Dia 08 de dezembro (2006) completei oito anos de RPG, muitos companheiros mudaram de cidade, outros pararam. Mas eu continuo com esse hobbie. Do primeiro grupo só ficou um amigo meu. Do segundo que montamos ainda temos mais um, ainda que em cima do muro ;-P E recentemente, recrutei novos jogadores para o hobbie. Neste meio tempo, muitos entraram, conheceram o jogo e saíram. Ainda me lembro do dia em que tive a idéia de criar uma campanha, o sistema era o AD&D ainda. Coincidentemente em dezembro mês do aniversário de jogo ;-P Foi estreada a maior aventura de todas. A façanha de um guerreiro, um jovem em busca de aventura que se vê no meio de uma enorme guerra, e graças ao seu patriotismo, ele decide fazer a diferença e aprende muito ao lado dos companheiros, até se tornar referência e depois uma lenda salvando seu país. É com prazer que apresento a vocês a magnífica história, que esse ano comemora o oitavo ano, desde quando comecei a mestrar. Ela foi readaptada ao novo conceito, digo, cenário de Crônicas de Avalon, mas as aventuras continuam a mesma, e lógico num tempo muito antes do citado no livro, antes mesmo dos grandes reis. Fiquem agora então, com a segunda parte das Façanhas de Fenrir B. Smith.
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Parte II: O homem que cruza a Bretanha
Hum! vejo que gostaram da história. Voltaram até aqui para saber como continua? Pois bem, vou lhes contar… Oh está chegando mais um. Vamos esperá-lo.
Muito bem jovenzinho, pode se sentar. Onde paramos com nossa história mesmo? Ah sim, Rogian já tinha partido, e Fenrir ganha o consentimento de seu tio para ir até Greenwich a Grande Cidade. A milícia iniciou um projeto para reutilizar o calabouço, pois é uma maneira de vigiar o local que poderia servir de base inimiga mais uma vez, e agora se preparam, pois sabem que os inimigos atacarão também as menores cidades e vilas, como foi planejado pelo grupo do Drow. Foram alguns dias de caminhada. Sempre vislumbrando as altas colinas que ficavam atrás de Greenwich. As enormes muralhas, juntamente com os morros e suas belas e altas construções eram fascinantes. Vários homens trabalharam juntos, serraram juntos, martelaram juntos, carregavam peso juntos. Todos sincronizados, como se estivessem numa orquestra, uma grande sinfonia clássica. De fato estavam na sinfonia da vida. A vida os cantava; o barulho dos martelos; dos mestres-de-obras organizando e conduzindo; as serras cortando; os caboclos virando as massas para fixarem os blocos de alvenaria. O barulho dos remanescentes chicotes dos poucos capitães romanos que não foram embora na legião e coordenavam a obra como se estivessem no grande império antigo.
Toda aquela cena passava na cabeça do jovem. Toda a história que seu pai um dia contou, passava na sua mente naquela caminhada. Assim como passa na cabeça deste velho que lhes conta essa história. Como se eu tivesse vivido no tempo da criação de Greenwich.
Ele chegou até as pesadas portas de Greenwich, Fenrir ficou se imaginando e chegou à conclusão de que um exército ainda que bem montado não conseguiria ultrapassar aqueles portões ou os muros da cidade. O soldado o aborda, e depois de um rápido interrogatório Fenrir entra. O soldado observou se havia um exército escondido, mas percebendo que não liberou a entrada do jovem. Ele dá os pergaminhos contendo algumas das principais leis da cidade. O capitão faz questão
que todos conheçam as principais leis da cidade. A cidade tem um conselho formado pelos mais velhos, mas também tem uma grande influência do capitão do exército responsável pelo Palácio da Armada, local de repouso do Conde em suas viagens a estas terras. Também nesta cidade, se encontra em estado de visita, a filha do Grande Rei Vortigern. Ela se encontra no mesmo palácio e é vigiado por um incontável número de guarda-costas.
Fenrir estava sentado numa taverna, a mais luxuosa da cidade. Ele estava gastando de sua pequena recompensa ganha em sua primeira aventura, enquanto lia os pergaminhos dados. Ele se sentou num canto mais afastado das demais mesas da taverna, com uma luz um pouco mais fraca e calma. Muita bebedeira, jogatina e a bela musica dos trovadores. Uma música tranqüila e fascinante. Após certa hora da noite, quando a guarda se recua um pouco, a música torna-se mais agitada e vários menestréis juntamente com os bêbados cantam a noite toda.
O jovem Fenrir ficou num hotel médio. Ele sabe que o dinheiro acabará rápido e não poderá sustentar essa vida boa por muito tempo, por isso aproveita a noite e uma parte da manhã para descansar. Passeando para conhecer a cidade Fenrir percebe uma quantidade considerável de idosos na cidade, a faixa etária era alta se comparada com outras cidades da Bretanha, vivia-se bem aqui.
Era uma cidade sem altos índices de crimes. Muitos soldados distribuídos em muitos pontos da rua mantendo a segurança da cidade. Fenrir se pergunta se um local com tanta proteção como esse precisará de seus serviços:
– Droga! Meu tio me mandou pra uma cilada. Não tem nada aqui para se fazer. Espere, talvez eu possa ver se tem alguma cabeça em recompensa na masmorra da cidade.
Fenrir se dirige ao posto de guarda, mas a cidade está tranqüila. Os soldados são muito competentes e nada escapa aos seus olhos. O jovem se decepciona.
Greenwich é simplesmente uma cidade fantástica. Tudo funciona perfeitamente na maioria das vezes. O capitão é o principal responsável por essa ordem, e a visita da princesa faz redobrar o cuidado e a segurança na cidade. Pelo jeito nenhuma guilda conseguiu se estabelecer e criar um acordo com o poder central, por isso os ladinos não obtêm sucesso aqui. De fato nesta cidade o crime não compensa. A praça de Greenwich é centro de todas as atenções, aqui são feitos os poucos julgamentos da cidade e também as piores execuções. O show dos bardos também se dá aqui, transformando a praça central no principal point para os finais de semana.
A parte baixa da cidade é habitada por uma população de posses mais modestas. O bairro dos ateliês também é movimentado durante o dia. Ali todos os profissionais podem ser encontrados. Desde corantes de couro curtidos até armeiros e armoreiros. Ali é o bairro onde quase toda a população trabalha. Há também perto das colinas, nos limites das muralhas, onde a escassez de guardas é eminente, as terras do senhor feudal, onde outro tanto de trabalhadores cultivam a terra. A cidade ainda apresenta inúmeros pontos de destaque e importância, sendo também consideravelmente populosa. Os romanos trouxeram suas culturas e influências para esta cidade.
Vêem-se esculturas, construções, todas transferindo por breve instante a sensação de que se está andando em Roma, é uma obra única. As pavimentações, os aquedutos, até o saneamento básico desta cidade está muito além do que temos hoje meus caros e que não sabemos quando vamos ter. Eles não sofrem com doenças provenientes de pestes e moscas. Greenwich é um lugar bom para se viver. É um lugar bom para se descansar visto que têm grandes prados, jardins robustos, parques naturais, bosques. As piscinas térmicas são outras sensações deste lugar, também inspirada em cidades próximas ao império romano. Não é a toa que a princesa está aqui.
