Os monstros são derrotados. Os refrigerantes são bebidos. Os salgadinhos e os biscoitos se foram. Os PdJs dividem o tesouro enquanto o mestre totaliza o XP. A guerreira olha sua nova espada mágica e o druida já está escolhendo seus novos poderes, certos que ganharão um nível essa noite.
De repende, o clérigo solta “Ei, pessoal? Meu filho assistiu a’O Senhor dos Anéis no final de semana e agora está fazendo um monte de perguntas sobre D&D. Tem algum problema trazê-lo pra sessão da semana que vem?”
O que você faz? Você pergunta qual a idade do filho do clérigo? Você estremece e se arrepia, já planejando sua desculpa para não aparecer na noite de jogo da próxima semana?
Ou talvez você mesmo seja um pai e sua filha fez a ligação entre os livros de Harry Potter que ela adora e o fato de que você finge ser um mago uma vez por semana.
“Dungeons & Dragons!” ela diz, os olhos brilhando. “Posso jogar?”
D&D com crianças – tem algum desafio de perícia pra resolver essa?
Quando uma dessas situações ou algo parecido surge, nós o incentivamos a abraçar a oportunidade, seja você o pai de um jogador em potencial ou apenas alguém que joga com regularidade com um pai. D&D pode ser uma ótima atividade para crianças; afinal de contas, D&D é um jogo altamente interativo que requer resolução criativa de problemas, cooperação e imaginação, tudo sob a estrutura de regras complexas, e tudo isso é bom pras crianças.
Mas também é muito divertido, e diversão também é bom pras crianças…
O Jogo Tem que Ser Divertido
Aqui estão algumas diretrizes em que você pode pensar, para ajudar as sessões de D&D com as crianças a correrem suavemente.
Geração de Personagens
Criar um personagem com o qual a criança em questão queira jogar é o primeiro passo essencial. Seus instintos podem ser encontrar a classe que você acha ser mais simples e fazer com que a criança jogue com ela, mas fazê-lo pode ser contraprodutivo. Ao invés e pensar algo como “Eu sei que você quer jogar com um mago, mas um guerreiro seria muito mais fácil pra você”, esforce-se para criar um personagem mago que a criança possa usar.
Se seu filho não sabe qual classe ele quer usar, descubra conversando. Descreva algumas opções. Por exemplo, você pode contrastar o estilo furtivo do ladino com a mentalidade objetiva do guerreiro e perguntar qual parece mais interessante. Você pode oferecer ao jovem jogador um grupo de miniaturas do qual escolher uma (a maior parte das crianças adora a oportunidade de escolher miniaturas que as representem) e então criar o personagem a partir daí.
Também é válido pedir à criança moldar o personagem em termos de cultura pop. Por exemplo, você pode perguntar qual personagem d’O Senhor dos Anéis a criança quer que o personagem dela lembre.
As Regras
Tente não se restringir muito às regras. Especialmente para crianças mais novas, qualquer coisa que fique no caminho entre elas e o jogo é um problema – um problema sério e que estraga tudo.
Se você está apresentando o jogo a uma criança, use um sistema de regras simples. Comece com o essencial e acrescente mais regras à medida que o jogo progride.
Em um jogo que participamos com uma criança de 9 anos, as fichas de personagem mostravam apenas a CA, os PVs, o deslocamento e um ou dois ataques do personagem. O mestre cuidava dos testes de perícia e nós não nos preocupávamos com os aspectos mais detalhados como marcar um oponente ou ataques de oportunidade. O resultado? Foi o jogo mais ágil que tivemos em eras e todos – incluindo os veteranos – adoraram.
O Jogo
As crianças geralmente percebem o combate como a parte mais divertida do jogo. Portanto, você deve oferecer encontros com combates logo e com frequência.
No jogo mencionado acima, perguntamos à criança de 9 anos se havia alguma coisa que ela gostaria que fosse diferente na sessão em que ela participou. Ela respondeu “Sim, depois da última sala com o dragão, teria sido muito legal se tivesse outra sala com um monstro maior pra nós lutarmos.”
Mas o jogo não precisa ser todo de combate, de forma alguma. Crianças mais novas gostam de opções. Se elas parecem estar empacadas em uma situação ou acharem que o combate é a única opção delas em um dado encontro, ofereça três escolhas nitidamente distintas – lutar, fugir ou negociar, talvez – e dê a elas tempo e espaço para que cheguem a uma decisão.
