Física e HQs (VI)

Nesses tempos de Zumbimania, todos já estamos cientes do que estocar na iminência de uma apocalipse zumbi (Mel e Ana-Maria! Sério, vá por mim!). Sabemos quais nossas chances de sobrevivência e tudo que precisamos para matar zumbis ( já deu uma conferida em Outbreak: Undead?). Certo? Nahhhh… Errado. Francisco Assis em seu blog Física Pop, nos mostra que podemos saber como lidar com o zumbi básico cambaleante (brain… brain…), o sprinter (maratonista morto correndo atrás de você!) e o senciente (morto vivo com planos maquiavélicos?!)… Mas e se forem tudo isso junto e mais? O que fazer com os malditos super-zumbis?  Quanto tempo iriamos durar? Opss, hora de rever seus conceitos!

Marvel Zombies: Conheça a saga dos Zumbis Marvel!

Nos quadrinhos de horror, por exemplo, é muito difícil para os autores encontrarem alguma consistência entre os vários mitos relacionados a aparições fantasmagóricas, vampiros ou zumbis e é isso o que torna esse gênero de quadrinhos muitas vezes enfandonho.

Claro, bons autores há em todo lugar (ou não…) e sempre há algum tipo de similariedade entre os relatos encontrados em filmes e na literatura. Mas isso não facilita em nada o trabalho do escritor: como escolher entre tantas situações cliché, uma que realmente seja capaz de trazer alguma emoção à sua história? Em uma aventura de super-heróis a ambientação de horror pode parecer uma tarefa difícil, principalmente pelo receio de que as situações caiam no ridículo ao invés de causar algum medo.

A grande sacada então é perceber que com um pouco de atenção e pensamento crítico, o mito mais bobo e inusitado pode criar o clima perfeito para uma grande história – e assim nasceram os Zumbis Marvel.

Super Miolos

Se você é fã dos filmes do diretor George Romero (“A noite dos mortos-vivos” por exemplo) então já está bastante familiarizado em como funciona essa coisa toda de voltar do túmulo em Hollywood: zumbis são pessoas mortas que por um motivo ou outro parecem desistir do tal descanso eterno e saem por ai em um estado de não-vida devorando cérebros de pessoas vivas, em uma clara tentativa de convencê-los de seu ponto de vista.

A pessoa mordida (ou ferida) por um zumbi, por sua vez também se torna um comedor de miolos – ainda que em certos contos isso não ocorra de forma instantânea: há sempre um diretor que gosta de torturar seus personagens! E há uma vasta gama de zumbis disponíveis por aí, desde o criado por um sacerdote Vudu até aqueles capazes de seguir as ordens de seu criador, mas os Zumbis Marvel seriam um desmembramento (desculpem, nao resisti) do que considero ser o melhor tipo, aqueles que vemos nos filmes de George Romero: os zumbis selvagens, violentos e famintos.

São muito semelhantes aos vampiros, também mortos-vivos que se alimentam do sangue de pessoas vivas e cujas vítimas tendem a se erguer do túmulo como novos e sedentos vampiros. Mas voltando aos Zumbis Marvel, sei que pode parecer piada mas analisar o surgimento de um desmorto semi-irracional (na história, eles parecem ser capazes de pensar racionalmente apenas quando se alimentam) e esfomeado com os olhos da razão pode explicar, por exemplo, como um planeta inteiro sucumbiria a infestação em tão pouco tempo.

Siga-me em um raciocínio simples, facilmente ilutrado pelo que teria acontecido se no dia  02 de novembro de 2006 (data da realização da primeira Zombie Walk em São Paulo) se em algum cemitério qualquer tivesse surgido um zumbi.

Imagine-o perambulando pela cidade, logo após o término da caminhada em que dezenas de desocupados (eu, entre eles) perambularam pelas ruas de São Paulo vestidos e maquiados como zumbis. E lá teria ido ele, andando pelo centro, ignorado pelas pessoas  não importando o quão deteriorado estivesse (desde que sua aparência fosse minimamente humana) até se aproximar o bastante de alguém para abocanhá-lo.

Dois eventos ocorrem de forma simultânea quando um zumbi se alimenta de um ser vivo: em primeiro lugar, a quantidade de zumbis irá aumentar em uma unidade. Em Segundo lugar, a população humana diminuirá em uma unidade.

