Extraído dos diários de Frei Giuliano della Rovere:
No ano de Nosso Senhor de 1462, encontro-me vagando pelas encostas geladas e vales nevoentos das regiões à leste da Santa Roma. Mandado aos Cárpatos sob ordens de Monsenhor Giovanni para registrar os conflitos entre a cristandade e seus inimigos, vi-me em meio aos festejos de uma grande vitória sobre os infiéis do Oriente. Em nome de Cristo, os senhores daqui combateram com fúria os exércitos otomanos e agora celebram o feito com música, carne e vinho.
Estou no domínio de um destes senhores, e a comemoração já entra em seu terceiro dia. Nos campos, os soldados e o povo cantam e dançam embriagados pela vitória, aliviados com o fim dos perigos. Dentro do castelo, a nobreza recorda os feitos da batalha, contando o número daqueles que caíram vítimas de suas espadas e a astúcia de suas manobras. Para além das maravilhas realizadas em nome de Cristo, meus olhos também presenciam os caprichos exóticos destes senhores do Leste, com seus sombrios jogos de poder, realizados com dissimulação e traições sutis e, por Deus, com seus serviçais monstruosos: seres deformados tanto no corpo quanto na mente, que habitam naturalmente em meio a homens sãos.
Mas o que mais causa assombro é a fabulosa história da morte e ressurreição do suserano destes homens, o senhor da Valáquia. Dedicado membro da Ordem do Dragão e cavaleiro a serviço de Deus, ele liderou com valentia as tropas cristãs contra os otomanos e tombou em batalha, apenas para reerguer-se milagrosamente dias depois e levar seus exércitos ao triunfo. Para os nobres e o povo, tal maravilha é o sinal da benção divina para suas guerras, e já assisti a mais de um brinde dedicado à saúde do príncipe.
Ouvi também muitas outras histórias a seu respeito desde que cheguei a esta corte. Entre lendas e verdades, escutei sobre sua luta para alargar os domínios do Reino de Cristo na Terra, feita com ímpeto e violência, e de como os campos estão tingidos de vermelho e as estradas ladeadas com milhares de inimigos empalados. O povo o ama como um libertador enviado dos céus, seus vassalos lhe dedicam admiração cuidadosa e seus inimigos estremecem diante de sua presença. Seu nome é Vlad III mas, entre os nobres dos Cárpatos, seu título é Drácula.
Esta é a descrição do que vivencio hoje. Não posso negar que minha estadia nestas terras causa-me angústia e que anseio por abandonar esta região de hábitos estranhos, senhores soturnos e servos bestiais o mais rápido possível. Não tenho conclusões sobre o retorno à vida do Príncipe Vlad, e talvez seja mesmo melhor não dedicar muitos pensamentos à questão. Mas minha alma está inquieta e não consigo parar de pensar que, se estes são os mais valorosos cavaleiros de Nosso Senhor, é melhor Deus ter piedade de toda a Cristandade…
Confraria das Ideias apresenta:
Drácula – um conto sobre poder e monstros
Durante a Fantástica Jornada Noite Adentro – Drácula
ONDE: BIBLIOTECA VIRIATO CORREA
Rua Sena Madureira, 298 – Vila Mariana (próx. ao Metrô)
DRÁCULA – UM CONTO SOBRE PODER E MONSTROS é um live-action (larp) medieval de fantasia, intriga e mistério concebido pela Confraria das Ideias.
Um larp é ao mesmo tempo um jogo de interpretação e uma maneira colaborativa de contar e vivenciar histórias: seus participantes interpretam personagens dentro de um contexto fornecido pelos organizadores. Contudo, não existe um roteiro a ser seguido: a história se desenvolve de acordo com as ações dos participantes. Também não existem vencedores ou perdedores: jogar, num larp, corresponde ao processo de interação social, no qual as ações de um personagem influenciam e são influenciadas pelas dos outros.