Um guia para o Jovem Samurai

Guia para o Jovem Samurai é um texto que deve estar na cabeceira de todo jogador de Legend of the 5 Rings ou de qualquer outro cenário inspirado no Japão Feudal.

Escrito por Linda Larsson e traduzido por Renilson “Planeswalker” Alessandro, suas três partes foram publicadas aqui na REDERPG em março de 2004. Confiram a seguir:

Por Marcelo Telles
Coordenador do REDERPG

Um guia para o Jovem Samurai

– Parte I –

Costumes

1: Comportamento

A sociedade de Rokugan é extremamente polida, e firmemente dividida em três camadas distintas; seus iguais, seus superiores e seus inferiores. Iguais devem ser tratados polidamente, mas não exageradamente, a menos, é claro, que você esteja tentando ganhar o seu favor. Ser tratado como um igual por alguém que, de fato, é seu superior é uma grande honra – e mesmo assim, você deve continuar tratando-o de maneira respeitosa, pelo menos em público. Mesmo que seu lorde ou oficial superior seja também seu melhor amigo, tratá-lo como um igual na frente dos outros irá fazer com que ele perca “face”, e você será taxado como um rústico sem maneiras.

Se inclinar é o gesto típico tanto para saudações quanto despedidas. Os inferiores se inclinam mais acentuadamente e mais lentamente que os superiores. A forma mais formal de inclinação – geralmente utilizada na corte ou quando convocado à presença de seu lorde – é se ajoelhar e pressionar a sua testa no chão. Um samurai pode também se prostrar desta maneira ao fazer um pedido formal de desculpas, para demonstrar sua vergonha e profundo respeito por aquele que foi ofendido.

Mostrar emoções profundas em púbico não é visto com bons olhos, assim como fazer qualquer forma de barulho alto; as paredes são feitas de papel e, deste modo, mesmo que você esteja em sua casa, você poderá incomodar outras pessoas. Além disso, demonstrações de emoções vão contra os ideais estóicos do bushido. Jovens (nota: pré-Gempukku) e não-bushi possuem um pouco mais de liberdade em relação a isso, mas não muita. A única exceção é quando você está se desculpando. Nestas situações é considerado polido se ruborizar, chorar ou bagunçar seus cabelos e roupas, e desta forma mostrar grande vergonha e arrependimento.

Existem três formas polidas de se dirigir a alguém comumente usadas em Rokugan. Um igual (ou quando você desejar ser polido com um inferior) é referido como (nome da família)-san, ou (primeiro nome)-san se há muitas pessoas da mesma família presentes. Para um superior, o padrão é o mesmo exceto o sufixo que passa a ser –sama. Finalmente, um daimyo pode também ser adereçado como “tono” (lorde), ou usando o sufixo –dono após o nome da família (este sufixo também pode ser usado para qualquer pessoa de alta posição hierárquica ou digna de respeito).

Quando houver uma audiência com uma pessoa importante, haverá guardas presentes; isso não indica, necessariamente, falta de confiança, e sim simples precaução normal e preservação de “face”. Apenas membros próximos da família e hatamoto (nota do tradutor: oficial principal) possuem o privilégio de ver seu lorde no momento em que desejarem. E, a menos que seu daimyo tenha total confiança em você, conversas privadas estão fora de questão. Se o traiçoeiro conselheiro, que você está tentando derrubar, está logo ao lado de seu lorde todas as vezes que você está em uma audiência, você terá que aprender a lidar com isso.

Os rokugani são muito orientados ao grupo; individualismo não tem lugar nesta sociedade. Pertencer a um grupo social seja ele um clã, família, pelotão, vila ou apenas uma gangue de ronin andando juntos é necessário para o bem-estar de um individuo e vital para sua sobrevivência. Uma pessoa expulsa de sua ordem social é vista com pena pelos outros; uma pessoa que voluntariamente renega a sociedade, ou despreza as convenções sociais, inspira tanto curiosidade quanto revolta. Note que se tornar um ronin ou raspar a cabeça e se juntar a uma ordem monástica, não constituem, necessariamente, uma abnegação da sociedade.

Dar presentes é parte integral da sociedade. É importante fazer com que o presente seja apropriado à pessoa que irá recebê-lo; dar um presente que, claramente, não mostrou nenhuma reflexão por parte de quem presenteia é um insulto. Assim também o é se o presente também não fornece a oportunidade de quem recebe de retribuir, pois deste modo coloca quem recebe em débito com você. Um presente deve ser oferecido três vezes, e polidamente recusado nas duas primeiras vezes, para dar a chance de quem dá o presente de demonstrar sua sinceridade.

Honestidade não é sempre uma virtude em Rokugan; enquanto o bushido ensina completa sinceridade, do samurai é esperado que ele minta para salvar sua família, seu lorde e sua honra. Então, o maior dom que um rokugani pode ter é a habilidade de parecer sincero mesmo quando mentindo descaradamente.

Bushido não é a mesma coisa que a cavalaria ocidental. Tratar seu inimigo honrosamente não é necessariamente a mesma coisa que dar a ele uma “chance esportiva”. Muitos samurais reconhecem que sabotagem, furtividade e traição são partes integrantes da estratégia; afinal das contas, se você pode cortar as linhas de suprimento do inimigo, atacá-lo quando este estiver distraído ou interromper suas comunicações, você estará muito mais próximo de alcançar a vitória para seu lorde. Em contrapartida, poucos samurais se vangloriam de aplicar tais táticas. Este é o motivo pelo qual os Escorpiões são tão hostilizados, pois não só admitem, abertamente, vencerem através da traição, como também utilizam táticas similares em “campos de batalha” mais sutis como a corte.

