Representando as classes básicas de D&D é uma série de artigos escrita pelo Newton “Tio Nitro” voltada para os jogadores e que continua atual. O sexto e último artigo (5.010 leituras) é sobre o Paladino, que eu considero o melhor da série, trazendo além de excelentes dicas e ilustrações soberbas de Glaucio Marcos, regras opcionais para D&D 3.5 e Daemon. Ele foi publicado no antigo portal em 25 de fevereiro de 2007. Confira a seguir.
O PALADINO
Eles são os campeões do bem e da justiça, guerreiros que lutam por uma causa sagrada, seguindo códigos de conduta rígidos e buscando ser exemplos de sabedoria, bondade e coragem. Eles são os heróis que almejam o bem maior, que serão cantados nas lendas e admirados por muitas gerações. Se eles são tudo isso, por que é tão difícil representar um paladino em RPGs de fantasia medieval?
Personagens paladinos muitas vezes entram em conflitos com outros jogadores por causa de seu código de conduta. Quantas vezes um aventureiro ladino teve que escutar um sermão de um paladino por ter sido flagrado roubando algo sem importância? Quantas vezes um grupo de aventureiros entrou em enrascadas por causa da insistência do paladino em apenas dizer a verdade? Esses conflitos surgem muitas vezes pela falta de experiência do jogador em representar paladinos. Para evitar que seus companheiros o abandonem em plena aventura, aqui estão algumas dicas de como representar esses campeões da bondade e da justiça com toda a importância que eles merecem!
A minha primeira dica é a seguinte: em termos de tendência (características de sua personalidade) o paladino é leal e bom e não leal e bobo! Ou seja, além de terem compaixão e lutar contra o mal, os paladinos obedecem às leis, respeitam autoridades, dizem a verdade e honram a tradição. Mas isso não quer dizer que eles são ingênuos! Lembre-se que além da grande coragem e de sua bondade, os paladinos são famosos por sua sabedoria e seu bom senso! Um paladino estaria mais preocupado com a grande luta entre o bem e o mal e não com o fato de que um ladrãozinho de meia-tigela roubou uma maçã! Um olhar de reprovação seria suficiente nesses casos e evitaria discussões inúteis.
Seu código de conduta não é uma restrição ou uma fraqueza. Ele é a própria força do paladino! O código é o que o transforma o paladino em um exemplo a ser seguido. Mas o código também não pode ser uma camisa-de-força! Seja sensato ao aplicá-lo. Reflita sobre o código e converse com o Mestre do Jogo sobre a melhor forma de se comportar em relação ao grupo.
O paladino deve aspirar ser o líder do grupo (pelo menos na ética, no tratamento com as pessoas e na moral) e dar o melhor exemplo possível de comportamento. Para isso é preciso que um paladino saiba lidar com as mais diferentes opiniões, procurando apenas se opor frontalmente quando o grupo pretende fazer algo realmente errado. Mas não basta apenas se opor, o paladino tem que saber convencer seus companheiros de que agir da maneira errada irá causar conseqüências sérias para o grupo. E mais, como aspirante à líder, nesses casos o paladino deveria também oferecer uma outra opção.
O paladino tem uma visão positiva da realidade. Ele é uma das raras pessoas que acreditam que o bem irá vencer o mal no final de tudo. Ele também possui empatia, é capaz de sentir compaixão pelos oprimidos. O paladino assume responsabilidades e não tem medo de prometer a vitória contra o mal a fim de consolar aqueles que estão sofrendo. Ele também sempre procura fazer mais do que esperam dele.
Por outro lado, um paladino deverá entender que muitas vezes é preciso que ele seja mais flexível em relação aos seus companheiros. Se for o caso, o paladino poderá fazer uma penitência (ficar sem comer por alguns dias, dar uma grande quantia de ouro aos pobres, orar mais vezes ao dia por um determinado período) para compensar algum momento em que tenha que ser mais ‘flexível’. É lógico que esses momentos têm que ser raros, para que o paladino não fique com a moral ‘elástica’ e perca sua condição de guerreiro sagrado. O importante é sempre agir com lealdade e justiça com seus companheiros de aventuras.
