Experiência de Mestre – C’est La Vie

Esta coluna regular é para Mestres que gostam de construir mundos e campanhas, tanto quanto eu. Aqui vou compartilhar minhas experiências como DM através da lente de Iomandra, o meu mundo de campanha de Dungeons & Dragons. Mesmo que a campanha use as regras da 4 ª edição, os temas aqui tratados, muitas vezes transcendem edições. Esperemos que esta série de artigos que lhe dará inspiração, ideias e novas formas impressionantes de ameaçar seus jogadores em suas campanhas.

Se você estiver interessado em aprender mais sobre o mundo da Iomandra, confira o wiki.


QUARTA À NOITE. Da última vez que deixamos o grupo, Deimos (interpretado por Chris Youngs) havia guiado seus bravos companheiros para o Caos Elemental para recuperar o lendário cutelo Ladrapenetrante, que ele espera que una os divididos Reis dos Mares de Iomandra sob sua bandeira.A missão culmina numa batalha épica abordo do Turbilhão, um navio de guerra elemental comandado pelo senhor da guerra draconato Vantajar. Com a Ladrapenetrante em mão, o maligno senhor da guerra corta e mata Kael, o clérigo deva do grupo (interpretado por Chris Champagne), mas é Deimos que dá o golpe final e mata Vantajar.

Quando o sangue do senhor da guerra se espalha pelo convés, o elemental da água preso a embarcação é liberado e causa estragos. O elemental libera sua fúria sobre o navio, partindo-o em dois. Enquanto os Turbilhão afunda num mar de ácido, os heróis sobreviventes escapam para um espaço extra dimensional mas são forçados a deixar seus mortos para trás. . .

Nosso artigo da semana bate na questão levantada por “Arbanax” em resposta a um artigo anterior. A pergunta de Arbanax, que eu estou parafraseando abaixo, tem a ver com a morte prematura de um dos meus personagens da minha longa campanha das noites de Quarta:

“Eu estou intrigado sobre como você lidou com a morte do clérigo, vendo que ele tem sido parte da campanha por tantos níveis. Eu assumo que ele tenha deixado uma história e outras coisas inacabadas. Como você lida com isso?”

Pergunta fantástica!

Os personagens na minha campanha vivem e morrem por suas próprias ações (embora a sorte nos dados tem sua parte nisso). Quando um personagem é morto, particularmente em níveis altos, eles podem deixar para trás vários negócios inacabados. Eu sempre dou ao jogador a interessante escolha de continuar a jogar com o personagem ou tentar alguma coisa nova. Há vários elementos da história em D&D para reviver um personagem morto, e nós até construímos raças e classes para jogadores que querem que seus personagens voltem sob uma luz um pouco diferente (o revenant surge a mente).

No meu grupo, eu tenho jogadores que investiram pesadamente em seus personagens e ficam abatidos ou putos quando a morte chega para eles. Eu também tenho jogadores com muito pouco investimento emocional em seus personagens; eles olham para frente para injetar novos personagens à mistura do grupo. Como jogador, eu caio no último caso. Como Mestre, eu não tenho sentimentos sobre um jeito ou outro. Na minha opinião, jogadores deveriam ser permitidos jogarem com o que eles quiserem jogar (dentro dos limites da razão). Eu não mando em suas imaginações, e há muito poucos conceitos de personagem que minha campanha não possa acomodar com um pouco de planejamento.

Chris Champagne ingressou no grupo das noites de Segunda no meio do estágio exemplar, e Kael, seu clérigo deva, na verdade morreu duas vezes. A primeira vez foi durante um episódio temático de Halloween envolvendo uma planta assassina e várias “homens vagem” escravizados (Diversão a parte, os outros personagens usaram uma poção especial para reanimar Kael até que pudesse ser trazido dos mortos, dando a Chris a chance de jogar uma versão zumbificada de Kael pela duração da aventura.). A segunda morte de kael veio das mãos do senhor da guerra draconato warlord Vantajar no Caos Elemental, e como último insulto, o corpo de Kael foi deixado abordo e dissolvido num mar de ácido.

Personagens deva são embutidos de uma mecânica de renascimento, mas nessa estância, Chris decidiu que era hora de deixar Kael de lado e tentar algo novo—isto a despeito do fato de que Kael estava próximo de desvendar segredos de uma vida passada em que ele foi o leal servo de uma jovem princesa que seria eventualmente conhecida como A Rainha de Rapina! Agora, é possível que Kael tenha “renascido” em algum lugar (como devas estão acostumados a fazer), então ainda há uma pequena chance de que ele possa reaparecer antes da campanha se concluir, mas a história de Kael basicamente terminou quando Chris decidiu jogar com Kosh, seu bruxo de pacto infernal com o destino épico Príncipe do Inferno. O fato é que a história incompleta de Kael não me causa arrepios; num jogo onde heróis morrem, não é possível sempre chegar no final perfeito. Você acaba trocando encerramento pelo choque quando os personagens sobreviventes se tocam, “Pelos deuses, ele está morto!” Uma morte repentina pode encurtar a história do personagem, mas espero que dê aos seus companheiros sobreviventes um novo ímpeto para continuar apesar de seu abalo.