Sim Fenrir está convencido que é uma boa cidade pra se trabalhar, viver, descansar, mas para os aventureiros não. Parece impossível surgir uma grande aventura. E o pior é que dizem as pessoas que os grandes aventureiros começaram aqui. Parece um paradoxo interessante. Assim é Greenwich.
Em duas semanas, o jovem teve que se virar e ganhar algum. Ele pagou um alojamento comunitário, por que era o melhor que podia pagar. Ele arou campo, capinou terrenos, cuidou dos jardins dos nobres, caçou ratos entre outros tipos de pestes. Foi assim que estas semanas passaram. Depois ele ouviu que havia uma caverna nas colinas, em que lá jazia o tesouro de um antigo e maléfico administrador da cidade, nos seus primeiros tempos. Esta aventura não foi muito boa para o herói, onde ele saiu derrotado e nunca quis falar sobre o que ocorreu lá dentro.
De volta à jardinagem, Fenrir pegou um serviço no Palácio da Armada. Ele iria fazer o jardim. Chegou cedo naquele dia. Um dos castelões lhe passou o serviço e ele foi fazer. Enquanto trabalhava, pensou mais uma vez no motivo que seu tio teve para lhe mandar a esta cidade. Ele sabia que aqui não tinha perigo nenhum. Ainda mais se comparando a primeira aventura vivida na Masmorra. Ele já estava pensando:
– O melhor aventureiro eu não serei, mas pelo menos estou caminhando para ser o melhor jardineiro. – Sorri ironicamente e continua o trabalho.
Por volta da metade do dia, embaixo do calor insuportável, Fenrir fazia a frente do Palácio. Os guardas sempre passavam e sorriam caçoando do garoto que outrora dissera ter vencido os lendários orcs e elfos negros. Mas uma coisa parou o seu serviço.
O portão do Palácio se abre, e eis que surge uma linda dama protegida por oito guardacostas. Ela seria carregada no andor até a porta, mas preferiu caminhar um pouco. Ela era uma das mulheres mais importantes da Bretanha, filha do Grande Rei Vortigern. Era linda, colo nu e um espartilho elegante que lhe realçava suas curvas, revelando um esbelto corpo. Como se não bastasse era alta, um modelo de beleza, uma escultura criada detalhe a detalhe por Deus. Cabelos longos, cacheados, olhos castanhos, lindos. Ela possui um rosto lindo também, como que de louça. Era uma boneca. Provavelmente puxou a mãe, rei Vortigern não era daqueles belos homens não. A moça para por um instante e contempla um homem que está parado, com instrumentos de jardinagem. Era magro, mas de corpo bem tratado, cabelos longos, um sorriso cativante com um olhar fixo, como se estivesse contemplando o infinito, como se estivesse vendo a Deus, ou uma Deusa. A moça pede um tempo para os guardas e troca uma palavra com o jovem e futuro herói:
– Você está fazendo um bom trabalho? – inicia a princesa. – Que bom você gostou? Fico lisonjeado. – responde o rapaz.
– Este dom é de família? – continua a moça. – Não, não – sorri Fenrir e continua: – Meu pai serve a coroa, ou serviu. Ele está desaparecido, é o Fenrir Smith.
– Ah, você é filho de Fenrir. Um bom soldado, muito falado no castelo de meu pai, você não quis seguir a carreira do pai?
– Na verdade eu sigo, é que parei pra levantar alguma grana sabe.
– Hum, entendo. Mas tenho que subir. Vamos jantar conosco esta noite, é meu convidado especial.
Ela se despede e sobe enquanto Fenrir continua o serviço.
Logo que termina sua jornada, o garoto vai até um alfaiate ver umas vestes adequadas. Ele encontra:
– Então você vai jantar com os bons da boca? – diz o velho alfaiate.
– É vou sim. Sou convidado da princesa. Quanto custa esta?
– Hum, você faz amizades rápidas meu garoto, e com as pessoas certas. Sinto, mas este você não poderá pagar.
– Quebra essa pra mim, é por uma boa causa.
– Tudo bem jovem, mas com a condição de que irá ficar 21 dias trabalhando comigo aqui.
– Fechado.
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Eis que em meio aquele seco clima de verão, um homem caminha entre as colinas. Para muitos seria um gigante, medindo aproximadamente 1.90m e pesando uns 100kg. Era incomum pessoas daquela altura na Bretanha. Provavelmente era um forasteiro. Mal sabiam os pastores daquela região que contemplavam o homem, que ele já tinha viajado mais de 20 dias, e tinha um péssimo humor.
Conhecido apenas como Urso, este loiro homem de olhos verdes, barbas muito longas, e rosto marcado por muitas batalhas estava tentando algo totalmente novo. Saiu das terras que fora criado apenas, para tentar uma vida mais tranqüila e ganhar um pouco mais de dinheiro. A verdade é que ele não tinha nenhum objetivo. Vagava errantemente. Mas seu coração sabia no fundo no fundo, a razão para tudo aquilo.
Ele é um saxão, um povo proveniente da velha Germânia. Este povo fazia pouco contato com os bretões. Eram vistos como bárbaros e selvagens, não tanto como os druidas, mas eram tidos como um povo hostil. Em sua terra, ele foi criado num grande clã onde seu pai era o chefe de guerra, o líder máximo. Contando com o Urso, eram sete irmãos. Todos partiram, cada um seguiu o seu caminho, há alguns que fugiram também. Com um ano a mais, Urso era o mais velhos dos irmãos. Viu seu pai perder o controle do clã, porque ele estava mole demais segundo o novo líder que o desafiou para uma batalha e o venceu. Com sua honra ferida o Grande Axe, o machado, disse ao seu filho para que ficasse e esperasse o dia para ele tomar o trono do traidor e recuperar a dignidade para a família.
Urso permaneceu por muito tempo como um dos soldados de elite do traidor. Participava de todas as guerras, saques, emboscadas e ajudou a planejar muitas delas. Foi nessa época em que ele abandonou seu nome. Ele não queria ser conhecido pelo seu nome e sim pelo novo nome de batalha, Urso. Embora fosse muito bom, Urso percebeu que não iria ganhar o trono sem guerra, pois o filho do novo governante estava destinado ao trono. O trono que deveria ser seu. Mas para os saxões, apenas os fortes são capazes de governar, e o fato foi que seu pai não era capaz.