Estimule seus companheiros a agir pelo bem. Parte da missão de um paladino é inspirar outras pessoas a fazerem o bem. Procure sempre convencer seus companheiros a agirem pelo bem-estar dos necessitados, usando argumentos inteligentes de que esta é a melhor maneira de agir. Se seus companheiros só se interessam por recompensas, ressalte o valor de terem servido a uma causa justa. E dê o exemplo, doando parte de sua recompensa para aqueles que precisam!
Para finalizar, o alto carisma do paladino tem que refletir na sua relação com os demais personagens! Paladinos são líderes natos, eles sabem ouvir os outros, são compreensivos, simpáticos e firmes quando necessários. Em um grupo, o paladino é a pedra fundamental, é a cola que une os demais companheiros de aventura. Ele nunca desiste, sempre mantém a esperança da vitória e busca sempre levantar a moral de seus companheiros. Ou seja, na realidade, o paladino tem que ser o oposto do ‘chatão’ que critica o comportamento alheio, ele deve preservar sua autoridade moral sem impor sua verdade sobre os demais.
Inspirando-se em personagens famosos!
Os paladinos têm sua origem no século XIII, com os lendários doze cavaleiros de Carlos Magno, o lendário rei dos francos A palavra paladino vem do latim palatinus (oficial do palácio), e foram descritos originalmente no poema La Chanson de Roland (A Canção de Rolando, séc. XIX). No poema, o paladino Rolando se sacrifica em uma importante batalha contra os muçulmanos para que o rei Carlos Magno possa vingar a morte de seus companheiros e levar seus corpos para serem enterrados em solo francês.
Todo paladino sabe que sua vida só tem sentido se servir ao bem da maioria, ou seja, um personagem paladino deve estar sempre disposto a se sacrificar por seus companheiros. O paladino não é um suicida, ele sabe que sua vida é importante na guerra do bem contra o mal. Mas como o paladino busca ser um ideal de conduta, ele tentará salvar, com sabedoria e sensatez, todo companheiro que precisar de ajuda.
Rei Artur e seus famosos cavaleiros da Távola Redonda são excelentes fontes de inspiração para personagens paladinos. Assista ao filme ou leia livros como Brumas de Avalon ou A Espada era a Lei para ver exemplos de honra e heroísmo desapegado, que tanto faltam aos guerreiros genéricos do estilo ‘pé-na-porta-mata-monstro-pega-ouro’.
Seguindo uma linha mais religiosa, Joana D’Arc pode ser outra inspiração para paladinos (veja o filme Joana D’Arc de Luc Besson). Seguindo visões divinas de que iria libertar a França do domínio inglês, Joana D’Arc conquistou o apoio de nobres franceses e, liderando os exércitos do Duque de Orleans, conseguiu importantes vitórias. Sua fé era inabalável, e mesmo quando foi capturada e queimada pelos seus inimigos, ela jamais negou suas visões. O importante é ter em mente que o paladino busca a glória para o bem de todos e não para si próprio. Seu maior inimigo é a vaidade e sua maior virtude é a entrega. O paladino sabe que o bem, ou se compartilha ou se perde.
Criando Personagens Paladinos
A base de uma boa representação de um paladino está em seu histórico. Quanto mais você pensar nas origens do paladino, de como ele chegou a ser o que ele é, ele fica mais fácil de se representar. O paladino é diferente das outras classes, ele não escolhe ser paladino, ele é ‘escolhido’ para o papel (algo como o Neo de Matrix em versão medieval). Normalmente, o paladino responde a um ‘chamado’, sua classe é uma vocação espiritual.