2: Seppuku

Um samurai comete seppuku por inúmeras razões. Seja qual caso for é importante lembrar que seppuku é considerada uma morte honrosa. Não importa qual desonra ou conflito interno tenha motivado alguém a cometer seppuku, estes atos são considerados resolvidos após sua morte. Qualquer tipo de represália contra a família ou insulto a honra de alguém que cometeu seppuku é considerado um ato desonroso.

A razão mais comum para o seppuku é para expurgar a si mesmo de desonra. Em tal instância, o samurai perdeu tanta “face” ou está tão envergonhado de si mesmo que a morte é o único meio de remover está mácula. Também é possível que o samurai escolha a morte para resolver um conflito de lealdades ou para evitar ser capturado ou, ainda, para evitar uma morte vergonhosa. Um samurai que tenha sido sentenciado a morte, mas cujo crime não tenha sido tão atroz a ponto de exigir uma execução comum, pode ter a permissão de cometer seppuku, assim, morrendo honrosamente.

Cometer seppuku para seguir seu lorde em sua morte é chamado de junshi. Este costume é visto com desdém na Rokugan atual, já que é um desperdício de seguidores leais. Funshi é o ato de repreender outra pessoa através do seppuku – declarar publicamente que outra pessoa agiu de maneira desonrosa e, então, cometer seppuku é um forte testemunho em Rokugan, por exemplo. Finalmente kanshi, é uma das únicas maneiras na qual um samurai pode, legitimamente, protestar das ações de seu lorde. Se o samurai sentir que seu lorde esteja se comportando de maneira vergonhosa ou que suas ações causem algum tipo de dano ao clã ou império, ele pode escrever uma carta detalhando seu descontentamento, e então se matar. Esta é considerada a maior forma de lealdade.

Mulheres samurais cometem jigai, que é executado de forma semelhante ao seppuku exceto que se utiliza um tanto ou outra faca pequena, que é utilizada em um único golpe perfurante na garganta. Onnamusha (nota do tradutor: mulheres guerreiras, ou samurai-ko), contudo, realizam o ritual da mesma forma que os homens.

Em todas as circunstâncias, exceto em casos muito extremos, a pessoa cometendo seppuku terá um auxiliar chamado de kaishaku. Ser escolhido para ser um kaishaku é uma grande honra, e implica em um grande ato de respeito e confiança; afinal das contas, são as ações do kaishaku que irão definir se a morte de quem comete sepukku será limpa e honrosa, ou se a pessoa irá sofrer e talvez se desonrar ao demonstrar isso. Desnecessário dizer que um kaishaku que falhe com seu dever é seriamente desonrado.

Em uma situação formal, o seppuku acontece em uma sala simples ou em um ambiente externo, em frente a cortinas brancas. Testemunhas sempre estão presentes. A pessoa cometendo seppuku se veste de branco e se ajoelha em uma almofada. Em frente à almofada existe uma pequena mesa onde é colocada a wakizashi, junto com os materiais necessários para se escrever o poema de morte e uma peça de roupa ou folha de papel que será colocada na parte inferior da lâmina da wakizashi para uma melhor empunhadura. O kaishaku se posiciona atrás e a esquerda da almofada, com sua katana desembainhada. Água é derramada, com uma concha, em ambos os lados da lâmina, para que esta seja purificada e que o corte seja mais limpo.

Teoricamente, a pessoa cometendo seppuku deve fazer dois cortes horizontais e um vertical em seu estômago, o todo formando a letra “H”, antes que o kaishaku corte sua cabeça; na prática, o kaishaku geralmente irá golpear quando a pessoa que estiver cometendo seppuku estiver a ponto de gritar ou de cair. Um golpe rápido é preferível à tamanha desonra.

3: Etiqueta das Armas

A utilização das duas espadas pelos samurais é um assunto amplamente discutido em vários tratados durante a história de Rokugan, e com uma boa razão. A qualidade das espadas de um samurai e a maneira como estas são portadas são grandes pistas para descobrirmos seu status e personalidade.

Primeiro, é importante entender que nem todos os membros da casta samurai possuem o direito de portar o daisho (nota do tradutor: nome dado a combinação da espada longa katana e a espada curta wakizashi), poucos além dos bushi o fazem. Mulheres, geralmente, não utilizam qualquer tipo de espada; homens cortesãos e shugenja, com poucas exceções, utilizam apenas a wakizashi. Utilizar um daisho completo é o mesmo que anunciar ao mundo que o usuário é um espadachim habilidoso, que não necessita de proteção em batalhas e nem de representantes em duelos; este é um enunciado que poucos não-bushi desejam fazer.

Segundo, nem todos os daisho são reverenciados e gloriosos objetos passados de geração a geração. De fato, é bem mais provável que ele tenha sido produzido em massa pelos armeiros de seu lorde. Claro que isso não significa que os bushi irão tratar suas armas menos respeitosamente, afinal das contas a espada é a alma do samurai que a carrega. Mas a maioria dos bushi irá comprar novas espadas assim que possuírem condições para tal, retornando as antigas espadas para o arsenal. Espadas de alta qualidade também são comuns como prêmios em torneios ou como presentes, de lordes, para seus seguidores de destaque. Uma vez adquirida, esta espada de alta qualidade será orgulhosamente utilizada pelo samurai e será passada para seu herdeiro, eventualmente se tornando “a honrada lâmina de meus ancestrais”…

É perfeitamente legítimo para um samurai possuir várias espadas, e a escolha de qual usar em determinada situação diz muito aos cortesões mais perceptivos de Rokugan. Um bushi portando a espada que ele sempre carrega em batalha está dizendo “eu estou cercado de inimigos aqui” enquanto utilizar uma espada que foi recebida com um presente indica o desejo de honrar quem a deu. Claro que isso só é válido se o bushi em questão realmente possuir mais de uma espada.

