Experiência de Mestre – Lloyd o Observador

Esta coluna regular é para Mestres que gostam de construir mundos e campanhas, tanto quanto eu. Aqui vou compartilhar minhas experiências como DM através da lente de Iomandra, o meu mundo de campanha de Dungeons & Dragons. Mesmo que a campanha use as regras da 4 ª edição, os temas aqui tratados, muitas vezes transcendem edições. Esperemos que esta série de artigos que lhe dará inspiração, ideias e novas formas impressionantes de ameaçar seus jogadores em suas campanhas.

Se você estiver interessado em aprender mais sobre o mundo da Iomandra, confira o wiki.


SEGUNDA À NOITE. Os heróis comandam uma nautilus dos devoradores de mente, e o personagem changeling de Peter Schaefer descobre como guiar o navio na forma de um devorador de mentes e inserindo seus tentáculos na estação de controle do piloto. Ele convence o cérebro ancião a levar o navio profundamente em águas inimigas passando pelo Reino Distante primeiro. O Mestre (este sou eu!) fez o personagem de Peter rolar alguns testes de Exploração para navegar com sucesso pelo Reino Distante—e ele falha espetacularmente. Enquanto o navio desvia do curso, ele esbarra em três observadores que soam terrivelmente como Kang e Kodos, os aliens de Os Simpsons.Esses observadores em particular são “sacos de batata” do Reino Distante que nunca visitaram o mundo natural e nunca viram criaturas como os PJs antes. Eles estavam compreensivelmente confusos e não falavam uma palavra de Comum, mas haviam PJs os suficiente que sabiam o Dialeto Subterrâneo para perceber que um dos observadores se chama Lloyd. Ainda assim, experiências passadas ensinaram os personagens a atacar observadores ao ver. Enquanto a batalha irrompe, do nada a conversa à mesa rapidamente se degenera em especulação sobre observadores indo ao banheiro. Isso, em consequência, engatilha uma aparentemente interminável série de piadas de merda (desculpem a piada) que escorrem noite a fora, culminando no momento final quando a rajada mística do bruxo mata o pobre Lloyd e o observador solta um ressoante “Merda!” enquanto explode.

A coluna desta semana foi um inferno pra escrever porque eu sempre tenho problema em articular a importância do humor em mesas de D&D. Tem uma razão pelo qual nós tendemos a não escrever produtos engraçados de D&D, e é porque nós desenvolvedores e editores sabemos do fato que jogadores e Mestres levam seu próprio humor para a mesa de jogo, e ninguém parece ter problemas em garimpar uma aventura séria por ouro de comédia. Resumindo, jogadores de D&D são, em suma maioria, conhecedores de comédia. Muitos cresceram em Monty Python, pelo bem de Pete. Eu nunca encontrei um jogador de D&D que fosse sério demais para apreciar uma boa piada fétida ou porcaria. (Devo dizer que a piada é porcaria, ao contrário de porcaria em si.)

Eu sou o primeiro a admitir: Embora minha campanha seja ocasionalmente mencionada por suas tramas confusas, viradas estranhas e ritmo de foguete, há momentos em que ela chafurda em piadas infames e estão mais diferentes dos jogos que eu mestrava no ensino ginásio, que eram libidinosas—e não em uma maneira legal Shakespereana.

A sessão desta semana não foi uma visão muito precisa da campanha de Segunda. Parecia mais um daqueles engraçados episódios deslocados de Arquivo X que apareciam uma ou duas vezes por temporada. Assim como o humor pode se insinuar em programas de TV sérios, comédia é um componente integral da minha campanha, e eu suspeito que da maioria das campanhas também, mas é mais como um tempero ou condimento do que ingrediente principal. Eu levo minha campanha a sério em termos de seu valor de entretenimento aos meus jogadores, que é dizer que, eu faço muito esforço para ter certeza que meus jogadores voltarão semana após semana criando uma experiência imersiva com muita ação, interpretação e surpresas. Entretanto, ele serve para uma refrescante mudança de ritmo para injetar um pouco de bobeira vez ou outra.