Se considerarmos a população de São Paulo como sendo algo da ordem de 15 milhões de pessoas (1,5×106 em notação científica, para fins de arredondamento), vamos ignorar as taxas de morte/nascimento locais e nos concentrar apenas nos efeitos causados pelos zumbis.

Nenhum filme jamais deixou claro a frequência com que um desmorto precisa se alimentar, então vou supor aqui que cada zumbi necessite comer um miolo vivo ao menos uma vez por semana, para facilitar minhas contas.

Bem, logo após o primeiro contato físico entre nosso querido zumbi e um desavisado qualquer no decorrer da semana 1, teremos 2 zumbis e 1,5×106 -1 habitante humano. Trabalharei com algarismos significativos não só para facilitar o cálculo, mas para tornar o resultado ainda visualmente mais impactante. Vou supor também que o primeiro zumbi tenha acabado de sair de uma churrascaria-rodízio e só vá precisar se alimentar na próxima semana, juntamente com o zumbi original.

No dia 09 de novembro, os dois novos amiguinhos sairiam para um lanche, nos deixando 2 novos zumbis e 1,5×106 -3 seres humanos. No dia 16 de novembro, seriam 8 zumbis contra 1,5×106 -7 habitantes na cidade. A esta altura você ja deve ter percebido que o número de zumbis irá dobrar a cada 7 dias de forma que após uma quantidade de semanas “n”, nossos habitantes zumbis terão uma quantidade “2n”

Foi exatamente assim que se deu a infestação Zumbi no universo Marvel, através de um tipo de série conhecida como progressão geométrica. O assustador é que toda progressão geométrica tende a crescer de forma muito, muito rápida e como você percebeu nos gibis, em pouco tempo o resultado é desastroso para os personagens: todos os zumbis (exceto o primeiro) eram pessoas vivas antes de serem atacadas.

No caso da cidade de São Paulo, havia uma população de 1,5×106 pessoas da qual iríamos subtraindo o número de zumbis. Dessa forma, após uma quantidade “n” de semanas, o número de paulistanos seria de 1,5×106 -2n +1 pessoas (lembre-se de que o número seria ímpar pois não contamos o zumbi original, por isso o “+1” na conta). A quantidade de desmortos cresceria geometricamente, enquanto a população humana decresceria com a mesma taxa de progressão.

Um outro detalhe para que eu usasse apenas números redondos em meu exemplo é que para que a taxa de nascimentos na cidade pudesse fazer alguma diferença significativa, o número de seres humanos teria que também duplicar semanalmente – e por mais que alguns cidadãos se esforcem de maneira incessante nesse sentido, trata-se de um número ainda muito acima da capacidade reprodutiva do ser humano e no dia 02 de maio de 2007 não haveria mais uma única alma viva na cidade de São Paulo. Isso decorridas 25 semanas do surgimento do primeiro zumbi.

E se considerarmos a população do nosso planeta Terra como 7 bilhões de pessoas (7×109 em notação científica) no dia 02 de julho de 2007 nós teríamos 4,29×109 zumbis famintos, prestes a exterminar a raça humana em seu próximo lanchinho. Apenas 32 semanas teriam se passado desde que o primeiro desmorto deu o ar de sua graça na capital paulistana. Apenas 8 meses…

Mas ilustrei o raciocínio com zumbis normais (acuma?), dotados de um apetite normal (o que quer que isso signifique). E um zumbi superpoderoso, sera que não necessitaria se alimentar a prazos mais curtos (24 horas, por exemplo?). Afinal, ele voa, tem superforça, supervelocidade…portanto, necessitaria de muito mais energia para manter seus poderes do que aquele primo distante que só grita “miolos, miolos” e se arrasta pelo meio da rua.

Não foi, portanto, marmelada ou apelação dos autores criar uma dimensão totalmente dominada por zumbis famintos, cuja única saída seria invadir as dimensões adjacentes e consumir os habitantes desses outros planetas em um ciclo de horror interminável…

Por Francisco de Assis Nascimento Júnior
Publicado anteriormente no blog Física Pop
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Não perca na próxima semana um novo artigo:
Brain… mas o contexto é diferente…

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