Na GenCon de 2012, a Fantasy Flight Games anunciou uma nova linha de RPGs de Star Wars e liberou a versão beta do primeiro livro básico, o Edge of the Empire (eu traduziria como Limites do Império, a explicação do nome vem mais abaixo). A versão beta pôde ser comprada como um livro de RPG comum e todos que a adquiriram meio que entraram num acordo com a FFG de relatar o que deu certo, o que não deu certo, para que o produto final ficasse melhor. E não é que deu certo?
O Conceito
Edge of the Empire é o primeiro de três linhas de RPG de Star Wars. Ele engloba personagens que vivem na orla exterior da galáxia – contrabandistas, caçadores de recompensa, colonos e todos os outros que vivem em planetas distantes do poder central do Império de Palpatine e Vader. Se puxar da memória, dá para lembrar que em Tatooine, um dos planetas da Orla Exterior, é controlado por Hutts e o poder do Império não dá muito pitaco sobre o que eles devem ou não fazer. Ou seja, no primeiro livro não é possível jogar com outra coisa que não seja um tipo de personagem que vive sua vida como pode, com altos e baixos, às vezes tendo que recorrer ao crime para ter seu ganha-pão diário. E isso é ÓTIMO! Realmente estava faltando um RPG de Star Wars onde o foco não fosse os Jedi ou Sith.
Os outros dois livros a serem lançados serão Age of Rebellion (Era da Rebelião) e Force and Destiny (Força e Destino). Um trata da dos membros da Aliança Rebelde (Ah, vá!) em sua luta contra o Império e o outro auxilia na criação de usuários da Força. Não há nada que indique isso no EofE, mas eu não me surpreenderia se um dia lançarem um suplemento onde os jogadores poderão fazer personagens DO Império, como foi feito no sistema Saga d20. Mesmo assim, vale relembrar que o foco dos lançamentos é a época dos episódios 4 a 6.
Mecânica Básica do Jogo
Os Dados
O sistema do EofE me lembrou muito o de Warhammer, também da FFG. O sistema é o centro de tudo. Para qualquer teste, os jogadores devem usar uma ability e uma skill. O valor mais alto entre os dois últimos (digamos que sua ability seja 3 e sua skill 2) indica a quantidade de dados usados e o valor menor indica quantos dados poderão ser upgraded (a jogada normal é com os dados verdes, os “dados de habilidade”, que são d8s com símbolos e os dados modificados são os d12 amarelos, chamados de “dados de proficiência”, também com símbolos).
Para representar a dificuldade costumeira da jogada, o jogador que vai rolar os dados acrescenta quase sempre um dado roxo chamado de “dado de dificuldade” (que também é um d8 com símbolos). Se o teste for perigoso geralmente ele deve trocar o dado roxo por um dado vermelho (um d12) chamado de “dado de desafio”. A famosa regra do +1 /-1 de bônus dos outros sistemas de RPG é representada aqui no EotE pelos dados de bônus (booster dice) azuis ou os dados pretos (setback dice) que são os dados de problemas. Se alguma circunstância no jogo dá vantagem ao jogador, ele acrescenta o dado azul, se algo o atrapalha, ele acrescenta o dado preto (além do dado ou dados roxos normalmente acrescentados). Os dados azuis e pretos aumentam e diminuem a dificuldade DAQUELA jogada, enquanto os dados roxos representam a dificuldade padrão da cena toda (e às vezes da aventura toda).
Todos os dados de EofE são personalizados, o que vai criar uma corrida armamentista em busca dos conjuntos de dados vendidos pela FFG nas lojas (e tome imposto de importação!). Cada conjunto terá 14 dados e eu já percebi que um conjunto só não é o bastante para campanhas contendo 5+ jogadores e o mestre. Cada dado possui 4 símbolos. Os dados positivos (os que ajudam o personagem) possuem símbolos chamados de sucesso e vantagem. Os dados negativos possuem os símbolos de falha e ameaça. O dado amarelo d12 também possui um símbolo chamado Triunfo (um super sucesso/vantagem) e o dado vermelho possui um símbolo de Desespero (super falha/ameaça). Os sucessos e as falhas se cancelam, e se um deles sobrar no final das contas a ação acontece ou não. Mas isso não é o bastante. No sistema do EofE, não basta fazer ou não uma ação, o que realmente importa é COMO você faz a ação, ou como você NÃO a faz.
Em termos práticos, os resultados dos dados podem fazer com que você arrombe uma porta, ou arrombe uma porta e não dispare um alarme silencioso, ou arrombe a porta e dispare o alarme, ou arrombe a porta, dispare o alarme E atraia a atenção de um batalhão de stormtroopers próximo, ou não arrombe a porta e não dispare o alarme, etc etc, etc. E sim, é o Mestre do jogo quem diz o que diabos aconteceu se você fez a ação e tirou símbolos negativos. Sua ação pode ter sido magistralmente bem feita, mas algo negativo pode ter ocorrido por causa disso. É bem costumeiro ter resultados do tipo: seu jogador disparou seu blaster contra um stormtrooper e errou o tiro, MAAAAAS ele tirou símbolos que darão um dado azul de bônus para o próximo jogador que tentar acertar o mesmo stormtrooper (talvez porque o cara se jogou para longe de uma caixa que o estava protegendo para fugir dos seus tiros, ficando aberto para ser atingido pelo próximo personagem.). O que isso significa com relação a dinâmica dos personagens de jogo? TUDO, kemosabe. No novo EofE, TODA as ações de TODOS os personagens estão sinergicamente ligadas. Agora faz mais sentido usar a manobra COVER FIRE (quando o personagem grita ME CUBRA e sai correndo de onde estava escondido e os outros personagens disparam suas armas tentando fazer os inimigos se esconderem até que ele chegue em segurança). Nesse caso, não só ele terá um dado azul de bônus para correr até o outro lado usando Atletismo, como o inimigo recebe um dado preto de problemas para tentar acertá-lo (já que está sendo sapecado por tiros de todos os outros personagens, mesmo que não acertem). Deu para entender até aqui?