O modo como a espada é carregada ou embainhada também fornece pistas em relação a posição social do bushi. Bushi de pouco status utilizam suas espadas quase verticalmente em sua obi, de modo a não esbarrarem em ninguém. Aqueles de mais status permitem que suas espadas saiam um pouco mais para os lados e para trás, criando um pouco mais de espaço pessoal e indicando que esta é uma pessoa que espera que os outros saiam do seu caminho. Quando adentrando na casa de outra pessoa, convidados de menor status que seu anfitrião devem deixar suas armas na porta, a não ser que eles recebam permissão específica para portá-las (é importante salientar que permissão para portar as espadas na casa de alguém não quer dizer permissão para usá-las, se for para derramar sangue que seja feito fora da casa).

Quando oferecendo a espada a alguém, a lâmina deve sempre estar dirigida a você, mesmo que a espada esteja embainhada.

Quando sentado, as espadas devem ser colocadas à direita, com o punho apontado em direção contrária ao anfitrião. Se elas forem colocadas à esquerda, elas são mais fáceis de se desembainhar o que indica hostilidade e suspeita, enquanto apontar o punho da espada em direção ao anfitrião pode ser interpretado como falta de respeito (se você achasse que ele é um bom espadachim, você colocaria a sua espada onde ele pudesse pegá-la?). Vale lembrar que TODOS os rokugani são destros. Não existe um único bushi canhoto em todo império, especialmente no clã Escorpião.

A espada deve ser retirada da obi com a mão direita, usando o dedo indicador para prender a guarda da espada (nota do tradutor: tsuba, parte que separa a lâmina do punho da espada, servindo de suporte para a mão). Usar a mão esquerda, com o polegar na ponta da guarda da espada, mostra desconfiança ou a intenção de desembainhar a espada.

Quando viajando, samurais colocam uma capa na empunhadura da espada para protegê-la. Esta capa também dificulta o ato de desembainhar a espada. Removê-la, ou não utilizá-la, é um sinal de agressão.

Existe também um restrito protocolo que dita como a espada deve ser afiada, polida ou mostrada. Tocar a espada de outra pessoa sem permissão é um grande insulto, e pode ser a causa de um duelo.

Outras armas não são cercadas pela mesma mística e tradições elaboradas do daisho, mas algumas coisas são universais. Primeiro de tudo, enquanto o daisho é também um símbolo de status, outras armas e armaduras são ferramentas de guerra. Nos períodos de paz elas devem ser mantidas em casa (sejam guardadas ou em exibição). Quando em viagem, a menos que se esteja marchando para a batalha, as armaduras são guardadas em baús especialmente construídos para guardá-las e as armas protegidas por bainhas e capas contra a poeira. Um samurai que atende aos seus negócios diários utilizando armadura e carregando uma naginata ou tetsubo podem se ver, rapidamente, envolvidos em diversos problemas – os camponeses irão temer uma pessoa que demonstre sinal tão obvio de violência, enquanto os guardas locais e magistrados irão ficar de olhos abertos aos movimentos desta pessoa… Sem mencionar o insulto que ele direcionará a seu anfitrião e ao lorde da província, implicando que eles não são capazes de manter a paz.

4: Nomes

A primeira coisa a ser destacada sobre os nomes de Rokugan é que o nome da família sempre vem primeiro. O mesmo é válido para o elemento que “possuí” nos nomes governados pela relação “X de Y”; então, por exemplo, o fazendeiro Ryuichi da vila de Kinkawa será conhecido, por quem vem de fora, como Kinkawa no Ryuichi.

Apenas os membros das classes superiores, samurais e nobres imperiais, possuem nome de família (nota do tradutor: vale lembrar que nem todos os clãs menores possuem sobrenome, esta é uma dádiva concedida em separado ao status de clã menor, de modo que, nestas situações, podemos ter um samurai sem nome de família, como o Yoritomo do Clã Louva-Deus). As classes inferiores são descritas pelo padrão mostrado acima, estas pessoas podem ser relacionadas ao local onde vivem, sua ocupação ou alguma característica pessoal.

Enquanto as Grandes Casas de Rokugan retiram seus nomes a de seus fundadores, os nomes de famílias vassalas são baseados, geralmente, em seus locais de origem, resultando em nomes como Kiyama (montanha amarela) ou Kawakuchi (boca do rio).

Crianças pequenas recebem o yomyo, ou nome de criança, seis dias após o nascimento. Os nomes das garotas são geralmente relacionados a flores ou outras características da natureza, ou de “virtudes femininas” tradicionais, e geralmente são mantidos a vida inteira. Sufixos comuns são –ko (pequeno), –hime (princesa, também pode ser utilizado para endereçamentos formais) e –mi (beleza). Dos garotos, por outro lado, é esperada a troca do nome após o término da cerimônia do gempukku. Nomes de meninos geralmente contêm o sufixo –waka (jovem) ou –maru, o que denota afeição.

Nomes adultos para homens vêm em dos tipos. O primeiro é o zokumyo, ou nome de ordem, que simplesmente denota o lugar da pessoa na ordem de nascimento da família – Ichiro, literalmente “primeiro homem” é o filho mais velho. Outras partículas podem ser adicionadas ao zokumyo, permitindo nomes como Daigoro (“grande quinto homem”) ou Matasaburo (“de novo terceiro homem”, o terceiro filho de um terceiro filho). O sufixo –ro pode ser retirado, como em Kenichi.

Zokumyo são dados a todos os homens quando eles se tornam adultos, mas para não inundar o Império Esmeralda com Hida Ichiros e Isawa Saburos, homens das classes superiores raramente utilizam o zakumyo como “nomes públicos” ou para qualquer coisa que seja. Ao invés disso, eles utilizam os assim chamados nanori, nomes formais ou “verdadeiros”. Estes são derivados de traços desejados ou que atraem sorte (como Tadashi, “honesto” ou “virtuoso”) ou de um título, como em Mataemon (o sufixo –emon deriva de uma palavra para “guarda”).

