A Guerra dos Tronos (A Game of Thrones) – Resenha

A Guerra dos Tronos (A Game of Thrones) é o primeiro romance da aclamada saga “As Crônicas de Gelo e Fogo” (A Song of Ice & Fire) de George R. R. Martin, que deu origem à badalada série Game of Thrones, do canal de TV por assinatura HBO, cuja primeira temporada foi recentemente exibida aqui no Brasil com apenas algumas semanas de diferença em relação à TV por assinatura norte-americana.

Eu já havia comprado o primeiro livro em português pouco depois de ele ter sido lançado aqui no Brasil, mas estava deixando para lê-lo depois de outros romances, porque muito se falava da excelente qualidade dele, e eu gosto de deixar o melhor para o final. Com a iminente estreia da série na TV por assinatura brasileira, fiz ele “passar na frente” da fila de romances que tenho pra ler, porque queria ler o livro ao mesmo tempo em que assistia a série, para comparar a adaptação com o original, ver como a história é contada em duas linguagens artísticas diferentes.

Pois bem, o livro é tudo aquilo que se ouve por aí de bom sobre ele, e muito mais… E suas continuações também são primorosas: já terminei também o segundo romance, A Fúria dos Reis, e aguardo ansiosamente o lançamento do terceiro. Enquanto terminava de ler o primeiro, tinha planejado comprar o segundo no início de julho – estávamos em meados de junho. Quando acabei de ler, comprei no dia seguinte! Mas vamos à obra em si…

A Guerra dos Tronos é narrado em terceira pessoa, mas sob o ponto de vista de determinados personagens. Cada capítulo leva o nome do personagem em que é feita a narrativa, e são oito os personagens que se alternam nas mais de 500 páginas do romance. Martin é um mestre em “torturar” o leitor, porque muitas cenas em que o personagem narrador sai delas, o leitor não fica sabendo de seus desfechos, só mais adiante na leitura (ou não).

A edição brasileira da Editora Leya tem por base a tradução portuguesa, por isso alguns termos ou trechos podem no início soar um pouco estranhos – problema que diminui consideravelmente no segundo romance da série, A Fúria dos Reis, também já disponível aqui no Brasil.

A saga de romances é ambientada em um mundo fictício, principalmente nos Sete Reinos do continente de Westeros, que no início do primeiro livro são governados há 15 anos por Robert Baratheon, que derrubou o rei louco da antiga dinastia que havia unificado os Sete Reinos sob uma única coroa há 300 anos, os Targaryen.

A trama é centrada em uma das Grandes Casas, a Casa Stark, que por séculos governou o norte de Westeros. As demais grandes Casas são Arryn, Baratheon, Greyjoy, Lannister, Martell, Tully e Tyrell.  O atual Lorde da Casa Stark e Protetor do Norte, Eddard “Ned” Stark, é o personagem e narrador principal do livro. A história é também narrada por sua esposa Catelyn, seus filhos Sansa, Arya, Bran e seu filho bastardo Jon Snow. Apenas o seu primogênito, Robb, não é narrador.

Além dos Starks, a trama também é centrada em Daenerys Targaryen, legítima herdeira do Trono de Ferro, o trono dos Sete Reinos, feito pelo Targaryen que conquistou Westeros – Aegon, o Conquistador – com as espadas dos lordes e comandantes que derrotou. Daenerys é uma dos últimos Targaryen, e vive em exílio com seu irmão Viserys em Essos, o outro continente além do Mar Estreito. Ela também é um dos personagens narradores, que são completados pelo carismático Tyrion Lannister, o mais novo dos ambiciosos e ricos Lannisters, a grande Casa rival dos Starks, que é a casa da Rainha Cersei, esposa do Rei Robert e irmã de Tyrion.

