D&D Next: Análise da Ficha do Guerreiro do Starter Set

Se você joga RPG há algum tempo, pode concordar: uma das etapas mais legais na hora de criar seu personagem é no momento em que a ficha – branquinha – chega às suas mãos. Tal como o pai de um filho em gestação, um inventor, um criador, a sensação de fazer uma ficha mescla a expectativa que se cria em torno do seu personagem (ele será o melhor, o mais valente, o mais astuto, o mais forte) com uma definição estratégica de que habilidades ele terá, quais serão os melhores atributos e onde irá ser colocado o 18. Na Força? No Carisma?

Pois a ficha divulgada quarta passada, dia 18 (não creio em coincidências), pelo pessoal da Wizards, me fez sentir novamente esse gostinho de pegar lápis e uma ficha em branco e rascunhar sonhos e ansiedades através dos números que se materializam no meu personagem. Sim, meu caro, ali não estava uma ficha “presetada” onde bastam alguns cliques e ela sai pronta. Ali há uma ficha onde há o prazer de rolar os temidos 3d6 e torcer para que caiam números graúdos, capazes de te dar uma Força absurda, uma Destreza de leopardo e uma Constituição semelhante à de um triatleta. Uma ficha simples – frente e verso – não um calhamaço de poderes onde não se sabe porque você ganhou nem porque você tem direito a ganhar uma cartinha verde ou vermelha. Não há aquela empáfia da opção de escolher números prontos, tornando uma ficha algo frio, insosso como a seleção espanhola que acaba de ser eliminada na Copa.

Olhando à primeira vista, a ficha de Guerreiro divulgada levanta dúvidas: um 14 em Carisma? Que fighter é esse que valoriza mais a sociabilidade do que a agilidade? Só este impacto já me animou, num sinal que a Wizards quer te dar, jogador, algo que há tempos fãs de D&D – Mestres ou jogadores – se desdobram para possuir: liberdade.

Devaneios e empolgações à parte, embora não distantes, a nova ficha de D&D revela detalhes importantes:

1. Os modificadores se sobrepõem aos atributos: isso tem efeito na mecânica do jogo. Jogadores menos experientes tendem a se confundir quando rolam dados. Com o destaque ao que o atributo implica, e não a ele próprio, fica mais simples a realização dos testes.

2. A essência social e psicológica do personagem ganhou verdadeiro e merecido destaque: por uma questão de ego e sobrevivência, jogadores de RPG não gostam de apontar defeitos em seus personagens. Todos são lindos, cheirosos, fortes, ágeis, saudáveis, sábios, inteligentes e carismáticos. Nem um pai de comercial de margarina é tão perfeito. E o que a ficha apresenta é que os futuros personagens de D&D Next terão Traços de Personalidade, Vínculos, Ideais e DEFEITOS. Se por um lado isso pode escravizar o jogador, por outro pode ser um ponto de partida para ele desenvolver e complexificar seu personagem. São pontos de partida em uma ficha de RPG que já definem bons de maus jogadores.

3. Os detalhes sobre as perícias e testes de resistências estão simples e diretos. Ponto positivo.

4. As características da raça estão bem explicadas: isso ajuda a lembrar e relembrar ao jogador que ele empresta sua interpretação ao personagem, mas ele NÃO É o personagem. Embora o exemplo da ficha da Wizards não tenha sido dos melhores (Humano), deixar tudo bem explicado ajuda ao jogador a não deixá-lo desviado da essência da raça que ele interpreta. Ou teremos elfos arrotando cerveja e coçando o saco nas tavernas o que, convenhamos, é meio nonsense.

5. A evolução do personagem de acordo com os níveis também veio em boa hora: isso ajuda a dar mais agilidade ao jogo e dispensa um pouco o Livro do Jogador.

Outros pontos poderiam ter melhorado na ficha, como o desenho do bonequinho e o local onde ficam os equipamentos (uma boa sacada da 4e) e a insistência da Wizards em forçar o jogador a pintar – como num cartão-resposta de concurso – seus sucessos e falhas nos death saves. São poucos os jogadores que perdem tempo com isso.

No mais, a ficha de D&D Next retoma elementos que andavam em falta na versão atual: simplicidade na estrutura, sinceridade nas regras (não vi ali espaço para dúvidas ou más interpretações) e honestidade no que pode ou não ser feito.

Caberá a você, então, tornar a futura ficha uma pretensiosa realidade na interpretação do seu personagem.

Autor: Felipe Barreto
Equipe REDERPG

4 Comments
  1. Gostei da CA dentro do escudo. Bem D&D. As descrições das características do personagem, como medos e objetivos, integram o personagem no cenário, coisa difícil de se ver em mesas mais recentes. Layout limpo. Mal posso aguardar pra chegar o meu.

  2. Só não entendo a necessidade de enaltecer as características que agradam na edição que está sendo lançada depreciando características da edição que é substituída. Especialmente com declarações que desqualificam a edição anterior, como se não fosse D&D.
    Como se o que fizesse o D&D ser D&D fosse o rolar de 3d6 (o que aliás sempre foi uma possibilidade na edição anterior), e a tecnologia do programa que reúne todas as regras em um só lugar, e faz todas as contas, entregando uma ficha bem legal, fosse um retrocesso.
    Joguei a 3.5, joguei e jogo a 4, e vou jogar o Next. Tenho minhas preferências, mas nunca depreciei nenhuma edição. Tudo é D&D, e tem o seu valor.
    Bom, mas esse sou eu…

  3. Legal mas eu sinceramente não espero que contenha sempre nas fichas a explicação sobre oque é um humano ou um guerreiro. Isso é algo para um starter set mesmo pois seria ridículo para jogadores veteranos.

    Sobre a ficha em si achei interessante porém não está 100%. Entendi como desnecessário a parte sobre Saving Throws pois ela apenas repete as informações dos atributos com o detalhe de +2 para um e outro… seria mais fácil colocar algum detalhe nos atributos sobre isso.

  4. O.o Humano recebe mais 1 em todas as habilidades e mais dois em 2 nos Saving Throws???? Quero ver quem vai querer jogar de outra raça.

Leave a Reply