Experiência de Mestre – Pipoca

Esta coluna regular é para Mestres que gostam de construir mundos e campanhas, tanto quanto eu. Aqui vou compartilhar minhas experiências como DM através da lente de Iomandra, o meu mundo de campanha de Dungeons & Dragons. Mesmo que a campanha use as regras da 4 ª edição, os temas aqui tratados, muitas vezes transcendem edições. Esperemos que esta série de artigos que lhe dará inspiração, ideias e novas formas impressionantes de ameaçar seus jogadores em suas campanhas.

Se você estiver interessado em aprender mais sobre o mundo da Iomandra, confira o wiki.


QUARTA À NOITE. Anteriormente na campanha, na ilha de Kheth, os heróis destruíram um caldeirão amaldiçoado nas profundezas de um templo subterrâneo. Este ato desencadeou uma maldição que fez os mortos se erguerem por toda a ilha. A horda trôpega perseguiu os heróis até a vila fortificada de Tyrak’n, onde eles fizeram sua última incursão. Eu desenhei o mapa da paliçada da vila num mapa de batalha de lousa, e além da muralha eu ordenei uma legião de miniaturas de D&D — esqueletos e outros mortos vivos fracos. Deveria haver pelo menos uns cinquenta deles. 

Muitos níveis depois, a vila de Tyrak’n foi de novo ameaçada, desta vez por goblins se escondendo na Agrestia das Fadas. Os goblins estavam usando um ritual para criar uma travessia das fadas, permitindo a eles invadir a vila secretamente sem ter que trespassar a paliçada. Quando os heróis começaram a entender o esquema dos goblins, eles se aventuraram a ir à Agrestia das Fadas e invadiram o pequeno forte goblin, o qual estava repleto até a borda com quase cem dos pequenos pestinhas (assim como umas poucas dúzias de hobgoblins e bugbears).

Quando se trata de jogar monstros nos meus jogadores, quanto mais, melhor.

 

Eu amo lacaios. Para mim, eles são como pipoca. Você nunca tem o suficiente. De vez em quando, eu mergulho na minha coleção de miniaturas de plástico pré-pintadas e as separo em exércitos que eu posso, em algum momento futuro, jogar contra meus jogadores. Esqueletos. Goblins. Gnolls. Ogros. Githyanki. Gigantes. Lacaios vem em todas as formas e tamanhos.

O lacaio de 1 ponto de vida é uma das grandes contribuições da 4ª Edição ao legado do D&D. Lacaios são muito divertidos para os jogadores enquanto eles provém gratificação instantânea; tudo que precisa é um balançar de espada ou um míssil mágico para derrubar um lacaio, enquanto um bom poder de efeito de área pode aniquilar um grupo inteiro em um só golpe. Eles são enviados de Deus para o Mestre, que não precisa perder tempo anotando pontos de vida.

O Guia do Mestre tem uma fórmula simples para o nível de poder de um lacaio comparado a um monstro padrão. Eu digo, esqueça a matemática! Quando a batalha clama por lacaios, dê aos jogadores tudo que você tem. E eu quero dizer tudo. O que de pior poderia acontecer? E vou lhe contar: Os heróis podem ser esmagados e derrotados. Na minha campanha, o show nunca para. Se você é o tipo de Mestre que vê este potencial resultado como uma oportunidade e não como um fim de campanha, então você provavelmente vai concordar comigo que você nunca tem lacaios de mais. Dê aos jogadores o que eles ansiaram durante toda a semana, e deixe a pipoca estourar onde for preciso.

Não me entenda errado: As vezes faz sentido incluir apenas um punhado de lacaios num encontro. O que eu estou me referindo são aquelas ocasiões momentâneas quando você quer impressionar e aterrorizar os jogadores com aquilo que eles estão lutando contra. Quando o inimigo tem uma incrível vantagem numérica, jogadores começam a pensar duas vezes sobre suas táticas convencionais de matança de monstros; verdade, a bola de fogo de um mago pode matar vinte lacaios tão fácil quanto um, mas se isso ainda deixa outros vinte lacaios na mesa, os heróis podem se encontrar em sérios problemas. Eles podem se forçados a recuar ou (glup!) se render.

Quando eu construo estes encontros, eu os balanceio sem contar os lacaios na mistura. Isto não é manter as regras como escritas, mas o Mestre tem permissão para quebras as regras (desde que faça isso de maneira justa, consistente e abertamente). Dependendo de como os lacaios são organizados e quando eles aparecem tem muito a ver com sua efetividade no campo de batalha. Se eles estiverem organizados em grupos juntinhos onde os heróis possam ver, o mago vai garantir que eles não durem muito tempo. Em contrapartida, se eles se espalharem e apenas aparecerem quando certas condições permitirem, eles podem realmente mudar a complexidade da batalha e forçar os jogadores a reconsiderar suas táticas. Por exemplo, eu às vezes mantenho uns lacaios de reserva até que o cara mau os invoque, e geralmente eu mantenho uns extras atrás do escudo do mestre em caso dos jogadores estarem tendo momentos muito fáceis.


Lições Aprendidas

Quando penso em lacaios, eu penso nas grandes cenas de luta dos três filmes da trilogia O Senhor dos Anéis. Por alguma razão, a imagem de Aragorn lutando contra orcs sempre vem à minha mente e eu penso comigo mesmo, “Eu nunca me canso de assistir o Aragorn matar orcs”. A maiorias dos meus jogadores pensam do mesmo jeito: Eles aguardam para poder jogar em longas batalhas contra números esmagadores de inimigos e assistir seus heróis trinchar e explodir seu próprio caminho dentro das linhas inimigas.

  • Passear entre hordas de lacaios faz os heróis se sentirem heróis.
  • Lacaios em grandes números assustam e excitam os jogadores.

Embora lacaios venham com valores de XP especificados, a decisão final fica com o Mestre de quanto XP os personagens vão receber por derrotá-los (e não deixe um livro de regras te dizer o contrário). Eu tendo a dar um XP ad hoc* pelos lacaios. Se eles se provarem úteis, então eu poderia premia-los com o XP total. Caso contrário, se os lacaios não forem muito efetivos, eu poderia não dar nenhum XP.

Se você seguir o meu conselho e começar a bombardear seus jogadores com autênticos exércitos de lacaios, esteja avisado que o objetivo não deveria ser aniquilar o grupo. Se este for o seu objetivo, é muito mais simples derrubar um asteróide neles e resolvido. Não, seu objetivo como Mestre é entreter os jogadores criando situações no jogo que sejam perigosas e divertidas, e lacaios são apenas instrumentos para esse fim. Se os heróis começarem a cair igual a moscas, considere que talvez os caras maus pudessem estabilizá-los e leva-los como prisioneiros. Muitas grandes histórias começaram com um histórico de derrota.

Até o próximo encontro!
—Mestre pra vida toda,
Chris Perkins

*Ad hoc é uma expressão latina cuja tradução literal é “para isto” ou “para esta finalidade”.

Por Chris Perkins
Tradução: Aguinaldo “Cursed Lich” Silvestre
Fonte: Wizards of the Coast

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