Todos sabemos que são dois ótimos gêneros, recheados de eventos, coisas e lugares fantásticos, totalmente diferentes um do outro, certo? Errado.
Ambos os gêneros seguem os mesmos conceitos de ambientação, mudando apenas uma coisa, o nível de tecnologia dos cenários. Essa talvez seja a grande diferença entre ambos os gêneros, pois se olharmos de uma forma mais crítica e analítica, veremos grandes similaridades, e muitas coisas mais que são basicamente as mesmas.
Vamos ao conceito inicial de ambos os cenários: o Cyberpunk é um futuro próximo, porém extremamente pessimista, onde nossa ciência foi direcionada para a implantação da tecnologia no homem, não como forma de recuperar algo perdido, como no caso de próteses e transplantes, mas sim na efetiva troca de partes humanas por partes robóticas, mecânicas, cibernéticas, ou uma mistura de qualquer uma dessas três. O Steampunk conta com os mesmos conceitos, uma “desviada” na tecnologia de uma época (normalmente na transição do feudalismo medieval para a monarquia renascentista ou na 2a Revolução Industrial), onde a “superciência” se faz presente através de maquinários a vapor (motivo que originou o termo Steampunk, steam = vapor), nos mais variados tipos e gêneros, desde barcos, balões, dirigíveis, até cidades flutuantes e construtos movidos a vapor e magia.
Por falar em magia, esse também é um tema interessante em ambos os cenários. Muitos cenários de ambos os gêneros usam magia, e normalmente ela é totalmente diferente dos “conceitos clássicos”, onde as pessoas saem pelas ruas soltando bolas de fogo, levitando e revivendo os outros. Nos cenários Cyber/Steam Punk, a magia é mais sutil, misturada, e muitas vezes interdependente de componentes próprios desses cenários. Cito como exemplo os shamans urbanos de Shadowrun e muitos alquimistas de cenários Steampunk diversos. Os maiores e mais brutais efeitos “mágicos” nesses cenários normalmente são a mistura de magia com ciência, num conceito de “tecnomagia” bastante complexo e interessante, como por exemplo os constructos de Reinos de Ferro, ou munição perfurante de armadura “abençoada” em Shadowrun. Afinal, uma Ares Predator sempre é boa companhia, mas não custa nada melhorar o buraco que ela faz, especialmente se você for louco de andar nos becos de Seattle à noite.
Voltando ao contexto Cyber/Steam, podemos observar que as bases de ambos os gêneros são bem parecidas. Um mundo que já foi melhor; está em decadência ao mesmo tempo que evolui; a população é acuada e segregada por grandes monopolizadores de poder; instituições ou corporações que se apoiam ou lutam para desenvolver o ápice da tecnologia com o intuito de governar e enriquecer poucos enquanto muitos sofrem por isso. Normalmente esses mundos ou acabaram de sair de uma grande guerra, ou estão nos momentos finais da “maior guerra de todos os tempos”, e o que mais se vê é desolação e pessimismo quanto ao futuro. Afinal, quem pode garantir que haverá um sol brilhando no dia seguinte? Ou melhor, quem pode ter certeza que estará vivo para ver esse sol no dia seguinte? É nesse tipo de cenário que surgem indivíduos muitas vezes conflitantes, de moral duvidosa, que desencadeiam ações que mudam a perspectiva de uma nação, vila, ou às vezes apenas de uma pessoa. Mas que fazem a diferença nesse mundo, que mostram aos pobres e acuados que ainda há esperança, por mais que seja ínfima, ela está lá, basta estar disposto a sujar as mãos.
Esses poucos, muitas vezes loucos ou apenas amorais indivíduos, são justamente os queridos personagens jogadores que habitam esses cenários. Muitos movidos por lucro, alguns por ideais, mas todos possuem uma coisa em comum: não importa o quanto a situação pareça ruim, eles já estiveram em situações piores, e sempre lutam até o fim para reverter essa condição. Mesmo que tenham que vender um companheiro, ou agir à margem da sociedade e pelas costas de seus próprios companheiros, eles perseguem e conseguem seus objetivos, muitas vezes frustrando grandes planos elitistas que se apoiam no sofrimento alheio.
Para terminar, gostaria de recomendar a leitura de alguns ótimos exemplos do que acabamos de apresentar, como o clássico Cyberpunk 2020, que ainda hoje é um dos livros mais difíceis de achar no Brasil, e um dos mais interessantes do gênero, na minha opinião; e leiam Reinos de Ferro, um ótimo cenário Steampunk com tecnomagia e “capa e espada”.
Formem suas opiniões, conversem conosco, discutam e vamos nos aprofundar mais nesses dois gêneros que são extremamente empolgantes e cheios de conteúdo extremamente aproveitável em cenários atuais e medievais.
Autor: Daniel Oliveira
Galfornaly
Perfeita a síntese.