Dogma e Poderes Divinos: Quando um clérigo em Reia perde os seus dons

Saudações, heróis! O aspecto mais original do Reia é, sem dúvida, a religião no cenário. Não apenas temos mais de um panteão e crenças variadas, mas temos principalmente a oposição entre monoteísmo e politeísmo. Mais do que oferecer opções de jogo para a criação de personagens de classes com poderes divinos, este é o grande diferencial do mundo de Reia em relação aos demais mundos de fantasia medieval, e o que torna ele extremamente verossímil e rico em detalhes.

Isto é possível porque, no cenário, os deuses não se manifestam no Plano Material, exceto pelas dádivas que concedem a seus seguidores. Contudo, isso gera uma grande questão, ainda mais se lembrarmos que clérigos em Reia não precisam ter tendência a um passo de sua divindade: o que ou quem define se um clérigo cruzou a linha de seu dogma e violou o seu código de conduta?

Naturalmente a palavra final é do Mestre de Jogo, mas acredito que seja importante abordarmos este tema para tentar dar alguns referenciais tanto para quem conduz a campanha, quanto para os jogadores que interpretam clérigos e paladino.

A resposta mais óbvia para isso está no próprio Livro do Jogador: são os druidas. Ora, os druidas servem a uma entidade, em princípio, sem consciência própria, praticamente um conceito: a natureza (que em Reia é traduzido na Religião Antiga). Mas sua crença tem seus dogmas e, se os violarem, eles perderão seus poderes tal qual qualquer clérigo do deus mais “arroz-de-festa” que viva descendo ao Plano Material.

Então, mesmo não havendo nenhum “chá das cinco” divino entre os deuses ou entre os deuses e seus escolhidos, clérigos e paladinos em Reia continuam sujeitos às conseqüências por violarem seus dogmas/código de conduta, como em qualquer outro cenário de fantasia medieval.

Contudo, os clérigos no cenário, especificamente, não precisam estar a um passo da tendência de sua divindade, e é aí que a coisa toda complica. Isto quer dizer que, por exemplo, no seio da Igreja Demiúrgica Minosiana pode haver vários indivíduos de tendências afastadas da Neutra e Boa em posições de importância. Mas como?

Claro que o Mestre deve ter bom senso. Um personagem Caótico e Mau, por mais que tentasse esconder suas ações, eventualmente acabaria sendo descoberto, expulso e preso. Mas um personagem Caótico e Neutro ou mesmo Leal e Mau, poderia ser plausível. Vamos pegar o exemplo mais extremo, um personagem Leal e Mau.

No Livro do Jogador está escrito sobre um personagem com a tendência Leal e Mau:

“Sente-se confortável com a hierarquia e gostaria de governar, mas também aceita servir. Ele não condena os outros pelas atitudes que tomam, mas por sua raça, religião, terra natal ou posição social.”. E depois: “Algumas criaturas e pessoas leais e malignas são levadas a praticar o mal com o mesmo fanatismo que um cruzado tenta propagar o bem.”.

O que isso quer dizer? Se o Bem pode ser opressor, imagine o Bem sendo utilizado por alguém dominador e com espírito autocrata. Um personagem Leal e Mau dentro da Igreja seria aquele bispo ou membro da alta hierarquia que defenderia a fé e a instituição acima de tudo, que seria implacável com os inimigos da Igreja e da sua crença, e não teria nenhum pudor em fazer o que achasse ser necessário em nome de Demiurgo, mesmo que isso significasse submeter-se eventualmente à magia penitência, ter alguma promoção postergada ou mesmo ser punido. Dependendo do que ele faça – um membro da Ordem de Sóter em meio a uma batalha, por exemplo –, pode até ser que não haja nenhuma consequência, porque ele pode ter a absoluta convicção de que está fazendo o certo e pode não haver ninguém da sua instituição para lhe dizer o contrário ou denunciá-lo. Leal e Mau é o perfil ideal do fanático religioso dentro da instituição, e isto é a coisa mais comum de existir em qualquer religião dogmática.

A palavra final, como sempre, é do Mestre, mas lembre-se que, em Reia, um paladino usando detectar o mal e afirmando que alguma pessoa é maligna não significa muita coisa, até que essa pessoa cometa algum ato maligno ou criminoso. Apenas indica que se deve ficar de olho nela, porque potencialmente ela pode fazer alguma coisa muito errada, mesmo que ela honestamente ache que esteja fazendo o certo, e em nome de seu deus.

Réia é um cenário de fantasia medieval épica
criado por Marcelo Telles para o sistema D20
e lançado pela Editora Caladwin
(http://www.caladwin.com/caladwin/reia.mv)
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