Se você conseguiu entender o sistema de dados até aqui, parabéns, você já pode jogar o novo Edge of the Empire. O resto do livro trata de regras para o Mestre, fala da criação de personagens. Isso me lembra de avisar que: o livro novo vai tentar limitar a criação de personagem com 8 raças famosas dos Episódios 4, 5 e 6. Mas já existe na internet trocentos sites de jogadores que adaptaram outras raças para personagens novos. Eu sei o desespero deles, já que minha esposa, a Elfa, gosta de jogar somente como humana, ou togruta (a raça da Shak-Ti do Conselho Jedi ou da Ahsoka Tano, padawan do Anakin do Clone Wars) ou de miraluka (raça de usuários da Força que não possuem globos oculares e enxergar tudo como o Demolidor, com um radar da Força). E é claro que essas raças NÃO estariam no livro novo, né?
Pontos de Destino
- Falei dos dados verdes (d8), dos amarelos (d12), dos roxos (d8 negativos), dos vermelhos (d12 negativo), dos azuis e pretos. Ainda falta falar de um dado: o BRANCO.
O dado branco é o dado da Força. Ele é cheio de bolinhas brancas e pretas. Brancas representam o lado da Luz e os pretos representam o lado Negro da Força (eu nunca vou dizer Lado Sombrio da Força porque eu SEI que existe um SHADOW SIDE OF THE FORCE, com usuários que se vestem de CINZA, mas aparentemente o tradutor do Star Wars no Brasil não sabe disso. Errou nessa, Briggs, quis inventar e não deu certo!). TODO começo de sessão de jogo cada jogador deve rolar esse dado branco e no final os pontos do lado da luz e do negro são somados criando os PONTOS DE DESTINO. Esses pontos podem ser representados pelo que você quiser, mas a caixa BEGINNER do Edge of the Empire criou marcadores: um lado da Luz e outro do Negro. Quando o marcador é usado, ele é virado para o outro lado. Isso significa que ao usar um ponto do Lado da Luz, o jogador dá ao mestre um ponto do Lado Negro. Jogadores usam somente o lado da luz e o Mestre somente o lado Negro. Os pontos de destino podem ser usados para melhorar os dados usados em uma jogada dos jogadores (mudar um verde d8 para um amarelo d12, por exemplo). E pode ser usado pelo Mestre para dificultar a vida dos jogadores (mudando um dado roxo d8 para um dado vermelho d12). Isso indica se a Força está ou não com o personagem naquele momento.
Acho que são informações o suficiente para ajudar a todos os Roleplayers a considerarem a compra de pelo menos a caixa Beginner do novo Edge of the Empire, já que ela vem com um conjunto de 14 dados e vale muito a pena. A qualidade da caixa é excepcional, como em todo lançamento da Fantasy Flight, mundialmente conhecida por seus jogos fantásticos de tabuleiro, como Arkham Horror e Battlestar Galactica (que eu tenho e jogo sempre). Vale lembrar que estamos falando de DADOS de RPG e isso para o governo se chama IMPOSTO SOBRE ITEM IMPORTADO de JOGO. Ou seja, sabe-se lá quanto vai sair o conjunto separado de dados importados por aqui.
Além dos dados, a caixa Beginner foi criada como a velha caixa preta de D&D lançada pela Grow nos anos 90. Ela realmente ensina o sistema, passo a passo e sua aventura inicial cria um vínculo fantástico entre Mestre e jogadores, porque todos aprendem as regras juntos, discutem, entendem e passam um bom tempo aprendendo a interpretar os símbolos. Isso é ótimo para o RPG, para você e seus jogadores. Aprender juntos um sistema novo de RPG, ainda mais no universo de Star Wars, é algo no mínimo inovador e tem meu total apoio.
Joguem, seja comprando a caixa Beginner ou colocando as mãos na versão Beta do livro básico 1 ou quando a edição definitiva do Core book for lançada nos EUA. Falta pouco, a previsão é Primavera de 2013 (a deles, que já começou no mesmo dia do nosso outono!). Depois me contem como foi se aventurar num sistema novo de Star Wars que foi criado e depois modificado por jogadores e, principalmente, por fãs da tal galáxia muito, muito distante.
Por Leandro “Duncan Salazar” Rodrigues
Tradutor dos livros de D&D pela Devir Livraria (da linha Forgotten Realms, de 3,5 e 4ª edição, GURPS e todo o resto). Ele também legenda seriados e filmes para Warner, HBO, Sony e demais TVs por assinatura. É ator, dublador e aikidoista desde 1981. Reclamem dele no @iDuncanSalazar