Reia: O Talento Membro da Nobreza

Saudações, heróis! Um dos problemas que os jogos de fantasia medieval sempre tiveram, especialmente o D&D em todas as suas versões, foi diferenciar em termos de sistema de jogo um personagem de origem plebéia de um personagem de origem nobre. E isto, em Réia, era fundamental de ser feito.

Existe um limite que somente a interpretação (o bom e velho roleplaying) não resolve: não faz o menor sentido, por exemplo, o guerreiro de 1º nível filho do barão local ter praticamente o mesmo dinheiro e equipamento que o seu amigo, um outro guerreiro de 1º nível filho de um camponês.

Ao mesmo tempo, conceder mais dinheiro ou um equipamento inicial melhor sem nenhuma contrapartida em termos de mecânica, apenas por conta da história do personagem, inevitavelmente gera absurdos em termos de jogo e abusos por parte de alguns jogadores.

Na Era d20, alguns cenários criaram regras para esse caso. Por exemplo, em Dragonlance, existe a classe básica nobre, uma versão bastante melhorada da classe aristocrata do Livro do Mestre: ela substitui no cenário a classe aristocrata para PdMs (Personagens do Mestre) e ao mesmo tempo é classe para PJs.

Contudo, obrigar o jogador a fazer seu personagem no 1º nível como nobre apenas para ter mais dinheiro e equipamento melhor, para só depois pegar a classe que ele realmente queria para seu personagem, não é o que eu considero como uma boa solução para esta questão. Se um personagem foi treinado desde cedo para ser um cavaleiro, é incongruente obrigar o jogador a pegar um nível indesejado de outra classe para poder compor satisfatoriamente os seus antecedentes. É colocar o sistema de jogo acima da história do personagem.

No velho Dragonlance dos tempos do AD&D, havia a regra opcional de status, em que o jogador sorteava em uma jogada de d100 a origem de seu personagem (variava desde escravo até membro da realeza). Era interessante porque cada nível de status oferecia vantagens e desvantagens, mas nem sempre era de forma equilibrada. Além de não haver “desvantagens” no sistema d20 (e criar algo assim para o Réia não era o que eu desejava), eu acredito que os jogadores atuais prefiram escolher e criar a história de seus personagens, ao invés de ter que condicioná-la a um simples rolamento.

Outro jogo da Era d20, o excelente A Game of Thrones, possui sua regra de status, mas a solução que os designers do jogo usaram foi conceder NEP (nível equivalente de personagem) aos personagens de status e riqueza acima da média (que também recebem outras vantagens além disso).

Mas eu queria uma solução mais simples. Sempre mantenho em mente a máxima que meu amigo e jogador de playtest do Réia, Victor Caminha (autor do Mítica: Desbravando o Oriente), sempre cita quando se refere à mecânica de jogo: “keep simple” (mantenha simples).

A solução que eu escolhi para o Réia foi até bastante óbvia: criar um talento que representasse essa diferença social. E assim surgiu o conceito do talento Membro da Nobreza.

Toda a mecânica de jogo do Réia – Cenário de Campanha é OGC (Open Game Content, Conteúdo Aberto de Jogo), de modo que Membro da Nobreza pode ser usado em outros cenários. Ele está descrito na página 18 do livro, mas transcrevo-o aqui para vocês:

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MEMBRO DA NOBREZA [Geral]
O personagem é filho ou protegido de nobres. Com isso ele adquire conhecimentos, riqueza e a possibilidade de ter acesso ao estudo das artes arcanas nas academias de magia dos humanos de Eurone.
Benefício: O personagem recebe +2 de bônus em todos os testes de Diplomacia e Conhecimento (nobreza e realeza) e elas são consideradas perícias de classe, independente de sua classe de personagem. Além disso, ele recebe como equipamento inicial o mesmo valor que um personagem da classe aristocrata (6d8 x 10 PO em equipamento), no lugar do equipamento inicial normal de sua classe de personagem.
Especial: Este talento só pode ser selecionado por personagens de 1º nível. Caso o personagem seja da classe aristocrata, no lugar dos benefícios descritos, ele recebe +2 de bônus em todos os testes de Diplomacia e Conhecimento (nobreza e realeza), e uma renda anual de 120 PO x o nível na classe aristocrata.

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Pelo custo de um talento – a contrapartida em termos de mecânica – um personagem de jogador de qualquer classe básica recebe a mesma quantia de equipamento inicial que um personagem da classe de PdM aristocrata. Uma quantia que não é nenhum absurdo, mas é significativamente maior do que recebe qualquer uma das classes básicas do Livro do Jogador.

Com a média de valor na jogada de equipamento inicial proporcionada pelo talento Membro da Nobreza (240 PO), é possível o personagem ter, por exemplo, uma das seguintes opções:

  • Uma armadura de couro batido obra-prima (175 PO);
  • Uma brunea obra-prima (200 PO);
  • Um cavalo de guerra leve (150 PO);
  • Um instrumento musical obra-prima (100 PO);
  • Instrumentos de ladrão obra-prima (100 PO);
  • Uma poção de curar ferimentos leves (100 PO em Réia).

Se tiver um pouco de sorte na jogada de equipamento inicial então, seu personagem pode começar com uma arma obra-prima.

Ou seja, o personagem vai ter algum objeto que evidenciará a sua origem nobre, sem que isso torne o jogo desequilibrado. Afinal, vai custar um talento. Além disso, Membro da Nobreza também concede bônus nas perícias Diplomacia e Conhecimento (nobreza e realeza), e elas são consideradas perícias de classe para o personagem, independente da sua classe inicial. Para dar o equilíbrio final, este talento só pode ser adquirido no 1º nível.

Na descrição do talento Membro da Nobreza há informações sobre seu uso para a classe aristocrata – eu suponho que seja mais ou menos óbvio que personagens das outras classes de PdM não devem pegar este talento, principalmente da classe plebeu. Mas nem todo personagem aristocrata precisa ter Membro da Nobreza. Recomendo que ele seja colocado apenas em PdMs aristocratas da alta nobreza ou de membros de alguma corte. Nesses casos, ele refletiria a alta linhagem do personagem (família do Imperador, de um Duque, uma linhagem minosiana de grande prestígio e influência, etc) ou o prestígio pessoal adquirido por conviver junto à realeza servindo-a e, quem sabe, manipulando-a. Ao passo que os irmãos do personagem que se tornaram cavaleiros, magos ou sacerdotes vão precisar realizar grandes feitos e mostrar distinção em suas façanhas, para então adquirir o mesmo prestígio – e o equivalente ou mais em tesouro à sua renda anual.

Réia é um cenário de fantasia medieval épica
criado por Marcelo Telles para o sistema D20
e lançado pela Editora Caladwin
(http://www.caladwin.com/caladwin/reia.mv)
Não percam, no primeiro domingo de cada mês, a coluna mensal de Reia
e participem no nosso fórum do tópico dedicado a Réia
https://www.rederpg.com.br/wp/forum/reia/
e da comunidade oficial do cenário no Orkut
www.orkut.com/Community.aspx?cmm=8782566

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