O chamado é o momento na vida do paladino onde ele tem uma experiência mística que define a fé que será a base do seu caráter. Se você tem dificuldade em imaginar ‘chamados’ para seu paladino, abaixo segue uma lista de 4 ‘chamados’ diferentes como sugestão. Eles devem ser adaptados ao cenário e à divindade escolhida pelo jogador:
Quatro Chamados para Paladinos (jogar 1d4)
1. Seu personagem teve visões terríveis na infância. As visões mostravam o mundo sendo destruído, o reino sendo invadido ou um poderoso castelo em chamas. No final das visões, a divindade escolhida revela que, com sua ajuda, o personagem poderá evitar a tragédia.
2. Durante a infância, o personagem viu um famoso paladino se sacrificar para salvar uma vila, um reino ou um templo. A serenidade do paladino na hora da morte despertou a fé do seu personagem no deus escolhido e a vocação para se tornar um paladino.
3. Sua vila, cidade ou reino foi assolado por uma doença devastadora. Desesperado, você orou para uma divindade e, junto com seus entes queridos, foi salvo da doença. Você decide seguir a divindade para retribuir a benção.
4. Um dos seus ancestrais foi um paladino muito poderoso. Ele se sacrificou para derrotar um poderoso monstro ou um avatar de um deus maligno. Seu personagem tem uma visão com o fantasma de seu ancestral que informa que o monstro que ele derrotara está retornando do mundo dos mortos muito mais poderoso, e que apenas com a ajuda do deus escolhido, o seu personagem poderá salvar o mundo e preservar a tradição de sua família.
A divindade escolhida é outro aspecto muito importante na vida de um paladino. Escolha a divindade e estude bem suas crenças, rituais, símbolos, votos, juramentos, etc. Converse com o Mestre sobre a divindade e sua religião, para que ele possa te orientar no seu código de conduta e no modo como você se relaciona com os outros personagens da aventura. Porém, se você não quiser seguir nenhuma divindade, você pode fazer um paladino que segue o Bem e criar seu próprio código de conduta. Recomendo pesquisar nos códigos de cavalaria dos templários (Dragão Brasil 120) ou de outras ordens de guerreiros sagrados!
Conclusão
Abnegados, corajosos e exemplares; os paladinos acreditam em um mundo melhor e estão dispostos a lutar por ele. Sua glória é servir ao seu deus e ao seu povo, ele é um idealista e um líder nato. Transforme o seu paladino em um personagem lendário em suas aventuras de RPG! Para completar, seis dicas básicas e algumas regras opcionais para D20 e Daemon para incrementar o seu paladino!
Seis Dicas para Personagens Paladinos
- Leal e Bom não é Leal e Bobo – O paladino deve agir com sabedoria e sensatez!
- O Código de Conduta é a Força do Paladino – Longe de ser uma restrição, o Código de Conduta é a base do heroísmo e do caráter do paladino.
- Aja como um líder – Seja simpático e compreensivo com seus companheiros. O paladino é uma classe admirada por sua preocupação com os outros. Seja leal e justo com seus companheiros, valorizando suas qualidades e ajudando-os a superarem seus defeitos.
- Tenha um sonho ou um ideal – Todo paladino está em uma jornada sagrada e possui um sonho, um ideal que o move.
- Respeite a divindade escolhida – Siga os preceitos da divindade escolhida em todos os detalhes. Respeite os seguidores de outras divindades (desde que não sejam malignas, é claro!) assim como você quer que eles respeitem sua divindade. Se não escolher uma divindade, procure representar o Bem onde estiver e respeite todas as suas manifestações.
- Convença seus companheiros de aventura a agirem pelo bem – O objetivo do paladino é inspirar os outros a lutarem contra o mal, sem egoísmo ou buscando recompensas. Procure passar a idéia de que fazer o bem já é a melhor recompensa que alguém poderia ter. Mas use argumentos inteligentes, mostrando as vantagens de fazer o bem!
Regras Opcionais:
Arma Sacramentada
Ao invés de seu personagem ganhar uma montaria, ele pode escolher sacramentar sua arma favorita. A arma não pode ter nenhum bônus mágico. O paladino levará sua arma favorita para um templo de sua ordem (ou um templo do bem, caso o paladino não siga nenhuma divindade). Depois de um ritual, a arma fica ligada espiritualmente ao paladino, evoluindo junto com ele e ganhando bônus mágicos e habilidades especiais.
