras para as eldritch wells, fontes de energia mística usadas por conjuradores para lançar magias extras e ganhar habilidades especiais. O livro também traz a descrição (com direito a fichas) de Imortais famosos, novos monstros e criaturas únicas. Ao tentar manter um clima mais mitológico, Dawnforge sugere ao mestre turbinar certos monstros (como a medusa) e usá-los como seres únicos.
A história do cenário é bem simples, descrevendo rapidamente os poucos anos passados. Temos a clássica contenda entre gigantes e dragões, a vinda dos anões e humanos, as guerras contra goblinóides dominados por demônios e Imortais malignos, a vinda das fadas de Itheria, a descoberta recente de novas terras a oeste, etc.
Os capítulos 5 a 10 dedicam-se a descrever as várias terras do mundo. Há desde as pacatas terras humanas de Anderland, até a dividida Kingsmarch e as desoladas Highlands. Os anões e gigantes ganham um capítulo só sobre seus reinos. Os elfos igualmente ganham seu próprio capítulo, descrevendo o reino de Sildanyr, onde os elfos da aurora começaram a oprimir os elfos da noite, expulsando-os para florestas escuras e montanhas. As terras do império tiefling e o continente desértico de Zangala ao sul (habitado por yuan-tis) são detalhados juntas. Finalmente, temos as Dreaming Isles dos humanos saltbloods e o novo continente do povo-lagarto de Tamerland.
Dawnforge fecha com uma aventura chamada Saga of the Giant King, envolvendo uma das maiores ameaças do cenário: o exército de um gigante do gelo meio-dragão branco filho de um Imortal (sim, ele é muito perigoso). A aventura não lida com o gigante diretamente, sendo para grupos de nível mais baixo.
Mítico Talvez, Épico Não
Dawnforge é sem sombra de dúvida um magnífico cenário, mas não entrega o que promete como seu irmão Midnight. Isso sem deve em parte ao fato de Dawnforge se aproximar de um dos gêneros mais difíceis da fantasia moderna – alta fantasia ou high fantasy. É complicado criar um cenário de alta magia, castelos voadores, portais planares, guerras com deuses, grandes batalhas e artefatos poderosos sem desequilibrar o jogo ou cair em absurdos.
Por esses motivos, os autores preferiram uma abordagem mais “Primeira Era” e menos “alta fantasia”. O cenário de Dawnforge é um mundo de fantasia jovem e aberto a histórias. Quem está à procura de magias que sacodem continentes, monstros e personagens épicos (no sentido de acima do nível 20) e magos criadores de artefatos vai se decepcionar. O nível de poder de Dawnforge é bem baixo, mesmo seus Imortais mal atingem um ND 20.
O mérito do cenário está em sua grande variedade de raças e habilidades e no fato de ser um mundo riquíssimo em ganchos e possibilidades. Em Dawnforge os elfos da noite ainda não foram seduzidos por uma deusa maligna e se transformaram nos drows (mas estão próximos), os orcs ainda não foram corrompidos por forças demoníacas, nem um grande império humano foi fundado por algum rei mítico. O cenário é incrivelmente aberto a aventuras dos mais variados temas e nesse aspecto é mais interessante e sedutor do que cenários já “atolados” de história como Forgotten Realms e Greyhawk.
Outra atraente característica da linha Dawnforge é que ela só consiste de três livros. Fora o manual básico, temos o Age of Legend, com novas raças, além de talentos raciais, racial transformations, classes de prestígios, itens novos, etc; e a aventura Path of Legend, que introduz o cenário para novatos.