Foi quando o bárbaro resolveu testar a sorte na velha Bretanha. No fundo sabia que armaram um golpe para seu pai, mas ele tinha vergonha de começar uma guerra onde não sabia se receberia apoio e se iria ganhar, ou terminar humilhado mais uma vez como acontecera com seu pai. Na Bretanha ele conseguiu arrumar muita confusão. No principio ele formou um grupo com alguns saxões que foram exilados. Eles saqueavam cidades e viviam nas fronteiras das vilas, para tomar os pertences dos pobres camponeses. Depois ele resolveu sair de taverna em taverna para aposta braço de ferro com as pessoas, e outros campeonatos de força e resistência física. Ele só perdia para os outros saxões, isso quando perdia e quando tinha outros saxões. Nas estradas da velha ilha, já foi assaltado diversas vezes, mas nem mesmo bandidos armados continham a fúria dos golpes de machado do urso. Ele utilizava um belo machado de batalha, forjado pelos próprios saxões. Uma machadinha de apoio e quando não podia usar suas “crianças”, por qualquer motivo, usava de sua força física para arremessar pedras enormes contra o oponente. Se este fosse rápido, o Urso tentava agarrá-lo, para esmagar seu pescoço apenas com os punhos. Sim, ele era um sanguinário.
Por onde passou, a lei ganhou um novo significado. Ela não era aplicada a ele. Pois ninguém tinha força para aplicá-la. Ele sempre fez o que quis, e se alguém não gostasse, teria que conversar com seu machado. Nessa conversa, sempre um terminava quieto, e nunca fora o Urso.
– Hei moço. – chama Urso num tom não muito amigável.
– Pois não senhor. – responde o pastor apavorado com o gigante homem.
– Onde fica Greenwich? Vamos diga.
-…fica logo ali, depois destas colinas. Não pegue o caminho do sul, pois além de demorado você não conseguirá cruzar as montanhas. Continue aqui pelo norte, pelas colinas.
– Obrigado. Você foi muito gentil. – e assim o urso segue, depois de apavorar o pastor com sua voz rouca, forte e intimidadora. O pastor ficou se perguntando se não havia falado com algum deus nórdico. Pois bem que parecia. Os trajes de Urso eram bem protetores, ainda que feitos de couro de animais. No frio usava peles mais grossas, que lhe cobriam bem o corpo e o protegia do frio, mas nesse calor insuportável, nada como uma bela armadura de couro, regata e bem arejada.
Depois de mais alguns dias, chega Urso à cidade. O mesmo ritual do guarda fora cumprido. Mal sabia ele, que Urso não precisava de um exército escondido, ele era o exército.
Ele conheceu a cidade, e se instalou numa taverna de porte médio. A estalajadeira o guiou até seu quarto, chegando lá lhe entrega as chaves:
– É este aqui senhor, fique a vontade.
– A moça não me acompanha? – diz o saxão já com segundas intenções.
– Sinto muito, mas eu só mostro o quarto, só mantenho a ordem nos quartos e tenho muito trabalho a fazer. – responde a moça num tom ofensivo.
– Hum, vejo que é valente moça. Gosto de mulheres assim, de personalidades. Mas vamos, me mostre mais. – sussurra o homem no ouvido da moça, tomando um de seus braços.
– Vai lá tomar um banho senhor, seus dias de viagem foram muito cansativos. – retruca a moça, cortando o saxão.
– Hora, vai dizer que não está encantada com meu suor. Veja admire minha força, meus músculos. Aqui na Bretanha não tem homens tratados, fortes e peludos como eu. Venha moça você trabalha muito, merece um tempo para diversão. – Investe mais uma vez.
Neste momento, a estalajadeira não retruca. Ela apenas contempla o corpo do guerreiro, de fato é um homem muito forte. Possui pêlos por todo o corpo, o que atrai muitas mulheres britânicas, visto que os homens daqui não apresentam esta característica que na opinião delas, é um atributo tão masculino. O corpo dos dois se aproxima. Eles se fitam. Bem quando suas bocas estão prestes a se encostarem, surge um homem que sobe rapidamente as escadas, para ir repousar em seu quarto que fica no final do corredor, perto do quarto do urso.
O quarto do Urso fica de frente com a escada do corredor, ele é o último quarto. Não há quartos no lado direito do corredor, apenas nos do lado esquerdo. O piso é de madeira, muita bem cuidada fazendo jus o preço da estadia. As paredes são bem pintadas, dando gosto a quem vem descansar na estalagem desta taverna. As cores são relaxantes, próprias para o repouso. Naquele momento as lamparinas já estavam acesas, era o começo daquela noite quente. No momento em que o hóspede chega, a estalajadeira logo disfarça visto que se o homem contasse para seu esposo, dono da taverna, o clima não ficaria nada bom. Ela desesperada diz:
– Então senhor, as roupas de cama estão no armário, há um pequeno banheiro dentro do quarto com uma bacia cheia de água para seu conforto, e tem um baú à direita de sua cama para o senhor deixar seus pertences. – dizendo isso num tom teatral, ela sai rapidamente, sem graça com a situação. O saxão encara o homem, que entra em seu quarto quieto.
Frustrado, o saxão toma um banho de banheira bem relaxante. Estava precisando, pois a viagem o castigou muito. Naquele banho, era como se todo o seu cansaço de dias e dias de caminhada desaparecessem, e a força do Urso fosse recuperada. Após o banho, o grande homem põe uma roupa mais a vontade, e deita para descansar um pouco e em seguida curtir a noite na taverna. A noite passa lentamente. O saxão descansa, mas em algum momento do seu sono, ele é transportado para seu passado. Onde seria mais vantajoso se ele, quando partisse da Germânia, viesse direto para Greenwich. Mas não. Ele ficou muitos anos, viajando por muitas cidades da Bretanha, nesta caminhada ele matou muita gente, fez um nome, mas fez muitos inimigos. Muitas mulheres se tornaram viúvas sem merecer, por culpa do temperamento explosivo do saxão, que tirou muitas vidas injustamente. Há pouco tempo um homem conseguiu convencer o saxão de que não o matasse, ele disse que o saxão só fazia aquilo porque não tinha um objetivo na vida. Seu destino já estava traçado, mas ele não o deixara conhecer. O homem o aconselhou dizendo que se ele quisesse dar um jeito em sua vida que procurasse um oráculo, onde há muito tempo vive em Greenwich.
Após estas lembranças, um caçador trajando uma couraça toda preta o perseguia, dizendo que ia fazer justiça às almas que ele fizera mal. O caçador perseguia o saxão durante todo o sono e a força do Urso, não era capaz de fazer o guerreiro sucumbir. No sonho também aparecia um velho senhor de cabelos e barbas brancas dizia para o homem, que seu destino era a morte, por tantos assassinatos e injustiças que ele cometera. Dizia também, que enquanto fosse vivo o saxão teria uma única chance. Nesta chance ele teria que rasgar seu viver e lutar de todo o coração, ao lado de seus futuros inimigos. Seu castigo seria ir para uma guerra, onde ele não poderia ganhar, mas sua alma se salvaria se ele o fizesse mesmo assim.