Minha campanha ocasionalmente leva um golpe quando um personagem morre, normalmente porque eu tenho arcos de história presos àquele personagem específico que não tem mais pra onde ir. C’est la vie. No caso de Kael, ele encontrou uma relíquia (uma máscara de corvo feita de bronze de uma era distante) que desencadeou memórias de sua vida passada como servo real, e nós havíamos começado a explorar a vida passada de kael e a descoberta do verdadeiro nome da Rainha de Rapina. Também, um dos maiores vilões da campanha, um rakshasa chamado Chan, tinha fortes laços como o personagem Kael—eles foram inimigos numa vida passada. Com sorte na campanha (e infelizmente para os jogadores), Chan fez inimigos o suficiente no grupo para que ele continue “em jogo” até onde me concerne. Se não fosse esse o caso, Chan poderia seguir seu caminho.

Se meu grupo de Quarta tem uma falha estrutural, é que muitos dos grandes arcos de hitória dependem de certos personagens de ligação. Sem ofensa a Mat Smith, mas se Garrot o guerreiro foi esmagado até a morte por um tarrasque em queda livre, os vilões guiando a campanha não iriam nem parar para tirar uma foto. Alguns personagens são definidos mais por sua personalidade ou habilidades do que por importância narrativa. Em contrapartida, se Deimos morrer, o foco inteiro da campanha iria mudar, uma vez que o ímpeto do grupo em unir os Reis dos Mares é quase todo dado pelo personagem de Chris Youngs.

(Mas quer saber? Enquanto eu escrevo isso, parte de mim está tão excitado com a ideia que estou meio tentado a deixar cair um tarrasque em Deimos só pra ver a roda da carroça da campanha indo penhasco abaixo ou tomar uma última virada inesperada no fim do estágio épico.

Mas claro, isso seria errado.)

Isto dito, através dos anos eu tenho encontrado o difícil personagem que eu queria matar—normalmente porque o personagem é chato, desbalanceado, ou muito fraco no departamento personalidade (bem parecido com aqueles pobres sodomitas de camisa vermelha em Jornada nas Estrelas). Eu tento resistir ao instinto, uma vez que essa é o equivalente do Mestre a “mal educado” e geralmente contraprodutivo—o jogador apenas segue em frente e faz um personagem mais asinino ou inútil.

Lições Aprendidas

Muito do que tem escrito no tópico de “lidando com a morte do personagem”, e com o risco de jogar mais lenha na fogueira, é problema apenas do Mestre quando o jogador é deixado se sentindo insatisfeito. Sua campanha sobreviverá a metamorfose apesar de tudo, mas o jogador vai querer continuar sendo parte dela? Se o jogador quiser continuar a explorar as facetas do personagem ou ache que tenha uma história não contada ainda para contar, então é tarefa do Mestre fazer o jogador feliz. Se o jogador dá de ombros e começa a falar de uma ideia legal de um personagem novo, então seu desafio se torna como fazer esse personagem novo se sentir como se pertencesse a sua campanha.

  • A decisão de reviver um personagem morto deve cair sobre o jogador do personagem. Se você não consegue pensar numa maneira mais inteligente de trazê-lo de volta á vida, há sempre o ritual Reviver os Mortos.
  • Se o jogador decidir “seguir em frente”, seja gentil à memória do personagem morto: Deixe o heroísmo do personagem ecoar pela sua campanha.
  • Sua campanha é mais forte que qualquerum personagem. Quando um personagem morre e deixa negócios inacabados para trás, delclare “C’est la vie” e continue.

Kael morreu protegendo seus amigos na maior batalha do grupo de Quarta até hoje. Chris sabiamente acreditou que Kael não conseguiria alcançar morte maior, e então deixou o personagem ir. Minha responsabilidade como Mestre é manter Kael “vivo” evocando seu nome de tempos em tempos de modo que torne seu sacrifício significativo. Um PdM entristecido pode lembrar-se da ausência de kael, um emissário do Pendor das Sombras pode afirmar aos companheiros de Kael que seu clérigo perdido obteve seu lugar ao lado da Rainha de Rapina, ou um vilão da campanha poderia lembrá-los de como eles são fracos sem seu clérigo deva para ajudá-los. Também é um pouco de ironia que a fuga do grupo do navio naufragando foi facilitada por uma adaga do êxodo que o personagem de Rodney Thompson retirou do corpo de Kael, então o grupo tem uma lembrança póstuma útil para lembrá-los de seu amigo que se fora.

Com o final de lado, Kael não foi o único personagem que pereceu no clímax de uma batalha com Vantajar. Muitos outros personagens chegaram perto, mas um pirata humano chamado Armos (interpretado por Nacime Khemis) também sofreu uma “morte permanente” imposita pelo jogador. Armos havia sido introduzido várias sessões mais cedo depois que o personagem principal de Nacime—um warforged guardião chamado Frota—foi abduzido por cultistas de Vecna desejando estudar o “construto vivo”. Eu tenho certeza de que Nacime sabia que Frota seria trazido de volta eventualmente e aquilo, em algum ponto, ele estaria jogando com dois personagens. Armos não estava tempo o suficiente no grupo para ganhar os corações de seus companheiros ou entalhar um arco maior de personagem para si, então ainda está para se ver se sua morte teve ou não alguma última impressão. Anos após uma campanha concluir, é perfeitamente natural que Mestres e jogadores lembrem de certos personagens mais prontamente que outros, assim como nossa história do mundo real julga heróis como populares ou incontados.

Até o próximo encontro!

Mestre pra vida toda,
Chris Perkins

Tradução: Aguinaldo “Cursed Lich” Silvestre
Fonte: Wizards of the Coast

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