Quando confrontada com um inimigo entre ela e o resgate de um unicórnio capturado, uma criança de 6 anos supreendeu a todos na mesa oferecendo ouro pela liberdade do unicórnio, explicando porque criaturas mágicas deveriam ter o direito de viverem livres e tirando um 20 no teste de Diplomacia.
O Jogo Tem que Ser Vívido
O Fim de jogo: E se o personagem de uma criança cair vítima dos vilões? O que você faz quando o bruto solitário causa dano o suficiente para matar?
Você pode argumentar que regra é regra e é melhor que a criança aprenda sobre a morte dos personagens cedo do que tarde. Esta abordagem é ótima – se você quiser ter certeza que o jogador deixe o jogo e nunca mais cogite a ideia. Crianças, especialmente crianças novas, têm grandes chances de se apegarem até mesmo a personagens que criaram uma hora antes. Se um encontro parece estar se dirigindo a um completo desastre, dê a chance para que eles recuem, descansem e se reorganizem.
Faça o que for necessário para manter os personagens das crianças vivos e, além disso, ativamente envolvidos na ação. Já é difícil para jogadores experientes quando um personagem tem que ficar de fora sem fazer nada; tente não sujeitar iniciantes à mesma tortura.
Se você tiver essas diretrizes em mente, apresentar uma criança ao mundo de Dungeons & Dragons deverá ser um desafio bem menos assustador. Também é uma ótima forma de lembrar o quê você gostava no jogo no início – os monstros, o tesouro, a magia, o ambiente fantástico, as horas e horas de diversão com seus amigos.
Além disso, de uma maneira bem real, as crianças representam o futuro do RPG de mesa e nós devemos a nós mesmos e ao nosso passatempo fazer o que pudermos para incentivar as crianças a jogarem Dungeons & Dragons e outros RPGs. Na Cerimônia de Premiação dos Ennie Awards, na GenCon em 2008, o co-criador de Dungeons & Dragons Dave Arneson implorou que todos nós nos prontificássemos a trazer novos jogadores.
E nós o faremos… pois é nosso dever, nosso direito e nosso privilégio.
Por Jeremy L. C. Jones & Christopher L. Dinkins
Tradução Hugo Lima
Equipe RedeRPG
Fonte: Kobold Quarterly
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O Pai do Jogo é Jeremy L. C. Jones, um escritor autônomo, editor e professor. Ele é o entrevistador da Clarkesworld Magazine e um frequente colaborador da Booklifenow e do Kobold Quarterly. Jeremy ensina na Wofford College e na Montessori Academ em Spartanburg, SC.
O Tio Chris é Christopher L. Dinkins, um escritor autônomo, professor em regime parcial e jogador em regime integral. Ele e o Pai do Jogo ensinam nos Shared Worlds, um acampamento de criação de mundos e escrita criativa para adolescentes que o Pai do Jogo e Jeff VanderMeer criaram em 2006.
This article originally appeared on Kobold Quarterly, Monsters & Magic Blog, and is reprinted here in Portugese with permission. You can read the original English-language article by Jeremy Jones & Christopher Dinkins at http://www.koboldquarterly.com/k/front-page8475.php, and check out Kobold Quarterly books and magazines in the KQ Store. KQ encourages readers to become designers; become an Open Design patron and design a game supplement or adventure with us. Kobold Quarterly, the Kobold Quarterly logo, Open Design, and Monsters & Magic Blog are trademarks of Open Design LLC. This article is copyright © 2009 by its original author. All rights reserved.
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Arquimago
Deveriam ter mais artigos deste estilo por ai.
Gostei da mensagem como pedagogo, criança é bem assim, é melhor ter cuidado, não precisa só passar a mão na cabeça, mas judiar também não ^^
hebert
eu achei legal… me fez lembrar de quando eu comecei a jogar, eu tinha 10 anos, eu era a unica criança no grupo. mas no jogo eu sempre fui tratado como o elfo de 115 anos que eu representava, ninguem nunca me subestimou.
Lembro de uma vez que o ladrao do grupo tinha que buscar uma gema pra gente, entao eu argumentei que nao confiariamos nele, ai disseram que os pjs nao sabiam que ele era ladrao, mas eu no auge dos meus 10yearsold disse que sabiamos sim pois meu pj era um monje e todos sabiam que eu era e o ladrao nao entao se o ladrao nao era monje o que ele era? ladrao. deu briga mas foi muito legal eu dei um cheque nele… demorou muito tempo ate q os pjs voltaram a confiar nele rsrsrs