Jeremy Crawford, que interpreta o mago do grupo, disse no maior gracejo: “Vocês arruinaram os observadores! Vocês nunca vão conseguir olhar para eles do mesmo jeito de novo!” Eu coloco a culpa inteiramente sobre os ombros do Peter Schaefer, por razões que eu explicarei em breve. Mas primeiro, uma nota de aviso. . .

Humor pode azedar uma campanha. Eu já vi acontecer. Começa quando um jogador decide nomear seu paladino meio-orc de “Sir Peidamuito” ou quando os personagens adentram a taverna em Águas Profundas e vêem o elenco de Cheers sentado no bar. As vezes o humor te leva para FORA do mundo de campanha, e é difícil trazer os jogadores de volta a ele. Eu lembro quando jogava com Monte Cook a campanha do notável Ptolus e testemunhei raros momentos de frustração e desapontamento sempre que nós, os jogadores, nomeávamos apelidos estúpidos para os vilões que falharam ou se recusaram a anunciar a si mesmos pelo nome. Na minha cabeça, eu ainda consigo ver Monte balançando sua cabeça e respondendo “É, ok, que seja” após decidirmos “nomear” um de seus cuidadosamente criados vilões PdM como “Senhor Cabeça de Cocô”. Tem sido minha experiência que nomes ruins tendem a grudar, e uma vez que jogadores começam a chamar seu PdM de “Senhor Cabeça de Cocô”, há pouco que você possa fazer além dar uma descarga no Senhor Cabeça de Cocô num banheiro proverbial e nunca mais falar dele de novo ou joga-lo nos personagens e esperar que eles aprendam a levá-lo a sério.

Tem sido minha experiência que, fora da dose semanal de brincadeiras irônicas, humor é melhor usado em pequenas, sensatas doses e em situações que trabalham dentro do contexto do encontro ou cena. Minha decisão de nomear um dos observadores de Lloyd foi espontânea, assim como a decisão de modelar sua voz e personalidade como a de Kang. Eu narrando o que juntei para um encontro aleatório (em outra palavras, os observadores não eram cruciais para a campanha de maneira alguma), eu estava num humor estranho, e esse improvisados (e indiscutivelmente mal aconselhadas) decisões basicamente deram aos meus jogadores a permissão para designar aos outros observadores nomes similarmente bobos. Consequentemente, a jornada do grupo pelo Reino Distante teve uma virada surreal fora de série ainda que apropriada. Os jogadores ficaram um pouco receosos primeiro, mas não posso ajudar senão sentir que “Lloyd” é um nome perfeitamente aceitável para um observador.

Meu estilo de mestrar muda de acordo com o grupo de jogadores que estou. Se você me assistir mestrando um jogo para Acquisitions Incorporated e depois participar de uma das minha sessões de jogo caseiras, você verá sutis e nem tão sutis mudanças na minha “performance” como Mestre. E vario meu estilo de mestrar pouco entre meu grupo de Segunda e o de Quarta, como Peter Schaefer recentemente experimentou quando ele trespassou o grupo de Segunda para ser um convidado especial no grupo de Quarta. Isso porque quando eu estou me apresentando para uma audiência diferente e grupos diferentes de jogadores têm diferentes expectativas. Por comparação, quando eu mestro em convenções, eu tendo a ser mais “neutro” como Mestre e coloco um tampa sobre as piadas infames… pelo menos até conhecer os meus jogadores melhor.