– Parte II –

Vida Diária

5: Vestimentas

As roupas dos camponeses são feitas de algodão ou cânhamo, enquanto os samurais geralmente vestem seda; fora isso, há pouca diferença entre as classes em relação à vestimenta. Os homens utilizam o chamado fundoshi, uma espécie de tanga que é enrolada ao redor do estômago e entre as pernas, sob o kimono; o kimono das mulheres são mais longos, e geralmente vestidos em conjunto com uma saia de baixo enrolada no corpo. O corte e a largura das mangas, assim como o comprimento do traje, determinam o estilo da vestimenta – variando desde as vestes camponesas, que são bem justas e as vezes mal cobrem as roupas de baixo, até o kimono da corte dos samurais, que chegam a se arrastar trinta centímetros ou mais pelo chão. Os kimono não possuem bolsos – ao invés disso, objetos pessoais são colocados em suas largas mangas, ou atrás da dobra frontal da vestimenta. Os bushi carregam uma corda especial para amarrar as mangas de modo a evitar que elas atrapalhem na hora da batalha – um espadachim habilidoso pode fazer isso em meros segundos. A parte esquerda do kimono é enrolada sobre a direita e nunca o contrário, pois este é o modo como os mortos são vestidos. O kimono é preso com a utilização de uma obi, uma faixa de pano que é enrolada duas ou mais vezes ao redor da cintura. A obi masculina é estreita e amarrada com um simples nó, enquanto a feminina é mais larga, as vezes tão elaborada quanto o próprio kimono, e é amarrada de modo a formar laço simples (ou, em trajes formais, um grande elaborado laço) nas costas.

Enquanto os camponeses utilizam apenas o kimono, e talvez perneiras e calças de algodão quando o clima está frio, os samurais vestem uma variedade de outros acessórios. Samurais do sexo masculino vestem um kamishimo, que é a combinação de hakama (calças largas, geralmente presas com perneiras abaixo do joelho, para facilitar o movimento) e um kataginu, uma veste sem mangas e aberta nas laterais que exagera os ombros. Alternativamente, um haori (um casaco curto) ou um hitatare (um kataginu sem as ombreiras reforçadas, mas com mangas e um cordão decorativo transversal ao peito) podem ser utilizados em conjunto com a hakama. A hakama não é prática em cavalgadas, então ao cavalgar os samurais utilizam uma kobakama (uma calça mais justa). Muitos membros do clã Unicórnio utilizam kobakama o tempo todo. Finalmente existe o daimon, um imenso kimono com mangas muito largas, decorado com versões expandidas do mon do samurai em vários lugares, incluindo as mangas.

Em questões mais formais, samurais de alta posição social costumam utilizar o kariginui, um sobretudo longo com gola alta ao redor do pescoço e grandes mangas, que pode ser utilizado tanto para fora quanto para dentro da hakama. Aqueles que realmente desejam impressionar os observadores com seu estilo também utilizam a nagabakama, similar a uma hakama comum, mas mais longa de forma a se arrastar pelo chão, fazendo com que seja bastante difícil caminhar ao se utilizar esta vestimenta. Desnecessário dizer que é impossível se mover rapidamente ao utilizar tal vestimenta, pelo menos sem parecer ridículo; alguns cortesões clamam que estes estilos foram introduzidos justamente com este propósito, para limitar explosões de violência na corte. Eboshi (gorro) e chapeis são acessórios comuns aos samurais. Camponeses normalmente utilizam simples chapeis de arroz para manter suas faces escondidas do sol, ou ainda um hachimaki (bandana).

Mulheres de alta posição social usam várias camadas de kimono – pelo menos duas – e geralmente um kimono externo solto, que é vestido como se fosse um casaco. Este acessório externo pode ser puxado sobre a cabeça para servir como um guarda-sol. Roupas de corte são versões mais elaboradas deste mesmo estilo – durante alguns períodos, a moda já chegou a ditar que uma dama usasse não menos do que doze camadas de kimono! A gola de um kimono feminino pode ser alterada para uma versão mais alta e elaborada, ou diminuída para mostrar um pouco dos ombros se a dama quiser ser mais insinuante. (claro que as roupas de certas damas do clã Escorpião mostram mais do que um pouco dos ombros…). As mangas são tipicamente mais largas que a versão masculina. Onnamusha utilizam roupas masculinas quando estão no campo e também, geralmente, em outras ocasiões, mas há aquelas (mais comuns entre os clãs Garça e Fênix) que preferem vestimentas mais tradicionais em ocasiões formais.

O mon (símbolo) do clã e família de quem veste é incorporado no design da maioria das roupas, seja através de um padrão repetido ou bordado nas costas, peito ou manga.

O calçado para os viajantes e as classes mais baixas é chamado de waraji (sandálias de palha). Samurais geralmente calçam o zori (sandálias de tiras de palha entrelaçadas) ao invés da waraji. Tabi (meias bifurcadas) são utilizadas dentro das sandálias. Geta, grandes tamancos de madeira, são utilizados quando o clima está ruim para manter os pés fora da lama nas estradas. Em tal situação, é comum a utilização de sombrinhas de papel ou capas de palha para evitar chuvas.

Os rokugani normalmente não utilizam jóias do estilo ocidental, tais como anéis e braceletes. (Os membros do clã Unicórnio utilizam, mas isso não conta como algo normal). Ao invés disso, eles usam netsuke (cavilhas esculpidas colocadas dentro da obi para prender o cordão do inro, uma pequena caixa laqueada usada para guardar objetos pequenos demais para serem guardados nas mangas do kimono) ornamentais e samurais do sexo feminino utilizam pentes e alfinetes para prenderem seus elaborados penteados.