Este sonho fez Urso levantar rapidamente, ele estara suando. Fora mais um pesadelo, o terceiro igual desde que pegara o caminho de Greenwich. Ele sabia que teria de procurar o oráculo o mais depressa possível, ao amanhecer o dia ele teria de encontrá-lo para saber o que significava aquele sonho, para saber quem eram aquele guerreiro e aquele velho. A imagem não saia da cabeça do saxão, ele estava impaciente, aquilo o deixara inquieto. Após acalmar-se um pouco, o saxão resolve sair para descansar um pouco na taverna.
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Aquela noite corria tudo bem. Pelo menos para Nick Jim Tawber, o príncipe dos ladrões.
Depois de mais um dia de feira, o jovem ladino volta para a taverna com os bolsos cheios, e gasta uma pequena quantia com mulheres e bebidas. A maior taverna da cidade, ali os nobres se encontravam de dia para discutir de terras, e a zona imperava a noite onde até mesmo os guardas entravam na bagunça. Ali crimes eram cometidos, exceto o de assassinato, mas estes eram tratados ali. Os guardas fingiam que não viam nada de errado na taverna, aliás, o crime estava em baixa e os assassinatos eram planejados, nas fronteiras ou nas estradas externas à cidade. Nick estava há mais de um mês na cidade. Gostava de desafios, queria levantar um bom dinheiro, mas onde seria impossível ou improvável. Ele escolhera Greenwich devido à fama da cidade, de não ter ladrões que se atrevam a praticar seus atos aqui dentro. Mas Nick tinha um sangue forte, nas suas veias corriam um nobre sangue, vindo de sua mãe. Sim, o de sua mãe era um sangue nobre, já o de seu pai era um sangue ladino.
Jim era muito jovem quando teve um filho. Ele fazia parte de um grupo de trombadinhas, que formaram uma gangue e logo depois uma pequena guilda que controlava todos os eventos ilícitos de uma cidade. Ele era um dos membros, tinha 16 anos. A cidade herdara uma cultura católica em que possuíam datas comemorativas dos santos, em que se faziam vários dias de festas. Ali seu grupo curtia. Os nobres não resistiam e se misturavam com a plebe. Os ricos eram sempre mimados e folgados. Eles tinham casos com as pobres mulheres das cidades e não assumiam o filho, desonravam as moças e rejeitavam as crianças. Na vez em que isso aconteceu com a irmã de Jim este perdeu a cabeça, ele chegou até o garoto nobre que estava embriagado e debochava de seus desafios. O que é combinado não é caro, Jim avisou, o almofadinha continuou zombando, até a hora em que quase perdeu a garganta. Nenhum amigo veio ajudá-lo, pois sabiam que Jim era hábil com a adaga. Um nobre separou a briga e Jim só aguardou. O garoto nobre também tinha uma irmã. Esta foi seduzida por Jim e acabou tendo um filho dele. Ela rejeitou a criança, mas Jim a assumiu e naquele dia saiu da cidade até a poeira baixar, saiu com o filho nos braços.
O destino sorriu tão bem para Jim, que ele nunca mais voltara até aquela cidade. Esquecera família, amigos, a guilda. O jovem era esperto, gostava de viver bem. Era muito sortudo e tirou muito ouro dos nobres em jogos de carta entre outros. Tinha uma mente criminosa brilhante, tão quanto gostava de mulher. Seu filho cresceu em meio às mulheres, a bebida, aos ladrões. Nascera um ladrão nato. Embora fosse filho do bacana, Nick não teve nenhuma regalia e nem seu pai o livrara de nenhuma confusão. Ele dizia:
– Você entrou nessa sozinho, agora saia sozinho.
Talvez por crescer desta forma completamente desordenada, Nick se tornou uma pessoa de gênio difícil, era desobediente. Possuía um coração bondoso, possuía grandes amigos e sempre era prestativo. Mas quando se envocava, virava um capeta. Brigava muito com o pai, sempre o chamando de desgraçado. Só que não falava que no fundo, admirava o pai, que sempre possuía uma resposta na ponta da língua, sempre pegava as mulheres mais bonitas, saia de enrascadas e armadilhas, conquistava a confiança de matemáticos, burocratas e juizes ordinários, criando assim uma máfia ao seu redor. Tudo que ele fazia dava certo, e em todas as suas aventuras sempre estava perto de uma linda mulher. Fez grandes roubos, ele era um gênio. Jim era conhecido como o rei dos ladrões. Sempre mudava de cidade, deixando os amigos, prestativos amigos para trás. Chegou até a fazer contatos com druidas que manipulavam segredos proibidos e fizera até algumas viagens extraplanares, onde conseguira mais amigos, itens mágicos sobrenaturais e mais riqueza. Nick queria ser como o pai. Quando o garoto completou 16 anos, se separou do pai e foi viver a própria vida. Mas seu coração bondoso o atrapalhava. Especializou-se apenas em fazer armadilhas e desarmá-las. Virou um saqueador de tumbas de antigos monarcas ou outros nobres corruptos que fizeram sua fortuna nas custas do povo. Quando possuía um grande movimento no comércio da cidade, ele agia melhor. Sempre furtava pequenas quantias não muito significativas do bolso das pessoas, mas somando tudo, tinha o suficiente para ficar tranqüilo por um mês.
Fora preso várias vezes, mas sempre conseguia se livrar através de suas técnicas de subterfúgio. Exceto numa época em que ficara desmotivado. Onde ele ficou cinco meses na cadeia apenas porque a comida era boa, ele era bem tratado, dormia de graça e jogava uma partida de cartas toda à tarde com os guardas. Nesta ocasião ele ficara tão amigo dos guardas, que o dia em que ele resolveu partir os guardas choraram tristes de saudades do grande amigo fora da lei.
Nick era fascinado por desafios. Seu próximo desafio haveria de ser Greenwich. Ele pensou até em estabelecer uma guilda de ladrões na cidade, algo impossível naquele lugar. Ele sempre pensava mais alto:
– Primeiro eu conquisto Greenwich, depois roubarei a torre de um mago, e em seguida farei um ato em que me promoverei rei dos ladrões. Um ato em que nem meu pai foi capaz de fazer ainda: Roubar as meias de uma vítima, sem ela perceber e sem eu tirar suas botas. Quando alguém ouvia esta célebre frase do garoto, o chamavam de lunático. Mas de fato era algo inédito no mundo do crime. Onde já se viu roubar as meias sem antes tirar as botas da vítima.
Na última semana Nick já havia invadido a casa de um nobre e feito uma limpeza. Os guardas estavam furiosos, era o primeiro crime na cidade onde não se encontravam culpados. Nick ainda agia sozinho, não confiava em ninguém e não poderia saber qual ladino era realmente bom para ajudá-lo em suas bem-aventuranças, apenas observava calmo e quieto.
