A 4ª Edição de D&D trouxe uma série de novidades: novas raças e classes básicas, novo sistema de morte, de testes de resistência, de poderes, de perícias e de habilidades-chave. Os três livros básicos têm certa vantagem em relação as suas encarnações anteriores: a clareza. No entanto, isto também surge como uma desvantagem: são menos evocativos do que todos eles. Para compensar isto, não é necessário mais do que a imaginação do Mestre na hora de criar desafios na forma de mundos, cidades, tramas e aventuras. Porém, nem sempre a nossa mente colabora e nos deparamos com uma falta completa de idéias. Outras vezes, só queremos ler as idéias de um outro Mestre para que uma fagulha se acenda e nós criemos nossas próprias versões.
O objetivo desta nova coluna mensal é precisamente este: uma série de informações sobre um tópico dos três livros básicos que ajude o Mestre iniciante e o experiente a utilizá-lo em campanha. Uma importante observação é que os livros que possuo estão em inglês e, portanto, minhas traduções podem diferir da versão oficial dos livros que ainda serão lançados em português. Comecemos, então, pelo bastante estranho e poderoso Marut.
“Della, respirando com esforço e com a visão embaçada por causa do suor, esperou um momento para recuperar a energia antes de erguer a espada que segurava com as duas mãos para desferir um terceiro ataque. Era nessas horas em que ela se amaldiçoava por ter escolhido ser uma guerreira e não uma maga ou uma arqueira. Nenhuma delas teria que sofrer com socos que faziam o barulho de trovoadas e a desorientavam com luzes diante dos olhos.
O ser de armadura dourada amparou com as costas da manopla o golpe e, deslizando o punho pelo fio da espada, atingiu com toda força a mão da guerreira. Imediatamente, o barulho de trovão ecoou pelos corredores do castelo e a espada tremeu, assim como todo o braço de Della. ‘Mas por quê isso tinha que estar guardando justo esta porta?’, ela pensou, enquanto se afastava um pouco da criatura e tentava pensar em uma brecha da armadura dourada pela qual pudesse passar sua espada.”
Existe uma história muito antiga e algo esquecida que diz que toda vez que uma tempestade ocorresse, os Marut vigiavam a terra. O homem que desejasse falar com um deles deveria caminhar sozinho até um monte isolado, onde armaria um pequeno altar com uma pedra de granito. Se tivesse sorte, um raio atingiria o altar e um Marut apareceria, oferecendo seus serviços. A única coisa que cobrava em troca era um favor futuro que seria resgatado na hora oportuna.
Embora os Marut pouco se interessem pelas tempestades que ocorram no Plano Material, toda lenda possui seu fundo de verdade e, de fato, estes mercenários enigmáticos são conhecidos por seus acordos. Claro, isto só os interessa quando a outra parte é pelo menos tão poderosa quanto eles próprios ou tenha potencial para sê-lo.
Pouco numerosos, os Marut vivem em três grandes montanhas-fortaleza que flutuam pelo Mar Astral. A crença popular diz que se alimentam de granito, mas relatos de estudiosos élficos contestam esta informação, considerando a possibilidade de que o granito seja o elemento através do qual eles se regeneram durante os combates e que Maruts não possuam necessidades fisiológicas, argumento corroborado por sua imunidade a efeitos de sono.
Os acordos são sempre realizados verbalmente, mas dada a natureza do Mar Astral, os Maruts possuem um meio de manter registros que poderiam ser chamados de cristalizados destes contratos. Cada uma das três montanhas possui uma espécie de biblioteca com os cristais alinhados pela ordem cronológica e alguns datam de centenas de anos.
Embora não exista reprodução, e, portanto, parentesco entre os Maruts, eles se dividem em três clãs, com nomes evocativos à sua origem: Einhers, Hunts e Rudras, significando, em Sobrenatural, raios, relâmpagos e trovões. Cada montanha é habitada por cerca de 60 Maruts menos, que utilizam espadas bastardas e armaduras pratedas, e 20 dos chamados harmônicos, maiores e mais poderosos, que lutam somente com os punhos e se protegem com armaduras douradas.
A tradição popular revela que um deus das tempestades primitivo desejava ter um filho que seria mais poderoso do que os outros deuses juntos. Suas ambições, no entanto, foram destroçadas quando o deus do fogo e da forja atingiu sua esposa grávida com o martelo, sua ferramenta de trabalha. Ao invés de ter um único filho, a esposa do deus das tempestades teve cerca de 300 filhos, seres com uma parcela do poder original.
A punição do deus das tempestades foi sua transformação em uma grande montanha de granito que, atirada no Mar Astral, se partiu em três. Seus filhos, desde então, moram no corpo de seu pai e recolhem favores na esperança de enfrentar aquele panteão e reclamar o direito de serem apenas um.
Por causa dessa história, acredita-se que os Maruts tenham especial fraqueza e ódio por portadores de martelos ou marretas e que são tomados por uma fúria que só se aplaca com a morte deles. Outra versão diz que os Maruts não conseguem ouvir o barulho de metal contra rocha e ficam enfraquecidos diante de forjas ou bigornas.
Seu idioma é o Sobrenatural, mas os Maruts raramente conversam, preferindo, em batalha, rugir como leões; apesar disso, a partir do relato de vários grupos de aventureiros que encontraram estas criaturas, elas parecem ter um plano estratégico de combate preparado de antemão e executam manobras militares e táticas de falange quando encontradas em grupo.
Os contratos mais comuns costumam ser de proteção a um lugar ou um objeto e sua duração normalmente é definida em décadas. Não existem relatos de Maruts fora do Mar Astral sem estarem cumprindo um acordo.
Por Hugo Lima
Publicado originalmente no antigo portal em 09/08/2009 (785 leituras)
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Mammoth
Bacana o artigo, mas, eu não sei se algo que realmente “expanda o universo da 4ª edição”. Praticamente qualquer RPG que tenha essa criatura e uma descrição não muito elaborada sobre ela pode se beneficiar desse texto, e até onde eu saiba temos pelo menos outros dois RPGs (ou edições se preferir) além da 4ª que ganhariam com essas informações :]
Eu realmente acho que os bestiários ficariam MUITO melhores se tivesse informações descritivas como essas, ou se não aparecessem nos livros, para não ocupar tanto espaço, que fossem lançadas em algum site. Essas descrições são de autoria do autor (Hugo Lima) ou foram tiradas de algum lugar?
Guzzon
Mammoth, os artigos on line da Dungeon muitas vezes tratam da ecologia do mundo e trazem artigos bem detalhados sobre as criaturas.
Porem, para assinantes….