Camponeses normalmente utilizam cores desbotadas, já que não podem investir em corantes brilhantes. Samurais geralmente utilizam, em situações formais, as cores do clã. Caso contrário jovens utilizam cores vivas com padrões bem elaborados, enquanto pessoas mais velhas vestem roupas mais escuras, com cores mais suaves. Branco é a cor da morte e vermelho a cor do nascimento; durante a cerimônia do casamento, a noiva utiliza roupas brancas que são gradualmente removidas para revelar uma vestimenta vermelha. Isto representa a morte dela para sua própria família e o renascimento na família de seu marido.

Roupas são feitas tanto no verão quanto no inverno, e todos trocam as vestimentas de verão para as vestimentas de inverno na mesma data.

6: Penteados e Maquiagem

Samurais do sexo masculino deixam o cabelo longo, e amarrados em diversos estilos. Apesar do estilo clássico, no qual o topo da cabeça é raspado e o resto do cabelo é untado e dobrado para frente sobre a cabeça, ser popular, existem vários estilos diferentes. A versão mais simples é amarrar o cabelo em um nó ou rabo-de-cavalo. Diferentemente, o cabelo pode ser embalado com uma fita de modo que um pouco do cabelo fique para fora na extremidade superior, como em um pincel; com este estilo, a cabeça pode ou não ser raspada. Muitos elmos possuem uma abertura na parte de trás da cabeça na qual o cabelo pode ser puxado.

Muitos membros do clã Garça tingem o cabelo de branco, em alusão ao primeiro Daidoji, enquanto alguns membros do clã Leão tingem seu cabelo de dourado. Os do clã Dragão freqüentemente raspam a cabeça totalmente, no estilo dos monges, e as vezes a decoram com tatuagens.
Mulheres samurai (e geishas) possuem cabelos muito longos, seja amarrado em um rabo-de-cavalo ou penteado em elaboradas tranças e voltas, firmadas por pentes e alfinetes. Para uma mulher ter seu cabelo cortado é uma grande marca de vergonha. Muitas damas (e todas as geishas) também utilizam uma grande quantidade de maquiagem, em especial pó para face e rouge. Uma face pálida é muito apreciada, e mesmo as camponesas nunca expõem suas faces ao sol se isso puder ser evitado.

Onnamusha geralmente trançam seus cabelos quando estão no campo de batalha, ou ainda utilizam um pano na forma de tubo com uma corda no final para poder amarrar e assim prender os cabelos.

7: Comida

Arroz é a base da dieta rokugani; é raro uma refeição que não contenha arroz de forma alguma. Em adição, existem diferentes tipos de grãos, batatas-doces, algas, conservas (vegetais quase nunca são consumidos frescos), frutas, ovos, peixes e moluscos. Já que os impostos são pagos em arroz, as classes mais baixas freqüentemente substituem este alimento por painço ou outro tipo de grão. O equivalente a “fast food” em Rokugan, geralmente comidos na estrada, são o onigiri (bolinhos de arroz) e dango (massa de painço ou arroz).

Apenas os membros do clã Unicórnio comem carne vermelha regularmente; a fé no Shintao, que bane este tipo de atividade, não era ainda universalmente popular em Rokugan quando este clã partiu, de modo que a maioria dos Unicórnios atuais ainda segue as antigas tradições “bárbaras” de seus ancestrais. Os samurais de todos os clãs ainda amam a caça, e aves ainda são uma agradável adição ao menu. Muitos, inclusive, caçam porcos do mato e cervos apesar de não se alimentarem da presa.

Sake existem as dezenas e de diferentes variedades, e podem ser servidos tanto quentes quanto frios, dependendo do tipo. Ele é bebido em copos pequenos e largos; em uma situação formal, um servo ou companheiro de refeição serve a bebida. Apenas bárbaros tomam sake diretamente da garrafa. Existem também diferentes tipos de brandy, shochu (como o sake, mas muito mais forte) e uishi, uma bebida gaijin destilada pelos membros do clã Unicórnio.

Uma refeição normal consiste de uma tigela de arroz, sopa, algumas algas ou vegetais em conserva e peixe. Não existem salões de banquete e coisas do gênero; a comida é servida em qualquer sala que sirva a situação. Cada pessoa na refeição possui sua própria mesa (pequena), e ao invés de um prato grande há uma pequena tigela para cada tipo de comida. A sopa é bebida direto da tigela. É considerado extrema má sorte colocar seu hashi (nota do tradutor: “pauzinhos” japoneses) na tigela de arroz de modo que ele fique em pé – é desta maneira que se oferece arroz aos espíritos dos mortos. Para passar comida para outra pessoa, você deve pegar a comida com seu hashi e colocá-la na tigela da pessoa em questão, ao invés de passar direto de um hashi para outro; é desta maneira que os ossos são tratados após a cremação.

Arquitetura

8: Casas

Todas as casas rokugani possuem certas características em comum. Primeiro, elas foram construídas para serem arejadas nos meses quentes de verão ao invés de quentes no inverno. Segundo, elas são construídas de materiais simples – madeira, palha ou telhas de argila e papel. Enquanto isso faz com que as moradias sejam extremamente vulneráveis ao fogo, faz também com que sejam fáceis de se reparar ou reconstruir no caso de terremotos ou outras catástrofes.