Ele não veio para Greenwich com a cara e a coragem, ele veio como um bardo. Nos seus dezesseis anos de vida aprendera a arranhar um bandolim, e usava uma identidade de bardo. Numa época como essa, as notícias são veiculadas pelos bardos. Eles são os poetas que cantam suas canções e fazem as donzelas suspirarem. Ele trazia a alegria para a cidade, inspirava confiança, inspirava o que quisesse em quem ouvisse suas belas melodias. Muitos até chegavam a abrigar um bardo em casa, o tratando como nobre. O que não é uma atitude certa. Ainda mais quando este bardo é Nick Jim Tawber, filho de Jim Easick o rei dos ladrões. O autoproclamado príncipe ladino, roubou várias casas com esse método, dizendo que os bardos receberam uma divina missão e não devem se aproveitar de uma família, podendo ficar no máximo três dias em uma casa como visita. Nisto ele passara por dez casas, sempre fazendo pequenos furtos e estando acima de todas as suspeitas, afinal ele era um “justo bardo”. Este era o tempo que Nick precisava, três dias. Ele mapeou a casa de um nobre todinha, em três dias e armou um assalto, onde levou quase todos os mais valiosos bens da família. Ele descobriu os cofres da casa e fez a festa. O nobre queria morrer, e ofereceu uma recompensa pra quem recuperasse seus bens.
Nick passou a noite no bar. No dia seguinte ele foi procurar uma casa pra ficar. Numa das ruas de Greenwich, ele encontra um velho:
– Olá meu jovem ladino. – Nick se assusta com a frase do velho. Ele pensa e chega a conclusão que não deve esconder daquele velho, talvez ele esteja só jogando, mas talvez seja alguém especial.
– Por que você falou isso? Você é algum sábio por acaso, ou charlatão?
– Eu sou.
– Sábio ou charlatão?
– Sou um sábio menino, um oráculo de Deus. Tenho uma profecia pra você.
– Uma profecia pra mim?
– Sim. Você não quer se tornar o rei dos ladrões? – o garoto balança a cabeça. – Isso só pode ser feito de duas formas.
– E quais são?
– A primeira, seria você continuar nesta vida, vivendo o perigo a cada dia. Um dia você pode pegar um guerreiro revoltado e por um fim na sua história, esta é a mais difícil, você terá que conseguir tudo por você basta você sair de Greenwich.
– Ah – debocha Nick. – Sair de Greenwich? Você ta brincando. Meu destino é aqui ô coroa.
– O segundo caminho, é um pouco mais fácil. As circunstâncias o tornam relativamente menos perigoso. E uma tragédia na sua vida te trará glória.
– Fala mais aê, o meu querido. – fica curioso o menino.
– Venha até minha casa Nick, fique por lá uns tempos. Que eu te ensinarei.
– Sabe até meu nome o velhote aê.
Eles seguem para a casa do oráculo de Deus, o sábio da cidade.
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Chega a noite. Fenrir trabalhou muito o dia inteiro. Restavam 20 dias para terminar de pagar os trajes. Apesar do cansaço aprendeu muito com o alfaiate. Naquela noite Fenrir pediu ao alfaiate, para se trocar em sua casa, porque se trocar com trajes nobres no alojamento comunitário não iria prestar. O alfaiate concordou.
Fenrir vai todo cheiroso, com banho tomado lá na casa do alfaiate, com uma nobre roupa. Os guardas do portão ficam pensando e tentando entender, como que um jardineiro foi convidado ao jantar com a princesa e o capitão, e eles que trabalham numa posição de valor há tanto tempo não ganhavam nem o direito de entrar no palácio.
Fenrir caminha pelo belo jardim do palácio, falando consigo mesmo: – quem cuida deste jardim é um profissional muito bom. – O jovem discretamente ri de si mesmo. Ele passava, num caminho calçado de ladrilhos de mais ou menos uns 10 metros até a porta. Para chegar à porta deveria subir três degraus.
Quem visse o palácio de longe à noite lá das ruas de baixo, conseguia ver um monumento branco, todo iluminado por dentro, com várias luzes e todos os quartos resplandecentes. A arquitetura do local fora bem trabalhada, com um design moderno para a época, caprichada como se tivesse sido trabalhada por anões. As pedras eram precisas, bem trabalhadas e lapidadas em blocos de medidas constantes. Possuía três andares. As vidraças da porta transmitiam respeito, pois apenas pessoas de coragem colocavam aquilo em suas casas por ser pouco seguro. Até mesmo em Greenwich tem-se receio disto. O palácio por essa atitude transbordava coragem a quem o olhava e mostrava que a justiça e a ordem imperavam a cidade. Alguns mais pretensiosos falam que Greenwich é a cidade perfeita, a cidade de Deus.
Fenrir vê as portas duplas, com maçanetas banhadas a ouro. Ali tinha mais dois guardas que o olharam e deixaram-no entrar. Ao entrar, Fenrir se encontra no Hall, com uma escada em espiral feita de um metal caro e um tapete circular lindo. A sala é bem iluminada pelos candelabros e castiçais da sala. Os móveis bem colocados, todos brancos combinando com o mármore e decoração do local. A alta sociedade de Greenwich estava ali. Os ávidos freqüentadores do palácio, toda a noite se reuniam para trocar informações darem risadas, zombarem dos vassalos e coisas do tipo. A antiga celebridade que era a pessoa do capitão dá espaço a uma nova, a Princesa e filha de Vortigern. Todos cumprimentam a Fenrir, ninguém esperava o jovem bem vestido, parecia um príncipe. As músicas param, todos olham a princesa no momento em que ela desce as escadas. Trajava um vestido preto, cabelos longos soltos, pele lisa, linda. As luvas pretas também faziam par com a roupa da linda garota. Um pingente sobre seu pescoço. Fenrir o vislumbra, são dois cisnes de prata, ele percebe que é o mesmo daquela manhã em que se conheceram. Um homem aparentando uns quarenta anos diz:
– É linda não é. Olha só o pingente dela, dizem que traz boa sorte. É um presente que ganhou de um príncipe perto do reino de Vortigern, ela nunca o tira. Agora vai lá. Vai receber a dama meu rapaz.
Fenrir toma a iniciativa, vai até as bases das escadas receber a dama. Estende os braços até ela e toma a mão da princesa beijando-a. Ao descer, eles se dirigem até os outros. A princesa está à vontade com o seu amigo. Ele descobre que ela é uma doce mulher, mas também é bem louquinha, fala muito bem e fala demais, é sempre alegre, descontraída, deixa todos que estão em sua presença à vontade. A noite dá pulos, passa com uma certa rapidez. Era a hora do jantar.
A sala de jantar possuía uma mesa comprida, na cabeça da mesma se encontra o capitão do palácio que está muito contente com o jantar e a presença do jovem aventureiro. Fenrir se atrapalha um pouco com os “modos” de se comer, mas logo fica a vontade. Eles servem um prato estranho a Fenrir, mas este educadamente o recusa dizendo que não gosta muito. Logo no calor da conversa eles pedem para Fenrir contar um pouco sobre ele, e este conta sua primeira aventura.
A princesa tenta arrumar uma melhor posição de emprego para Fenrir dizendo:
– Senhor capitão. Você sabia que o Fenrir é filho do soldado de elite do meu pai, o Fenrir Smith.
– Ah é mesmo? Seguindo a carreira do pai?
– A gente tenta. – diz fenrir gargalhando
Todos gargalham.
