Confesso que não conheço o universo de Vikings – Guerreiros no Norte, meu único contato com esse cenário foi com a primeira parte da aventura A Fonte de Mimir, lançada a muito tempo atrás nas páginas da extinta Dragão Brasil. A título de nota, essa aventura pode ser baixada no site da Conclave aqui.
No entanto por ser um apaixonado pela era Viking, suas histórias e mitologias, aceitei fazer uma resenha sobre esse livro de contos ambientados em uma era Viking modificada para abrigar os deuses e criaturas descritos nas sagas.
O espírito do livro começa pela bela capa desenhada por Rodney Buchemi, no entanto vê-la repetida no verso me deixou um pouco apreensivo, pois me pareceu algo feito as pressas ou sem o devido cuidado. Fiquei ainda mais preocupado ao ver na aba da capa dizendo que eram nove contos ao todo, quando na aba do verso há treze títulos de contos. Mas segui em frente.
Logo em seguida, abrindo a segunda página me deparei com um mapa das terras nórdicas, acredito que para guiar o leitor nas localidades citadas nos contos. Era preferível não tê-lo colocado, pois com a fonte utilizada fica muito difícil de ler qualquer nome citado sem uma lupa. Uma pena. Depois de ler todo o livro eu descobri há um mapa no final em tamanho maior e esse sim permite ler o nome das localidades, o que torna o primeiro mapa nada mais que um adereço.
Após um Prefácio do organizador dos contos, seguido por uma Apresentação, inicia-se os contos propriamente ditos. Cada um contando com uma belíssima “capa interna” desenhada pelo competente Flávio Ribeiro, apresentando o nome do conto e os nomes de seus autores. Abaixo apresento cada um dos contos com uma descrição geral, para não entregar nenhuma surpresa, e os comentários sobre cada um:
1. O Início
Este conto é uma introdução ao universo de Vikings – Guerreiros do Norte, e serve para situar o leitor nesse universo fantástico. O conto se inspira no Voluspo (poema nórdico sobre a criação e destruição do mundo) para narrar a criação do mundo, conhecedores da mitologia nórdica verão algumas adaptações para encaixar a história no cenário, mas nada que comprometa a história. Ele também narra os acontecimentos que uniram o mundo dos homens com os outros oito mundos da mitologia nórdica, transformando a Terra na Midgard fantástica. Um conto bem escrito e divertido. Ao final do conto, há uma parte transcrita do Voluspo para conhecimento dos leitores.
2. O Batismo da Lua Cheia
O segundo conto é narrado sobre o ponto de vista de um troll, uma criatura da mitologia nórdica. Nele, a criatura vai a caça provar sua maioridade. O conto é curto, mas cheio de idéias. É impossível lê-lo sem pensar em uma trama para uma aventura.
3. A Caçada
Outro conto rápido que transmite bem a urgência da situação. O conto narra a atuação de um predador que escolhe dois vikings como presa, mas a caçada não sai como ele planejou. Um conto muito interessante e que apresenta a visão da morte para os nórdicos, visão essa que estará presente em diversos contos mais a frente e que ajuda a definir a personalidade desse povo.
4. Calha de Sangue
Um dos contos mais longos do livro, narra a história de um filho bastardo em busca de vingança contra sua situação. O texto falha em manter o suspense, pois na metade do conto já fica evidente quem é o traidor. O ponto alto do conto é a chegada no Salão do Freixo, pois quem conhece a Saga de Volsunga reconhecerá o local onde se passa o final da narração.
5. O Drakkar da Serpente Marinha
Este conto narra a história de Varkald “Passos Leves” Ottison, um ladrão em sua busca por vingança contra aqueles que amaldiçoaram suas terras e destruíram sua vida, o capitão do Quieto, o Drakkar com a cabeça de uma serpente marinha na proa. Apesar das poucas páginas, o texto consegue envolver o leito, o que faz com que acabe se importando pelo destino de Varkald.
6. A Longa Estrada para a Ruína
O conto começa durante o combate entre vikings e irlandeses pela posse da terra onde hoje encontra-se Dublin, a capital daquele país. O herói do conto é Hosvir, um dos tripulantes do Quieto. Esta história se passa antes dos eventos narrados no conto anterior e mostra como Hosvir se juntou a Ragnar em sua jornada. Após participar da vitória contra os irlandeses, Hosvir perde uma de suas mãos e começa uma luta para aceitar sua nova condição. O conto é bastante confuso e cheio de elementos, deve ser lido com muito cuidado para não perder o fio da meada. Confesso que tive que reler uma parte para entender o que estava se passando na história e o fato de se passar antes do conto anterior não ajuda o leitor a se situar na história.