A trama começa com a morte do Mão do Rei, Jon Arryn, cujo cargo tem a função de administrar de fato o reino. Jon Arryn treinou Robert Baratheon e Ned Stark quando jovens, e os três levantaram os exércitos de suas Casas para derrubar Aerys Targaryen II, o Rei Louco. Com a morte de Arryn, o Rei Robert e sua corte visitam os Starks em sua capital do norte, Winterfell, para pedir que Ned Stark assuma o cargo de Mão do Rei.

Paralelo a isso, do outro lado do Mar Estreito, Daenerys Targaryen é dada em casamento por seu irmão a Khal Drogo, líder de uma horda de guerreiros bárbaros, com o intuito de que o líder da horda forneça ao irmão um exército para retomar o Trono de Ferro e Westeros.

A partir disso, George R. R. Martin vai desnudando um mundo de fantasia medieval rico em detalhes, com uma abordagem nua, crua e realista. É um medieval com linguagem contemporânea, repleto de intrigas, conspirações e traições. Mas estão lá os torneios, as justas e as batalhas épicas.

A história possui três vertentes: a primeira é a luta pelo poder entre as grandes Casas, e a segunda a história de Daenerys. A terceira vertente é onde a parte fantasia da saga é mais evidente, centrada na Muralha, uma gigantesca estrutura feita de gelo com 480 km de extensão e 210 metros de altura, construída há séculos bem ao norte de Winterfell, para separar e defender os Sete Reinos das ameaças dos bárbaros selvagens e dos Andarilhos Brancos. Os Andarilhos Brancos ou Os Outros são criaturas mortas-vivas inteligentes, que não eram vistas há séculos, e logo no início do livro começam a emergir das terras “onde sempre é neve”, no extremo norte de Westeros, para além da Muralha. Aliás, os Andarilhos Brancos redefinem o conceito de mortos-vivos e são um dos pontos altos de toda saga. Defendendo a Muralha, existe a Patrulha da Noite, uma ordem de guerreiros que não se envolvem nas disputas entre as Casas, dedicados a proteger os Sete Reinos contra essas ameaças de além da Muralha.

Outro aspecto que reforça o lado fantasia da obra, é que no mundo de “As Crônicas de Gelo e Fogo” os verões são longos e os invernos mais longos ainda: cada verão é sucedido por um inverno mais longo do que ele. Quanto maior o verão, maior ainda será o inverno que o seguirá. No início desse primeiro livro, está chegando ao fim o mais longo verão que se tem notícia, que durou 10 anos! E sobre toda saga paira o lema da Casa Stark – “O Inverno está chegando!”

O Livro e a Série

As pessoas que têm o saudável hábito da leitura sabem que o livro na imensa maioria das vezes é melhor que suas adaptações. Embora a série da HBO seja primorosa e tenha usado excelentes soluções de linguagem cinematográfica para contar detalhes importantes da trama, vários detalhes, cenas e até personagens importantes ficaram de fora da primeira temporada, provavelmente porque a HBO queria ver a repercussão da série, para ver se ela teria sucesso suficiente para render uma nova temporada e daí então “abrir o cofre”.

Houve certa economia de investimento, especialmente nos dois últimos episódios. Então, se vocês viram a primeira temporada, mas não leram o livro, comprem e leiam. Mesmo conhecendo a história, a leitura irá preencher as lacunas que ficaram abertas, mostrará centenas de detalhes, batalhas que não foram mostradas e dará uma dimensão épica ainda maior a algumas cenas. Não se assustem com as quase 600 páginas do livro, porque o texto é soberbo e a leitura envolvente e sedutora. Quem não viu a série não conseguirá desgrudar do livro no terço final e irá querer começar a ler o segundo livro, A Fúria dos Reis, assim que terminar – aguarde uma resenha minha do segundo romance muito em breve aqui na REDERPG.

Só podemos concluir esta resenha com uma única frase: “O Inverno chegou!”

Notas (de 1 a 6)
– Trama: 6
– Texto: 5
– Narrativa: 6
– Nota Final: 6

Por Marcelo Telles

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