Sistema D20
O paladino recebe a arma sacramentada no 5º nível, no lugar da montaria. As habilidades especiais (Livro do Mestre p.223-225) podem se acumular até o bônus de habilidade especial que o nível do paladino permite. Por exemplo, um paladino cuja arma não pode ser vorpal, ao chegar no de 17º nível, escolhe que ela seja sacramentada com as habilidades especiais sagrada e velocidade. A arma evolui conforme a tabela a seguir:
Nível do Paladino
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Bônus Mágico
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Habilidade Especial
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5º
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+1
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Escolha uma entre Anti-Criatura, Defensor ou Trespassar Poderoso
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8º
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+2
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Escolha uma entre Sagrada, Rompimento ou Axiomático
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11º
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+3
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Velocidade
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14º
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+4
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Energia Brilhante
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17º
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+5
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Vorpal
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Sistema Daemon
A Arma Sacramentada é um aprimoramento para personagens paladinos (ou guerreiros sagrados). Para cada ponto de aprimoramento, a arma ganha um bônus mágico e um ritual do caminho (ver Grimório da ed. Daemon, pgs. 16-17) que tenha relação com a divindade do paladino. Caso o paladino não siga uma divindade, ele deverá escolher rituais do caminho da Luz. O ritual armazenado na Arma Sacramentada será acionado gastando-se Pontos de Fé. Apenas rituais que tenham um tempo de formulação igual a uma ação podem ser escolhidos. Os rituais se acumulam.
Custo
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Bônus Mágico
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Círculo
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Pontos de Fé
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1 ponto de aprimoramento
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+1 no dano e +10% para dividir entre ataque e defesa.
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Escolher um ritual do 1º Círculo.
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1 ponto de fé para acionar o ritual.
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2 pontos de aprimoramentos
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+2 no dano e +20% para dividir entre ataque e defesa.
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Escolher um ritual do 2º Círculo.
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2 pontos de fé para acionar o ritual.
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3 pontos de aprimoramentos
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+3 no dano e +30% para dividir entre ataque e defesa.
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Escolher um ritual do 3º Círculo.
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3 pontos de fé para acionar o ritual.
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4 pontos de aprimoramentos
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+4 no dano e +40% para dividir entre ataque e defesa.
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Escolher um ritual do 4º Círculo.
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4 pontos de fé para acionar o ritual.
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5 pontos de aprimoramentos
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+5 no dano e +50% para dividir entre ataque e defesa.
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Escolher um ritual do 5º Círculo.
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5 pontos de fé para acionar o ritual.
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Nova magia/ritual para Paladinos
Asas Sagradas
Com essa magia/ritual, seu paladino, invocando a força do bem ou a divindade que segue, faz com que um par de asas luminosas surja em suas costas. O paladino pode voar com um deslocamento de 12 metros. Ele pode descer com o dobro do deslocamento e subir com a metade. Ele não poderá carregar nada além da sua carga máxima e pode atacar normalmente, como se estivesse no chão. A magia se dissipa lentamente, e o paladino desce 12 m por rodada em 1d6 rodadas.
Sistema D20
Transmutação
Nível: Pal 4, Clr 4
Componentes: V, G, FD
Tempo de Execução: 1 ação padrão
Alcance: Pessoal
Alvos: Você
Duração: 1 minuto/nível
Obs: O vôo tem mobilidade boa.
Sistema Daemon
Ritual executado com Pontos de Fé, disponíveis para clérigos, paladinos e guerreiros sagrados.
Custo: 3 Pontos de Fé para cada 3d6 rodadas (ou uma cena) de vôo. Após 3d6 rodadas (ou uma cena) de vôo, a magia se dissipa em 1d6 rodadas.
Newton “Nitro”
Equipe REDERPG
Ilustrações de Gláucio Marcos
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