– Garoto o que faz de jardineiro então? – pergunta o capitão.
– Aqui não tem ameaças, senhor. O senhor faz um trabalho excelente. – retruca Fenrir.
– Hum, mas a cidade está ficando desestabilizada. Houve um assalto há alguns dias, alguém ousa ameaçar a paz na cidade. Mas mudando da água para o vinho, tem um senhor de idade, fidalgo, que precisa de um guarda costas. O dele parece que adoeceu, ele geralmente fica com quatro. Está apenas com três, se quiser te levo lá amanhã.
– Partiu. Digo, a gente vai então. – diz Fenrir animado.
Após o jantar, teve um baile de gala com o novo bardo da cidade, Nick. O jovem menino vê Fenrir e o encara, é uma pessoa diferente. Ele começa a tocar e inspirar uma animação no ar. Todos gostam muito, a dança fica muito quente. A princesa olha pra Fenrir, este vai até o Nick:
– Hei amigo, toca algo romântico pra mim. – diz Fenrir.
– Pegando a princesa meu caro? – discretamente fala Nick.
– Que isso irmão, ela é uma princesa.
– Por isso.
O bardo toca a música para fenrir e num ritmo apaixonado, o jovem aventureiro dança com a princesa. Nick não para de fitar os dois. Agora, depois de tantos dias na presença do oráculo, começa a fazer sentido para ele.
Fenrir dança lentamente com a princesa, era sem dúvida a dança mais importante da noite. De sua vida. Ele nunca foi bom com essas coisas, sempre foi muito reservado para dançar, era a primeira vez que dançava em público desconhecido, e com uma mulher. O nervoso tomava conta de seu coração naquele instante, os olhos da princesa brilhavam. Talvez no fundo ela tenha se apaixonado pelo jovem. Mas pela noite que Fenrir teve, ela era uma mulher avançada, não ficava muito tempo presa a um homem só. Era descolada, maluca. Para muitos seria motivo de abominação, mas não para quem convivia com a doce princesa. Ao mesmo tempo em que era uma frágil e delicada dama, a princesa se revelava uma mulher incrível, talvez até corajosa o suficiente para ser uma guerreira. Mas ela estava insegura, não conhecia Fenrir. Não sabia se ele também estava interessado nela, nem se ele gostava de seu estilo. Ela não era uma dama indefesa, ela sabia se defender e em todos os sentidos.
No final da festa Fenrir vai para casa, o caminho é parecido com o do ladino. Nick puxa conversa com ele, e eles comentam sobre o baile. Ao se separarem Nick libera uma frase:
– Pena que acontecerá algo com a princesa.
– O que está dizendo, por acaso você é um bandido Nick, sim faz sentido. Você é um bardo está acima de todas as suspeitas. Você assaltou o nobre.
– Finalmente alguém pensa nesta cidade. Mas não sou assassino, nem quero mal da princesa, a verdade é que você não pode mudar seu destino Fenrir.
– Você está rendido, se entregue ou o levarei a força.
– Legal, você não quer fazer isso cara, sou seu amigo. – Fenrir fica num tom menos ameaçador, Nick continua – então cara estou com muito sono e, portanto irei dormir, agora depois a gente conversa sobre esse negócio do nobre. Há, ia me esquecendo, se você quer saber algo sobre seu destino vá neste endereço. – Nick se despede entregando um papel com endereço para Fenrir, e parte.
Fenrir pensa consigo mesmo:
– Por que diabos não rendi o cara? – sem saber ele continua a caminho da estalagem.
Fenrir mal dormiu naquela noite. Parecia tão longo o dia, parecia que vivera tanto. Foi especial neste dia, o dia em que conheceu a princesa. Uma lady merecia os melhores tratamentos do mundo. Merecia também alguém a altura. Fenrir não era nobre, não era nem um “Sir”, nem um aventureiro ele era ainda. Mas o jeito engraçado da dama o deixava seguro. Naquela noite tinham conversado como se conhecessem há muito tempo. As frases da princesa eram intimidadoras, sempre faziam Fenrir voltar atrás ou pensar mais uma vez no que dizer na sua presença. Mas no fundo talvez ela fosse desatenta mesmo. O fato era que Fenrir tinha ficado nervoso naquele jantar, queria passar uma boa impressão para a princesa principalmente. Isto o fazia ficar com medo de falar algo de errado, o deixava inseguro. Fenrir pensou nestas coisas a noite inteira. Uma coisa ele tinha certeza, no mesmo tempo que estava inseguro, ele gostava de estar ao lado da princesa, era um sentimento especial. Talvez ela tenha algum truque de sedução que por sinal deu certo. Ela sabia jogar com as palavras. Ela fazia perguntas de um jeito, que tirava até os segredos mais íntimos do jovem aventureiro. Através de cada resposta que ele dava, ela já conseguia prever sua mente, fazia-o pensar que era um cara previsível, mas na verdade era ela que é especial.
Após insuportáveis pensamentos, o dia amanhece. Fenrir tem que encontrar o capitão da cidade para verem o emprego de guarda-costas. Ele se ajeita, coloca sua armadura e sai.
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Após aquela noite do Urso, ele ficou um dia apenas estudando a cidade. Na verdade procurando o oráculo de Deus, mas não obteve sucesso. Todas as pessoas em que ele tentava obter alguma informação não sabiam nem que tinha um Oráculo em Greenwich.
Na segunda noite, o homem estava sentado na taverna. Ainda era relativamente cedo para que as pessoas chegassem e começasse mais uma noitada. A bela estalajadeira viu Urso sentado e foi ampará-lo.
– O senhor está bem? Quer tomar alguma coisa?
– Não, não estou. No momento não vou tomar nada não obrigado. – Urso esconde o jogo da estalajadeira, até que ela consegue quebrar o gelo:
– Estou aqui pra te ajudar, eu gosto de você.
– Você gostou de mim? Então vai mudar de idéia quando eu te disser que sou um bandido e assassino que vive da pilhagem de bens das pessoas indefesas. – eles conversam e Urso conta tudo a ela, ela tenta arrumar uma solução para aquilo:
– Ah, mas você não precisa sobreviver desse jeito. Você sabe que com a retirada do império romano destas terras, muitas igrejas, templos e até mesmo palácios foram abandonados e esquecidos às ruínas, se você procurar bem, pode ter algum tesouro deixado na pressa do retorno, que tenham esquecido nestes lugares. Muitos aventureiros pensaram e pensam assim e muitos fizeram sucesso.
– Você conhece bem de aventureiros não é moça?
– Claro que sim, eu também trabalho na taverna. Já servi muitos aventureiros, já os amparei, dei força, ouvi histórias. Você acha que tudo o que os bardos dizem são mentiras? Claro que não, eles aumentam e dão um tom dramático à história, mas tudo inspirado em aventuras verdadeiras.
– Você conhece mesmo. Mas então você já está acostumada a amparar pessoas como eu?
– Amparar como estou com você não. Senti algo especial em você, você é do tipo de homem que eu deixaria tudo para viver uma vida ao seu lado.