7. Martelos e Foices
Este conto é muito interessante, ele narra de um grupo de viking que usa seu drakkar em batalha tanto no mar quanto na terra. O texto é muito divertido e termina de uma maneira espetacular, quem conhece um pouco de história viking vai sorrir com a referência. No entanto o texto começa muito confuso, principalmente porque alguém chama o capitão de Ragnar, e você imagina que o texto se trata da tripulação do Quieto, mas os personagens não são os mesmos e confunde o leitor. Apenas quando o capital cita seu nome no final do texto percebe-se que o conto não tem nada a ver com os dois anteriores. Acredito que faltou uma revisão e esqueceram de substituir o nome.
8. A Pedra de Norsklund
Outro conto que é impossível ler sem pensar em uma trama para aventura. A história é sobre os sobreviventes de um ataque que dizimou sua vila. Os dez guerreiros se unem para se vingar do grupo que assinou covardemente os membros de sua vila usando a magia da tal pedra do título. O conto poderia ser melhor desenvolvido pois deixa muitas pontas soltas, ainda mais com o final tão abrupto.
9. O Relato do Navegador
O melhor conto do livro, muito bem escrito e com um final intrigante. Narra a história contada pelo jarl (nobres nórdicos) Hrani Thorolfson ao escaldo (espécie de bardo) Helantir Agarson. O texto fala do desaparecimento de dois homens sob o comando de Hrani e como a descoberta do que aconteceu com eles o abalou profundamente. É uma pena que a bela arte de Flávio Ribeiro estraga um pouco da surpresa do conto, mas ao final do texto, dá vontade de saber o que acontecerá com Hrani e como sua decisão o afetará no futuro.
10. A Ruína de Krankheim
Outro belo conto, enquanto os outros são focados nos humanos, esse mostra os anões em uma audiência com os deuses Aesires. O texto é digno das histórias nórdicas e usa a personalidade dos deuses de uma maneira inteligente. Apesar de ser uma história sobre a tragédia que se abateu ao reino anão de Krankheim, a maneira como termina não deixa de ser um tanto quanto cômica, exatamente como os textos nórdicos.
11. A Senhora de Hedeby
Este conto narra a história de Lynn, uma mulher nascida de uma Valquiria e com um destino glorioso pela frente. No entanto, seu menor Halfdan Volsung acredita que primeiro ele deve quebrar o orgulho da garota antes que ela possa atingir a grandiosidade. Um texto correto e com uma heroína como personagem, algo corajoso e que se encaixa na proposta do cenário.
12. O Templo dos Francos
O penúltimo conto relata o ataque viking a um vilarejo franco e seus últimos defensores concentrados dentro de uma igreja. Um conto um tanto quanto irregular. Confesso que a tática utilizada pelos vikings para incendiar o templo me deixou consternado, mas a atitude final do personagem narrador foi inexplicável o que tornou o final do texto decepcionante.
13. Varde
No último conto, um corajoso guerreiro viking é traído por seus companheiros e deixado para morrer após uma invasão bem sucedida. No entanto, ele não quer morrer sem antes se vingar e ser enviado para o Nilfheim, o inferno gelado dos covardes. Para conseguir se vingar ele faz um pacto com uma senhora misteriosa, o que se prova um grande erro.
Após os contos, há um apêndice com um guia que ensina a pronunciar os nomes nórdico, há uma cronologia dos eventos da Era Viking e também um glossário com o significado das principais palavras nórdicas, algumas que aparecem no livro e outras não.
Conclusão
Contos Nórdicos é um bom livro, apesar de contar com alguns contos irregulares e outros muito bons, se prova uma ótima aquisição tanto para quem quer se aprofundar no cenário de Vikings – Guerreiros do Norte como quem gosta das histórias das sagas nórdicas.
Além disso, Contos Nórdicos é uma ótima iniciativa da Conclave, pois provê um suplemento que pode ser utilizado pelos jogadores para se ambientarem ao cenário e também pelos mestres, que podem utilizar os contos como ponto de partida para suas aventuras ou mesmo toda uma campanha.
Por Rafael Silva