Uma típica moradia samurai consiste de várias construções de um único andar ao redor de um pequeno jardim ou pátio. Uma casa é basicamente um telhado de palha (ou telhas de argila) suportado por pilares de madeira igualmente espaçados. Quartos e salas possuem telhado e assoalho (suspenso) feitos de bambu ou madeira coberto por tatami (esteiras tecidas com juncus – grama encontrada em pântanos – e palha). Os tatami são feitos em tamanho padrão de cerca de um por dois metros, e o tamanho da sala é medido pela quantidade de tatami necessária para cobrir o chão (então uma sala de 3×2 metros será chamada de sala de três tatami). Se sentar nas juntas entre os tatami, particularmente onde as quatro quinas se encontram, traz má sorte. Outras construções, tais como cozinha, toaletes e armazéns, possuem chão de terra batida. É permitido utilizar sandálias nestes lugares, mas isso não se estende às salas cobertas por tatami.

As paredes externas são feitas de painéis shoji (molduras deslizantes de madeira cobertas por papel de arroz translúcido) enquanto as paredes internas são feitas de fusuma (basicamente o mesmo que shoji, mas com papel de ambos os lados). A casa é cercada pelo engawa (uma varanda suspensa) que por sua vez são cercadas por persianas de madeira. Quando o tempo fecha estas persianas são mantidas fechadas, protegendo o shoji e transformando o engawa em um corredor fechado ao redor da casa; quando o tempo está seco e quente, pelo contrário, tanto as persianas quanto o shoji são mantidos abertos, efetivamente abrindo toda a parede da casa para deixar o ar e a luz do sol entrar.

Dentro da casa, há a câmara de recepção onde se localiza o tokonama (uma alcova na qual os tesouros da família são colocados, junto com uma parede suspensa que muda de acordo com a estação). Esta sala também contém um pequeno altar destinado aos ancestrais. Outras salas podem ser utilizadas para o que for necessário. A casa é esparsamente mobiliada com mesas, almofadas e baús, dos quais alguns são utilizados para se guardar os futons (esteiras de dormir), cobertas e travesseiros durante o dia. Braseiros são utilizados para aquecimento durante o inverno. Uma popular variante destes braseiros é o kotatsu, que consiste de um braseiro construído no interior de uma mesa, grande o suficiente para que se possa dormir debaixo. Um câmara para audiências formais contém um palco suspenso para o lorde sentar e, provavelmente, painéis dobradiços para o caso de alguém querer conversas mais “privadas”.

Jardins são uma parte importante de uma moradia samurai. Os jardins rokugani nunca são selvagens, e sim construídos para evocar um senso de “perfeição” da natureza. Arvores cuidadosamente aparadas, pequenas fontes e quedas d’água e rochas artisticamente arranjadas são combinadas de modo a evocar a ilusão de um pequeno ambiente “natural”. Jardins maiores podem possuir pequenas cabanas onde o proprietário pode meditar ou realizar a cerimônia do chá.

Uma habitação camponesa é, normalmente, composta por apenas uma única estrutura maior. Poucos heimin podem se dar ao luxo de possuírem telhado, assoalhos suspensos ou paredes de papel; ao invés disso, paredes são feitas de madeira ou emplastros sobre bambu. Ao invés de braseiros, existem os chamados iori (buracos de fogo) que são usados para aquecimento e para cozinhar.

Camponeses vivendo em cidades normalmente possuem casas em filas; o preço do lote depende de sua largura, já que o acesso à rua é de vital importância. Lojas e oficinas são localizadas na parte da construção que fica de frente para a rua, enquanto a parte interna serve de quarto e sala. Alternativamente, as construções podem ter dois andares, com o primeiro servindo como loja e a parte de cima como quartos. As escadas são muito íngremes, e o espaço abaixo delas é utilizado para armazenamento, fazendo com que pareçam armários na forma de pirâmide.

9: Castelos

Os castelos rokugani são geralmente construídos em uma colina de vista para uma planície, uma localização que é boa para defesa enquanto ainda permite obter suprimentos e controlar as estradas e canais da região. Geralmente o castelo é cercado por uma larga cidade, que, como todas as cidades rokugani, é dividida em distritos; há uma área separada para os mercadores, os artesãos, os fazendeiros, entretenimento e assim por diante. Os eta são separados, vivendo em uma vila um pouco afastada da cidade propriamente dita. Samurais vivem mais próximos do castelo, as vezes até mesmo na parte interna do anel de canais e fossos que fazem a primeira linha de defesa. Samurais de altos postos, como o oficiais e conselheiros do daimyo, possuem quartos dentro do castelo.

Dentro destas fortificações, o castelo propriamente dito é construído em uma grande fundação de pedra, geralmente possuindo dois ou três andares. Dentro deste grande bloco de pedra está o calabouço do castelo, armazéns e congêneres. Todas as passagens para a parte superior à fundação são estreitas, não permitindo que mais do que duas ou três pessoas as utilizem ao mesmo tempo, além de serem vigiadas por portarias e torres de vigilância. Acima desta fundação existem uma ou duas estruturas de madeira ou argamassa, com o interior feito de paredes de pedra como suporte. A fortaleza principal pode chegar a ter, no total, seis ou sete andares, enquanto outras construções externas são geralmente menores (dois ou três andares). Nas estruturas superiores do castelo se localizam os alojamentos, para aqueles da guarnição que são solteiros (aos samurais casados são concedidas casas na cidade), residência privada do lorde do castelo e sua família, câmaras de audiência, quartos de hóspedes, e assim por diante. Diferente dos castelos ocidentais, a torre principal não é a residência do lorde do castelo e sim a linha final de defesa.

O castelo é construído não apenas como uma fortificação, mas também como uma demonstração de poder e riqueza. Então um grande esforço é feito para que ele seja imponente e agradável além de funcional. Cumeeiras elaboradamente esculpidas, jardins ornamentais e estátuas são características comuns aos castelos rokugani, ao menos nos clãs mais preocupados com a estética; os membros do clã Leão consideram decorações de qualquer tipo degeneradas, enquanto os do clã Caranguejo preferem utilizar crânios de oni ou outros objetos similares que forneçam uma lição a ser aprendida.