– Mas você não é casada moça?
A conversa se encerra por iniciativa da própria moça. Ela esquece que tem marido naquele momento e conduz o saxão até seu quarto. Ali eles têm um momento de amor.
Algumas horas depois, quando ela desce, percebe que o hóspede que a viu com Urso há dois dias atrás conversava com seu marido. Quando seu esposo a olha, ela se assusta e naquele momento ele descobre tudo. Ele a chama num canto e começa a se exaltar:
– Não sei onde eu estava com a cabeça, quando cheguei a seu pai e pedi a mão de uma vagabunda em casamento…
Eles começam a bater boca e trocar ofensas que não eram terminadas, pois antes de um terminar a frase o outro já começava a replicar. Até que o estalajadeiro explode e dá um bofetão na mulher. Mas antes que sua mão tocasse um só fio de cabelo da moça, ele tem sua mão aparada por uma palma de mão excessivamente grande. Ele segura com a força de um verdadeiro urso e diz:
– Por acaso você é covarde de bater em mulher? Experimenta bater no Urso aqui seu palhaço.
– A mulher é minha e voc…
– Você tem que tratar mulher com todo o carinho e todo o respeito do mundo seu babaca. Ela não é sua propriedade não, ela tem liberdade, respeite-a.
– Você fala isso porque é o amante…
– Você está falando que eu sou sacana a esse ponto? Se fosse meu caso eu resolveria com o homem que fez isso e não com a moça.
– Você está pensando o que senhor? Você pensa que eu tenho medo de você? Tu pensas que…
– Eu não penso nada. Cale a boca filho de uma…
Antes de terminar a frase, Urso já toma um cruzado no rosto que o deixa um pouco atordoado. Ele ficou surpreso que um homem como o estalajadeiro seria imbecil o suficiente para bater num saxão de 1,90m, mas o fato é que ele tinha uma honra a zelar, o que não foi desculpa pra Urso afundar o rosto do pobre coitado na parede. A briga repercutiu na estalagem inteira. Ninguém conseguia deter a fúria bárbara saxã e todos os que tentavam separar a briga saiam com alguma parte do corpo quebrada, não havia um só homem que conseguisse empeitar Urso.
Fenrir passava na taverna nesta hora e ouvira a gritaria e o barulho de espancamento e quebra-quebra lá dentro. Ele primeiramente viu um soldado entrando. Quando estava quase em frente a porta viu o mesmo soldado, um pouco deslocado saindo. Ele passou tranqüilamente pela porta e chegou até a esquina, onde vê um pelotão de mais ou menos vinte guardas entrando na taverna. Ele apenas pensa com sigo mesmo:
– Hoje ta quente lá na taverna. Eles devem estar se divertindo muito. Até guardas estão indo para a balada.
E parte para dormir em sua casa. Ele já estara com o dia ganho, visto que dentro de dois dias iria começar seu novo emprego como guarda-costas. Ele conseguiu entrar em acordo com o alfaiate a fim de negociar a dívida que agora poderá ser paga. Tudo corria bem para ele.
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No seguinte dia, Fenrir só ouvira o novo mito na cidade. Greenwich que outrora era uma cidade intransponível da desordem, agora se tornara um caos. Muitos soldados estão se machucando e ninguém consegue parar um furioso saxão que dormiu com a mulher do estalajadeiro. O capitão parece ficar preocupado. O índice de violência já aumentara instantaneamente a estes fatos e houvera um assalto ainda naquela noite. Os guardas estavam perdidos, não sabiam para onde ir e nem qual caso solucionar primeiro. O fato é que 40 guardas estão gravemente feridos apenas por um homem. Um saxão que era conhecido apenas como Urso. Fenrir fica triste pelo capitão, mas feliz, pois até que enfim surge um desafio digno de heroísmo. O herói veste sua armadura e prepara suas armas para a caçada ao saxão. Ele estava confiante, visto que já enfrentara os míticos orcs e um elfo negro.
Numa das ruas mais movimentadas da cidade, os dois se encontram e se encaram. Urso vê um homem de aproximadamente 1,75 de altura talvez um pouco mais. Muito bem equipado por sinal. Quem sabe fosse um desafiante. Em todos estes anos, Urso já enfrentou adversários maiores, mais bem equipados e em maior número. Não seria um páreo para ele.
– Então é você quem está bagunçando com tudo por aqui? – começa Fenrir com seu tom debochado.
– Não sabia que a milícia de Greenwich recrutava frutinhas. – responde Urso a altura do comentário de Fenrir.
– Não sou da milícia seu porco imundo, digo Urso. Sou um aventureiro que já derrotou criaturas lendárias e míticas.
– Não misture realidade com faz-de-conta garoto. Você não derrota nem a metade de mim.
– Então vamos ver senhor bonitão. – fenrir saca sua longa espada e parte para cima do Urso.
Urso espera calmamente Fenrir e quando este dá o golpe, se esquiva.
– Como pode um homem tão grande desses se esquivar de todos os meus golpes? Será ele um deus nórdico como estão dizendo. – pensa Fenrir enquanto tenta acertar o quase gigante.
Urso mostra sua superioridade na batalha. O local já começa a se encher de gente. E os guardas estão assistindo a batalha como se fossem espectadores. Na hora em que os dois insanos se aproximavam do povo, a roda abria caminho para eles passarem. O saxão estava apenas com as mãos para baixo e ia dando passos para trás e se esquivando de todos os golpes do jovem herói. Como se previsse todos os seus movimentos.
– Droga! Não é possível existir um guerreiro desses. Será por isso que ele nunca perdeu nenhuma luta? Ele terá um item mágico capaz de dar vantagens a ele em batalha? – Fenrir ataca inconformado tentando variar o máximo de golpes possível.
– Você bate sem objetivo jovem. Está tentando me acertar. Sua mente é muito fraca, assim nunca vai me pegar. Enquanto eu estou pensando em esquivar dos seus golpes, você está apenas pensando em tentar me acertar e não pensando em me acertar. – diz o saxão.
– Mas qual a diferença? – pergunta Fenrir.
– Se você está com dificuldades para perceber a diferença sinto muito. Na hora em que te mostrar, você morrerá por um erro bobo.
Fenrir aumentou a freqüência de seus golpes, ele o atacava insanamente só que nada adiantava. Ele estava pensando qual era a diferença das duas asserções ditas por Urso.
– Você quer ver a diferença, então vou te mostrar. – num gesto rápido, Urso pega a machadinha de sua cintura e desfere um golpe certeiro em Fenrir. Ele era muito rápido para uma pessoa da sua estatura. O jovem aventureiro dá alguns passos para trás e abaixa a guarda. Coloca a mão na altura do abdômen e quando vê, sua mão está ensopada de sangue.
Naquele momento Fenrir cometera um erro primário. Tão preocupado com o ferimento causado, esquece totalmente de se proteger e só não é assassinado por que o saxão guarda sua machadinha novamente.