Meu grupo de Segunda é, generalizando, muito menos provável de se afundar em besteiras do que meu grupo de Quarta. A piada é que o grupo de Segunda divertidamente denigre os heróis de Quarta por serem um bando de bárbaros, rudes auto-destrutivos, enquanto o de Quarta acusa os heróis de Segunda por resolver todos os seus problemas tomando chá e conversando com os bandidos. A sessão segunda passada foi diferente por várias razões, primeiro e mais importante porque os jogadores de Segunda estavam menos focados que o usual após um retorno de semanas sem jogar. Peter também importou um pouco do barbarismo do grupo de Quarta para os procedimentos da Segunda à noite. Foi ele quem fez a primeira piada infame da noite, se bem me lembro, e ele também instigou a luta por atacar os observadores sem provocação. Isso não quer dizer que eu seja inocente. Quando as coisas começaram a ficar realmente bobas, eu poderia ter dito aos jogadores para pararem. Ao invés disso, eu adicionei metano ao fogo por me referir a um tenente de um importante PdM como seu “número dois”. A verdade é, quando estou me sentindo jovial, eu jogo coisas na campanha que são deliberadamente intencionadas para iniciar a gargalhada, como o ocasional PdM digno de zoação, um sotaque risível ou citação de um filme. Mas quando eu me canso das piadas e quero botar a campanha pra frente, eu subitamente fico bem sério e disparo perguntas afiadas para estourar os balões de baboseiras, como “O que você vai fazer?” e “Seu personagem vai fazer alguma ação este turno?” Esta é a deixa para acalmar e fazer os jogadores voltarem ao rumo depressa. Bom humor tem seu lugar e sabe o seu lugar.

Lições Aprendidas

Meu senso de humor é bem emparelhado com o do meus jogadores, então eu posso me safar com Lloyd o observador no meu jogo. Lloyd pode não soar tão engraçado ou o tipo de coisa que seus jogadores acharão fantástico. Um bom Mestre mestra para sua audiência e dá aos jogadores uma corda para ajudá-los a pegar o clima da sessão de jogo. Se você estiver mestrando uma sessão intensa, você não quer que ela se torne uma farsa por ter o seu vilão ou monstro quebrando o vento. Entretando, eu viria e diria: Nenhuma campanha é boa demais ou chique demais para um pouco de humor banal de vez em quando. E por “humor banal”, eu quero dizer as bobeiras normais que transpiram quando um bando de adultos se senta ao redor de uma mesa e agem como se tivessem 11 anos, fingindo serem mais legais e descolados do que eles são (ou jamais serão). Como Mestre, eu invisto muito tempo pensando sobre a minha campanha e procurando maneiras de manter o jogo prosseguindo. As vezes eu esqueço que meus jogadores não precisam de tramas profundas de várias camadas e oportunidades de interpretação imersiva para se entreterem. As vezes eles precisam de Lloyd o observador, e eles vão se lembrar dele afetuosamente também!

Eu me lembrei da série de televisão Angel, estrelando David Boreanaz como “o vampiro com alma”. O sombrio e pensativo protagonista dava ao programa uma intensidade austera, e ainda assim Angel tinha todos os tipos de pequenos floreios cômicos para lembrar os telespectadores que eles estavam sendo entretidos, não torturados. Eu estive em campanhas que eram pura tortura porque o Mestre reclamava de cada tentativa de injetar um pouco de humor nos personagens e situações que eles encontravam. O encontro desta semana com Lloyd e seus amigos observadores foi como naquele episódio de final de temporada onde Angel é transformado em muppet vampiro. Eu lembro de pensar “ESTE É O MELHOR EPISÓDIO DE TODOS!” enquanto simultaneamente reconhecia que isso nem definia nem estragava a série como um todo. Funciona melhor comum um episódio único, e isso leva para casa dois pontos chaves:

  • Você pode pode pontuar uma razoavelmente séria campanha com momentos e interlúdios de humor sem arruiná-la.
  • O Mestre define o tom da sessão de jogo, e os jogadores que estão “em seu jogo” normalmente seguirão a liderança do Mestre.

Até o próximo encontro!

Mestre pra vida toda,
—Chris Perkins

Tradução: Aguinaldo “Cursed Lich” Silvestre
Fonte: The Dungeon Master Experience

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1 Comment
  1. De longe um dos artigos mais úteis aos mestres novatos, e muitos dos veteranos. Como dizia um grande humorista: Fazer rir é coisa séria!

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