O castelo de um daimyo tende a ser muito maior do que o descrito acima, geralmente incorporando vários níveis de fundação, grandes pátios e jardins, templos e construções semelhantes.

– Parte III –

Épocas da Vida

10: Nascimento e Gempukku

Os rokugani ainda não inventaram o numero “zero” então uma criança recém-nascida já começa a vida com um ano de idade. Isto significa que a idade da pessoa chega a ser um ano menor que a “contagem oficial” de sua existência. Muitas pessoas comemoram seus aniversários no dia de ano novo, com a atual data do nascimento gravada apenas para fins astrológicos.

A criança passa seus primeiros anos de vida sob o cuidado da família. As crianças rokugani não são consideradas “pequenos adultos”; eles levam uma vida despreocupada e normalmente são mimados durante esta época. Isto muda quando a criança atinge a idade de sete ou oito anos. Quando atingem esta idade, os garotos são enviados para a escola ou dojo para treinamento, enquanto a maioria das garotas começa a aprender os deveres de uma esposa.

O cerimônia do gempukku, ou passagem para a vida adulta, é tipicamente realizada entre a idade de treze e dezessete anos. A criança deve demonstrar conhecimentos sobre seu ofício, assim como a história da família e tradições; alguns clãs exigem que o novo adulto seja capaz de recitar sua linhagem inteira, até o fundador de sua família. O clã Caranguejo, por exemplo, envia seus jovens bushi para as Terras das Sombras para trazerem de volta a cabeça de uma das criaturas de Fu Leng. Quanto mais perigosa for a criatura, mais respeitado será o novo guerreiro.

Após completar seu gempukku, o novo adulto irá jurar lealdade a seu lorde e seu clã, e na maioria dos casos, escolher um novo nome “adulto” (o nome é escolhido mais cedo, mas só se torna válido após o gempukku). Veja a descrição sobre nomes (4)

11: Casamento

Nota: A mulher nem sempre é a parceira com posição inferior em um casamento rokugani – inclusive, em famílias matriarcais como a Matsu e a Otaku, este raramente é o caso – mas para fins de facilitar a descrição, neste texto será adotado o modelo mais “clássico” como padrão.

É esperado de todo samurai que este se case e tenha filhos, de maneira a manter a força de sua família. O clã Leão e Caranguejo levam este dever muito a sério, devido ao grande número de perdas de bushi em batalhas. Um casamento também é uma boa maneira de fortalecer os laços entre duas famílias, e parentes mais jovens são freqüentemente usados em barganhas políticas (“para mostrar a você que minha oferta de aliança é sincera, eu deixarei que minha irmã se case com seu primo. Deste modo nós seremos família”).

Casamentos são sempre arranjados por terceiros, selecionados pelos pais dos futuros noivo e noiva. Este nakodo, ou intermediário, é também responsável por organizar a cerimônia casamento (e, para casais de alta posição social, o festival de comemoração) e o dote da noiva. Desnecessário dizer, que um casamento bem sucedido traz grande prestígio para aquele que o organiza. Enquanto muitos intermediários fazem com seja uma questão de orgulho pelo menos tentar encontrar companheiros “compatíveis”, os parceiros em potencial tem pouco a dizer sobre o assunto, e o amor tem pouca influência na escolha. Samurais em altas posições ainda possuem menos liberdade do que a maioria, já que necessidades políticas tendem a serem maiores em posições mais altas da sociedade.

O contrato pode ser feito com o casal ainda na infância (ou mesmo antes que eles nasçam). O casamento real acontece alguns anos mais tarde, logo depois do gempukku.

A mulher recebe o nome do marido e passa a viver com a família dele. Na teoria, isso significa uma total transferência de lealdades para sua nova família; na prática, o novo membro da família ainda retém fortes laços com sua vida passada, e as vezes atua como uma agente permanente colocada em uma nova família.

A cerimônia de casamento é um acontecimento elaborado, presidido por um monge ou shugenja, e envolve uma troca ritual de copos de sake. A noiva utiliza uma vestimenta vermelha com trajes externos brancos que são removidos durante a cerimônia. Isto simboliza sua morte para sua família e renascimento na família do marido. A cerimônia é realizada apenas na presença do intermediário e os membros mais próximos da família dos noivos.

O casamento é seguido por um banquete para os noivos e seus amigos. Não há lua-de-mel ou algo do gênero; após o casamento o marido deve se recolher em algum templo para refletir sobre seu novo status e responsabilidades, enquanto a esposa toma o seu lugar como administradora da casa e finanças de seu marido.

Para piorar a situação, a esposa pode não ser a senhora de sua própria casa. Especialmente no caso do filho mais velho, o jovem casal geralmente vive com os pais do noivo, o que faz com que a esposa se torne pouco mais do que uma serva de sua sogra, fazendo todas as tarefas mais pesadas, mas tendo poucos privilégios. O nascimento de um filho diminui um pouco o fardo da mulher, mas não muito. Claro que a mulher de um samurai de alta posição não tem a necessidade de lidar com tarefas da casa, se concentrando em entreter convidados e administrar empregados.

Para um homem conseguir o divórcio é bem simples; tudo que ele tem que fazer é escrever um documento liberando sua mulher das obrigações para com ele. Por outro lado, se divorciar sem uma razão aparente é um bom motivo para criar inimigos na família da mulher e, geralmente, arruinar a reputação de uma pessoa, fazendo com que estes pedidos sejam muito raros. Uma exceção é a falta de crianças; o motivo principal de um casamento é gerar crianças, de modo que caso a mulher não possa conceber, a não ser que o samurai seja muito apegado a ela, ele provavelmente irá se divorciar. Além disso, o chefe da família ou lorde do marido possuem o direito de declarar o casamento nulo e vazio, mesmo contra o desejo dos noivos.

