Estou devendo essa resenha faz tempo. Racunhei a dita-cuja quanto terminei de ler o livro mais de um mês atrás, mas acabei nunca terminando. Pois bem, aqui estamos nós.
O livro foi a estréia de Ian Whates, que já foi diretor tanto da Science Fiction & Fantasy Writers of America (SFWA) quanto da British Science Fiction Association (BSFA). Hoje tem tanto a trilogia deste livro quanto outra de space opera.
A premissa do livro: Thaiburley é uma cidade gigantesca… mas ao invés de crescer horizontalmente, cresce verticalmente. É como uma gigantesca torre com centenas de níveis acima do solo. Quem vive nos níveis inferiores não sobre até os níveis superiores, onde, dizem as lendas, vivem demônios.
Tom é um ladrão, membro de uma das muitas gangues juvenis que infestam os níveis inferiores da cidade. Para vencer uma aposta – e impressionar uma garota – ele decide escalar Thaiburley até o topo e ver os tais demônios. O problema é que, durante a escalada, ele vê um assassinato acontecendo. E não é um simples assassinato: é a morte de um dos mais poderosos membros do governo de Thaiburley pelas mãos de outro oficial do governo. Tom acaba sendo visto, mas escapa. E aí começam os problemas.
A história segue Tom e um oficial da guarda da cidade, Tylus, que sinceramente só virou membro da venerada Kite Guard porque isso agradaria os pais. E como você acha que atua uma polícia chamada “Guarda da Pipa” em uma cidade vertical? Pois é: os membros da Kite Guard usando uma roupa especial com uma capa que une braços e pernas, permitindo que o sujeito plane, muito parecido com esquilos voadores e esses malucos que fazem wingsuit flying.
A história segue Tom, Tylus e Dewar encontrando os níveis inferiores da cidade e uma horda de bizarrices que misturam fantasia e tecnologia num formato que me lembrou Perdido Street Station do China Miéville.
Mas, assim como em Perdido Street Station, a história não é só essa. Lá pelo meio do livro descobre-se uma conspiração em andamento, algo que vai muito além de um assassinato ou a briga por poder de Magnus no alto da cidade-torre.
O livro é bem interessante. Não é tão descritivo (diria até imersivo) quanto o Perdido, mas o mundo que apresenta é interessante mesmo que menos estranho. Os personagens são também bem interessantes e o twist que surge na metade do livro ficou bem interessante.
Thaiburley tem um conceito bem interessante e que parece fazer sentido. Menciona-se outras cidades, outras terras, mas nunca se vai além dela. E não se precisa. É quase como se a cidade fosse uma arcologia, uma cidade-edifício auto-suficiente. Então você vê os níveis no subterrâneo, encontra o porto de um rio dentro de uma caverna, máquinas gigantescas levando produtos manufaturados para os níveis mais altos (e mais ricos) e percebe que existe todo um ecossistema funcionando ali.
Dois problemas que senti do livro foram o fato de que a primeira parte, o ‘retorno para casa’ do Tom me pareceu se arrastar demais. Está certo que era o foco da história dele, mas em conjunto com o ponto de vista dos outros personagens, que pareciam totalmente perdidos na história, a coisa ficou meio chata. “Eles não vão se encontrar, cacete?” passou pela minha cabeça umas duas ou três vezes.
O outro problema é meu mesmo: esperava um livro mais independente. Enquanto a história tem início, meio e fim, ela deixa diversas pontas soltas para suas continuações.
No geral é um livro bem legal com uma história boa, cenário bem legal e narração também boa. Não é o suprassumo da fantasia, mas certamente vale a leitura.
Por J. M. Beraldo
(http://www.jmberaldo.com)