– Garoto. Muitos morreram exatamente pelo mesmo erro que acabara de cometer. Mas não vou te matar agora porque você tem futuro, não merece ter a carreira podada tão imaturamente. – diz Urso dando as costas para o herói.
– Não. Espere um pouco animal. – grita Fenrir já cansado e sem fôlego. O saxão para, mas não se vira.
– Cara, eu não posso morrer agora sabia. E não posso deixar você escapar. Se eu morrer agora meu tio vai ficar muito triste porque ele me ama muito e ainda não terminei de fazer uma coisa. – fenrir pausa para respirar e continua. – eu marquei bobeira. Não falei para aquele velho que eu amava ele. Não posso morrer sem falar isso. E além do mais, vou dar motivo para ele dizer o resto da vida que bem que tinha me avisado, que eu fui teimoso, que a carreira de herói não era pra mim. Eu não quero isso Urso. O segundo motivo, é que se eu deixar você escapar. – Fenrir para mais uma vez, respira fundo e diz. – Cara, esse corte está doendo pacas. Mas o que eu estava falando era que, se você escapar, meu pai que está vivo ainda em algum lugar vai ficar sabendo e ficará triste, pois seu filho não chegou nem na metade dos feitos do pai. E minha honra também acabará. Não serei lembrado por ninguém. Mesmo que se eu te vencesse, ninguém me lembraria. Porque você é apenas mais um desafio na minha frente, pelo qual eu tenho que passar. Eu já encarei o primeiro. E não vou desistir assim tão fácil logo no segundo. Ainda não percebi a diferença entre te acertar como você falou. Porém você não conta que eu aprendo rápido.
Naquele momento um sorriso toma conta do saxão. O capitão da vila chega:
– Parados! Vocês dois estão presos por promover a balbúrdia em minha cidade.
– Você fica quieto ai capitão, que seu exército não deu nem pro fumo. – responde o saxão.
– Pare de falar, que isso só irá te prejudicar. Agora se renda ou terei que usar de força bruta para com você. – intimida o Capitão.
– Na boa capitão, você me arrumou o emprego fiquei muito grato, agora não atrapalha não que isso é uma briga de dois gigantes. – interrompe Fenrir.
O capitão observa quieto o desfecho da luta.
Fenrir empunha sua longa espada com as duas mãos e parte mais uma vez para cima do Urso.
– Idiota, já disse que assim não irá… – a frase de Urso é interrompida quando ele percebe que irá ser acertado pelo jovem garoto. Ele pega o machado de batalha em suas costas e intercepta o ataque de Fenrir. A espada se desmancha em cacos de lâminas ao tocar o machado do saxão. Afastado o perigo o mesmo diz:
– Vejo que você quase me acertou. Se não me defendesse não sei se estaria aqui falando estas palavras agora.
– Eu já disse que aprendo rápido Urso. – responde Fenrir continuando. – Agora é que a dança vai começar. – Fenrir saca sua longa espada que só pode ser empunhada com as duas mãos. A sagrada espada de onde ele pode invocar um raio uma vez por dia. A mesma usada para vencer o elfo negro Drow. Antes de atacar Fenrir faz o último comentário:
– A diferença de luta que estávamos tendo, era que eu estava sendo muito modesto ao tentar te acertar. Eu não tenho que tentar. Eu tenho que te acertar. Quem tenta é a sorte, agora compreendo. Embora muitos achem que os guerreiros sejam apenas músculos, não é. Uma mente preparada conta muito na hora de um duelo. O diferencial dos guardas, para as lendas vivas que são os aventureiros é isso. Ter o controle da mente e do corpo.
Fenrir salta sobre o saxão com a espada posicionada em seu ombro esquerdo para soltar um ataque da esquerda para a direita. O saxão posiciona mais uma vez seu machado para aparar o golpe, mas é surpreendido quando percebe que ao estar quase colado com o Fenrir, este garoto solta sua espada para pegá-la por trás e levantá-la com a mão direita e assim posicionando um ataque da direita para a esquerda, com a mão canhota de apoio. O Urso foi surpreendido de tal forma que sofreu um corte profundo no seu ombro esquerdo, quase partindo desta para a melhor.
– De fato não esperava isso de você garoto. – diz Urso ferido gravemente.
As pessoas nas ruas gritam vibrando, como se estivessem numa arena romana.
Em mais um embate, o machado do Urso voa longe. E este mais uma vez saca sua machadinha. Ele investe para cima do herói desta vez, com muito sofrimento por causa de seu ombro. Fenrir se encontra aparando o golpe do mesmo, com uma dor muito forte no abdômen. Urso concentra sua força jogando seu peso contra o rapaz, que é mais fraco que o saxão:
– O frutinha não vai agüentar, já deu sua hora.
– Então vamos ver se não caço o animal hoje.
Fenrir cai no chão sem a espada e já rola para não ficar a mercê do saxão.
– Está acabado garoto. Você não será esquecido, será lembrado para sempre que foi o único homem que conseguiu ferir sozinho, o Filho do Machado. – o saxão ataca Fenrir que está no chão.
O garoto está com as pernas encolhidas e coloca a mão na parte de trás da bota e rola mais uma vez saindo do ataque do saxão e apunhalando a perna do Urso com sua adaga da sorte. O gigante solta a arma de dor gritando:
– Você tem muitos truques garoto. Vamos ver se consegue encarar o urso de frente. – O Urso agarra Fenrir e com as duas mãos no pescoço do garoto começa a enforcá-lo. Levantando-o para o alto. O urso se mostrava imponente embora estivesse muito ferido. Fenrir sabia que a força do Urso estava em seus punhos. Então ele começa a fazer uma pressão sobre-humana nos pulsos do saxão, até eles torcerem e o inimigo perder a força completamente.
– Estou indefeso, vamos finalize minha vida não sou digno. – diz Urso admitindo a derrota.
– Mas você é um burro por acaso seu animal, não é a toa que é loiro. Você destruiu meu abdômen, e ainda acha que tenho força para empunhar uma espada? Eu coloquei minha família, minhas lembranças, tudo naquele ultimo ataque para me livrar de suas garras. – diz Fenrir que estava sorrindo, mas com muita dor.
Os guardas se aproximam para prender o Urso, mas Fenrir interfere dizendo:
– Não prenda ele, nossa luta não acabou.
– Mas você acabou de dizer que não agüenta mais nada.
– Por isso. Deu empate. Eu não sou homem de sair mal resolvido meu caro. Deixe ele livre, não causará mal a ninguém com esse bracinho deste jeito.
O soldado olha para o capitão, que faz sinal para eles se recolherem. Neste instante, o oráculo e Nick chegam dizendo ao saxão:
– Nem vem com orgulho e conversa de que não precisa de ajuda que todos vêem que você está no pau da viola. Venha conosco. – E saem amparando o bravo bárbaro.
Nick diz mais uma vez:
– Nossa cara, esses machados pesam. Não sei para que tanta violência.
Fenrir fica pensando consigo mesmo, de que lados este diabo está.
Tiago Alves Rafael
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