A mulher não tem direito a se divorciar do marido por iniciativa própria, apesar de que ela pode pedir para que ele a deixe ir embora, pedir para que o lorde dele dissolva o casamento ou, como recurso final, buscar santuário em algum templo. Há um grande número de templos shinseistas e conventos que irão proteger tais mulheres. Mesmo que as autoridades do templo não consigam fazer com que o marido libere a mulher, o casamento será dissolvido por decreto imperial se ela permanecer no templo por três anos.

Uma mulher divorciada retorna para sua família. Se ela estiver grávida, seu ex-marido recebe a responsabilidade pela criança, desde que ela nasça a até nove meses do divórcio e que a mulher não tenha se casado novamente durante este tempo.

Legalmente, o marido possui o direito de vida e morte sobre sua esposa, seus filhos, e todos os outros membros de seu lar. Na prática, assim como no caso do divórcio, exercer seus direitos sem motivos pode resultar em uma reputação ruim. Claro que, se a mulher desonrar sua família, for pega em adultério ou outra situação incriminadora, é dever do marido matá-la (assim como o amante, no caso de adultério).

12: Concubinas, Cortesãs e Geisha

É de direito do parceiro de maior posição no casamento (não necessariamente o marido, como já foi dito previamente) visitar casas de chá, ou a procurar “entretenimento” semelhante fora de casa. (e sim, existem geishas do sexo masculino em Rokugan). Um samurai pode também ter uma concubina – uma parceira oficial que é providenciada da mesma maneira que uma esposa, mas sem os mesmos privilégios (controle financeiro, etc…). Concubinas podem ser ex-geisha, mulheres samurais (geralmente de níveis mais baixos) ou mesmo camponesas. Como esta relação é menos formal que o casamento, há menos preocupações com os aspectos sociais e políticos, então é mais comum um samurai amar e desejar mais sua concubina que sua mulher oficial. Crianças nascidas de concubinas são legítimas e podem ser eleitas como herdeiras.

É importante ressaltar que geisha não são prostitutas. Elas são altamente respeitadas, treinadas desde cedo nas finas artes da música, poesia, dança, conversação e na cerimônia do chá. Uma geisha pode vir a dormir com seu cliente se ela desejar, mas ele nunca deve insistir, e, de fato, muitas geisha sentem uma sensação de derrota se não conseguirem satisfazer o cliente de outras maneiras.

Estas damas do, assim chamado, Mundo do Salgueiro são classificadas de acordo com seus feitos nas artes, desde aquelas do décimo nível que mal podem ser consideradas geisha, até as raras jóias de primeiro nível, cujos serviços estão fora do alcance de todos menos os mais poderosos homens do império.

Além do entretenimento, as geisha também podem providenciar um, altamente necessário, desabafo emocional. Não se espera que a mulher de um samurai seja uma amante ou uma confidente – o papel do samurai é de ser um mestre da casa forte e duro. Com uma geisha, pelo contrário, ele é livre para ser ele mesmo – rir, chorar, compartilhar sonhos e esperanças, e tudo em um ambiente de total confiança (pelo menos assim se espera).

Com cortesãs a história é diferente. Elas variam desde as mais simples prostitutas e garotas de casas de banho até mulheres quase tão bem treinadas como as geisha, mas todas providenciam o mesmo “serviço” básico. As cortesãs que geralmente são patrocinadas por samurais são aquelas mulheres que não possuem o talento necessário para se tornarem uma geisha, ou que não tiveram oportunidade para tal. Elas geralmente trabalham em um ambiente refinado de uma casa de chá, e, como as geisha, são estritamente classificadas de acordo com sua habilidade e graça.

Enquanto as casas de chá são um mundo de sonhos para os clientes, as pessoas que lá trabalham nem sempre são felizes. As garotas e, em menor grau, os garotos são ligados através de um contrato em idades muito tenras, e a única esperança da maioria de obter um futuro melhor é ser capaz de comprar seu contrato e se casar, ou talvez guardar o bastante para se tornar a okasan (dona) de sua própria casa de chá.

13: Aposentadoria

Muitos samurais se afastam dos negócios de seu clã quando atingem uma certa idade – normalmente a idade de sessenta anos ou proximidades. Alguns preferem se juntar a um monastério para passar o resto de suas vidas em contemplação, enquanto outros apenas se atêm a deveres menores. De fato, muitos samurais, especialmente os daimyo, se aposentam cedo, mas retém o poder por trás das cenas por muitos anos, apesar de suas obrigações oficiais e cerimoniais serem deixadas nas mãos do herdeiro.

Uma Nota Sobre Haiku

“Nem à noite
Nem à manhã, ele pertence
A flor de melão”
— Basho

O haiku é a principal forma de poesia rokugani. Ele é construído com 17 sílabas, arranjadas em três linhas de 5, 7 e 5 sílabas, respectivamente. Composição espontânea de haiku é uma habilidade altamente apreciada pela nobreza rokugani, e competições entre poetas são comuns. O poema de 31 sílabas waka (5-7-5-7-7) é uma forma mais antiga que não é mais popular na corte. A poesia rimada ocidental é apreciada apenas pelo clã Unicórnio, sendo pouco praticada no restante de Rokugan.

Título original: “A Young Samurai’s Primer”
por Linda Larsson
Traduzido e adaptado por Renilson “planeswalker” Alessandro
Parte I publicada em 14/03/2004 (2784 leituras)
Parte II publicada em 21/03/2004 (4130 leituras)
Parte III publicada em 28/03/2004  (2354 leituras)
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